O professor Wagner Cabral tornou-se, ao longo das últimas eleições, um exímio analista das pesquisas de opinião e resultados eleitorais.
Sem filiação partidária, mas comprometido com uma visão crítica da realidade, as análises de Wagner Cabral tem sido consideradas por amplas correntes políticas.
Pois veja o que nos revela o professor de História da UFMA, sobre a última pesquisa do Instituto Data M: 'Data M acaba de divulgar pesquisa com um dado que me chamou a atenção,
a ausência de 'Brancos e Nulos'. Fui ver o questionário registrado no
TSE e verifiquei que, de fato, não há esse item, mas apenas 'Não
sabe/Não responderam'.
Curioso, fui verificar os questionários
das pesquisas anteriores da Data M, onde também não havia a opção
'Branco/Nulo', até aí tudo bem. Mas o problema é que em todas as
pesquisas Data M houve sim a divulgação do índice de 'Brancos e nulos'
(inexistente no questionário).
Ou seja, Data M tem divulgado
dados inexistentes de 'brancos e nulos' em suas pesquisas... Até prova
em contrário, Data M manipulou os dados de suas pesquisas, com um item
inexistente... Em benefício de quem?'
Mais abaixo retornaremos à
pergunta do professor. Antes, relembro trechos do artigo 'Quem inventa
defunto para ganhar eleição não manipula pesquisa de opinião?', que
publiquei neste Jornal Pequeno, em 5 de setembro de 2006 (o defunto
inventado era Reis Pacheco). Dizia: '‘O maior eleitor das
eleições é a pesquisa. Ela desperta a visão de qualidades dos
concorrentes, provoca ondas de adesão e conduz o eleitorado indeciso a
uma decisão que, pela dinâmica das coisas, tende para votar no
vencedor’. Nestas palavras, José Sarney expressa claramente o
entendimento que tem sobre as pesquisas eleitorais. Publicou esta
opinião em seu jornal – O Estado do Maranhão, no dia 14 de agosto de
1994, na Coluna do Sarney.
Em seu artigo 'O lado oculto das
pesquisas', Sarney revela a sua astúcia em ‘bem’ utilizar as pesquisas.
Elas servem para legitimar a votação, mas também manipulações. No caso,
bem orquestradas pela oligarquia maranhense. Essa ‘estratégia’ foi
bastante usada em 1994. Repete-se agora, em 2006. E, neste intuito, para
Sarney os fins justificam os meios.
Justifica, para ganhar uma
eleição, inventar um defunto. Justifica, para vencer um pleito,
manipular pesquisa de opinião. E, em 1994, Sarney usou e abusou destas
duas regras. Construiu, nas palavras do então candidato das oposições –
Epitácio Cafeteira – a verdadeira ‘fraude psicológica’.
É esta
fraude que o sarneyzismo busca repetir em 2006. Pesquisas que atribuem
votos. Supostos votos que justificam liderança nas pesquisas. Liderança
nas pesquisas que justificam mais votos. Mais votos que justificam
crescimento e, por fim, vitória eleitoral...' não sem antes garantir a
arrecadação de mais e mais dinheiro para a campanha.
Em 2006, os
institutos de pesquisa decretavam a vitória de Roseana Sarney ao governo
do Estado, no primeiro turno, com 76% dos votos. Venceu Jackson Lago,
no segundo turno. Nessa mesma eleição, o candidato petista ao senado,
Bira do Pindaré, sem Lula e politicamente isolado entre Cafeteira
(candidato da oligarquia e do Lula) e João Castelo (candidato da
oposição consentida), não pontuava sequer 5% nas pesquisas. Saiu das
urnas com 557.035 votos (21,58%). O mesmo aconteceu com Haroldo Saboia,
candidato ao Senado em 1998 e 2002. Pesquisas para um lado, voto na urna
para outro.
Eis a fórmula da bomba suja das pesquisas, como diz
Wagner Cabral: foi assim pelas mãos da oligarquia nas eleições anterior e
se repete pelos institutos contratados pela oposição consentida nestas
eleições de 2012 em São Luís (mas também em vários municípios do
estado).
Continua a 'ensinar' o velho oligarca: 'O
primeiro político que teve a visão realista das pesquisas de opinião
pública e a utilizou de modo cruel e cínico foi, sem dúvida, o
generalíssimo Franco, quando lhe perguntaram por que não fazia eleições
na Espanha.
Respondeu friamente: ‘Para quê? Gastar dinheiro?’ Se eu
mando fazer pesquisas mensalmente e o resultado delas diz que o povo
está ao meu lado, as eleições são desnecessárias' (O Estado do Maranhão -
14/08/1994. Coluna do Sarney).
Qualquer que seja o seu
candidato, caro (e)leitor, cara (e)leitora, não decida seu voto pelas
pesquisas. Resista a pensar como lhe impõe a classe dominante, pois, do
contrário, ela acaba também lhe convencendo que não precisa fazer
eleição, basta pesquisa de opinião, como preferia o ditador Franco, mas
também algumas oligarquias, seja a velha, sejam as 'novas velhas' que
buscam ressurgir nestas eleições.
Quanto à pergunta do professor
Wagner Cabral, 'até prova em contrário, Data M manipulou os dados de
suas pesquisas, com um item inexistente... Em benefício de quem?', lhe
dou 36 segundos para responder. Confio na sua inteligência e capacidade
de raciocínio.
Em tempo: no último dia 29 de setembro,
completamos 20 anos do impeachment do Collor. Aos 19 anos, coordenador
do DCE/UFMA, fui um daqueles 'caras pintadas'. Mas lideramos (junto com
Jorge Moreno, Luis Pedrosa, Hildonjackson Dias, Raimundo Dominici,
Josivaldo Correa, Valdemar Barros, Eduardo Dias, Talib Calvet etc. –
gestão 'Contraponto' do DCE – e tantos outros colegas de D.A’s e grêmios
estudantis, ao lado do Sindicato dos Bancários, CNBB, OAB e CUT) uma
grande passeata do 'Fora Collor', do campus do Bacanga à Praça João
Lisboa, onde acompanhamos os votos pela cassação do presidente corrupto,
convictos que cumpríamos nosso papel de jovens sonhadores, mas cientes
de que, na realpolitik, as velhas raposas rifavam um dos seus para não
perder o poder... A velha história do entregar os anéis para não perder
os dedos.
Fonte: http://www.jornalpequeno.com.br/2012/9/30/a-bomba-suja-das-pesquisas-227841.htm
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