sábado, 26 de setembro de 2015

A saída de Molon e a crise do PT.

Foto - Revista Forum.
Por Olavo Carneiro
Antes de mais nada é preciso reconhecer que a saída do companheiro Molon do Partido dos Trabalhadores é uma grande derrota. Uma dupla derrota.
É uma derrota para as fileiras daqueles que acreditam, dentro do PT, no socialismo, na política pautada pela ideologia e não troca de favores, nas alianças programáticas. Derrota para a esquerda petista.
Mas é também uma derrota por ver um quadro como o Molon aderir ao jeito de pensar e agir da maioria do PT que tem levado a destruição do mesmo e que Molon tanto criticava. Pensamento e prática calcados na reprodução de mandato a qualquer custo, no individualismo e eleitoralismo.
A militância da Articulação de Esquerda e o Molon travaram juntos boas batalhas no PT-RJ e na sociedade fluminense. Na candidatura a prefeito em 2008, quando muitos no PT já praticavam o habito de trair as candidaturas do partido. Nas críticas e construções de oposição à subordinação ao PMDB no Rio de Janeiro por falta de identidade programática. Subordinação essa recorrentemente exigida por Lula, e mais uma vez em curso capitaneada de forma errática por Quaqua presidente do PT-RJ.
Atuamos juntos no Coragem para Mudar, articulação da militância contra apoio ao Eduardo Paes, quando as outras tendências e lideranças do RJ se calavam ou apoiavam a aliança com o PMDB. Depois iniciamos o movimento Novo Tempo para a disputa interna do partido no PED em 2013, que lamentavelmente Molon optou no último momento por apoiar uma chapa defensora da aliança com Cabral, Picciani, Paes e cia. Recentemente nos juntamos no Saída é Pela Esquerda, esforço de criar um campo político no PT-RJ antagônico a aliança com PMDB nas eleições da cidade do Rio de Janeiro. A essa iniciativa se somaram a tendência Democracia Socialista, o senador Lindbergh Farias, os ex-deputados Jorge Bittar e Robson Leite e o vereador Reimont.
Em janeiro deste ano a AE-RJ aprovou resolução onde defendia a unificação das esquerdas no Rio de Janeiro para debater e construir plataforma política unitária que desembocasse em uma possível aliança eleitoral em 2016. A aliança se dando em torno de ideias e convicções poderia buscar os melhores nomes para encabeçar a chapa. A AE identificava que o melhor nome para o PT pôr à disposição era do companheiro Molon.
Sendo assim nosso empenho militante se dava e se dá na construção coletiva de projeto coletivo.
A honestidade e compromisso do Molon com a construção de uma sociedade justa, fraterna e igualitária não está em questionamento. Nem a alta qualidade do seu mandato. Muito menos o consideramos um traidor. Mas sua movimentação solitária de saída do PT, sem sequer informar aos seus companheiros, está a serviço de qual projeto coletivo? Qual a estratégia que a orienta? Como contribui para enfrentarmos e superarmos a atual crise da esquerda brasileira que se traduz, gostemos ou não, na crise do PT?
Desse modo lamento a decisão e a forma individualista como foi tomada.
É verdade que o PT cada vez mais se mostra impermeável a mudanças do seu funcionamento interno burocratizado, de sua estratégia de conciliação de classes, da ênfase na institucionalidade tradicional.
Nosso foco deve ser travar o bom combate por mudanças no PT, considerando inclusive o papel que isso joga para o presente e para o futuro da esquerda brasileira. Sem nenhum fetiche de organização ou patriotismo partidário.
No mesmo sentido que devemos, nós os militantes de esquerda, atuar na construção da Frente Brasil Popular, sem sectarismo de partidos, movimentos ou lideranças. Espero ver contribuindo o Molon e tantas outras personalidades. Assim como os diversos partidos e movimentos.
Defender a democracia e a mudança da política econômica devem orientar nossos mais sinceros esforços.
Significado mais amplo
A desfiliação do Molon é um fato de grande importância para o partido e para os setores progressistas, no plano nacional e estadual. Mais pelo o que expressa em termos estruturais na organização da esquerda em nosso país do que o caso especifico.
A saída de Molon é uma expressão do aprofundamento da dispersão em curso da esquerda brasileira. Entre os anos 1980 e 2000 o PT exerceu hegemonia política e ideológica sobre os diversos setores da esquerda no Brasil.
Essa hegemonia foi se enfraquecendo nos últimos 10-15 anos e só agora é percebida pela sua aceleração com a fragilidade do partido potencializada pela fragilidade do governo. Importante dizer que a dificuldade de percepção se deu em boa medida pela mistura entre governo e partido, pela ilusão com a popularidade governamental e incapacidade de leituras de cunho estratégico. Quem tentava tal separação era chamado de esquerdista e purista e perdeu força dentro do partido e mesmo na sociedade.
Essa perda de hegemonia vem aparecendo de várias formas. Uma delas é o importante e negligenciado debate sobre o papel ainda a desempenhar na organização de ideias, utopias e ações concretas pelos partidos políticos. Desde a década passada cresce no Brasil, em consonância com o resto do mundo, a noção de que os partidos não são mais importantes e/ou necessários e toda energia social e militante por transformações deve ser depositada nos chamados movimentos sociais.
A perda de hegemonia do PT também ocorreu, e vem ocorrendo, com a crescente criação de novas siglas e/ou distribuição de quadros nelas. Algo acelerado e mais em virtude de interesses eleitorais do que pelo surgimento de arranjos ideológicos e identidades entre seus membros. Em geral as siglas atuais, à esquerda ou direita do PT, não carregam novidade programática e ideológica.
Enquanto o governo manteve popularidade o PT inchou, a tendência agora é o contrário. Mas isso com a complacência das direções e lideranças do Partido ao abandonar na pratica uma estratégia socialista para o Brasil e adotar como norte a administração do capitalismo melhorando a vida do povo.
O que assistimos então é uma crise de projeto da esquerda brasileira, fruto da crise do PT que se encontra sem rumo estratégico com o fim das condições políticas de conciliação de classes promovida por Lula e Dirceu desde 1995. 
Crise do PT que não consegue romper com o eleitoralismo imediato e, portanto, mantem alianças e subordinações nos estados a setores reacionários e conservadores. 
Crise do PT que pratica relações de clientelismos, golpes, fraudes em suas disputas internas, com falta de respeito às regras aprovadas e pactuadas nas instancias como se vê agora no processo Congressual da JPT ou no PED de 2013.

Nenhum comentário:

Postar um comentário