domingo, 16 de abril de 2017

Reforma trabalhista proposta por Temer (PMDB): que já era ruim, deputado do PSDB consegue piorar ainda mais, diz analista do DIAP.


O substitutivo do deputado Rogério Marinho (PSDB-RN) ao Projeto de Lei 6.787, de reforma trabalhista, “é obra de catedráticos do mercado”, diz o analista político Marcos Verlaine, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). “O substitutivo dos catedráticos do mercado é de fato uma reforma para o mercado e o capital, e o desmonte para os trabalhadores e suas organizações protetivas, os sindicatos”, afirma Verlaine, em artigo. Para ele, “o que já era ruim ficou muito pior”.
O assessor parlamentar avalia que o texto, lido na quarta-feira (12) e com previsão de votação na comissão especial na semana que vem, foi feito “a várias mãos”, a partir do ponto de vista empresarial. Reúne uma proposta de precarização inédita desde a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), de 1943. Entidades de magistrados e de procuradores também já criticaram o texto.
“Numa análise preliminar, vê-se que os trabalhadores perderão com a aprovação do fim das proteções legais aos direitos conquistados ao logo de mais de 70 anos de lutas”, diz Verlaine, que considera os termos “segurança jurídica” e “melhoria do ambiente de negócios” eufemismos que disfarçam o desejo de “acabar” com a CLT e “desmontar” o movimento sindical. O relatório que o deputado Marinho apresentou é um novo projeto, que trouxe algo inimaginável em outro contexto. No atual, está configurado o ‘vale tudo’, o ‘salve-se quem puder’, o ‘poder do mais forte’, porque será isto que definirá os processos negociais pós-CLT.”
Ele considera a prevalência do negociado sobre o legislado a “coluna vertebral” do projeto. “Além da prevalência da negociação sobre a legislação, o relator acrescentou que os acordos poderão se sobrepor às convenções. Isto é, se alguma convenção avançar o sinal, o acordo poderá reduzi-la”, diz, criticando ainda o item sobre comissão de representantes no local de trabalho. “Pelo texto, essa comissão vai substituir as prerrogativas e responsabilidades do sindicato, inclusive com poder negocial.”
O analista comenta ainda a proposta do relator de tornar opcional o desconto da contribuição sindical. Se a mudança for implementada, esse desconto só poderá acontecer com autorização individual do trabalhador.  “Por esta orientação expressa, vê-se qual intenção está por trás dessa lógica: asfixiar financeiramente o movimento sindical. Sem recursos materiais e financeiros, não poderá fazer frente ao desmonte da CLT e a precarização das relações de trabalho que advirá com o fim do mínimo exigido, que é a legislação trabalhista”, diz Verlaine.
Para ele, outra “mazela que compõe o cardápio de maldades apresentado pelo relator” é o chamado acordo extrajudicial irrevogável. “Esse acordo, pelo substitutivo apresentado, terá termo de quitação anual das obrigações trabalhistas. Isto é, uma vez feito não restará o que reclamar ou buscar na Justiça”, observa.
Por fim, ele considera que o substitutivo “fecha as brechas” da Lei 13.429, de terceirização geral, sancionada por Michel Temer em 31 de março. “Além disso, propõe novas formas de contratação, além dos contratos de trabalho a tempo parcial e temporário”, acrescenta.
“O novo texto do relator institui o contrato de trabalho intermitente e o teletrabalho. Estas modalidades de relações precárias de trabalho jogarão milhões de trabalhadores em condições extremas. Sem a fiscalização do Estado, será de fato a “melhoria do ambiente de negócios”, mas só para os donos dos negócios”, afirma o analista. Editoria: Política

Cardápio de maldades contra o trabalhador.

Charge: Michel Temer (PMDB), pato da Fiesp e o fim da CLT.
Editorial do site Vermelho:

O ataque promovido pelo governo ilegítimo de Michel Temer contra os direitos dos trabalhadores é feito pela articulação de várias iniciativas legislativas, como as reformas trabalhista e previdenciária, e a aprovação da lei que permite a terceirização irrestrita.

São mudanças que atentam contra a dignidade do trabalho e impõem aos trabalhadores a urgência de lutar contra elas, para impedir que deteriorem ainda mais as relações de trabalho no Brasil, levando-as de volta aos tempos anteriores à revolução de 1930 – pior ainda, retrocedendo ao século 19. A reforma trabalhista atende a exigências antigas dos empresários, que nunca aceitaram a legislação que cria barreiras contra a ganância patronal e a superexploração dos trabalhadores. 

O Projeto de Lei 6787/16, da reforma trabalhista de Temer, que já era muito ruim, piorou ainda mais com o parecer apresentado nesta quarta-feira (12) pelo relator, o deputado Rogério Marinho (PSDB-RN). Para o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), “o substitutivo se traduz num cardápio de maldades contra os trabalhadores”. Ainda segundo o Diap, “a proposta estabelece que o acordo e/ou convenção se sobreponha aos direitos garantidos em lei e, ainda, que o acordo prevalecerá sobre a negociação coletiva e possibilita o impedimento do acesso à Justiça na forma do acordo extrajudicial irrevogável e arbitragem das relações de trabalho, dentre outras formas, como o termo de quitação anual das obrigações trabalhistas”. 

Outras ideias contidas no parecer do parlamentar tucano, em sintonia com Michel Temer, são: a fixação de valores máximos para reparações morais; a possibilidade de as mulheres grávidas ou lactantes trabalharem em ambiente insalubre; acordos individuais que estabeleçam a jornada de trabalho de 12 horas diárias; trabalho intermitente, que permite a contratação por apenas algumas horas por dia ou alguns dias por semana; entre outras.

O parece elimina também a contribuição sindical obrigatória e retira competências dos sindicatos, sufocando financeiramente e debilitando a representatividade das entidades sindicais, o que inviabiliza sua existência.

A reforma trabalhista ameaça também aumentar a rotatividade do trabalho e a previdenciária inviabiliza o acesso dos trabalhadores à aposentadoria. Elas criam um ambiente que favorece a exploração da força de trabalho por empresas brasileiras e estrangeiras que poderão ser atraídas para se beneficiar do agravamento da exploração dos trabalhadores.

Na Câmara dos Deputados, deputados federais se insurgem contra estas tentativas de eliminar direitos duramente conquistados. Para o presidente da Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), “o relator conseguiu piorar ainda mais o projeto original ao propor alterações em mais de 100 artigos da CLT e tentar enfraquecer os sindicatos, promovendo o maior ataque aos direitos dos trabalhadores de todos os tempos”. 

O deputado Assis Melo (PCdoB-RS) denunciou que esta é “a fatura do golpe. Esse golpe foi para retirar direitos e acabar com o dever do Estado. Essa reforma trabalhista junto com a terceirização inviabiliza a Previdência”, alertou. O deputado Daniel Almeida (PCdoB) convocou a mobilização popular contra estas ameaças antidemocráticas. “Precisamos reforçar as mobilizações. No dia 28 de abril, data em que está se chamando a greve geral, é essencial que os trabalhadores vão às ruas para reivindicar seus direitos e impedir o avanço desse acinte”.

Mais do que nunca os trabalhadores precisam fazer sua voz ser ouvida em defesa dos direitos assegurados pela lei e seriamente ameaçados pelo retrocesso que os golpistas querem impor.

Todos à greve no dia 28 de abril!

Matéria copiada do blog do Altamiro Borges.

  

sábado, 15 de abril de 2017

Por que os excluídos e menos favorecidos não se identificam com conceitos à esquerda?

Por Cristiano das Neves Bodart*
Uma pesquisa realizada na periferia de São Paulo chamou atenção por indicar que as comunidades de baixo status econômicos não se identificam com conceitos considerados à esquerda, tais como lutas de classe, burguesia, proletariado, alienação, etc.

Diagnosticar que as classes sociais menos privilegiadas não se identificam com o pensamento mais à esquerda, bem como com às ideias relacionadas a luta de classes, não me soa como uma surpresa.

Tenho a impressão que quando os grupos mais à esquerda conquistam vitórias nas urnas não se dão por alcançar uma hegemonia de suas ideias, nos termos de Gramisci. Antes parece vencer por se aproximar de discursos meritocráticos (o caso do metalúrgico que se transformou em presidente, na mulher que conquista o cargo mais importante da nação), ou então um discurso paternalista, enfatizando a centralidade dos programas sociais em seus planos de governo**.

Penso que essa situação é fruto, em grande parte, pelos rumos que as Ciências Sociais tomaram na academia. As teorias mais à esquerda se aprofundaram e se complexaram significativamente a partir da segunda metade do último século; e isso é muito positivo. Contudo, paralelamente não houve uma preocupação com o processo de transposição didática dessas reflexões abstratas, não possibilitando o sujeito comum compreende-las e, consequentemente, não pensar as relações sociais a partir delas. Essa falta de transposição didática do conhecimento produzido impossibilita sua aparição na grande mídia (ainda que o motivo não seja apenas esse) e ser lido ou ouvido atentamente pelo sujeito comum***. 

São poucos os intelectuais que se preocupam em ocupar espaços midiáticos de forma didática e inteligível aos não especialistas.

Na academia é natural haver esforçamos para a construção de modelos teóricos-analíticos tão complexos que, ainda que dê conta de explicar a realidade social, dificilmente será entendido pelo sujeito comum. 

Explicações mais simplistas, tais como àquelas que ligadas, por exemplo, às ideias da Escolha Racional e à meritocracia, são facilmente assimiladas pelo sujeito comum; logo estas explicações acabam sendo tomadas como base de compreensão das suas realidades sociais. 

Explicações simplistas criadas para manter o status quo são facilmente assimiladas e utilizadas no cotidiano para justificar-explicar a realidade do sujeito comum. Por isso notadamente há uma hegemonia de ideias simples e distante de conceitos mais complexos, tais como as categoria classe social e ideologia.

Precisamos nos preocupar com a transposição didática das teorias sociológicas mais sofisticadas. De outra forma, a hegemonia de explicações fáceis, muitas delas ligadas à extra-direita, se perpetuará.

Temos notado situações na academia onde a preocupação está mais na capacidade de desenvolver reflexões abstratas do que de fato explicar o mundo social real e colaborar para transformações. Discutir modelos teóricos, tipos ideais, sem ter por objetivo explicar problemas do cotidiano sem dúvida contribui para esse diagnóstico. 

Infelizmente a capacidade de abstração teórica tornou-se um capital cultural disputado no interior das universidades, sem que essa abstração esteja centrada na realidade prática e sem nenhum interesse em realizar uma transposição didática capaz de levar ao homem comum conhecimentos necessários para entender, por exemplo, que muitos de seus problemas não são pessoais, individuais ou de ordem meritocrática. O mundo acadêmico descolou-se do homem comum, da realidade cotidiana imediata.

Não estou discursando contra as reflexões teóricas mais sofisticadas, mas contra seu distanciamento do mundo social, do cotidiano; critico a sua incapacidade de oferecer a sociedade compreensões de suas relações sociais, dos conflitos existentes, dos sistemas de reprodução das desigualdades sociais, etc.

Se a esquerda deseja conquistar hegemonia, deve ater-se a essa grande necessidade de aproximar as contribuições teóricas do cotidiano dos sujeitos sociais. Se os intelectuais preocupados em colaborar com a redução das desigualdades sociais e da exploração do homem sobre o homem precisa colocar no conjunto de suas preocupações o processo de transposição didática do conhecimento produzido.

Nota:
* Doutor em Sociologia (USP), professor adjunto da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e editor do Blog Café com Sociologia.

** É certo que não é possível generalizar, mas assim expomos pelo limite físico desse espaço.

*** Usamos essa expressão sem qualquer sentido pejorativo, designando a indivíduo mediano em relação ao grau de conhecimento de Ciências Humanas. 

Agradecimento: Ao amigo professor Dr. Radamés Rogério (UESPI), por provocar essa reflexão.

Brasil é um dos maiores alvos de ataques cibernéticos do mundo.

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Foto - ciberia.
A Fortinet anuncia seu mais recente relatório sobre o cenário global de ciberameaças. O estudo mostra em detalhes os métodos e as estratégias que os cibercriminosos usam e refere que o Brasil é um dos países mais atingidos por ataques ciberéticos no mundo.
O relatório da Fortinet relativo ao 4º trimestre de 2016 revela que o Brasil está entre os maiores alvos de ataque DDoS no mundo e é o principal alvo da América Latina. Além do mais é, também, um dos países mais atingidos por ransomware.
Só o Cerber fez mais de 700 mil vítimas no Brasil mas o malware mais comum é o Locky, observado em 87% de todas as infecções por ransomware detectadas, com o TorrentLocker em 2º lugar.
Esses malwares acessam aos dados da vítima, criptografam os arquivos e depois cobram um resgate para descriptografá-los.
A nível móvel, e sem surpresas, o sistema operacional Android continua sendo o mais afetado com o trojan  Android/Generic.S.37D422!tr a ser o mais ativo. Esse tipo de trojan rouba informações do usuário podendo causar danos financeiros avultados.
No Brasil, o “Netcore.Netis.Devices.Hardcoded.Password.Security. Bypass” causou a maior parte dos ataques dentre os 5 eventos de IPS mais frequentes, correspondendo a mais de 9 milhões dos ataques detectados.
Com um pouco mais de um trimestre de atividade, a vulnerabilidade presente nos dispositivos do fabricante Netcore pulou para o 1º lugar com mais de 60% de todos os eventos de prevenção à intrusão visualizados em todo o País.
Não existe ainda correção disponível para esta vulnerabilidade; por isso foram vários ataques como esses em 2016, que provavelmente devem continuar em 2017.
A nível global, o número de aplicativos na nuvem apresentou tendência de aumento, o que constitui um desafio para a segurança, porque as equipes de TI têm uma visibilidade menor dos dados armazenados na cloud.
Os dispositivos de IoT continuam sendo uma preocupação com os cibercriminosos construindo exércitos de equipamentos com capacidade de replicar ataques a baixo custo e em velocidade e grande escala.
Segundo a Fortinet, a liberação do código-fonte Mirai aumentou a atividade do botnet em 25 vezes em uma semana, com a atividade aumentando em 125 vezes até o fim do ano.
O malware móvel continua crescendo em todo o mundo, uma em cada cinco organizações que relataram detecção de malware encontrou uma variante móvel, quase sempre associada ao Android.
Segundo a empresa de cibersegurança, ” a correlação entre o volume de exploração e a predominância indica aumento na automação dos ataques e redução de custos para malware e ferramentas de distribuição disponíveis na web obscura. Isto está tornando os ataques mais baratos e mais fáceis do que nunca”.
O aumento de “ransomware como um serviço” (RaaS) é uma realidade que não pode ser menosprezada visto que transforma qualquer criminoso sem treinamento ou habilidades especiais em um cibercriminoso com grande alcance de vítimas e danos financeiros.
De referir que 36% das organizações detectaram atividade de botnet relacionada a ransomware.
As falhas de segurança em dispositivos ou software antigos continua sendo um problema para as empresas em todo o mundo.
No total, 86% das empresas registraram ataques que tentavam explorar vulnerabilidades que existiam há mais de 10 anos. Quase 40% delas sofreram explorações contra CVEs (lista de vulnerabilidades e exposições comuns) ainda mais velhas.
Em geral, África, Oriente Médio e América Latina exibiram um maior número e variedade de detecções para cada categoria de ameaça ao comparar a média de explorações, malware e famílias de botnet detectadas por organizações de cada região do mundo.
O relatório completo pode ser acessado aqui.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Artistas e intelectuais lançam manifesto contra “desmontes de Temer (PMDB)."

Da esquerda para direita, Chico Buarque, Maria Rita Kehl, Wagner Moura e Laerte Coutinho, que assinam o documento / Montagem BdF.
Brasil de Fato.
Com iniciativa do ex-ministro da Fazenda e economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, o manifesto Projeto Brasil Nação coletou assinaturas de diversos intelectuais e artistas contra os desmontes de políticas públicas do governo golpista de Michel Temer (PMDB). O escritor Raduan Nassar, o compositor e escritor Chico Buarque, o cineasta Kleber Mendonça Filho, a cartunista Laerte Coutinho, o jurista Fábio Konder Comparato, a filósofa Márcia Tiburi, a psicanalista Maria Rita Kehl, entre outros, são signatários do documento.
Um ano após Temer assumir a presidência interinamente, o grupo se opõe às propostas do governo federal como as reformas trabalhista e da Previdência, privatizações, a desnacionalização da indústria e redução dos investimentos sociais. “Programas e direitos sociais estão ameaçados. Na saúde e na Previdência, os mais pobres, os mais velhos, os mais vulneráveis são alvo de abandono”, diz trecho do documento.
O texto aponta que a causa da atual recessão econômica é uma armadilha de juros altos e de câmbio apreciado que inviabiliza o investimento privado.
O manifesto defende que sejam adotados cinco pontos econômicos para reverter este cenário: a diminuição do superávit para estimular a economia em momentos de crise, taxa básica de juros diminuída, superávit na conta-corrente do balanço de pagamentos, retomada do investimento público e uma reforma tributária progressiva.
Leia abaixo o texto na íntegra.
MANIFESTO PROJETO BRASIL NAÇÃO
O Brasil vive uma crise sem precedentes. O desemprego atinge níveis assustadores. Endividadas, empresas cortam investimentos e vagas. A indústria definha, esmagada pelos juros reais mais altos do mundo e pelo câmbio sobreapreciado. Patrimônios construídos ao longo de décadas são desnacionalizados.
Mudanças nas regras de conteúdo local atingem a produção nacional. A indústria naval, que havia renascido, decai. Na infraestrutura e na construção civil, o quadro é de recuo. Ciência, cultura, educação e tecnologia sofrem cortes.
Programas e direitos sociais estão ameaçados. Na saúde e na Previdência, os mais pobres, os mais velhos, os mais vulneráveis são alvo de abandono.
A desigualdade volta a aumentar, após um período de ascensão dos mais pobres.
A sociedade se divide e se radicaliza, abrindo espaço para o ódio e o preconceito.
No conjunto, são as ideias de nação e da solidariedade nacional que estão em jogo. Todo esse retrocesso tem apoio de uma coalizão de classes financeiro-rentista que estimula o país a incorrer em déficits em conta-corrente, facilitando assim, de um lado, a apreciação cambial de longo prazo e a perda de competitividade de nossas empresas, e, de outro, a ocupação de nosso mercado interno pelas multinacionais, os financiamentos externos e o comércio desigual.
Esse ataque foi desfechado num momento em que o Brasil se projetava como nação, se unindo a países fora da órbita exclusiva de Washington. Buscava alianças com países em desenvolvimento e com seus vizinhos do continente, realizando uma política externa de autonomia e cooperação. O país construía projetos com autonomia no campo do petróleo, da defesa, das relações internacionais, realizava políticas de ascensão social, reduzia desigualdades, em que pesem os efeitos danosos da manutenção dos juros altos e do câmbio apreciado.
Para o governo, a causa da grande recessão atual é a irresponsabilidade fiscal; para nós, o que ocorre é uma armadilha de juros altos e de câmbio apreciado que inviabiliza o investimento privado. A política macroeconômica que o governo impõe à nação apenas agravou a recessão. Quanto aos juros altíssimos, alega que são “naturais”, decorrendo dos déficits fiscais, quando, na verdade, permaneceram muito altos mesmo no período em que o país atingiu suas metas de superávit primário (1999-2012).
Buscando reduzir o Estado a qualquer custo, o governo corta gastos e investimentos públicos, esvazia o BNDES, esquarteja a Petrobrás, desnacionaliza serviços públicos, oferece grandes obras públicas apenas a empresas estrangeiras, abandona a política de conteúdo nacional, enfraquece a indústria nacional e os programas de defesa do país, e liberaliza a venda de terras a estrangeiros, inclusive em áreas sensíveis ao interesse nacional.
Privatizar e desnacionalizar monopólios serve apenas para aumentar os ganhos de rentistas nacionais e estrangeiros e endividar o país.
O governo antinacional e antipopular conta com o fim da recessão para se declarar vitorioso. A recuperação econômica virá em algum momento, mas não significará a retomada do desenvolvimento, com ascensão das famílias e avanço das empresas.
Ao contrário, o desmonte do país só levará à dependência colonial e ao empobrecimento dos cidadãos, minando qualquer projeto de desenvolvimento.
Para voltar a crescer de forma consistente, com inclusão e independência, temos que nos unir, reconstruir nossa nação e definir um projeto nacional. Um projeto que esteja baseado nas nossas necessidades, potencialidades e no que queremos ser no futuro. Um projeto que seja fruto de um amplo debate.
É isto que propomos neste manifesto: o resgate do Brasil, a construção nacional. Temos todas as condições para isso. Temos milhões de cidadãos criativos, que compõem uma sociedade rica e diversificada. Temos música, poesia, ciência, cinema, literatura, arte, esporte –vitais para a construção de nossa identidade.
Temos riquezas naturais, um parque produtivo amplo e sofisticado, dimensão continental, a maior biodiversidade do mundo. Temos posição e peso estratégicos no planeta. Temos histórico de cooperação multilateral, em defesa da autodeterminação dos povos e da não intervenção.
O governo reacionário e carente de legitimidade não tem um projeto para o Brasil. Nem pode tê-lo, porque a ideia de construção nacional é inexistente no liberalismo econômico e na financeirização planetária.
Cabe a nós repensarmos o Brasil para projetar o seu futuro –hoje bloqueado, fadado à extinção do empresariado privado industrial e à miséria dos cidadãos. Nossos pilares são: autonomia nacional, democracia, liberdade individual, desenvolvimento econômico, diminuição da desigualdade, segurança e proteção do ambiente– os pilares de um regime desenvolvimentista e social.
Para termos autonomia nacional, precisamos de uma política externa independente, que valorize um maior entendimento entre os países em desenvolvimento e um mundo multipolar.
Para termos democracia, precisamos recuperar a credibilidade e a transparência dos poderes da República. Precisamos garantir diversidade e pluralidade nos meios de comunicação. Precisamos reduzir o custo das campanhas eleitorais, e diminuir a influência do poder econômico no processo político, para evitar que as instituições sejam cooptadas pelos interesses dos mais ricos.
Para termos Justiça precisamos de um Poder Judiciário que atue nos limites da Constituição e seja eficaz no exercício de seu papel. Para termos segurança, precisamos de uma polícia capacitada, agindo de acordo com os direitos humanos.
Para termos liberdade, precisamos que cada cidadão se julgue responsável pelo interesse público.
Precisamos estimular a cultura, dimensão fundamental para o desenvolvimento humano pleno, protegendo e incentivando as manifestações que incorporem a diversidade dos brasileiros.
Para termos desenvolvimento econômico, precisamos de investimentos públicos (financiados por poupança pública) e principalmente investimentos privados. E para os termos precisamos de uma política fiscal, cambial socialmente responsáveis; precisamos juros baixos e taxa de câmbio competitiva; e precisamos ciência e tecnologia.
Para termos diminuição da desigualdade, precisamos de impostos progressivos e de um Estado de bem-estar social amplo, que garanta de forma universal educação, saúde e renda básica. E precisamos garantir às mulheres, aos negros, aos indígenas e aos LGBT direitos iguais aos dos homens brancos e ricos.
Para termos proteção do ambiente, precisamos cuidar de nossas florestas, economizar energia, desenvolver fontes renováveis e participar do esforço para evitar o aquecimento global.
Neste manifesto inaugural estamos nos limitando a definir as políticas públicas de caráter econômico. Apresentamos, assim, os cinco pontos econômicos do Projeto Brasil Nação.
1- Regra fiscal que permita a atuação contracíclica do gasto público, e assegure prioridade à educação e à saúde
2- Taxa básica de juros em nível mais baixo, compatível com o praticado por economias de estatura e grau de desenvolvimento semelhantes aos do Brasil
3- Superávit na conta-corrente do balanço de pagamentos que é necessário para que a taxa de câmbio seja competitiva.
4- Retomada do investimento público em nível capaz de estimular a economia e garantir investimento rentável para empresários e salários que reflitam uma política de redução da desigualdade.
5- Reforma tributária que torne os impostos progressivos.
Esses cinco pontos são metas intermediárias, são políticas que levam ao desenvolvimento econômico com estabilidade de preços, estabilidade financeira e diminuição da desigualdade. São políticas que atendem a todas as classes exceto a dos rentistas.
A missão do Projeto Brasil Nação é pensar o Brasil, é ajudar a refundar a nação brasileira, é unir os brasileiros em torno das ideias de nação e desenvolvimento –não apenas do ponto de vista econômico, mas de forma integral: desenvolvimento político, social, cultural, ambiental; em síntese, desenvolvimento humano. Os cinco pontos econômicos do Projeto Brasil são seus instrumentos– não os únicos instrumentos, mas aqueles que mostram que há uma alternativa viável e responsável para o Brasil.
Estamos hoje, os abaixo assinados, lançando o Projeto Brasil Nação e solicitando que você também seja um dos seus subscritores e defensores.
Luiz Carlos Bresser-Pereira, economista
Eleonora de Lucena, jornalista
Celso Amorim, embaixador
Raduan Nassar, escritor
Chico Buarque de Hollanda
Mario Bernardini, engenheiro
Roberto Schwarz, crítico literário
Pedro Celestino, engenheiro
Fábio Konder Comparato, jurista
Kleber Mendonça Filho, cineasta
Laerte, cartunista
João Pedro Stedile, ativista social
Wagner Moura, ator e cineasta
Vagner Freitas, sindicalista
Margaria Genevois, ativista de direitos humanos
Rogério Cezar de Cerqueira Leite, físico
Fernando Haddad, professor universitário
Marcelo Rubens Paiva, escritor
Maria Victoria Benevides, socióloga
Luiz Costa Lima, crítico literário
Paul Singer, economista
Ciro Gomes, político
Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, economista
Alfredo Bosi, crítico e historiador
Eclea Bosi, psicóloga
Manuela Carneiro da Cunha, antropóloga
Fernando Morais, jornalista
Leda Paulani, economista
André Singer, cientista político
Luiz Carlos Barreto, cineasta
Paulo Sérgio Pinheiro, sociólogo
Maria Rita Kehl, psicanalista
Tata Amaral, cineasta
Eric Nepomuceno, jornalista
Carina Vitral, estudante
Luiz Felipe de Alencastro, historiador
Roberto Saturnino Braga, engenheiro e político
Roberto Amaral, cientista político
Eugenio Aragão, subprocurador geral da República
Ermínia Maricato, arquiteta
Marcia Tiburi, filósofa
Frei Betto, escritor e religioso
Editoria: Política