por Luiz Carlos Azenha.
O que existe de fato sobre uma criança indígena que teria sido
queimada por madeireiros no interior de Maranhão é um relato de
testemunhas indiretas, reproduzido por terceiros. Como disse o
jornalista Renato Santana, assessor do Conselho Indigenista Missionário,
em Brasília, cuidado com o que circula na internet.
O Cimi divulgou uma nota a respeito, em seu site:
O corpo foi encontrado carbonizado em outubro do ano passado num acampamento abandonado pelos Awá isolados, a cerca de 20 quilômetros da aldeia Patizal do povo Tenetehara, região localizada no município de Arame (MA). A Fundação Nacional do Índio (Funai) foi informada do episódio em novembro e nenhuma investigação do caso está em curso.
As suspeitas dão conta de que um ataque tenha ocorrido entre setembro e outubro contra o acampamento dos indígenas isolados. Clovis Tenetehara costumava ver os Awá-Guajá isolados durante caçadas na mata. No entanto, deixou de encontrá-los logo que localizou um acampamento com sinais de incêndio e os restos mortais de uma criança.
“Depois disso não foi mais visto o grupo isolado. Nesse período os madeireiros estavam lá. Eram muitos. Agora desapareceram. Não foram mais lá. Até para nós é perigoso andar, imagine para os isolados”, diz Luís Carlos Tenetehara, da aldeia Patizal. Os indígenas acreditam que o grupo isolado tenha se dispersado para outros pontos da Terra Indígena Araribóia temendo novos ataques.
Conversei também, por telefone, com Rosimeire Diniz, coordenadora do
Cimi em São Luís do Maranhão, que confirmou a declaração dada por ela:
“A situação é denunciada há muito tempo. Tem se tornado frequente a presença desses grupos de madeireiros colocando em risco os indígenas isolados. Nenhuma medida concreta foi tomada para proteger esses povos”.
A Terra Indígena Araribóia tem 413 mil hectares devidamente
homologados e demarcados. Nela os Tenetehara convivem com os Awá, um
povo coletor.
Renato Santana negou a existência de alguma foto do corpo
carbonizado. Só uma investigação oficial da Funai pode confirmar se de
fato existe o corpo carbonizado e se de fato é de uma criança. Além
disso, é preciso esperar o testemunho direto de alguém que presenciou o
episódio para saber se houve crime e, se houve, para tentar identificar
os autores.
Dizer que “madeireiros mataram queimada uma criança indígena de oito anos” é, no mínimo, um exagero.
PS do Viomundo: A Funai e a Polícia Federal de
Brasília acabam de informar ao repórter Gustavo Costa que equipes locais
estão a caminho da reserva para apurar a denúncia.
PS do Viomundo2: Conversamos, por telefone, no
Maranhão, com Gilderlar Rodrigues da Silva, do Cimi, e com Luis Carlos
Guajajara, indígena. Ambos disseram que, embora não tenham visto
pessoalmente o corpo, ouviram de terceiros relatos fidedignos sobre o
assassinato. De qualquer forma, ambos disseram que esperam uma apuração
oficial para esclarecer o caso. O repórter Gustavo Costa, da TV Record,
está empenhado pessoalmente nesta apuração, já que pretende transformar a
denúncia numa reportagem de alcance nacional, assim que ela se
confirmar.
Abaixo está a foto da “criança indígena assassinada”, que recebi como sendo
da criança morta no Maranhão, acompanhada pelo texto a que me referi
acima, “madeireiros mataram queimada viva uma criança indígena de oito
anos”.
Indiozinho Queimado? |
Fonte: http://www.viomundo.com.br/denuncias/os-boatos-na-internet-e-o-relato-da-crianca-queimada.html
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