domingo, 10 de junho de 2012

Antropologia. Tese sobre quilombolas é eleita a melhor do país.

Estudo desenvolvido pelo professor Carlos Alexandre dos Santos mostra como aspirações camponesas ainda organizam as comunidades quilombolas do Mato Grosso do Sul

Luciana Barreto
Da Secretaria de Comunicação da UnB.
A melhor tese de doutorado do país em Antropologia foi produzida na Universidade de Brasília. A história dos quilombolas no Mato Grosso do Sul, sob a perspectiva do campesinato e da memória de seus idosos, além da luta política pelo direito à terra dessas comunidades, resultou em mérito e reconhecimento à pesquisa desenvolvida pelo professor-substituto do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília, Carlos Alexandre Plínio dos Santos. O estudo foi selecionado pelo Prêmio Capes de Tese Edição 2011, divulgado nesta semana. Foram eleitas as 45 melhores teses de doutorado, defendidas em 2010, em diferentes áreas do conhecimento.

Sob a orientação da professora Ellen Fensterseifer Woortmann, Carlos Alexandre demonstrou em sua tese que as aspirações camponesas que orientaram a formação dos primeiros quilombolas são as mesmas que até hoje mantêm as 17 comunidades rurais negras que investigou, no Mato Grosso do Sul. São ideais como acesso à terra, formação de famílias e controle do processo de trabalho.

Para o pesquisador, as interações ocorridas entre ex-escravos da região pesquisada e das fazendas escravocratas do Triângulo Mineiro e do sul de Goiás ocasionaram o que ele chamou de “irmandade”, ou seja, “uma união que tem como principal objetivo a preservação de um projeto camponês”. A partir desse processo, novos núcleos se fortalecem e se organizam, “interligando, até mesmo, territorialidades espacialmente descontínuas”.

O professor explica que “a terra, como núcleo organizador, continua a orientar as comunidades negras rurais, embora, agora, essa luta esteja ressignificada, já que antes era baseada no parentesco e no compadrio, e atualmente está conformada a um campo político representado pelo Movimento Quilombola e pelo Movimento Negro”.

Para o professor, a premiação é mais que um reconhecimento pessoal, mas também das comunidades investigadas em seu estudo. “Esse prêmio é interessante por dar visibilidade a uma luta histórica legítima, especialmente agora, em um momento político conflituoso, onde de um lado estão comunidades negras rurais quilombolas e os movimentos de resistência e de outro, governos estaduais, prefeituras e entidades de interesses agropecuaristas”. O pesquisador cita o julgamento da constitucionalidade do Decreto 4.887/2003, o qual confere direito aos quilombolas quanto à titularidade das terras ocupadas, a partir de ação impetrada pelo Partido Democratas.

IDOSOS - Entre 2006 e 2010, Carlos Alexandre dedicou ao todo doze meses a um trabalho de campo etnográfico e documental. Foram quase cem entrevistas, principalmente com pessoas idosas e nas comunidades quilombolas Dezidério Felippe de Oliveira e Tia Eva. “Como percebi no trabalho de campo, houve uma grande preocupação dos idosos no sentido de que suas memórias não se perdessem, por isso a pesquisa sobre o passado deles e dos seus ascendentes foi central para minha pesquisa”, relata. “Somada à luta pela terra, resgatar essa memória significa recompor uma história que a História Oficial se negou a contar”.

Carlos Alexandre destaca que sua preocupação foi a de não deixar cair no esquecimento os parentes já falecidos, a luta de homens, mulheres e famílias que atravessou gerações por um pedaço de terra, os parentes assassinados, suas tradições e memórias pessoais. “Reconstituir essa outra história é reafirmar a identidade dessas comunidades, de nossos negros, de nosso Brasil”, comentou. “Não fosse o apoio do Departamento de Antropologia da UnB, fórum de excelência da universidade, essa pesquisa não teria alcançado tamanho êxito e alcance”, elogiou. O curso de Antropologia da UnB é avaliado pela Capes com nota máxima: 7. As avaliações são feitas a cada três anos. A última foi em 2010.

A cerimônia de entrega dos prêmios aos autores e da distinção aos respectivos orientadores e programas de pós-graduação ocorrerá no edifício-sede da Capes, em Brasília, no dia 11 de julho.

FONTE:http://www.unbciencia.unb.br/index.php?option=com_content&view=article&id=474%3Atese-sobre-quilombolas-e-eleita-a-melhor-do-pais&catid=25%3Aantropologia

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