Lula deu aval para a troca após Serra se lançar; PT perde pasta mas silencia.
Gerson Camarotti, Catarina Alencastro - ELEIÇÕES 2012.
Numa
manobra que poderá favorecer a candidatura do petista Fernando Haddad à
prefeitura de São Paulo, a presidente Dilma Rousseff surpreendeu o
próprio partido, o PT, e decidiu nomear o senador Marcelo Crivella
(PRB-RJ), da Igreja Universal do Reino de Deus, para o Ministério da
Pesca, no lugar do deputado petista Luiz Sérgio (RJ). Com isso, o
Palácio do Planalto também espera conseguir uma reaproximação com a
bancada dos evangélicos.
As
relações estavam estremecidas desde a polêmica sobre a cartilha contra
homofobia do Ministério da Educação - feita quando Haddad estava à
frente da pasta -, e se agravou com declarações do ministro da
Secretaria Geral, Gilberto Carvalho, e a nomeação de Eleonora Menicucci,
que já foi favorável ao aborto, para a Secretaria da Mulher.
O
silêncio do PT pela perda da pasta fortaleceu a leitura da troca da
Pesca pela desistência da pré-candidatura do ex-deputado Celso
Russomanno (PRB), que hoje nega essa possibilidade, em favor de Haddad.
Na véspera da escolha de Crivella para o ministério, a cúpula do PRB se
reuniu na capital paulista com o pré-candidato do PMDB a prefeito, o
deputado Gabriel Chalita, para discutir apoio.
A
mudança de última hora foi feita com o aval direto do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, logo após o ex-governador José Serra decidir
disputar a prefeitura de São Paulo pelo PSDB, enfrentando as prévias
tucanas.
Conselheiro político de Dilma, Lula temia o tom das críticas do
PRB à candidatura de Haddad. Com isso, a expectativa é que seja
retirada a candidatura de Russomanno. Ao mesmo tempo, havia forte temor
no núcleo da campanha de Haddad dos ataques de conotação religiosa dos
bispos da Universal.
Ideli diz que PRB é aliado fiel. Recentemente,
o bispo da Igreja Universal e presidente do PRB, Marcos Pereira, tinha
atacado o chamado kit anti-homofobia encomendado pelo Ministério da
Educação. Pereira chegou a afirmar que o "kit gay", como o material foi
chamado pelos evangélicos, iria fazer Haddad perder votos.
Tanto
Crivella quanto a ministra da Secretaria de Relações Institucionais da
Presidência, Ideli Salvatti - que foi ministra da Pesca e trocara de
lugar com Luiz Sérgio, esforçaram-se para negar uma barganha
eleitoral.
A presidente fez um profundo reconhecimento pelo trabalho que o
ministro Luiz Sérgio desenvolveu, mas também da importância de poder
contar no governo, no ministério, com a representação do PRB, um partido
pelo qual todos temos o maior respeito. E é ainda uma forma de
homenagear o nosso ex-vice presidente José Alencar - disse Ideli.
Na
sua primeira fala como futuro ministro, Crivella também negou que a
entrada do PRB no governo - o partido tem bancada de apenas dez
deputados e um senador - possa interferir na disputa pela prefeitura de
São Paulo. Russomanno aparece em boa posição nas pesquisas.
- O PRB tem candidato e, em nenhum momento, isso foi aventado. Só tivemos conversas técnicas - afirmou Crivella.
Mesmo
com a nova perda, a cúpula do PT se calou diante da queda de Luiz
Sérgio e evitou criticar a presidente Dilma. Mas houve desconforto entre
petistas com a condução da mudança. Desde o ano passado, quando Luiz
Sérgio foi deslocado da Secretaria de Relações Institucionais para a
Pesca, Dilma já pensava em tirá-lo do governo. Mas, para evitar um
desgaste maior naquele momento, fez a troca com Ideli. Procurado, o
presidente do PT, Rui Falcão, não se pronunciou.
-
Respeitamos as razões que fizeram a presidente Dilma decidir pela
mudança. Mas fui surpreendido - disse o secretário de Comunicação do PT,
deputado André Vargas (PR).
A reclamação ficou por conta do PT do Rio de Janeiro.
-
Lamentamos a saída de Luiz Sérgio. Fomos surpreendidos. Até porque Luiz
Sérgio era o único nome do PT do Rio de Janeiro no governo - limitou-se
a comentar o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).
- Não sei se foi bom ou ruim. Mas o PT do Rio fica sem ministério - disse a deputada e ex-ministra Benedita da Silva (PT-RJ).
O
senador confirmou ter recebido o convite de Dilma no fim de semana. A
exemplo de outros titulares da Pesca, como Ideli Salvatti, ele nada
entende de pesca. Mas defendeu que a pasta crie uma empresa como a
Embrapa, que se destaca em pesquisas na agricultura.
Crivella
também negou que o convite da presidente Dilma tenha como objetivo
acalmar a bancada evangélica, que vive em pé de guerra com o Palácio do
Planalto em questões controversas como o "kit gay", aborto e, mais
recentemente, com as declarações de Gilberto Carvalho, que apregoou a
necessidade de se travar uma disputa ideológica com esse segmento
religioso. Mas deixou claro que irá agir para tentar melhorar o
relacionamento do Planalto com os evangélicos.
-
Sempre batalhei para dirimir controvérsias. Os evangélicos votamos
quase majoritariamente na presidente Dilma. Faço parte do governo.
Acredito que (com a nomeação) deve haver uma aproximação maior - disse
Crivella.
No
mês passado, em palestra no Fórum Social Mundial, Gilberto Carvalho
declarou que o Estado deve fazer uma disputa ideológica com os
evangélicos pela "nova classe média", que estaria sob hegemonia de
setores conservadores. O ministro se viu obrigado a ir à Câmara e pedir
perdão aos religiosos. Ele afirmou que foi mal compreendido, mas a
situação ainda permanece delicada. No plenário do Senado, o senador
Magno Malta (PR-ES), representante dos evangélicos, xingou Carvalho de
"ministro meia-boca", "cara-de-pau" e "safado, mentiroso".
FONTE: Jornal O GLOBO.
http://www.exercito.gov.br/web/imprensa/resenha
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