domingo, 8 de janeiro de 2012

Epidemia - Cólera mata mais de 7 mil pessoas no Haiti e contamina 520 mil.

7/1/2012 11:03,  Por Redação, com ABr - de Brasília.


Colera no Haiti.
Mais de 7 mil pessoas morreram vítimas do cólera no Haiti e cerca de 520 mil foram infectadas pela doença.

A informação é do diretor adjunto da Organização Pan - Americana da Saúde,  Jon Andrus. “É uma das piores epidemias de cólera da história moderna”, disse. Segundo ele, são notificados 200 novos casos da doença por dia.

Para  Andrus, a situação se agrava no Haiti em decorrência do período de chuva. A epidemia de cólera começou em outubro de 2010, nove meses depois do pior terremoto da história recente haitiana – em 12 de janeiro de 2010. A epidemia de cólera no Haiti se estendeu para a República Dominicana, país vizinho, que registrou 363 mortos e 21 mil casos de contaminação.

A suspeita das autoridades estrangeiras é que a cólera tenha sido introduzida no Haiti por militares do Nepal que servem na força de paz na região. Tanto é que a doença no país tem características das formas comuns na Ásia.

Por essa razão, as famílias das vítimas haitianas pedem à Organização das Nações Unidas (ONU) uma indenização de US$ 100 mil por pessoa morta e US$ 50 mil por cada infectado. Mas ainda não há definição sobre o tema.

Cerca de dois anos depois do terremoto, o Haiti ainda busca a reconstrução. Os tremores de terra no país mataram mais de 220 mil pessoas, destruíram prédios públicos e casas, assim como documentos.

Fonte: http://correiodobrasil.com.br/colera-mata-mais-de-7-mil-no-haiti-e-contamina-520-mil-2/352840/

UFF - (Universidade Federal Fluminense) lançou o curso de bacharel em Segurança Pública, o curso foi criado em 2011.

Passo à frente: segurança não é só caso de polícia.

Esta foto não é de antes da Princesa Isabel: é de 1982, em pleno Rio de Janeiro. 

No jornal O Globo de hoje, uma notícia boa, que não deveria ser nova: “daqui a quatro anos, uma turma de formandos da Universidade Federal Fluminense (UFF) receberá um diploma inédito no Brasil: bacharel em Segurança Pública. 

O curso foi criado no fim do ano passado, e suas 60 vagas estão disponíveis para os estudantes que fizeram o Enem no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do Ministério da Educação”.

Não se trata de “bacharelismo”, mas de que começamos a construir algo que há muito só acontecia de forma casual e limitada: termos planejadores de política de segurança pública com formação multisetorial, que saibam vê-la como um problema mais complexo que o simples (aliás, nada simples) planejamento de ações policiais.

-  Nas faculdades de direito, não se discute segurança pública, mas, sim, como aplicar as leis existentes. As academias militares, por exemplo, ensinam a ser militar, e não a ser policial. 

A lógica é sempre a da repressão Pretendemos intervir nesse mercado. A ideia é criar uma alternativa para os órgãos e institutos de segurança, públicos e privados, para que possam contratar pessoas com uma formação que não seja pensada na associação entre segurança pública e polícia.

- afirma o professor Roberto Kant de Lima, da Faculdade de Direito da UFF, à qual o curso será vinculado.

Na matéria, o coronel da Polícia Militar Robson Rodrigues, ex-comandante das UPPs e mestre em antropologia, elogia a proposta:

- Entender que a segurança pública é de natureza civil é muito importante, pois ela não fica mais fechada dentro de quartéis e delegacias. Avança no nosso processo de consolidação democrática. É uma boa notícia não só para as polícias e secretarias, mas para a sociedade como um todo. A própria PM tenderá a aproveitar quadros de graduações diversificadas, e essa pode entrar no rol das exigidas.

Um passo gigantesco na tão necessária transformação da visão de segurança numa ação integrada, onde a força não se descole da humanidade e do direito, da visão social e que, assim, possa ser eficiente como todos necessitam.  Um caminho que foi desbravado por um homem que, neste momento, deve ser lembrado – usando o título de um lívro que descreve sua obra -  por todos que tem “O sonho de uma polícia cidadã” : o coronel PM Carlos Magno Nazareth Cerqueira.

Um homem de rara inteligência, negro, formado em Psicologia e Filosofia, com 25 anos de experiência policial, que enfrentou o preconceito e a infâmia dos violentos e da mídia, mas que é o semeador de ideias que o tempo tornou vitoriosas, como os programas de policiamento comunitário e integração dos serviços públicos de segurança – e de cidadania – às comunidades pobres.

Fonte: http://www.tijolaco.com/

sábado, 7 de janeiro de 2012

México inaugura ponte mais alta do mundo.

A ponte Baluarte Bicentenário

A ponte Baluarte Bicentenário foi lançada sobre um desfiladeiro profundo na Sierra Madre, no Norte do México.

A obra de arte tem 402,6 metros de altura e 1124 metros de comprimento. É tão alta que debaixo de seu vão central poderia facilmente caber a Tour d’Eiffel de Paris.

A ponte faz parte de uma nova via expressa ligando os estados de Sinaloa e de Durango.

As obras tiveram início em Fevereiro de 2008 e foram concluídas em menos de quatro anos.

Fonte:http://portuguese.ruvr.ru/2012/01/07/63457656.html

Incêndio - Brigadistas brasileiros que atuarão no Chile se organizam para enfrentar ventos fortes e temperaturas elevadas.

Renata Giraldi - Repórter da Agência Brasil.

Brasília – Os 50 brigadistas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) que seguiram hoje (7) para o Chile, montaram um organograma para cooperar com as ações de combate ao incêndio que atinge o país andino. A ideia é atuar nas áreas nativas das florestas de Concepción, na região central chilena, por cerca de 20 dias. Mas esse período pode ser ampliado.

O chefe do Centro Especializado do Sistema Nacional de Prevenção e Combate de Incêndios Florestais do Ibama, José Carlos Mendes, disse à Agência Brasil que os 49 homens e a única mulher do grupo são experientes e já enfrentaram incêndios de grandes dimensões. Mas, segundo ele, a preocupação é que os focos de incêndio se agravem pelas más condições de clima nas regiões afetadas.

“Tudo fica mais difícil porque as temperaturas são elevadas, há baixa umidade e ainda existem ventos fortes que ajudam a propagar o fogo. A situação preocupa bastante”, disse Mendes. “No caso da região de Concepción há áreas nativas e plantadas afetadas. Devemos ajudar na área nativa que é a que estamos acostumados.”

O apoio do Brasil ao Chile conta ainda com a Força Aérea Brasileira (FAB), por meio da aeronave que transportará os 50 brigadistas, a Defesa Civil que arcará com os custos de diárias para os profissionais e o Ministério das Relações Exteriores que coordena as ações. O governo brasileiro se dispôs ainda a enviar homens do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal e da Força Nacional, caso as autoridades chilenas solicitem. O país andino pediu auxílio também à Argentina, Austrália e aos Estados Unidos.

Única mulher do grupo, Fabíola Siqueira de Lacerda, será a responsável pela área de planejamento das operações dos brigadistas. No dia a dia, Fabíola coordena os cursos de capacitação de brigadistas do Ibama, o que segundo ela, faz com que esteja acostuma a ser “única entre muitos homens”. “Para mim, é absolutamente normal e não influencia em nada”, disse.

Ao ser perguntada se a preocupa o fato de sete bombeiros chilenos terem morrido esta semana ao tentar apagar focos de incêndio, a brigadista disse que não teme o trabalho que vai desempenhar. “Não há por que ter medo, pois somos treinados para enfrentar esse tipo de situação. O importante é seguir o planejamento e manter sempre uma rota de fuga”, disse.

No Chile, os focos de incêndio se espalharam nos últimos dias. Apenas ontem (6), um incêndio na Região Sul do país causou sete mortes – todas as vítimas eram bombeiros. Em dez dias, mais de 50 incêndios queimaram 50 mil hectares de florestas. As áreas mais afetadas são Bío-Bío, Maule e Araucanie, localizadas a 500 e 700 quilômetros de Santiago, a capital chilena. As labaredas alcançaram também a região da Patagônia argentina.

Edição: Talita Cavalcante

Fonte: http://minutonoticias.com.br/brigadistas-brasileiros-que-atuarao-no-chile-se-organizam-para-enfrentar-ventos-fortes-e-temperaturas-elevadas

Ex-prefeito de São José dos Basílios, Chico Rio Grandense é assassinado com mais de 40 tiros.

O ex-prefeito do município de São José dos Basílios, a 396 quilômetros de São Luís, Chico Rio Grandense, foi assassinado com 40 tiros na manhã deste sábado dia 07, quando retornava de sua fazenda, localizada na cidade de Dom Pedro. Chico Rio Grandense foi por duas vezes prefeito de São José dos Basílios.

Dois pistoleiros assassinaram há poucos instantes o ex-prefeito de São José dos Basílios, Francisco Ferreira Sousa, o Chico Riograndense.

Informações dão conta que o ex-prefeito foi vítima de uma emboscada no povoado Poção, interior de São José dos Basílios, cidade onde foi prefeito por dois mandatos e teria sido atingido por quarenta tiros.

Os pistoleiros fugiram e a polícia está a procura. Ainda não se tem detalhes se o crime teria motivação política.

De acordo com informações da I Companhia Independente da Polícia Militar de Presidente Dutra, os criminosos estavam numa moto prata sem placas no momento do assassinato fugindo do local se embrenhando nas matas do município. Todo o contigente da Polícia Militar da região comandado pelo Capitão Machado está fazendo barreiras nas principais saidas de São José dos Basílios na tentativa de prender os dois pistoleiros. O Secretário de Segurança Pública do Estado Aluízio Mendes está enviando mais reforço e um delegado especial para o local.

Prefeito
Natural de Pedreiras, Francisco Ferreira Sousa, mais conhecido como Chico Rio Grandense, era casado, tinha 69 anos e  comerciante em Dom Pedro onde morava há vários Anos. Em 1999 resolveu entrar para a política, se elegendo pelo PPB (hoje PP) o segundo prefeito de São José dos Basílios, reelegendo-se em 2004 pelo PFL. O atual prefeito Joãzinho das Crianças foi o candidato de Riograndense em 2008 eleito com larga maioria.

Fonte: Adonias Soares
http://gd-ma.com/2012/01/07/ex-prefeito-de-sao-jose-dos-basilios-chico-rio-grandense-e-assassinado-com-mais-de-40-tiros/

Privataria Tucana. Deputado do PSDB recua em projeto de ‘mordaça’ eleitoral

Projeto estabelecia multa e prisão para quem, durante o período eleitoral, divulgasse crimes cometidos por candidatos. Autor da proposta responde a dois inquéritos no Supremo.



Deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG)
Depois da repercussão negativa que seu projeto de lei teve nesta semana, o deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) decidiu retirá-lo da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ). 

O PL 2.301/11 proibia a divulgação, em período eleitoral, de investigações de crimes cometidos por candidatos, ou a publicação de “sindicância, procedimento investigatório, inquérito ou processo, ou qualquer ocorrência de natureza penal” relativa a crimes cometidos por candidatos durante os quatro meses de campanha.

Em nota, o parlamentar explicou que o motivo da desistência foram as dúvidas quanto ao entendimento do texto levantadas por “problemas técnicos de redação e de conteúdo” no PL. “O objetivo do autor com a proposição era evitar exploração política contra candidatos no período eleitoral por infração culposa (não havendo intenção de crime, mas imperícia, imprudência ou negligencia)”, afirma a nota.

Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o deputado explicou que não tinha intenção de “amordaçar nada”, mas admitiu que a redação poderia dar a  “impressão” de que se tratava de uma “mordaça”. 

Bonifácio também informou que desejava fazer algumas alterações no texto, que foi devolvido sem alterações pelo relator na CCJC, deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA). No entanto, ao retirar o projeto da comissão, Andrada encerrou sua tramitação definitivamente.

Se o projeto fosse adiante, quem desrespeitasse a regra estabelecida por ele, poderia ser condenado à prisão por três a oito anos, além de pagamento de multa de R$ 2 mil a R$ 15 mil. 

O deputado é alvo de dois inquéritos no Supremo: um por crime eleitoral (Inq 3065) e outro por crime contra o patrimônio (Inq 2757).

Fonte: http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/deputado-recua-em-projeto-de-mordaca-eleitoral/
 

TABACARIA - Poesias de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa).



FERNANDO
PESSOA

Poesias de
Álvaro de Campos



      TABACARIA 
       
    Não sou nada.
    Nunca serei nada.
    Não posso querer ser nada.
    À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

    Janelas do meu quarto,
    Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
    (E se soubessem quem é, o que saberiam?),
    Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
    Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
    Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
    Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
    Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
    Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

    Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
    Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
    E não tivesse mais irmandade com as coisas
    Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
    A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
    De dentro da minha cabeça,
    E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
    Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
    Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
    À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
    E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
    Falhei em tudo.
    Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
    A aprendizagem que me deram,
    Desci dela pela janela das traseiras da casa.
    Fui até ao campo com grandes propósitos.
    Mas lá encontrei só ervas e árvores,
    E quando havia gente era igual à outra.
    Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
    Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
    Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
    E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
    Gênio? Neste momento
    Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
    E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
    Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
    Não, não creio em mim.
    Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
    Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
    Não, nem em mim...
    Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
    Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
    Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
    Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
    E quem sabe se realizáveis,
    Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
    O mundo é para quem nasce para o conquistar
    E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
    Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
    Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
    Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
    Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
    Ainda que não more nela;
    Serei sempre o que não nasceu para isso;
    Serei sempre só o que tinha qualidades;
    Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
    E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
    E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
    Crer em mim? Não, nem em nada.
    Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
    O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
    E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
    Escravos cardíacos das estrelas,
    Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
    Mas acordamos e ele é opaco,
    Levantamo-nos e ele é alheio,
    Saímos de casa e ele é a terra inteira,
    Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

     
    (Come chocolates, pequena;
    Come chocolates!
    Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
    Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.


    Come, pequena suja, come!
    Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
    Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
    Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
    Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
    A caligrafia rápida destes versos,
    Pórtico partido para o Impossível.



    Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
    Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
    A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
    E fico em casa sem camisa.

     
    (Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
    Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
    Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
    Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
    Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
    Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
    Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
    Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
    Meu coração é um balde despejado.


    Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
    A mim mesmo e não encontro nada.
    Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
    Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
    Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
    Vejo os cães que também existem,
    E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
    E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

     
    Vivi, estudei, amei e até cri,
    E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
    Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
    E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
    (Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
    Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
    E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
    Fiz de mim o que não soube
    E o que podia fazer de mim não o fiz.
    O dominó que vesti era errado.
    Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
    Quando quis tirar a máscara,
    Estava pegada à cara.


    Quando a tirei e me vi ao espelho,
    Já tinha envelhecido.
    Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
    Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
    Como um cão tolerado pela gerência
    Por ser inofensivo
    E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
    Essência musical dos meus versos inúteis,
    Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
    E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
    Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
    Como um tapete em que um bêbado tropeça
    Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
    Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
    Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
    E com o desconforto da alma mal-entendendo.
    Ele morrerá e eu morrerei.
    Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
    A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
    Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
    E a língua em que foram escritos os versos.
    Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
    Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
    Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
    Sempre uma coisa defronte da outra,
    Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
    Sempre o impossível tão estúpido como o real,
    Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
    Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
    Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
    E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.


    Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
    E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
    Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
    E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
    Sigo o fumo como uma rota própria,
    E gozo, num momento sensitivo e competente,
    A libertação de todas as especulações
    E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
    Depois deito-me para trás na cadeira
    E continuo fumando.


    Enquanto o Destino me conceder, continuarei fumando.
    (Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
    Talvez fosse feliz.)
    Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
    O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
    Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
    (O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
    Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
    Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
    Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
    Álvaro de Campos, 15-1-1928

    Fonte: http://www.insite.com.br/art/pessoa/ficcoes/acampos/456.php