Ana Carolina Prado. Do UOL, em São Paulo.
Em entrevista coletiva por telefone na tarde desta sexta-feira (2), o diretor de comunicação e assuntos públicos do Google no Brasil, Felix Ximenes, disse que a reação do país às mudanças na política de privacidade da empresa é exagerada.
“A divulgação da nova política [que vem sendo feita desde janeiro deste ano] provocou uma reação bastante grande no mundo todo, mas as pessoas se acalmaram depois de ler e entender os novos termos. Exceto no Brasil. Aqui, vemos um crescente de preocupação baseado em mitos e boatos”, disse.
Felix explica que, na prática, pouca coisa muda. “A nossa ideia não é
coletar mais informações do usuário, mas sim ter certeza de que ele
saiba que está se expondo na internet e tenha controle do que vai ser
compartilhado”, afirma. No caso das informações fornecidas ao Google,
lembra o executivo, esse controle pode ser feito por meio da ferramenta de gestão de privacidade.
O que muda
A mudança nas regras do Google diz respeito ao uso de suas informações
pessoais para diferentes produtos e serviços. A política de privacidade
antiga estabelecia regras específicas para cada um deles – e que, às
vezes, eram conflitantes.
Em um esclarecimento solicitado pelo Congresso norte-americano, a
empresa explicou isso com mais detalhes: “Especificamente, nossas
políticas não nos permitiam combinar dados do histórico de pesquisas no
YouTube com outros produtos e serviços do Google para torná-los melhor.
Então, se um usuário que gosta de cozinhar procurasse receitas no
Google, não seríamos capazes de recomendar vídeos de cozinha quando ele
visitasse o YouTube, apesar de usar as duas contas com um mesmo login.
Queremos mudar isso para que possamos criar uma experiência mais simples
e intuitiva."
A nova política, agora, é uma só para todos os serviços e permite
cruzar dados para que o usuário receba resultados mais personalizados – o
que ele assiste no YouTube pode influenciar seus resultados de buscas,
por exemplo, e vice-versa. A empresa também garante que não vai coletar
dados do perfil do usuário para vender a anunciantes, mas sim usá-los
como um filtro para exibir a cada pessoa apenas os anúncios que mais lhe
interessarem.
Críticas
Ao anunciar a nova política, o Google despertou preocupação da parte de
usuários e governos. Autoridades europeias chegaram a pedir que a sua
implementação, que ocorreu no dia 1º de março, fosse adiada e o governo
americano pediu mais explicações.
A organização americana de defesa do consumidor Consumer Watchdog
publicou nesta quinta-feira (1º) em seu site um texto em que John M.
Simpson, seu diretor de projetos de privacidade, critica a nova
política. “O Google não está falando com você sobre proteger sua
privacidade. Está contando como vai coletar informações sobre você em
todos os seus serviços, combiná-las de novas maneiras e usar os gordos
dossiês digitais para vender mais anúncios. Eles estão dizendo como vão
espioná-lo”, disse ele. “Lembre-se de que você não é um cliente para o
Google; você é um produto dele”, completou.
O texto também traz aspas da autoridade de proteção de dados francesa
CNIL, que comentou: “Os termos da nova política (...) levantam temores
sobre as práticas reais do Google. Nossa investigação preliminar mostra
que é extremamente difícil saber exatamente quais dados são combinados
entre quais serviços e para que fins, mesmo por profissionais de
privacidade treinados."
Decisão do usuário
Segundo Felix, quem decide o nível de exposição em cada serviço é o
usuário. “Se a ferramenta de gestão de privacidade não for o suficiente
para ele, pode usar os serviços anonimamente ou criar várias contas
diferentes”, afirma.
“Quem ainda assim tiver problemas em concordar com as práticas do
Google pode baixar seus dados e arquivos – como os do Gmail, por exemplo
– e levá-los para um serviço no qual confie mais. É um caso extremo de
romper a relação conosco, mas é possível”, completa. “Temos o princípio
de que os dados pertencem ao usuário, não ao Google. Então ele tem o
direito de fazer download do que guarda conosco e levar para outros
lugares”.
Ainda segundo o diretor, o Google guarda informações de backup dos
usuários por nove meses – mas, caso eles decidam fechar sua conta, essas
informações desaparecem em poucos dias. O Orkut tem regras diferentes:
quando desativado, os dados permanecem guardados, mas invisíveis, por
três meses.
“A internet é muito maior do que o Google. Não somos um provedor de
acesso e as pessoas não precisam passar por nosso filtro para usarem a
internet. Elas usam há 14 anos porque confiam na nossa qualidade. Há 14
anos podemos saber seu comportamento na web, mas não olhamos pra isso
individualmente. Os dados se tornam anônimos e viram estatísticas.”
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