Presos os poderosos chefões
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Bicheiros Anísio, Capitão Guimarães e Turcão voltam a ser condenados após 19 anos.Ana Claudia Costa, Antônio Werneck e Gustavo Goulart.
Apontados
como chefes de uma comissão criminosa conhecida como Clube Barão de
Drummond - uma espécie tribunal do crime, responsável por julgar quem
explora o jogo ilegal em vários territórios da quadrilha, os
contraventores Aniz Abrahão David, o Anísio, patrono da Beija-Flor;
Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães; e Antônio Petrus Kalil, o
Turcão, foram presos ontem, depois de serem condenados a penas que,
somadas, ultrapassam 144 anos de reclusão. Cada um recebeu uma pena de
48 anos, oito meses e 15 dias de prisão. A punição se estendeu ainda ao
bolso: eles foram condenados a pagar, juntos, R$33 milhões em multas.
A
decisão foi tomada pela juíza Ana Paula Vieira de Carvalho, da 6ª Vara
Criminal Federal, 19 anos depois de outra juíza, Denise Frossard, ficar
conhecida nacionalmente por condenar e mandar prender 14 contraventores,
integrantes da cúpula do bicho, em 1993 - incluindo Anísio, Guimarães e
Turcão.
Na
decisão de agora, a juíza Ana Paula condenou 23 integrantes da máfia do
jogo e determinou a prisão de dez pessoas. Além de Guimarães, Anísio e
Turcão, foram presos Júlio César Guimarães Sobreira, Jaime Garcia Dias,
Marcos Antônio dos Santos Bretas, Nagib Teixeira Suaid e João Oliveira
de Farias.
Dois mandados ainda não foram cumpridos: o de José Renato
Granado Ferreira, que está viajando com autorização judicial, e o de
Marcelo Calil Petrus, filho de Turcão, que ainda não foi localizado e é
considerado foragido pela Polícia Federal.
Valor de propina seria de R$1 milhão
A
decisão da Justiça Federal é consequência da Operação Hurricane,
desencadeada pela Polícia Federal no dia 13 de abril de 2007 e realizada
em três etapas, depois de uma investigação que durou um ano e três
meses. Entre escutas telefônicas e ambientais, foram registradas cerca
de 40 mil horas de diálogos.
A Hurricane também atingiu o Judiciário,
com o envolvimento do então ministro do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) Paulo Medina; de seu irmão, o advogado Virgílio Medina; do então
desembargador da 2ª Região do Tribunal Regional Federal José Eduardo
Carreira Alvim; do então juiz do Tribunal Regional do Trabalho de
Campinas Ernesto Luz Pinto Dória; e do então procurador regional da
República João Sérgio Leal Pereira.
Os cinco foram acusados de venda de
sentenças para permitir o funcionamento de jogos ilegais e ainda
respondem a processo no Supremo Tribunal Federal (STF).
Paulo
Medina responde a processo por corrupção passiva e prevaricação;
Virgílio, por corrupção passiva; Carreira Alvim, por corrupção e
formação de quadrilha, crime de que também são acusados Dória e Pereira.
A investigação começou em 2008, depois de os ministros do Supremo
entenderem que havia indícios suficientes para aceitar a denúncia do
Ministério Público Federal. Durante a investigação, a PF identificou que
os membros do Judiciário receberiam propinas de até de R$1 milhão para
dar sentenças favoráveis à quadrilha.
O
advogado Nélio Machado, que defende Capitão Guimarães, de 70 anos,
disse que já entrou com um pedido de habeas corpus no Tribunal Regional
Federal em favor de seu cliente, preso ontem de manhã. O bicheiro foi
condenado por formação de quadrilha e corrupção. Machado também entrou
com uma reclamação no Supremo Tribunal Federal contra a juíza Ana Paula.
O advogado alega que o STF decidiu, em 2007, que todos os réus do
processo aberto com base na Operação Hurricane deveriam responder em
liberdade.
Internado
no Hospital Pró-Cardíaco, Anísio, de 75 anos, vai continuar preso na
unidade, sob escolta. O bicheiro havia sido beneficiado há cinco dias
por um habeas corpus e gozava de liberdade provisória. Ele tivera a
prisão decretada durante a Operação Dedo de Deus, no fim do ano passado.
Já Turcão, de 83 anos, ficará em prisão domiciliar, porque, de acordo
com o despacho da juíza, tem problemas de saúde comprovados e idade
avançada. Os outros presos passaram por exame de corpo de delito no
Instituto Médico-Legal (IML) e foram transferidos para o Presídio Ary
Franco, em Água Santa.
Os
mandados de prisão foram todos cumpridos na manhã de ontem no Rio de
Janeiro e em Niterói. Segundo o superintendente da Polícia Federal no
Rio, Valmir Lemos de Oliveira, 88 agentes foram designados para cumprir
os mandados. Todos os acusados foram presos em casa, entre as 6h e
7h30m, e não resistiram à prisão.
Em
sua fundamentação para a ordem de prisão dos condenados, a juíza Ana
Paula escreveu que os bicheiros Anísio, Capitão Guimarães e Turcão são
os chefes da quadrilha de contraventores, "autores mediatos dos crimes,
cometidos pela quadrilha", que "comandam um verdadeiro aparelho
organizado de poder, que se caracteriza, como se viu, pelo emprego da
violência e da corrupção". Na condenação, a juíza atribui ao bando
crimes como formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, corrupção,
contrabando e homicídios. No seu despacho, a magistrada afirma que a
ordem de prisão é essencial para impedir que tais crimes continuem
ocorrendo.
Na
mesma decisão, a juíza ressalva que os acusados "transmitem a
exploração do jogo nestes territórios através de contratos de compra e
venda ou, em caso de morte, de testamentos". E acrescenta: "Por fim, (a
quadrilha) insere o dinheiro ilícito da exploração do jogo na economia
formal através de inúmeras empresas, que vão de restaurantes e hotéis a
transportadoras e clínicas médicas, instaurando concorrência
verdadeiramente desleal com os demais empresários".
-
Recebemos os mandados de prisão às 16h de ontem (anteontem) e
organizamos as equipes ainda à noite. Às 5,h já estávamos nas ruas e
cumprimos os mandados até as 7h30m. O segredo de Justiça foi essencial
para o sucesso das prisões - disse o superintendente Valmir Lemos de
Oliveira.
O
advogado Nélio Machado disse ontem, na porta da Superintendência da
Polícia Federal, na Praça Mauá, que a condenação na Justiça é em
primeira instância, por isso, ainda cabe recursos.
-
A prisão foi desnecessária. Tomamos conhecimento dessa decisão hoje
(ontem). Eles não representam perigo, por isso foram presos em casa, sem
resistência. Vou analisar os autos para ver com que recurso entrar.
Essa condenação de associação para o jogo, esse delito não existe. São
penas altas e descabidas - disse Nélio Machado.
FONTE: http://www.exercito.gov.br/web/imprensa/resenha
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quarta-feira, 14 de março de 2012
Rio de Janeiro. Foram Presos os Bicheiros Anísio, Capitão Guimarães e Turcão voltam a ser condenados após 19 anos.
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