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Um
ciberguerrilheiro tucano, denominado “Ary Kara” seria funcionário
fantasma de Valdir Rossoni, presidente do PSDB e da Assembleia
Legislativa do Paraná; segundo reportagem de Carta Capital. Seria ele o
internauta à frente da organização de uma manifestação contra a
presidente Dilma Rousseff, no Dia 7 de Setembro, a “Operação Sete de
Setembro”, em alusão ao Dia da Independência.
Ari
Cristiano Nogueira, cujo apelido nas redes sociais da internet é Ary
Kara, é investigado por promotores estaduais por supostamente ser
funcionário fantasma no gabinete do deputado Rossoni.
A seguir, a íntegra da matéria:
O Desfile Golpista
Por
Andre Barrocal, na CartaCapital - As manifestações de junho começaram
com a defesa do transporte público gratuito e de qualidade por
militantes do Movimento Passe Livre (MPL), mas depois tomaram rumos
novos e uma proporção inesperada. Aglutinados pelas redes sociais,
milhares de jovens foram às ruas contra “tudo isso que está aí”,
sobretudo os partidos políticos. Nas mesmas redes sociais há quem tente
articular outra explosão de protestos, agora no Dia da Independência.
Não se sabe se o plano vai funcionar, mas uma coisa é certa: ao
contrário dos acontecimentos de junho, o movimento nada tem de
apartidário.
O
alvo da “Operação Sete de Setembro” é a presidenta Dilma. O caráter
político-ideológico da “operação” fica claro quando se identificam
alguns de seus fomentadores pela internet. Entre os mais ativos consta
uma ONG simpatizante de uma conhecida família de extrema-direita do Rio
de Janeiro, os Bolsonaro. E um personagem ligado ao presidente da
Assembleia Legislativa e do PSDB paranaenses, Valdir Rossoni.
É uma patota e tanto. Envolvidos em algumas denúncias de corrupção, não surpreenderia se eles mesmos virassem alvo de protestos.
A
ONG em questão é a Brazil No Corrupt-Mãos Limpas, sediada no Rio. Seus
principais integrantes são dois bacharéis em Direito, Ricardo Pinto da
Fonseca e seu filho, Fábio Pinto da Fonseca. Há cinco eles brigam nos
tribunais contra a OAB na tentativa de acabar com a exigência de uma
prova para obter o registro de advogado. Os dois foram reprovados no
exame da OAB. Em sua página na internet e no Twitter, a ONG promove a
“Operação Sete de Setembro” e a campanha Eu Não Voto em Dilma: Eleição
2014, Brasil sem PT.
Um
dos principais parceiros da entidade nas redes sociais é o deputado
estadual fluminense Flávio Bolsonaro, do PP. Pelo Twitter, ele
compartilha informações, opiniões e iniciativas da ONG. A dobradinha
extrapola o mundo virtual. Bolsonaro comanda na Assembleia do Rio uma
frente para acabar com a prova da OAB. Em Brasília, a ONG conseguiu um
neoaliado, o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que
encampou a idéia de extinguir o exame.
Filho
do deputado federal Jair Bolsonaro, Flávio tem as mesmas posições do
pai, célebre representante da extrema-direita nacional. Os Bolsonaro são
contra o casamento gay, as cotas raciais nas universidades e os índios.
Defendem a pena de morte e a tortura. Chamam Dilma de “terrorista” por
ter ela enfrentado a ditadura da qual eles sentem saudade.
“Naquele
tempo havia segurança, saúde, educação de qualidade, havia respeito.
Hoje em dia, a pessoa só tem o direito de quê? De votar. E ainda vota
mal”, declarou o Bolsonaro mais jovem não faz muito tempo.
A
ONG adota posturas parecidas com aquela dos parlamentares. Em sua
página na internet, um vídeo batiza de “comissão da veadagem” alguns dos
críticos da indicação do pastor Marco Feliciano para o comando da
Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Divulga ainda um vídeo de teor
racista contra nordestinos, no qual o potencial candidato do PT ao
governo do Rio, o senador Lindbergh Farias, nascido na Paraíba, é
chamado de… “paraibano”.
A
agressividade no trato com os semelhantes custou aos Fonseca uma
denúncia à Justiça elaborada pelo Ministério Público Federal no ano
passado. Pai e filho foram acusados de caluniar o juiz federal Fabio
Tenenblat. Em 2009 e 2010, ambos entraram na Justiça com duas ações
populares contra o exame da OAB e o então presidente da entidade no Rio,
Wadih Damous.
A
segunda ação parou nas mãos de Tenenblat, que a arquivou em julho de
2011. Na sentença, o juiz acusa os autores de “litigância de má-fé”,
pelo fato de manterem outra ação semelhante. “O dolo, a deslealdade
processual e a tentativa de ludibriar o Poder Judiciário são evidentes”,
anotou.
Na
apelação levada ao juiz para tentar reabrir o prazo, os Fonseca e seu
advogado, José Felicio Gonçalves e Souza, acusaram Tenenblat de
favorecer a OAB “por tráfico de influência ou por desconhecimento”, o
que “demonstra claramente sua parcialidade e má-fé como magistrado”.
Em
maio de 2012, os três foram denunciados pela procuradora Ana Paula
Ribeiro Rodrigues por crime contra a honra. Em novembro, um acordo
suspendeu o processo por dois anos. Os acusados foram obrigados a se
retratar publicamente, a se apresentar à Justiça de tempos em tempos e a
pedir autorização sempre que pretenderem deixar o Rio por mais de 30
dias. Também levaram uma multa. Se descumprirem o acordo, o processo
será retomado.
Ari
Cristiano Nogueira, outro ativo incentivador nas redes sociais da
“Operação Sete de Setembro”, também está na mira do Ministério Público.
Morador de Curitiba, é investigado por promotores estaduais por
supostamente ser funcionário fantasma do gabinete do deputado Rossoni.
Nogueira é um ativo militante na internet sob o pseudônimo Ary Kara.
Por
meio do Twitter, foi o primeiro a circular, em meados de julho, a
notícia de que Dilma teria recebido na eleição de 2010 uma doação de 510
reais de uma ex-beneficiária do Bolsa Família, chamado por ele de
“bolsa preguiça”. Dias depois, a doação, registrada na prestação de
contas de Dilma entregue à Justiça eleitoral, virou notícia nos meios de
comunicação.
O
Ministério doDesenvolvimento Social acionou a doadora, Sebastiana da
Mata, para saber se a contribuição era dela mesmo. Ela negou.
Por
Twitter e Facebook Nogueira é um dos difusores da convocação para o
“maior protesto da história do Brasil”, em 7 de setembro. Sua página no
Twitter é ilustrada com o dizer “Partido Anti-Petralha”, forma
depreciativa de se referir aos militantes petistas bastante difundida na
rede de computadores. No orkut, define-se como “conservador de
direita”e manifesta preferência pelo PSDB.
Até
junho de 2012, era assessor do presidente do partido no Paraná, como
contratado na Assembléia. Deixou o gabinete para trabalhar na campanha à
reeleição do então prefeito de Curitiba, Luciano Ducci, que concluía o
mandato herdado em 2010 do atual governador do Paraná, o tucano Beto
Richa.
Em
2010, uma série de denúncias levou o MP estadual a abrir um inquérito
para apurar uma lista com mais de mil supostos funcionários fantasmas na
Assembleia. Nogueira a integrava. Desde então, alguns suspeitos foram
denunciados e julgados.
O
caso de “Ary Kara” segue em aberto. O promotor Rodrigo Chemim aguarda
uma autorização judicial para quebrar o sigilo bancário do investigado.
Espera ainda por respostas de empresas de segurança onde Nogueira teria
trabalhado, enquanto deveria dar expediente no Parlamento estadual.
Rossoni,
antigo patrão de Nogueira, foi investigado pelo Ministério Público por
uso de caixa 2 na eleição de 2010, pois parte dos gastos de sua campanha
não estava comprovada. Ao julgar o caso em agosto do ano seguinte, o
Tribunal Regional Eleitoral reconheceu a existência de despesas de
pagamento sem a devida comprovação, mas os valores foram considerados
baixos e o deputado acabou absolvido por 4 votos a 2.
Reeleito
à presidência da Assembleia, o tucano foi recentemente acusado de
receber benefícios de empresas donas de contratos de rodovias
privatizadas no Paraná. Durante mais de dois anos, o parlamentar
conseguiu barrar a criação de uma CPI do Pedágio no estado. Perdeu,
porém, a guerra. A CPI foi instalada no mês passado.
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