O PT nasceu como partido de esquerda e socialista. Para o PT, o socialismo ou será democrático ou não será socialismo.
Muitos de nós lutamos pela democracia, e depois de conquistada,
nos mais de trinta anos construímos um processo de aprendizagem para
exercê-la na forma direta e representativa, em maior ou menor grau. Na
vida interna do PT (encontros, prévias e quatro congressos), ou nos
espaços institucionais: prefeituras, mandatos legislativos, governos
estaduais e federal.
Para os militantes e uma parte significativa do seu eleitorado a
dinâmica de organização e democracia interna do PT é seu principal
diferencial entre os partidos brasileiros. É esta dinâmica, ao contrário
do que se imagina que dá musculatura e força política às lideranças
petistas. A multiplicidade de posições políticas legitimamente
organizadas no interior do PT em correntes e grupos é uma virtude para
um partido democrático, não um defeito.
Cada corrente ou grupo atua internamente no partido para organizá-lo
no cotidiano. Estabelecendo relação com a sociedade organizada, os
movimentos sociais, sindical, camponês e nos temas transversais como
cultura, raça, gênero, juventude entre outros, e, em particular nas
disputas eleitorais.
A influência de lideranças como o ex-presidente Lula no cenário das
eleições de 2012 é um bom exemplo. Ninguém pode desprezar o papel que
cumpre o ex-presidente.
Ele mantém relação direta com a base social e
política do país, no entanto, dentro do PT, suas articulações têm de ser
validadas e referendadas pelos filiados/as. Não basta que diga que o
candidato deve ser “A” ou “B”. No máximo atua para que tenha um único
candidato, pois, se tiver mais de um, haverá Encontro ou Prévia no
partido.
O próprio Lula disputou prévias com o senador Eduardo Suplicy
para ser candidato a presidência da República em 2002. Vale dizer, o
Lula petista já teve posições que não foram referendadas por filiados/as
em estados importantes. Esta é a força da democracia, seu exercício
como meio e fim para a sociedade que queremos construir.
Os meios de comunicação de massa oferecem um enquadramento diferente
da vida interna do PT, não por desconhecerem. Nas reportagens e matérias
sobre a definição de candidaturas para as eleições de 2012,
desqualificam nossas instâncias de direção e insistem em afirmar na tese
de que no PT quem decide nos municípios é o “cacique local” vereador ou
não; nos estados é o deputado estadual, o senador, e nos temas
nacionais em última análise é o ex-presidente Lula.
É verdade que os interesses postos na sociedade se revelam na disputa
interna do PT, como em qualquer partido. Interesses econômicos, em
alguns casos privados, pessoais, personalistas, carreiristas; mas também
interesses coletivos, legítimos, de construção partidária, de
proposição e construção de políticas públicas, de debate político como
aprendizagem da democracia que construímos hoje, para um amanhã.
Alguns definem a democracia como o território da articulação para o
consenso dos interesses, por meio de acordos de entendimento. Fazer
acordos faz parte da política, no entanto, certos acordos atuam contra a
democracia e não em seu favor. Para aqueles que acreditam no socialismo
democrático a democracia é outra coisa, é o espaço legítimo para dar
relevo ao dissenso, é o cenário promovido para o exercício da diferença e
aos diferentes, a menor fração tem a mesma legitimidade da maior para
expor sua diferença. O consenso deve ser resultado do exercício da
democracia, e não seu um produto artificial em seu nome.
Por isso é fundamental que as lideranças do PT tenham que validar
suas posições sobre política de alianças ou quem deve representar o
partido nos processos eleitorais e que a regulamentação das relações
internas do partido e seus métodos de decisão sejam aprovados em
Congressos, Encontros ou Prévias (quando em Encontro os delegados devem ser eleitos na forma direta).
A estratégia dos meios de comunicação é transformar o Lula num
cacique tradicional, e o PT num partido igual aos demais. Não tenho
dúvida que a legitimidade do Lula petista foi conquistada por sua
capacidade de se colocar diante dos filiados e da sociedade, para
legitimar suas posições no voto, por quem tem poder para fazê-lo, os
filiados do PT primeiro, os eleitores depois.
Não podemos calar diante do ataque a democracia interna do PT, não é
bom para o PT nem para o ex-presidente Lula. Lamentavelmente esta
estratégia tem tido adeptos entre alguns dirigentes do partido, que
promovem o “caciquismo lulista”.
O 4º Congresso extraordinário do PT
provou exatamente o contrário. Os mais de 1300 delegados/as presentes no
Congresso ampliaram o poder dos filiados/as, a participação das
mulheres, dos negros e da juventude em todas as instâncias do partido,
dando destaque a paridade de gênero em todas as instancias e ao limite
dos mandatos legislativos em três mandatos para Câmara federal e
assembléias legislativas estaduais e a dois mandatos para o senado. Este
é o antídoto contra o “caciquismo” machista enraizado nos partidos e no
sistema eleitoral brasileiro.
Reconheço o papel das lideranças e dirigentes do PT, a extraordinária
liderança do ex-presidente Lula, dos/as governadores/as, senadores/as,
deputados/as federais, estaduais e da presidenta Dilma. Estão em lugar
privilegiado na política, tem informações que o filiado comum não tem e
atuam na construção de um cenário político favorável em 2012, em favor
do projeto histórico do PT quanto legitimados pela direção do partido,
ou, de projetos pessoais uma vez que nas eleições de 2014 são candidatos
a primeira eleição ou a reeleição.
Devemos resistir aos ataques à democracia interna do PT como forma de
manutenção da trajetória de luta pelo socialismo democrático. Se nos
resignarmos na imagem de uma maioria numérica e artificial, que tudo
sabe e tudo pode, se nos escondermos na sombra de lideranças
burocráticas que se distanciam da relação presente da base e passam a
exercer uma relação terceirizada por cabos eleitorais aí sim, no modelo
tradicional de partido da recente democracia brasileira, perderemos a
vitalidade do novo, do revolucionário, da ousadia, da esperança de que
um novo mundo é possível, em especial o mundo socialista e democrático.
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