Mendigos enjaulados numa província da China e a prefeitura diz que fez
isto para protegê-los. Mas a jaula era mesmo necessária? Claro que não. |
Se depender dos ombudsmen, os jornais não publicarão mais fotografias
históricas, daquelas que comovem os homens e sugerem que não se deve
insistir na barbárie, embora esta seja, aparentemente, um componente
permanente do desregramento do ser. Recentemente, quando a “Folha de S.
Paulo” publicou na primeira página foto do embaixador americano ferido
(e morto) na Líbia, a ombudsman Suzana Singer fez uma série de reparos, o
principal deles a respeito do tamanho da imagem.
Por ser grande, teria
se aproximado do “sensacionalismo”. Num tempo de insensibilidade, em que
a violência banalizou-se, tornando-se nossa íntima de quase todos os
dias, às vezes é preciso destacar mesmo as fotografias, como a do
embaixador assassinado por terroristas, para chamar a atenção das
pessoas, não necessariamente para comovê-las ou agredi-las, e sim para
informá-las de modo mais preciso sobre o que ocorre no mundo. Para
despertá-las da “narcotização” excessiva do noticiário.
Em 11 de julho deste ano, “O Globo” publicou a reportagem “Bastiões da censura em ação”. Ao mostrar a estátua de Davi-Apolo, a obra de arte de Michelangelo de cerca de 1530, a TV estadual da China cobriu sua genitália. Como os chineses pressionaram na rede social Weibo — um deles disse: “Sem tapa-sexo é arte, mas com tapa-sexo é pornô” —, a rede CCTV recuou e exibiu a arte do artista italiano em sua plenitude. O filme “Titanic”, ao ser exibido na China, teve uma cena mutilada. “A cena de nudez de Rose (Kate Winslet) quando ela é retratada por Jack (Leonardo DiCaprio) desaparece”, conta o jornal brasileiro.
No sábado, 22, Fabiano Maisonnave, correspondente da “Folha de S. Paulo” em Pequim, publicou uma reportagem, “Cidade chinesa enjaula mendigos na rua”, indicando que os “adeptos” de Mao Tsé-tung, o comunista que matou cerca de 70 milhões de pessoas, perverteram os princípios humanistas. A fotografia da Associated Press “exibe” (é a palavra) mendigos nas jaulas recebendo dinheiro e alimentação das pessoas. Suas vasilhas ficam fora das grades para os endinheirados colocarem alimentos (e dinheiro). A decisão de enjaular as pessoas foi da Prefeitura de Xinjian.
Em 11 de julho deste ano, “O Globo” publicou a reportagem “Bastiões da censura em ação”. Ao mostrar a estátua de Davi-Apolo, a obra de arte de Michelangelo de cerca de 1530, a TV estadual da China cobriu sua genitália. Como os chineses pressionaram na rede social Weibo — um deles disse: “Sem tapa-sexo é arte, mas com tapa-sexo é pornô” —, a rede CCTV recuou e exibiu a arte do artista italiano em sua plenitude. O filme “Titanic”, ao ser exibido na China, teve uma cena mutilada. “A cena de nudez de Rose (Kate Winslet) quando ela é retratada por Jack (Leonardo DiCaprio) desaparece”, conta o jornal brasileiro.
No sábado, 22, Fabiano Maisonnave, correspondente da “Folha de S. Paulo” em Pequim, publicou uma reportagem, “Cidade chinesa enjaula mendigos na rua”, indicando que os “adeptos” de Mao Tsé-tung, o comunista que matou cerca de 70 milhões de pessoas, perverteram os princípios humanistas. A fotografia da Associated Press “exibe” (é a palavra) mendigos nas jaulas recebendo dinheiro e alimentação das pessoas. Suas vasilhas ficam fora das grades para os endinheirados colocarem alimentos (e dinheiro). A decisão de enjaular as pessoas foi da Prefeitura de Xinjian.
Um funcionário público, que se identificou
como Wan, disse candidamente: “Tivemos de considerar ambos os lados: o
dos peregrinos [que vão ao tempo Xanshou, que tem 1.700 anos) e o dos
mendigos. Há alguns mendigos falsos que apenas querem arrancar dinheiro
dos peregrinos”. Teoricamente, o governo estaria protegendo mendigos e
peregrinos. No microblog Weibo, os chineses criticaram duramente a
prefeitura, o que prova que, apesar da censura e da pressão política, a
sociedade chinesa mantém-se ligeiramente crítica.
Quais imagens são de fato obscenas: a de Davi e seu pênis, a do embaixador americano ferido ou a dos mendigos enjaulados? A única realmente obscena é a dos mendigos dentro de jaulas. Aliás, a fotografia não é obscena, pois tão-somente mostra a degradação humana. Obsceno é o ato da prefeitura chinesa. Mas, se o assunto gerou debate na China, por que não incomodou tanto o mundo ocidental? A ombudsman Suzana Singer, que faz um trabalho relevante em defesa dos leitores e da ética jornalística, até agora não opinou sobre o assunto. Será que, como esperamos a barbárie de determinados povos, não sentimos a necessidade de condená-la?
Quais imagens são de fato obscenas: a de Davi e seu pênis, a do embaixador americano ferido ou a dos mendigos enjaulados? A única realmente obscena é a dos mendigos dentro de jaulas. Aliás, a fotografia não é obscena, pois tão-somente mostra a degradação humana. Obsceno é o ato da prefeitura chinesa. Mas, se o assunto gerou debate na China, por que não incomodou tanto o mundo ocidental? A ombudsman Suzana Singer, que faz um trabalho relevante em defesa dos leitores e da ética jornalística, até agora não opinou sobre o assunto. Será que, como esperamos a barbárie de determinados povos, não sentimos a necessidade de condená-la?
O historiador inglês Antony Beevor revelou, em livro
recente, que, no fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), militares
japoneses começaram a comer prisioneiros. Tinham outros alimentos, mas,
numa espécie de vingança planejada e sistemática, decidiram tratar os
prisioneiros, entre eles americanos e australianos, como gado. É
provável que a bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki, além de uma
decisão estratégica para mostrar poder e sinalizar que uma nova potência
se tornara hegemônica, também resultem de Pearl Harbor e do tratamento
brutal que japoneses deram a prisioneiros Aliados, sobretudo americanos.
FONTE: http://jornalopcao.com.br/colunas/imprensa/mendigos-enjaulados-na-china-sao-mais-obscenos-do-que-nudez-da-arte
Nenhum comentário:
Postar um comentário