Ana Cristina de Aquino teria criado empresa de
fachada para movimentar recursos para o partido comandado por Carlos
Lupi; caso foi revelado pela revista Istoé.
28 de Outubro de 2013 às 07:34.
247 - Uma
reportagem da revista Istoé, assinada pela jornalista Izabelle Torres,
aponta como uma socialite mineira, Ana Cristina de Aquino, pode estar
sendo parte de um esquema para desviar recursos públicos para os cofres
do PDT, partido comandado por Carlos Lupi.
Leia abaixo:
No rastro de uma lavanderia no Ministério do Trabalho. Documentos em posse da
Polícia Federal e do Ministério Público revelam que uma transportadora
de Betim pode estar sendo usada para esquentar parte dos R$ 500 milhões
desviados da União e para o pagamento de propinas.
Izabelle Torres.
Uma transportadora de veículos
localizada em Betim, Minas Gerais, pode ser a chave para desvendar um
esquema de lavagem de dinheiro e pagamento de propina a autoridades
ligadas ao Ministério do Trabalho.
A AG Log Transportes foi criada em
2010 por Ana Cristina Aquino, uma emergente social que costuma pagar
revistas de celebridades para falar quanto gasta com os eventos que
promove.
Apesar de não prestar serviços a nenhuma grande empresa, a
transportadora declarou ter faturado, de junho de 2012 a junho de 2013,
R$ 112 milhões, uma enormidade perto do que faturam empresas do setor.
Em apenas três anos de funcionamento, período que a maioria das
companhias leva para maturar um negócio e não embolsar lucros
milionários, Ana adquiriu jatinho, helicóptero e uma dezena de carros de
luxo – e tem orgulho de tornar pública a gastança. É a origem desse
dinheiro que a Polícia Federal quer descobrir.
Seria apenas um caso de
excentricidade não fossem os detalhes estranhos que envolvem a história.
O primeiro deles é a relação entre a AG Log e o advogado João Graça,
integrante da cúpula do PDT nacional e assessor especial do ministro do
Trabalho, Manoel Dias.
Graça, que foi assessor do ex-ministro Carlos
Lupi, não aparece em nenhum documento oficial da empresa como sócio ou
cotista e nega qualquer participação na sociedade. Entretanto, a sede da
transportadora em Curitiba foi registrada no mesmo endereço do
escritório de advocacia Graça Associados, do qual é o fundador.
Há dois
meses, enquanto representava o ministério em um evento promovido pela
Câmara dos Deputados, Graça sacou do bolso uma dezena de cartões de
visita da transportadora, enquanto explicava que estava sem o cartão do
novo cargo no ministério. Não é só. Um e-mail obtido por ISTOÉ traz uma
conversa entre Ana Cristina e João Graça. Na mensagem enviada a Graça,
Ana se refere à AG Log como “nossa empresa”.
Alguns fatos, entretanto, chamaram a
atenção durante a análise do inquérito. Uma planilha de despesas da AG
Log revela que a empresa justificou gastos de R$ 3 milhões como
referentes à regulamentação do Sindicato dos Cegonheiros de Pernambuco
(Sincepe).
Detalhe: a solicitação de registro do Sincepe tramita
atualmente no Ministério do Trabalho. De acordo com documentos
apresentados ao próprio ministério, Ana Cristina consta como presidente
do Sincepe e um de seus filhos integra o conselho fiscal. O escritório
de João Graça advogou pela criação do sindicato até março de 2013.
Em
abril, de acordo com documentos obtidos por ISTOÉ, a AG Log começou a
gastar, mensalmente, R$ 600 mil para a formatação do sindicato. Segundo a
planilha de gastos da empresa, foram cinco cheques de R$ 600 mil (que
totalizam R$ 3 milhões) depositados de abril a agosto. A última
movimentação no processo de criação do Sincepe ocorreu no dia 17 de
outubro, quando o coordenador de registro sindical, Cesar Haiachi,
encaminhou ofício para Ana Cristina solicitando o envio de documentos
para a conclusão do processo de regulamentação.
Ana Cristina chamou a atenção das
autoridades pelo despudor com que exibe seus dotes econômicos. Ela
costuma usar um helicóptero diariamente e, para ir da casa onde mora em
Betim (MG) ao escritório, escolhe um entre os seis modelos de carros de
luxo estacionados em sua garagem. Entre os bólidos, um Corvette vermelho
e um jipe Cherokee.
Nos jornais, costuma dar entrevistas falando do
gosto por joias e roupas. Na festa de inauguração da empresa, que contou
com a presença do advogado João Graça, Ana Cristina fez declarações
sobre seu sucesso financeiro. No aniversário da filha, contratou o
cantor Gustavo Lima, que até foi buscar a adolescente na escola
dirigindo um Camaro amarelo. As contas da festança, de mais de R$ 1
milhão, também constam na planilha de gastos da transportadora. Desde a
festa, o cantor sertanejo estreitou os laços com a família Aquino e
agora está prestes a se tornar sócio da transportadora.
Segundo ex-funcionários de Ana
Cristina, João Graça se afastou nos últimos meses por discordar da forma
como a empresária atua nos bastidores do poder. À ISTOÉ, Graça afirmou
jamais ter sido sócio da empresa (leia quadro). “Nunca utilizei e usei
do meu cargo para locupletar-me para absolutamente nada”, disse. “Tanto é
fato que quaisquer acusações sempre foram refutadas pela minha
história.
O único patrimônio que possuo é meu nome, e zelo por ele.”
Sobre o e-mail trocado com a Ana Cristina em que ela se refere a uma
sociedade com ele, João Graça afirma o seguinte: “Nada tenho a dizer
porque desconheço seu conteúdo. Reitero que jamais fui sócio da Ana
Aquino e ouso a qualquer um provar o contrário.” Entretanto, segundo os
registros de mensagens eletrônicas, ele não apenas teve conhecimento dos
emails como respondeu uma hora depois, utilizando um celular
BlackBerry.
Ana Cristina não retornou as ligações da ISTOÉ e não
respondeu a nenhum dos quatro e-mails que questionavam as suspeitas em
torno da sua empresa. O grande desafio da polícia nos próximos meses
será rastrear a origem das receitas da empresa e as operações da
transportadora, separando o que podem ser gastos legítimos dos
ilegítimos. Até lá, Ana Cristina continuará levando uma vida de
milionária.
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