O Banco Nacional de Desenvolvimento Social, BNDES, emprestou em
2011 o dobro do valor desembolsado pelo Banco Mundial. Ano a ano,
instituição estatal financia cada vez mais exportadores brasileiros na
América Latina.
Metrôs, rodovias, hidrelétricas e gasodutos – a expansão da
infraestrutura nos vizinhos latino-americanos conta com dinheiro
brasileiro. Na América Latina e no Caribe, se concentra a maior parte
dos 6,7 bilhões de dólares desembolsados no exterior pelo Banco Nacional
de Desenvolvimento Social, BNDES. A soma dos financiamentos na região
chega a 1,7 bilhão de dólares.
O destino mais frequente é a Argentina, onde as ampliações e
construções de gasodutos se tornaram possíveis também por intermédio do
banco brasileiro.
O trâmite é simples: o BNDES paga o exportador
brasileiro quando este entrega o produto, no caso, as tubulações. Quando
o projeto é finalizado, o comprador (na maioria dos casos, o governo
estrangeiro) devolve, a prazo, o valor ao banco brasileiro.
Não há limites para o credor estatal brasileiro. "Podemos financiar
desde uma máquina de 100 mil dólares, até o projeto de uma hidrelétrica,
que pode chegar a um bilhão e meio de dólares", contou Leonardo
Botelho, chefe do Departamento de Internacionalização do BNDES, à DW
Brasil.
O gigante brasileiro já é maior do que o Banco Mundial. Em 2011, a
instituição internacional desembolsou "só" 43 bilhões de dólares, contra
os 73 bilhões dólares – ou 137 bilhões de reais – financiados pelo
BNDES. "É um banco bom, grande, voltado mais para o Brasil. Mas esse
ritmo de crescimento não é sustentável", analisa Mansueto Almeida,
economista do Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada, Ipea.
Amigos latinos. Atualmente, os argentinos devem 3,1 bilhões de dólares ao banco
brasileiro. Só em 2011, o empréstimo ao país vizinho foi de 802 milhões.
A Venezuela vem em segundo na lista de destinos: no país comandado por
Hugo Chávez, o BNDES financiou, principalmente, a construção de
hidrelétricas. O saldo devedor atual é de 1,2 bilhão de dólares.
"Na carteira de financiamento também há várias linhas de metrôs e mais
recentemente uma siderúrgica", acrescentou Botelho. As construções de
hidrelétricas nas nações vizinhos são, no entanto, os projetos que mais
recebem recursos do BNDES, comentou Carlos Frederico Braz de Souza,
chefe do Departamento de Relações Institucionais, Planejamento e Novos
Negócios do banco.
O dinheiro é pago às empresas estabelecidas no Brasil que participam da
obra – algumas construtoras chegam a "entregar uma hidrelétrica
montada", exemplifica Souza. "O Brasil é hoje o maior mercado de
hidrogeração. As empresas precisam ser estabelecidas no país para
solicitar o financiamento do BNDES", esclareceu Botelho, lembrando que
multinacionais fabricantes de turbinas, por exemplo, mantêm
estrategicamente unidades em território brasileiro.
Mais créditos, mais dívida. Mansueto Almeida ressalta o crescimento vertiginoso da instituição: em
1995, o banco tinha disponível cerca de 1% do Produto Interno Bruto
nacional para emprestar. Em 2011, essa taxa era de aproximadamente 4,5% a
5%. Para aumentar essa capacidade de empréstimo, no entanto, o governo
se endividou. Em quatro anos, calcula Almeida, o Tesouro teve um custo
extra de 300 bilhões de reais para fortalecer o BNDES.
Na teoria, a instituição é sustentada por um imposto que incide sobre o
faturamento das empresas. Também parte do Fundo do Amparo ao
Trabalhador é repassada ao BNDES e compõe os fundos do banco.
Considerando-se apenas esses recursos, a autonomia financeira seria de
90 bilhões de reais por ano, ressalta o economista do Ipea. "Um governo não deve se endividar tanto para capitalizar um banco, por
mais que ele financie a infraestrutura do país, porque não garante o
crescimento da economia. Os países que mais se endividam não são os que
mais crescem. Se essa lógica fosse verdadeira, a Grécia seria uma das
nações mais ricas do mundo", compara Almeida.
Por enquanto, todos os pedidos de financiamento de exportadores
brasileiros que chegam ao BNDES têm um final feliz. "Estamos atendendo
tudo o que tem chegado. Nossa missão é apoiar o exportador brasileiro de
bens e serviços. Existe uma demanda forte da América Latina, um dos
principais mercados para brasileiros. E um grande interesse desses
mercados nas soluções brasileiras", pontuou Leonardo Botelho.
Revisão: Roselaine Wandscheer
FONTE:http://www.dw.de/dw/article/0,,15772513,00.html
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