Foto - Gerô. |
Ao todo, oito policiais foram acusados de
envolvimento na morte do artista Gerô. Desses, apenas três foram condenados.
No dia 22 de março de 2007, o artista popular Jeremias Pereira da
Silva, conhecido como Gerô por conta dos seus repentes e pelos seus versos de
cordel, foi brutalmente espancado e assassinado por policiais militares em
São Luís (MA). Gerô tinha 46 anos de idade e, segundo a
polícia, na época, foi confundido com um ladrão.
Depois de quase dez anos do assassinato, a Justiça determinou uma
indenização à família do cantor no valor de R$ 250.748,76, que será paga
em seis parcelas. Atualmente, nenhum dos polícias
envolvidos na tortura e morte do Gerô está preso.
Naquela tarde de quinta-feira, policiais militares que ocupavam a
viatura número 28, do 9° Batalhão de Polícia Militar, encarregados de entregar
refeições nas delegacias da cidade, abordaram Gerô na Ponte do São Francisco,
na avenida Beira-Mar, e deram voz de prisão, sob a acusação de que ele teria
cometido um assalto nas imediações. A suposta vítima seria uma mulher.
O repentista então foi colocado dentro da viatura e imediatamente os PMs
iniciaram a sessão de espancamento. Na viatura, estavam os soldados José
Expedito Ribeiro Farias e Paulo Roberto, além do sargento Mendes, que pegava
uma carona.
Os soldados batiam no músico que, por sua vez, alegava inocência da
acusação de roubo. O sargento presenciou as agressões, mas não interveio.
Gerô foi levado para uma cela dentro do posto policial no Terminal de
Integração da Praia Grande, onde continuou a sessão de tortura. De
acordo com o advogado Carlos Antônio Sousa, que representou a família da vítima
no processo, há relatos de que pessoas aplaudiam a atitude
dos PMs enquanto o músico era brutalmente espancado.
Foto - Gerô. |
Agonia
após a tortura.
Com o músico muito ferido, os dois soldados pediram reforço para que
outra viatura levasse Gerô até um hospital. O CIOPS (Centro Integrado de
Operações de Segurança) enviou para o local, já no início da noite, a viatura
de número 304, ocupada pelos militares Silva e Pacheco que, ao constatarem o
estado grave do cantor, se recusaram a conduzi-lo até um hospital.
No posto policial, o tenente Alexandre acompanhava os gritos de Gerô,
pedindo socorro e dizendo que iria morrer. Diante desta situação, os
soldados Expedito e Paulo Roberto, responsáveis pelo espancamento, levaram o
Gerô até o Plantão Central da Reffsa, onde o delegado também não quis recebê-lo
por conta dos seus ferimentos.
Uma nova tentativa foi feita no 1° DP, onde os soldados convenceram o
delegado Eduardo Jansen de que o preso tratava-se de um doente mental e que
deveria ser encaminhado por ofício até o Hospital Nina Rodrigues.
No 1° DP, novas agressões foram presenciadas pelo delegado Castelo
Branco, que viu os policiais tentando colocar a vítima no porta-malas do carro,
mesmo estando desacordado. Horas depois do início da sessão macabra de espancamentos,
Gerô foi levado para o Hospital Municipal Djalma Marques, mas não resistiu aos
ferimentos e morreu.
Para Jederson Rodrigues da Silva, 25 anos, filho do artista, que durante
todos estes anos vem acompanhando o processo, a dor da família não se apaga
com este resultado, mas é uma forma de tentar minimizar o sentimento de
impunidade que também permanece. “Não repara a dor de uma
perda, mas algum retorno o Estado ia ter que nos dar, por direito”, disse.
A lembrança do pai é ainda mais forte quando ele pensa na convivência
que não puderam ter – no passado e a futura. “São muitas horas destinadas a ele
e a toda hora um pensamento. Quando penso que terei minha família, terei meus
filhos, penso no avô que ele seria. Um avô cheio de palhaçadas, afinal, ele só
teve a mim e acho que iria adorar um neto”, diz o rapaz sobre a saudade que vai
durar eternamente.
Gerô
morreu aos 47 anos de idade e trazia a cultura e a tradição nordestina no
sangue. Filho de Pedro Correia da Silva e de Maria do
Carmo Pereira da Silva, Gerô nasceu no município de Monção no dia 6 de janeiro
de 1961. Cordelista, fã de João do Vale, Gerô foi parceiro de Joãozinho
Ribeiro, de Escrete, de Josias Sobrinho, de Ribão da Flor, o Ribão de Olodum,
hoje Ribão da Favela. Com seu inseparável chapéu de couro, Gerô gravou quatro
álbuns.
Ao
todo, oito policiais foram acusados de envolvimento na morte do artista.
Desses, apenas três foram condenados. os
soldados Paulo e Expedito e o sargento Mendes. A pena foi de nove anos e oito
meses de reclusão, porém, o sargento conseguiu por meio de recurso, a
isenção do crime de tortura e a redução da pena, além da readmissão de seu
cargo público, tendo voltado a trabalhar fardado normalmente nas ruas de São
Luís. Os dois soldados cumpriram boa parte da pena em regime semiaberto, em um
quartel da PM.
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