quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Em entrevista ao blog do Robert Lobato, deputado Zé Carlos admite disputar a Prefeitura de São Luis

Foto - Deputado Zé Carlos do PT.
Blog do Robert Lobato segue entrevistando alguns dos nossos representantes na Câmara dos Deputados. E o entrevistado de hoje é deputado federal Zé Carlos (PT).
Eleito com mais de 90 mil votos, o parlamentar petista falou sobre as perspectivas para o primeiro ano de mandato, destaca as pautas do PT no parlamento, em especial a reforma política, criticou a organização do PT/MA, considerada “débil” pelo deputado, e admitiu a possibilidade de disputar a Prefeitura de São Luis em 2016 como formar de garantir que o PT dispute a “hegemonia social”.
Ex-superintende estadual da Caixa Econômica no Maranhão, Zé Carlos elegeu-se deputado estadual em 2010 e fez um bom mandato na Assembleia Legislativa, o que pavimentou o seu caminho para a Câmara Federal em 2104. Agora o parlamentar do PT pode dar voos mais altos na política maranhense.
Fiquem a com a íntegra da entrevista com o deputado federal Zé Carlos:
“Não é correto colocar o lava jato só na direção do PT, se tem erro aqui, a gente assume e pune, aliás, tem sido assim contra os petistas, até para os que não se comprovou irregularidades. Mas também tem desvios de conduta do lado de lá, e não são poucos, é deles toda essa tecnologia de corrupção”.
Como está sendo a experiência de Deputado Federal após a estreia na política como deputado federal?
A política em si é um desafio inusitado em minha vida. Há seis anos se você me perguntasse sobre as possibilidades de ingressar na política, na vida partidária, certamente iria te dizer que: Nem em camisa de força. Contudo, o fato de ter gerido a Caixa Econômica durante os oito anos no governo Lula, me identificou com o projeto apontado para o país pelo PT.
Um projeto que aponta da direção da inclusão social, desenvolvimento nacional e inversão das prioridades históricas. Isso me motivou, me fez filiar ao PT, me fez candidato, e me fez Deputado Estadual eleito em 2010.
A passagem pela Assembleia Legislativa do Estado, além de motivo de orgulho, como cidadão maranhense que sou, me deu as condições de estar hoje na Câmara Federal apto e preparado para este novo desafio. Estou muito motivado para fazer aqui, o que conseguimos executar na Assembleia sob as mesmas premissas: mandato lincado aos movimentos sociais e populares; na construção e defesa do projeto petista, para dentro e para fora do partido; mandato combativo, quando for preciso; e propositivo sempre, afinal essa é minha marca, a de gestor. Sou essencialmente um gestor a serviço do parlamento.
Na Câmara o ritmo tem sido intenso, chego às 9h da manhã para as reuniões de bancada do partido. Em seguida reunimos com a base de apoio ao governo, trabalhamos nas comissões. Na parte da tarde, a partir das 14h, plenário, quando se inicia o pequeno e grande expediente. Invariavelmente com uma ou outra alteração, de segunda a quinta, essa é a rotina. Como eu sou fominha, participo de quase tudo. É meu estilo.
Não raro tenho encerrado os trabalhos no Congresso às 23h. Esse tem sido o ritmo, não só meu, mas da Câmara, o que tem me feito ressentir do contato de antes que dedicava à base partidária e social. Para compensar, o nosso gabinete no Maranhão será maior que o de Brasília, pois meu compromisso primeiro é com quem me enviou pra lá: o povo do Maranhão, os movimentos sociais e a base do PT.
Quais serão as principais bandeiras do mandato?
Sem sobra de dúvida as que o PT aponta: A reforma política e a reforma tributária. O PT tem dado grandes contribuições ao país, e não falo aqui das experiências exitosas de governo do Lula e da Presidenta Dilma, falo das mudanças que os petistas de parlamento tem feito pelo Brasil. Mais uma vez estamos sendo chamados pelo povo brasileiro, para apontarmos o caminho. É isso que se espera de nós, e não frustraremos a população. Vamos enfrentar o debate. O país não pode ficar a mercê desse sistema eleitoral que cada dia mais, segue na direção do poder econômico. A minha eleição, por exemplo, é um milagre, fruto do reconhecimento do nosso trabalho na Assembleia e seus resultados, mas acima de tudo, da determinação, tenacidade e lealdade do militante petista. Enfrentei um abuso de poder político e econômico inimaginável. Não dá mais. Precisamos de eleições com financiamento público, sem reeleição, realizadas a cada cinco anos, com uma legislação que valorize o partido e a participação popular.
Não mudo meu foco também. A exemplo do estadual exercido, vou dedicar este mandato ao movimento social: fui votado por companheiros da FETAEMA e do MST, que representam trabalhadores e trabalhadoras rurais; pela ABRAÇO – MA, movimento de rádios comunitárias; pelo movimento Sindical: Policiais, Ecetistas (Correios), Servidores do judiciário (SindJUS), servidores estaduais (Sindicato dos Agentes de Fiscalização Agropecuária) e municipais (Fetran), Sindicato dos Técnicos em Radiologia, Sindicato dos Panificadores e Sindicato dos Taxistas; Por setores do movimento negro (ACONERUQ), pela Cooperativa de Transporte Alternativo e pela Educação no campo: ARCAFAR e UEFAMA. É nesta direção que vou me mover. É na defesa desses interesses. Além disso, serei um Deputado obstinado para criação de leis que endureçam ainda mais no combate à corrupção, a meu ver, a raiz de todos os males deste país. Os mecanismos e leis que contribuam no combate à corrupção será uma obsessão deste Deputado.
Quais as comissões que o senhor integrará na condição de titular e de suplente?
Como Deputado Federal, posso assumir e participar de até quatro comissões, duas delas permanentes e duas especiais. Coerente com tudo que disse antes, considerando os objetivos, metas e compromissos do mandato, me inscrevi nas comissões da reforma política, da agricultura, da lei orgânica de segurança pública e na de desenvolvimento urbano, onde são tratadas as questões relativas a habitação, urbana e rural, e mobilidade urbana, tema para o qual tenho me dedicado e tenho conhecimento de causa, em função de minha experiência como gestor da Caixa Econômica Federal.
Qual a sua expectativa quanto à gestão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha?
Creio que o PT e o governo erraram em não ter feito uma aliança com o PMDB para comandar a casa, ainda que o presidente fosse do PMDB. Fomos para a disputa e perdemos. Mas isso acabou, cabe ao governo e a liderança do partido no Congresso reagrupar a base. Claro que o presidente Eduardo Cunha, eleito como foi, em primeiro turno, tem muita legitimidade, e deve colocar na pauta da Câmara, temas pelos quais o governo, talvez, gostaria de adiar. Mas creio que estas dificuldades serão momentâneas, afinal o PMDB tem responsabilidades com o país e com o governo. Eles são governo, ocupam parte significativa da esplanada dos Ministérios e a Vice-presidência da República. Além do que, acho mesmo que nós temos que dar exemplo quanto a relação de independência entre os poderes. Hoje somos governo, mas amanhã poderemos não ser. O primeiro ano deve difícil, mas depois as coisas se ajeitam.
A oposição é que não desceu do palanque ainda. Se nega a aceitar o resultado da eleição. Contudo, estão no papel deles, nós é que teremos que ter competência para trabalhar o Congresso com a pauta que interessa ao país. Os adversários do PT, na cegueira dos seus interesses, no erro da dose, se comportam como adversários do Brasil. Isso o povo vai perceber, a sociedade, os movimentos sociais, os partidos de esquerda irão reagir, e como disse, a pauta terá que ser a que dialogue com os interesses do povo. Caso contrário, eles, os opositores, é que cairão no isolamento.
Como o senhor avalia essa crise envolvendo casos de corrupção e a tentativa de desestabilizar o governo Dilma?
A meu ver tem três verdades da qual não podemos fugir: uma que interessa aos opositores do governo e a outra que eles fazem questão de esconder, e nesses eles, eu incluo aqui a grande imprensa que adotou de que lado está. Ela está contra o governo, por isso, em muitos momentos, fica de costas para a verdade.
A primeira verdade é que houve erro sim. De gestão e de conduta e o PT não pode compactuar com desvios de quem quer que seja. Mesmo que seja do PT. A segunda verdade é que a presidenta Dilma não é leniente com a corrupção, ao contrário, apura as irregularidades, com os instrumentos democráticos que dispõe o estado brasileiro. Portanto, é um absurdo que ela, que se porta na perspectiva de punir os maus feitos, seja criminalizada.
A terceira verdade é que a corrupção é endêmica, não está presente só nesse governo, mas em qualquer governo. O sistema político e eleitoral foi preparado para a corrupção imperar e a matriz está no financiamento das eleições.
Quanto custa um mandato hoje? Uma fortuna. Quem paga e patrocina os mandatos, quer troco. Vá apurar o período dos que hoje mais nos acusam, não ficará pedra sobre pedra.
O caminho é apurar tudo, mas de maneira honesta. Não é correto colocar o lava jato só na direção do PT, se tem erro aqui, a gente assume e pune, aliás, tem sido assim contra os petistas, até para os que não se comprovou irregularidades. Mas também tem desvios de conduta do lado de lá, e não são poucos, é deles toda essa tecnologia de corrupção, ou alguém já esqueceu onde se originou o mensalão? A origem é lá em Minas, no governo tucano.
A justiça e a PF precisam ser republicanas nesta apuração. Quanto a grande imprensa não tem jeito, essa é problema da sociedade organizada empurra-la na direção da verdade. Ela também tem medo de povo, não é só político não.
Em relação ao Governo do Maranhão, no que o governador Flávio Dino pode contar com o deputado Zé Carlos?
Pra tudo. Tudo que for do interesse do estado, o governador pode contar comigo, já disse isso ao Secretário de Articulação política do Estado, Márcio Jerry, a Secretaria de Turismo do Estado, Delma Andrade, e direi ao governador em agenda oficial que faremos ainda este mês. Nesse momento precisamos apenas chancelar a participação do PT no governo, mas creio que isso está pacificado, pelo menos é o que eu entendo pelo posicionamento dos deputados petistas na assembleia, que simbolizam o posicionamento dos seus grupos. No meu caso, mais de 95% da base petista e não petista que me apoiou, votou em Flávio. Creio que posso ajudar na interlocução com o governo federal e nas articulações que envolvem a bancada. Agora acho que o governador precisa estreitar mais os laços com os parlamentares federais.
Como o senhor avalia a organização do PT no estado?
Nossa organização ainda é débil. A metáfora que costumo utilizar para definir a nossa situação é que somos um gigante, preso a um anão, por um barbante. Precisamos sentar as várias forças e tendências internas e definir qual o projeto do PT no estado.
No PT, o guarda chuva é amplo, cabem todos os projetos, não precisamos ficar nos digladiando internamente. Estamos há cinco anos sob-regime de intervenção do DN, por que temos uma direção que se deixa conduzir assim.
Para que se tenha uma ideia, se prefeitos do PT votassem integralmente nos Deputados Estaduais e Federais petistas, teríamos uma bancada de pelo menos quatro estaduais e dois federais; não se discutiria em nenhuma hipótese coligação para ameaçar os mandatos do PT, como foi o meu caso.
O PT estava na periferia no governo estadual passado, com uma posição rebaixada, e hoje não é sócio do condomínio político do atual governo. Não pode, somos o partido que ocupa a presidência da República, podemos contribuir mais com o estado.
Após 35 anos de nossa fundação, ainda existem cidades do estado que não estamos organizados. Não estou aqui acusando que é problema de uma única gestão, mas do conjunto da obra. Mas não quero ficar olhando para trás. Para trás só devemos olhar para aquilo que nos orgulha, como o Manoel da Conceição, lendário líder camponês que foi um dos fundadores em do PT em 1980. Devemos olhar para frente, planejar o futuro de nossa inserção política no Maranhão. Quantos prefeitos queremos eleger em 2016? Quantos vereadores? Como estão nossos mandatos atuais? Quais mandatários refletem o pensamento e o ideário petista? Quais nossas bandeiras programáticas a serem cumpridas pelo governo do estado? Qual nosso papel na eleição da capital? São questões que o PT precisa responder a luz de um amplo entendimento interno.
O senhor defende a imediata oficialização da participação do PT no governo do estado?
Uma coisa é fato, a candidatura do governador eleito foi a opção da grande maioria dos petistas, portanto, nada mais natural que a participação do PT se imponha, como aliás já está posta, pois alguns petistas assumiram secretarias.
A decisão de participar é do partido, contudo, creio que há algumas premissas que devem ser observadas, premissas que já externei ao Secretario de Articulação Política do governo e presidente do PC do B Marcio Jerry, e não tem nada de extraordinário. Uma delas é que o governo externasse o interesse em ter o PT participe do governo e fizesse oficialmente o pedido, o que já foi feito. Neste momento estamos apenas no aguardo da manifestação da instancia; a outra premissa é que alinhássemos os interesses políticos do PT no estado, considerando 2016; e por fim o estabelecimento de uma pauta programática. É isso.
Quais as demandas do PT/MA em relação aos cargos federais no estado?
Fizemos algumas tentativas de alinhamento. Eu particularmente tenho feito ponderações a todos, de não haver exclusão de nenhum campo político do partido, no que tange as pretensões e os movimentos em curso. Há o movimento da bancada federal; há os de tendências internas ao PT; há o do governo do estado e naturalmente há o do nosso mandato, como único federal eleito pelo PT no Maranhão. Defendo que todo esforço deva ser empenhado na pactuação de todos esses interesses.
Comenta-se que o senhor pode ser apresentar o seu nome para prefeito de São Luis em 2016. Há realmente esta possibilidade?
Há. Não exatamente por um gesto isolado, mas como referencia de alguns companheiros e grupos do PT no plano municipal. Defendo que o PT precisa protagonizar politicamente a disputa e se oportunizar diante da sociedade. Isso não quer dizer que não estejamos abertos às composições. As coligações também servem de opção, mas não como tem sido, como uma espécie de obrigação. É preciso reposicionar o partido na direção de maior protagonismo. Um partido com a história, a importância e o tamanho do PT, sempre tem que disputar hegemonia social. Neste sentido, se não houver outras pretensões, e se meu nome representar consenso, e se o partido julgar procedente, estranguladas as alternativas de composições, o nome está posto. O mais importante é definir como o PT pode contribuir para melhorar a qualidade de vida do povo de São Luís e da gestão pública na capital.

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