sábado, 23 de julho de 2016

Entrevista com o presidente sírio Bashar Al Assad


Por Roberto Garcia HernandezImagen activaDamasco, 21 jul (Prensa Latina) Prensa Latina transmite a seguir a íntegra da entrevista exclusiva com o presidente da Síria Bashar Al Assad:
PRENSA LATINA: Senhor presidente, muito obrigado por conceder à Prensa Latina esta histórica oportunidade para transmitir ao mundo seu ponto de vista em relação à situação na Síria, já que como você sabe, existem muitas informações manipuladas sobre a agressão estrangeira que seu país enfrenta.

Senhor presidente, como avalia a atual situação militar na Síria e quais são os principais desafios que enfrentam as forças armadas sobre o terreno na luta contra os grupos antigovernamentais? Se for possível, queremos conhecer sua opinião a respeito da situação atual nas frentes de combate em Alepo e Homs.

PRESIDENTE: Obviamente os terroristas receberam muito respaldo de diferentes confins do mundo. Existem mais de cem nacionalidades que participam na agressão contra a Síria, contando com o apoio de certos países como Arábia Saudita e Catar que os financiam, e Turquia que lhes oferece respaldo logístico.

Sem dúvidas, também com a aprovação e supervisão de Estados ocidentais liderados pelos Estados Unidos, França, Reino Unido e outros aliados. Mas desde que os russos decidiram combater o terrorismo na Síria, basicamente a Frente al-Nusra, o Estado Islâmico (Daesh) e outros grupos vinculados a estas duas entidades extremistas, o equilíbrio de forças inclina-se agora a nosso favor e contra esses grupos.

O exército sírio tem conseguido e continua conseguindo avanços em diferentes partes da Síria e está decidido a derrotá-los.

A situação em Homs, desde que os terroristas a abandonaram há mais de um ano, tem melhorado e está bem mais estável.

Teve alguns distritos da cidade nos quais os extremistas se infiltraram e agora existe ali um processo de reconciliação, sobre a base de que os terroristas, ou abandonam suas armas e retornam a sua vida normal para gozar da anistia governamental, ou saem de Homs para outra parte da Síria, exatamente como ocorreu há mais de um ano na região, no centro da referida cidade.

Mas a situação é diferente em Alepo, já que os turcos e seus aliados sauditas e cataris perderam muitas de suas cartas nos campos de batalha na Síria, de modo que esta cidade é sua última carta, especialmente para o presidente turco Recep Tayyib Erdogan, que se esforçou ao máximo com os sauditas para enviar para lá o maior número possível de terroristas, que agora somam cerca de cinco mil.

Fizeram isto nos últimos dois meses, da Turquia para Alepo, com o fim de ocupá-la, mas fracassaram.

Na realidade, nosso exército conseguiu avanços nessa cidade e em seus arredores, buscando cercar os terroristas para depois negociar com eles para que retornem a sua vida normal ou abandonem essa região, ou de outro modo seriam derrotados, porque não há outra opção.

PRENSA LATINA: Quais são as prioridades do exército sírio em sua luta contra os grupos terroristas? E qual é o papel que desempenham os grupos de defesa popular no teatro de operações?

PRESIDENTE: A prioridade do exército sírio reside na luta contra o Daesh, a Frente al Nusra, Ahrar Al-Sham (Os Livres do Levante) e Yeish Al-Islã (Exército do Islã).

Estes quatro grupos estão diretamente vinculados à Al-Qaeda, já que compartilham a mesma ideologia. São islamistas extremistas que querem eliminar todos aqueles que não estão de acordo com eles e que não ajam como eles.

Em relação aos grupos de defesa popular, no início da guerra, os terroristas desencadearam uma guerra não convencional contra nosso exército, que é uma organização convencional, como qualquer outra no mundo.

Consequentemente, o respaldo que ofereceram estes grupos foi de suma importância para derrotar os terroristas com uma tática não convencional.

Isso tem constituído uma grande ajuda para o exército sírio, pois estes combatentes lutam em suas próprias regiões, cidades e aldeias, que conhecem muito bem. Isto é, dominam muito bem as rotas, os caminhos e a geografia de suas áreas e neste marco oferecem grande ajuda ao Exército sírio e essa é sua missão.

PRENSA LATINA: Como se materializa a resistência do povo sírio contra a agressão estrangeira na frente econômica? Quais são os setores nessa esfera que continuaram funcionando apesar da guerra, das sanções internacionais e dos atos de sabotagem?

PRESIDENTE: Na realidade, a guerra contra a Síria é integral, porque não se limita ao respaldo oferecido aos terroristas, mas também desencadeia uma contenda política contra nosso país a nível internacional.

A terceira frente é no campo econômico, eles dão ordens aos seus extremistas e agentes mercenários para destruir a infraestrutura que levantou a economia síria e que satisfazia as necessidades diárias dos cidadãos. Ao mesmo tempo, começaram a impor um embargo direto nas fronteiras de nossa nação, fazendo uso desses elementos irregulares, e a partir do exterior, empregando os sistemas bancários em todo mundo.

Apesar disso, o povo sírio está determinado a seguir uma vida normal, dentro do possível. Esta situação tem impulsionado muitos homens de negócio, basicamente industriais médios e pequenos, a abandonarem as zonas de conflito, as mais instáveis, e se dirigirem a outras de maior estabilidade.

Lá estabelecem seus negócios em nível mais reduzido, em prol de conservar sua existência, manter a atividade econômica e continuar satisfazendo a demanda de nossos cidadãos.

Neste marco, a maioria dos setores continuam funcionando. Por exemplo, a indústria farmacêutica trabalha com mais de 60% de sua capacidade produtiva e isso é algo importantíssimo para nossa economia nestas circunstâncias que atravessamos.

Creio que, apesar da atual situação, não poupamos esforços para ampliar novamente a base de nossa economia, sobretudo após os avanços que consegue o exército em diferentes zonas de combate.

PRENSA LATINA: Senhor presidente, falemos um pouco sobre o âmbito internacional. Qual sua opinião sobre o papel exercido pelas Nações Unidas no conflito sírio e as tentativas de Washington e seus aliados de impor sua vontade sobre o Conselho de Segurança e nos diálogos de Genebra?

PRESIDENTE: Falar sobre o papel das Nações Unidas e do Conselho de Segurança pode ser ambíguo ou confuso, já que as Nações Unidas, na realidade, constituem atualmente um instrumento que os Estados Unidos podem utilizar da maneira que deseje.

Washington tem a possibilidade de impor à ONU suas normas de duplo critério no lugar de adotarem a Carta da organização. Podem utilizá-la como fazem com qualquer outra instituição da administração norte-americana. Não fosse pelas posturas russas e chinesas para certas causas, a ONU seria completamente uma instituição estadunidense. Portanto, Rússia e China conseguiram dar um certo equilíbrio a estas instituições nos últimos cinco anos, especialmente em relação à causa síria.

Porém, se formos falar de seu papel através de seus mediadores e enviados, como atualmente o senhor Staffan De Mistura e anteriormente Kofy Anan e entre eles Lakdar Brahimi e outros, podemos dizer que estes mediadores não são independentes.

Estes funcionários refletem as pressões exercidas pelos países ocidentais ou, em alguns casos, o diálogo existente entre as principais potências, principalmente Rússia e Estados Unidos. Eles não são estáveis e devido a isso não se pode falar do papel das Nações Unidas.

É um reflexo deste equilíbrio, por isso não existe um papel das Nações Unidas no conflito sírio, há unicamente um diálogo russo-estadunidense e nós sabemos que os russos não poupam esforços e trabalham com toda sinceridade e honestidade para derrotar os terroristas.

Todavia, os estadunidenses trabalham para utilizar os terroristas e não para derrotá-los.

PRENSA LATINA: Senhor presidente, como vê atualmente a convivência entre os grupos étnicos e religiosos sírios face a esta ingerência estrangeira? Que impacto tem este fator na conjuntura atual?

PRESIDENTE: O aspecto mais importante a respeito desta harmonia entre os diferentes espectros do tecido sírio é que é verdadeira e autêntica, porque foi construída ao longo da história e ao longo de séculos, portanto, em semelhante conflito é impossível destruir este tecido social.

Realizando um percurso nas diferentes regiões sob o controle do governo, pode ver todas as cores do espectro da sociedade síria convivendo juntas.

Posso acrescentar que durante o conflito esta harmonia melhorou e se fortaleceu mais, e isto não são puras palavras, é uma realidade que tem diferentes razões. O conflito é uma lição, e esta diversidade que caracteriza uma determinada sociedade enriquece o país ou se converte em um problema, não há meio termo.

Temos aprendido que devemos trabalhar com muita força para conservar esta harmonia, já que o primeiro discurso que os terroristas e seus aliados na região e no Ocidente utilizaram a respeito do conflito na Síria era sectário.

Queriam dividir a gente para jogar uns contra os outros, com o fim de atiçar o fogo na Síria, mas fracassaram. Os sírios aprenderam a lição de que vivemos em harmonia e que gozávamos desta em tempos normais, antes de eclodir o conflito, mas devemos nos esforçar para fortalecê-la.

Por isso, sem nenhum exagero, posso dizer que nesse aspecto a situação está bem. Porém, a situação é diferente nas regiões sob controle dos terroristas.

Como você sabe, aqueles que pertencem basicamente às facções extremistas vinculadas com a Al-Qaeda não poupam esforços para introduzir sua ideologia obscurantista na mente das novas gerações, esta ideologia que advoga pela morte, pela decapitação e todas essas horrendas práticas. E têm tido êxito em algumas regiões.

Com o passar do tempo será mais difícil lidar com esta nova geração de jovens impregnados com a doutrina e a ideologia dos Wahabitas e da Al-Qaeda. E aí reside o único perigo que enfrentaremos em relação a nossa sociedade quanto à harmonia e convivência a que me referi.

PRENSA LATINA: Senhor presidente, voltemos ao tema do cenário internacional. Qual é sua opinião sobre o papel que desempenha a coalizão liderada pelos Estados Unidos no que se refere aos grupos implantados no norte da Síria, especialmente os curdos?

PRESIDENTE: Como você sabe, quando as administrações estadunidenses têm relações com qualquer grupo ou sociedade em um país, isso não se produz em benefício dessa nação nem de seu povo, mas a serviço da agenda dos Estados Unidos.

Portanto, a pergunta que devemos fazer é: por que os estadunidenses apoiam qualquer grupo na Síria? Não é para beneficiá-la, sem dúvidas, porque eles possuem sua própria agenda e a agenda norte-americana sempre foi divisionista em todos os países.

Eles não trabalham para unir as pessoas, mas para dividi-las. Algumas vezes escolhem um grupo sectário, e em outras um grupo étnico para apoiá-lo contra as demais etnias ou para impulsioná-lo a se afastar das outras frações da sociedade. Essa é sua agenda.

Então é óbvio que todo este respaldo estadunidense não tem relação com o Daesh nem com Al-Nusra e nem tampouco com a luta contra o terrorismo, pois desde o início da intervenção estadunidense o Daesh se expandiu, não ocorre o contrário. Somente começou a se reduzir quando iniciou o respaldo russo ao exército sírio no mês de setembro do ano passado.

PRENSA LATINA: Senhor presidente, o que pensa sobre o golpe de Estado que teve lugar recentemente na Turquia e como afeta a atual situação neste país, em âmbito internacional e também o conflito na Síria?

PRESIDENTE: Devemos olhar este golpe como um reflexo da instabilidade e dos distúrbios dentro da Turquia, especialmente a nível social. É possível que o efeito seja de caráter político ou de qualquer outro, mas, definitivamente, quando um país se desestabiliza, a causa principal reside em sua própria sociedade.

Isto é independentemente de quem governará a Turquia e de quem será seu presidente, seu líder, porque este é um assunto interno. Nós não interviemos e não cometeremos o erro de dizer que Erdogan deve sair do poder ou deve ficar. Esta é uma questão turca e o povo turco deve decidir sobre este tema.

Mas o aspecto mais importante do próprio golpe é que devemos ver as medidas e os passos que tomou Erdogan e seu grupo nos últimos dias, quando começaram a atacar o sistema judicial, expulsaram mais de 2.700 mil juízes de seus cargos, mas de 1.500 mil professores universitários e mas de 15 mil trabalhadores do ensino. Que relação têm as universidades, os juízes e a sociedade civil com o golpe?

Isso reflete as más intenções de Erdogan, seu mau caráter e seus verdadeiros fins a respeito do ocorrido, e ainda que as investigações não tenham terminado, por que tomou a decisão de demitir toda esta gente?

Então tem utilizado o golpe para executar sua agenda extremista e que é a mesma da Irmandade Muçulmana em solo turco, e isto é muito perigoso para a Turquia e para os países vizinhos, incluindo a Síria.

PRENSA LATINA: Como avalia as relações de seu Governo com a oposição que reside dentro do país? Qual é a diferença entre estes grupos opositores e aqueles radicados no estrangeiro?

PRESIDENTE: Temos boas relações com a oposição dentro da Síria, baseadas nos princípios nacionais e obviamente eles têm suas próprias agendas políticas e doutrinas, e nós temos nossa agenda e doutrina. Podemos dialogar com eles diretamente ou mediante as urnas que é outra forma.

Esta é a situação em todos os países. Mas não podemos comparar com aquela oposição radicada fora da Síria, já que o conceito de oposição significa utilizar meios pacíficos e não respaldar os terroristas, que não se forme fora do país e que tenha uma base popular com os sírios que vivem aqui.

As bases populares não podem ser dirigidas a partir das chancelarias no Reino Unido ou França ou pelos serviços de inteligência no Catar, Arábia Saudita e Estados Unidos.

Esta não é uma oposição como eles a chamam neste caso, mas nós os chamamos como traidores, a verdadeira oposição é aquela que trabalha para o povo sírio, reside na Síria e adota sua agenda neste povo, em função dos interesses pátrios.

PRENSA LATINA: Como avalia a insistência dos Estados Unidos e seus aliados de que você deva abandonar o poder, e a campanha midiática que desencadeiam para manchar a reputação de seu Governo no cenário internacional?

PRESIDENTE: Em relação ao fato de que eu abandone o poder, eles falam do assunto há cinco anos e nunca conferimos importância as suas propostas, nem sequer respondemos com uma declaração.

Nunca lhe demos importância. Este é um assunto sírio e os sírios são os únicos que podem dizer quem deve vir e quem deve sair, quem deve permanecer em seu cargo e quem deve abandoná-lo e o Ocidente conhece muito bem nossa postura a esse respeito.

Portanto, não nos importamos e também não perdemos tempo pensando no que dizem. Estou aqui graças ao respaldo do povo sírio, se não fosse por isso não estaria aqui. É muito simples.

Em relação a manchar a reputação ou suas tentativas de satanizar certos presidentes, pois este é o método dos Estados Unidos, pelo menos desde a Segunda Guerra Mundial, desde que ocuparam o lugar do colonialismo britânico nesta região e possivelmente no mundo inteiro.

Desde então as administrações estadunidenses e os políticos norte-americanos, nunca disseram uma só palavra verdadeira sobre qualquer assunto.

Eles sempre mentem. E com o passar do tempo, convertem-se em especialistas em mentir. Isto é parte de sua política. Sua tentativa de me satanizar é similar a de satanizar o presidente (Vladimir) Putin nos últimos dois anos, e de satanizar o líder cubano Fidel Castro nas últimas cinco décadas. Esta é sua maneira de agir.

Então devemos saber que esta é a forma de agir dos Estados Unidos e isso não deve nos preocupar. O assunto mais importante é ter uma boa reputação ante o povo, isto é o que deve nos preocupar.

PRENSA LATINA: Senhor presidente, qual é sua opinião sobre as relações da Síria com a América Latina, sobretudo seus históricos nexos com Cuba?

PRESIDENTE: Apesar da grande distância entre a Síria e a América Latina, nos surpreende sempre o nível de conhecimento que possui o povo nessa região, não somente os políticos, sobre esta área do mundo.

Creio que isso é devido a várias razões, e uma delas se materializa nos aspectos de semelhança histórica e nos fatores comuns entre Síria e América Latina.

Os países latino-americanos sofreram há muito tempo a ocupação direta, e logo depois a ação das companhias norte-americanas, os golpes de Estado e a ingerência estadunidense. Os povos dessa região sabem o que significa um país ser independente ou não. Eles concebem que a guerra na Síria gira em torno da independência.

Mas o assunto mais importante nessa área do mundo é o papel de Cuba, que sempre foi a ponta de lança do movimento independentista na América Latina, Fidel Castro é símbolo neste contexto.

Portanto, a nível político e de conhecimento podemos dizer que há forte concordância entre Síria e América Latina, especialmente com Cuba.

Mas não acho que estamos fazendo o suficiente para melhorar os outros aspectos da relação para que estejam ao mesmo nível, basicamente nos setores de educação e economia.

Esta era minha pretensão antes da crise, visitei a América Latina: Cuba, Venezuela, Argentina e Brasil para dar mais força a esta relação.

Depois começou o conflito e converteu-se em um grande obstáculo ante qualquer ação neste marco.

Mesmo assim, acredito que nossas relações não devem se limitar aos aspectos histórico e político. Isto é insuficiente. Existem vários setores e os habitantes de ambas regiões devem se conhecer mais. A distância pode constituir um obstáculo, mas a situação não deve ser assim, pois temos fortes relações com o resto do mundo, do leste ao oeste.

Por isso a distância já não constitui um obstáculo neste tempo. Creio que se conseguirmos superar a crise e esta guerra, então devemos trabalhar com mais força para reviver os diferentes aspectos desta relação com a América Latina, sobretudo com Cuba.

PRENSA LATINA: Senhor presidente, quais são suas expectativas, como avalia o atual processo eleitoral nos Estados Unidos, especialmente as eleições presidenciais? Como pensa que seu resultado pode influir sobre a guerra na Síria?

PRESIDENTE: Retomamos as relações com os Estados Unidos no ano de 1974, há 42 anos. Desde então conhecemos vários governantes estadunidenses em diferentes casos.

A lição que aprendemos é que ninguém deve apostar por qualquer presidente estadunidense. Este é o aspecto mais importante. A questão não tem relação com o nome.
Eles têm instituições e possuem suas próprias agendas e cada presidente vem para executá-la a sua maneira. E, em última análise, deve cumpri-la. Todos têm agendas militares e a única diferença reside na forma de cumpri-las.

Um emprega seu exército, como fez Bush, e outros enviam seus mercenários e agentes, como Obama. Mas todos devem cumprir esta agenda.

Não acho que nos Estados Unidos permitam ao chefe da Casa Branca cumprir com suas convicções políticas. Deve se submeter às instituições e aos grupos de pressão. Estes grupos não mudaram, nem tampouco os planos das instituições, portanto, não terá no futuro próximo um presidente que possa provocar uma mudança séria e radical na política dos Estados Unidos.

PRENSA LATINA: Qual é a mensagem que quer fazer chegar, mediante esta entrevista com a Prensa Latina, aos governos e povos da América Latina e do Caribe, inclusive ao povo norte-americano, sobre a importância do respaldo à luta da Síria contra o terrorismo? 

PRESIDENTE: América Latina é um exemplo bom e importante para o mundo, sobre como os povos e os governos conseguiram recuperar sua independência. A região constituiu o quintal dos Estados Unidos, Washington a utilizou para ensaiar suas manobras e executar sua própria agenda.

Os povos da América Latina se sacrificaram muito para alcançar sua independência, e depois que a recuperaram se transformaram em países em vias de desenvolvimento ou inclusive desenvolvidos.

Então, a independência é algo importantíssimo e muito desejada por todo cidadão na América Latina. Acreditamos que devem preservá-la, porque os Estados Unidos não deixarão de trabalhar para derrubar todo governo independente que represente as grandes maiorias em cada país dessa região.

Cuba conhece isto muito bem, e sabe do que estou falando, mais que qualquer outro país do mundo. Vocês têm sofrido mais que qualquer outro país na América Latina as investidas dos Estados Unidos, e têm tido êxito em fazer frente a todas estas investidas ao longo de mais de cinquenta anos, só porque seu governo representa o povo cubano.

E por isso, apegar-se com força a esta independência é um assunto de vital importância, a meu ver, para o futuro da América Latina.

Em relação à Síria, podemos dizer que está pagando o preço de sua independência, porque em nenhum momento agimos contra os Estados Unidos, França ou Reino Unido.

Sempre tentamos construir boas relações com o Ocidente. Mas o problema é que eles não aceitam nenhum país independente, e creio que isto é o que ocorre com Cuba também.

Vocês nunca tentaram ferir ou prejudicar o povo norte-americano, no entanto eles não os aceitam como um país independente. O mesmo caso aplica-se nos demais países da América Latina, e por esta razão sempre tem ocorrido golpes em seus países, sobretudo na época dos anos sessenta e setenta.

Por isso acredito que preservar a autodeterminação de um país não constitui um caso isolado. Se quero ser independente devo apoiar a independência em todo o mundo, porque se ajo sozinho, então serei frágil.

O respaldo à Síria será principalmente nos foros internacionais. Existem muitas organizações, especialmente as Nações Unidas, apesar de sua incapacidade, mas em última análise, o respaldo destas entidades pode desempenhar um papel ativo no apoio à Síria.

Existe naturalmente o Conselho de Segurança e sua postura depende dos membros não permanentes neste órgão. O respaldo de qualquer outra organização à Síria também será importante.

PRENSA LATINA: Senhor presidente, sabemos que você é uma pessoa muito ocupada e por isso a Prensa Latina valoriza altamente o tempo que nos concedeu para esta entrevista nestes precisos momentos. Desejamos ter no futuro este tipo de intercâmbio com você. Muito obrigado.

PRESIDENTE: Serão bem-vindos em qualquer momento.

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Modificado el ( sábado, 23 de julio de 2016 )

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