Do Correio de Alagoas - Sociólogo da UFal tem casa invadida, revirada e é algemado em ação equivocada da Deic.
Professor Carlos Martins foi posto como suspeito de ser um dos assaltantes do Banco Santander, da Fits.
O sociólogo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Carlos
Martins, sofreu constrangimentos ao ter a casa invadida por policiais do
Tático Integrado Grupo de Resgates Especiais (Tigre), na tarde desta
sexta-feira (10), no Loteamento Antares, na Serraria, ocasião que foi
confundido com um assaltante.
Os agentes procuravam cumprir mandado de
busca e apreensão que resultasse na prisão dos assaltantes da agência do
Banco Santander, ocorrido pela manhã na Faculdade Tiradentes (FITS).
Eles confundiram o endereço, entraram, algemaram Martins e reviraram o
imóvel.
Segundo Martins – que também é professor e integra o Núcleo de Estudo
da Violência em Alagoas, juntamente com a professora Ruth Vasconcelos –
os policiais não apresentaram o mandado e nem pediram licença para
entrar.
Professor recebendo homenagem na Câmara |
Aí eles entraram e mandaram que eu deitasse no chão, colocasse o braço direito para trás e me algemaram.
Questionei o tempo todo a ação,
queria saber a razão pela qual estavam na minha casa e me algemando e
eles responderam que era para a minha segurança e também para a deles. Falei que era sociólogo, mas não adiantou nada. Perguntaram se havia
mais alguém em casa e eu disse que não”, relata Martins.
O sociólogo se arrumava para ir à Ufal ministrar uma palestra. Depois
de algemado, Carlos Martins foi colocado numa cadeira na área de
serviço com o rosto "colado" na parede. “Recebi a determinação,
inclusive, de não olhar para trás. Dois homens fortemente armados
ficaram nas minhas costas, enquanto o restante da equipe revirava a
casa.
Demonstrei tranquilidade, mas por dentro fiquei em polvorosa.
Todas as vezes que batiam em alguma coisa, achava que podiam está
montando equipamento de tortura e piorava o meu emocional. Vez ou outra
um policial se aproximava e perguntava pelo gol branco que tinha saído
da minha casa e eu afirmava que o meu carro era um celta preto”,
detalha.
De todas as formas, conta o sociólogo, foi tentado o diálogo para
que as coisas se esclarecessem. “Se tivessem me mostrado o mandado ,
tudo teria sido resolvido imediatamente. Mas, não me ouviam.
Sua residencia ficou revirada |
O equívoco teria sido percebido pelos policiais quando resolveram, já
no final, apresentar o mandado pedindo que Carlos Martins assinasse.
Ele argumentou ser impossível com as mãos algemadas e pediu para olhar o
documento expedido pela 17ª Vara Criminal da Capital.
“Comecei a encontrar as falhas e apresentá-las. No documento só tinha
o nome Antares e aqui tem o Antares um e o dois. Peguei as faturas da
Eletrobras e outras em meu endereço para mostrar que o nome da rua não
era também o da minha. No mandado tinha outro nome estranho de rua que
nunca ouvi por aqui. Só sei que eles não verificaram o endereço antes de
entrar na minha casa e fui submetido a isso. O constrangimento foi
grande.
Imagine um helicóptero sobrevoando a sua casa e um monte de
homens encapuzados entrando e a vizinhança olhando tudo. Moramos aqui há
dois meses. Um preto com a polícia invadindo a casa e uma movimentação
desse porte podem achar, no mínimo, que sou um grande traficante. Vão
pensar, olha o vizinho novo é bandido. E também há outro risco, caso
haja um traficante na região pode deduzir que eu sou concorrente por
conta da grande ação policial”, desabafa.
Depois de tudo esclarecido, o sociólogo Carlos Martins foi conduzido à
Deic para prestar depoimento e liberado em seguida. “Eles deixaram
claro que eu não estava sendo preso, apenas precisava ir prestar
declarações. Quando já vinha embora, acho que para amenizar a situação,
pediram meu e-mail para mandar as fotos dos criminosos que procuravam
para que se os visse na região auxiliasse a polícia”, conclui.
Mobilizações
Cientes do ocorrido, alguns segmentos decidiram se articular para
cobrar posição do Governo do Estado. Irão se pronunciar a respeito,
conforme o sociólogo Martins, o Núcleo de Estudo da Violência da Ufal, a
Fundação Zumbi dos Palmares, o Movimento Negro de Alagoas e a Ufal que
pretendem confeccionar na segunda-feira (13) documento a ser entregue ao
governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) pedindo seu posicionamento.
Além disso, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/AL) também se
pronunciará. O sociólogo vai entrar com ação contra o Estado e um
documento será confeccionado pedindo providências ao governador Teotonio
Vilela Filho. Uma cópia será levada ao Ministério Público Estadual.
Vários vereadores já demonstraram solidariedade a Martins e prometeram
discutir o assunto em plenária na terça (14).
Em maio deste ano, Carlos
Martins foi um dos homenageados com a Comenda Zumbi dos Palmares,
prêmio recebido na Câmara de Vereadores perante várias autoridades. Ele é
tido como um grande sociólogo, conhecido e respeitado também
nacionalmente pelos estudos desenvolvidos.
O que gerou o equívoco
A ação policial foi desencadeada após um assalto ao Santander, na
Fits. Os criminosos empreenderam fuga levando consigo um aparelho
celular que permite rastreamento. O sinal estava no Loteamento Antares,
mas segundo especialistas não é tão preciso. Ou seja, pode dá uma
diferença de um raio de cem metros.
Os policiais tinham mandado de prisão contra dois irmãos
identificados pelas câmeras do banco. Um deles identificado como Tiago,
ambos filhos de uma mulher presa na operação conjunta da quinta-feira.
Enviado por luisnassif, seg, 13/08/2012 - 07:16.
Fonte:http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-sociologo-preso-por-engano-em-alagoas
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