Antes de mais nada, vale fazer uma consideração inicial: talvez a Sociologia
seja a ciência mais próxima do cotidiano das pessoas, as quais, mesmo sem ter
domínio dos métodos e imaginação sociológica, apresentam interesse por temas
comuns a sociologia. Por outro lado, a Sociologia busca seus objetos de estudo
no cotidiano, o que faz da com que essa Ciência Social tenha uma relação bem
aproximada com o popular.
Em muitas situações, as pessoas comuns tentam dar explicações para
problemáticas que a Sociologia se interessa. Embora em muitas situações as
abordagens sejam superficiais, ainda assim, é possível encontrar pessoas pouco
letradas que fazem associações que dão inveja a alguns sociólogos, ainda que
seja em relação a um assunto pontual. Isso ocorre por que muitos conceitos da
Sociologia foi incorporado pelo jornalismo da grande mídia.
A Sociologia, diferentemente de outras ciências não requer laboratório
ou instrumentos mais sofisticados para fazer análises, embora precise de
ferramentas mentais apuradas. Bauman
exemplifica esse caso apontando que a astronomia não é tão discutida
popularmente justamente pela necessidade do uso ferramentas que facilitem a
observação dos astros.
A vinculação da Sociologia com a experiência social cotidiana poderia
ser uma forma de aproximar o cidadão de uma perspectiva social mais crítica se
não houvesse tanta dificuldade em penetrar em discursos que são socialmente
legitimados, reforçados pelo senso comum e por outras estratégias de
comunicação, tais como os veículos de comunicação em massa; o que acaba sendo
um problema. Nesse caso há uma aproximação quanto aos temas e um distanciamento
quanto à abordagem.
Como se não bastasse, há uma tendência que afasta a Sociologia das
pessoas em geral. O fato de seus conceitos, métodos de controle e estratégias
de atuação criam barreiras impossíveis de serem totalmente conciliadas com o público
em geral, uma vez que, para manter seu status
ciência, a Sociologia precisa reavaliar seus próprios métodos sociológicos e
criar novas estratégias de apreensão da realidade social.
A Sociologia não pode
abrir mão disso, pois na medida em que ela deixa de fazer certas análises
complexas para aproximar-se do público em geral, ela tende a reduzir aspectos
importantes da realidade social o que a faz passíveis de equívocos.
Se a Sociologia não pode ser totalmente popular. Isso é uma conseqüência
do rigor cientifico, uma vez que, como ciência é preciso definir métodos e
conceitos que sejam passiveis de refutação pela comunidade científica,
principalmente. A Sociologia não pode aproximar-se ainda mais do povo por
questões epistemológicas. Para isso ela se tornaria uma ciência reducionista,
equivalente ao senso comum.
A implicação disso é que a Sociologia, como tantas
outras ciências, acaba criando uma linguagem própria, uma espécie de “sociologiquês”
que poucos entendem. Esse último ponto, ao meu ver, em excesso acaba
distanciando a abordagem sociológica da população em geral. Ainda que alguns
conceitos e categorias não possam ser “traduzidos” diretamente para “o popular”,
o sociólogo deve evitar o uso excesso de linguagem técnica; deve buscar ser
simples no uso das palavras sem ser simplista na análise.
A Sociologia não pode distanciar-se completamente a população em geral
porque ela perde sua intenção de problematizar uma sociedade para, a partir,
disso evidenciar futuros caminhos a serem percorridos. Sem o entendimento,
ainda que mínimo, dos “não-especialistas” e quando seu conhecimento não
sensibiliza as autoridades e um segmento crítico da população, ela vira mero
ornamento intelectual. Nesse sentido concordamos com o sociólogo francês Pierre
Bourdieu, para quem “a Sociologia não valeria nem uma hora de esforço se fosse
um saber de especialista reservado aos especialistas”.
Ao contrário de que
muitos pensam, a Sociologia não é um mero devaneio intelectual. Existe um
discurso ideológico – principalmente - que coloca o sociólogo no patamar de
utópico (em um sentido pejorativo), isso quando os acusadores querem se manter
o status quo. É mais fácil taxar o sociólogo
de maluco do que debatê-lo no campo da racionalização.
Mas a final, como conciliar o conhecimento sociológico do entendimento
geral das pessoas? Em primeiro lugar é preciso mudar a representação em torno
da figura do sociólogo, que muitas vezes é rotulado pejorativamente, em
especial quando sua pessoa é atacada e não seu discurso. Nesses casos há
momentos em que se diz: “Sociólogos viajam demais”.
Tais rotulações ajudam
fortalecer o discurso de que a análise sociológica é incoerente com a realidade
ou é tida como mera abstração. Tudo isso dificulta a recepção do público em
geral em relação aos discursos sociológicos. Em segundo lugar é preciso que as
pessoas tenham conhecimento dos alcances e limites da Sociologia para que boa
parte do conhecimento seja dialogado entre sociólogos e população em geral e
outra parte seja reservado a estes profissionais quando atingir um nível de
complexidade necessária.
Por fim, cabe ao sociólogo ter a sensibilidade de
transmitir o conhecimento de forma mais acessível possível.
Matéria Lincada de:
Nenhum comentário:
Postar um comentário