Celso Ming. 
 
    
A
 crise do euro está mudando de qualidade. 
Já não se trata apenas do 
sufoco provocado pelo endividamento excessivo dos Estados soberanos, do 
desemprego recorde e da paradeira geral que asfixia o setor produtivo. 
Passou a ser a crise dos bancos. O incêndio se aproxima dos paióis de 
dinamite.
A corrida aos 
depósitos e às aplicações financeiras ainda é relativamente pequena. Na 
Espanha, que perdeu quase 100 bilhões de euros em capitais estrangeiros 
só no primeiro trimestre deste ano (veja o gráfico), não chega a 2% dos 
saldos. Mas já é suficientemente relevante para preocupar. Mostra que o 
processo de contágio está avançando para as economias grandes.
Há
 turbulência, mas não há pânico. Essa ausência, no entanto, não 
tranquiliza. A aceleração dos saques mostra que o nível de desconfiança 
subiu a ponto de colocar em risco a saúde de algumas instituições 
financeiras.
Os 
administradores de patrimônio não temem apenas o desemprego que, na 
Espanha, alcança uma em cada quatro pessoas que integram a força de 
trabalho e um em cada dois jovens com até 25 anos. Tem medo da 
insolvência dos bancos e do derretimento do seu patrimônio financeiro, 
caso algum país abandone o euro e volte à moeda nacional.
O
 que mais importa já não retomar o crescimento econômico - bandeira 
eleitoral do recém-empossado presidente da França, François Hollande. 
Tampouco criar um mecanismo firme e automático de socorro a economias 
subitamente incapacitadas de honrar seus compromissos. O mais urgente é 
tomar decisões que garantam a sustentação do sistema financeiro. Se um 
único grande banco afundar, será muito difícil evitar a desestruturação 
desordenada de toda a área do euro.
Foi
 esse quadro que levou o presidente do Banco Central Europeu, Mario 
Draghi, a advertir na quinta-feira que a estrutura do euro está ficando 
insustentável. Essa é, por si só, uma declaração grave demais, feita 
pelo principal guardião da moeda. E ele fez também a mais contundente 
crítica à letargia das autoridades do euro desde sua posse em novembro. 
Afirmou que as meias medidas e os adiamentos sucessivos de decisões por 
parte dos chefes de governo vêm agravando a situação.
Sexta-feira,
 os bancos da Alemanha rejeitaram todas as propostas na direção de uma 
centralização da atividade financeira e da criação de esquemas conjuntos
 de garantias bancárias, destinadas a evitar a corrida aos depósitos e o
 colapso do sistema financeiro da área.
Mas
 parece inevitável que sejam tomadas atitudes que acelerem a 
recapitalização dos bancos mais expostos, que protejam os correntistas e
 que garantam supervisão bancária centralizada que se sobreponha à dos 
organismos nacionais encarregados dessa função.
Os
 bancos são instituições frágeis. Tomam emprestado a curto prazo e 
reemprestam os mesmos recursos a longo prazo. Uma forte anomalia, como a
 quebra de um elo do sistema, pode provocar uma catástrofe. Se esse 
início de corrida aos bancos não for imediatamente estancado, pouco 
adiantarão providências destinadas somente a tirar a economia da 
recessão.
FONTE: http://www.exercito.gov.br/web/imprensa/resenha 
 
 

