Para
Isabella Ballalai, é possível reverter quadro de surto.
A perda do status de país livre do sarampo representa um retrocesso para o Brasil e as Américas, segundo avaliação da vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai.
“É triste ver voltar uma doença que já foi uma das
principais causas de mortalidade infantil. A vacinação contra o sarampo mudou a
mortalidade infantil, fez cair a mortalidade infantil. Conversando com um grupo
de médicos como eu, que vi o sarampo, assinei muito atestado de óbito de
criança que morreu por sarampo, ver a doença voltar é, sem dúvida alguma, um
retrocesso que não precisava existir”, disse.
Em
entrevista à Agência Brasil, a pediatra, que atua há mais de 30
anos na área de imunização, defendeu estratégias com foco na comunicação com a
população e na capacitação de profissionais. Ela lembrou que, apesar das baixas
taxas de cobertura, a dose contra o sarampo sempre esteve disponível nos postos
de saúde.
“Todos os anos, a gente tem a campanha de
atualização da caderneta de vacinação. Antigamente, era uma campanha só para o
sarampo. Agora, passou a ser um dia para atualizar todas as doses em atraso.”
A especialista afirmou que é necessário resgatar a
memória sobre a importância da vacina na imunização e a compreensão de que,
mesmo não tendo a doença, se parar de vacinar, o mal pode voltar.
“Parece que
as pessoas hoje prestam mais atenção em fake news, numa
informação que não é verdadeira, e não valorizam a doença. Antigamente, quando
o ministério fazia uma campanha contra o sarampo, as famílias iam correndo
porque viam os amiguinhos dos filhos morrerem ou adoecerem por
sarampo. Hoje em dia, ninguém mais vê sarampo.”
Reversão do
quadro
Para Isabella Ballalai, o Brasil tem chance de
reverter o quadro de surto de sarampo e reconquistar a condição de país livre
da doença. Segundo ela, o brasileiro, em geral, acredita nas vacinas, mas
precisa ser mais bem informado e ter maior facilidade no momento de acessar a
dose.
A pediatra destacou que o país conta atualmente com
cerca de 36 mil salas de vacinação na rede pública, mas o funcionamento desses
locais precisa ser revisto.
“Os postos ainda funcionam em horário comercial e
param para almoço. Precisamos rever isso porque as famílias trabalham. Na
realidade, o que a gente precisa é parar o que está sendo feito e rever como
fazer. Vacina a gente tem. Sala de vacinação a gente tem. Brasileiros que
acreditam em vacinação são maioria. O antivacinismo não é um problema grande no
Brasil, é muito pequeno e não é esse o motivo que faz com que as pessoas não se
vacinem.”
Vacinação
A vice-presidente da SBIm reforçou que a vacinação
contra o sarampo, em particular, não é prevista apenas para crianças – adultos
até 49 anos também precisam ser imunizados. No Amazonas, segundo ela, a maior
parte dos casos foi identificado em adultos, não em crianças. Esse, na
avaliação da especialista, é outro grande desafio na busca pelo certificado de
eliminação da doença.
“A gente precisa ter a população adulta
vacinada. O ministério oferece a vacina gratuitamente para eles. Essa
comunicação é a mais difícil de ser entendida – fazer essas pessoas irem tomar
vacina. Não é vacina de criança, é vacina de todos nós. O sarampo é mais grave
em adultos do que em crianças, e o adulto ainda transmite para a criança que
não está vacinada. A gente precisa vacinar, pelo menos, todos até os 49 anos de
idade”, afirmou.
Números
De 1º de janeiro a 19 de março deste ano,
foram confirmados laboratorialmente 28 casos de sarampo em dois estados do
Brasil, sendo 23 no Pará e cinco no Amazonas. Os casos, de acordo com o
Ministério da Saúde, estão relacionados à cadeia de transmissão iniciada no
país em 19 de fevereiro do ano passado.
Durante todo o ano de 2018, foram confirmados
10.326 casos de sarampo, sendo 9.803 no Amazonas, 361 em Roraima e 79 no Pará.
O pico da doença foi registrado em julho passado, quando 3.950 casos foram
contabilizados.
Publicado
em 21/03/2019 - por Paula
Laboissière - Repórter da Agência Brasil.
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