terça-feira, 16 de junho de 2015

Rio de Janeiro. Polícia investiga caso de menina apedrejada vítima de intolerância religiosa.



Vinícius Lisboa - Repórter da Agência Brasil* Edição: Denise Griesinger.
A Polícia Civil do Rio de Janeiro está em busca de imagens e testemunhas que possam ajudar a identificar os suspeitos de apedrejar, no último domingo (14), uma menina de 11 anos adepta do candomblé, por intolerância religiosa. 




O caso foi registrado ontem (15) na 38ª Delegacia de Polícia de Irajá, e a vítima, que está em casa, já foi ouvida e encaminhada para o exame de corpo de delito.
A Comissão de Combate à Intolerância Religiosa destacou um advogado para acompanhar o caso e vai organizar um ato contra a intolerância no bairro em que ocorreu a agressão, Vila da Penha.

Membro da comissão, o babalaô Ivanir dos Santos conversou com a família da adolescente e disse que a menina foi atingida na cabeça por uma pedrada, que só não provocou mais ferimentos porque a pedra teria batido primeiro em um poste.

"Ela estava andando com um grupo de pessoas e um grupo de evangélicos, que estava do outro lado da rua, começou a demonizá-los e a xingá-los. Não se contentando com isso, jogaram uma pedra", disse Ivanir. Segundo o babalaô, a família contou que os agressores "estavam arrumados", tinham bíblias e acusaram os praticantes de candomblé de serem "demoníacos".

O babalaô pediu que líderes evangélicos venham a público repudiar a agressão e colaborem com as investigações. "Isso é ruim para uma religião. Eu sei que a grande maioria dos evangélicos não é assim, e cabe a eles ajudar a identificar esses agressores. Eram pessoas da igreja, pessoas que estavam com bíblia."

Segundo nota da Polícia Civil, o caso foi registrado como lesão corporal, no Artigo 20 da Lei 7.716 (praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional).

Para a coordenadora especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Rio de Janeiro, Leniete Couto, a agressão aos adeptos das religiões de matriz africana também é reflexo do racismo na sociedade brasileira. "Há uma distorção histórica de colocar a cultura negra no sentido global, tanto a pessoa física quanto seus costumes, sempre em um lugar de não existência ou em um lugar negativo", disse Leniete.


"Não se respeitam as religiões de matriz africana porque se diz que são do mal, que são ruins e, com isso, vêm a invisibilidade e a negação da existência dessas pessoas. A invisibilidade cria um desconhecimento da história que faz com que as pessoas sejam rejeitadas e apedrejadas por ignorância e também por racismo".


*Colaborou a repórter Tâmara Freire, das Rádios EBC.


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