Por Murillo Camarotto | Do Recife
A
perspe
ctiva de uma seca prolongada, possivelmente até fevereiro de 2013,
reforça o cenário desanimador para a economia da região Nordeste.
Apesar de não existirem projeções exatas sobre o valor financeiro dos
prejuízos, a tendência é que a fatia da agricultura e da pecuária no PIB
dos Estados mais atingidos seja seriamente afetada neste ano. As perdas
registradas nos três primeiros meses de 2012 seguem se acumulando no
trimestre seguinte, mesmo com a implementação de algumas das medidas de
auxílio anunciadas pelos governos.
No Rio Grande do Norte, que tem
139 municípios em situação de emergência, a projeção é de um rombo de
cerca de R$ 5,5 bilhões no PIB do Estado em 2012. O cálculo foi revelado
pelo secretário estadual de Agricultura, Betinho Rosado. "A produção in
natura, que foi seriamente prejudicada, representa 6% do nosso PIB, que
é de R$ 25 bilhões. Se for considerado o beneficiamento desses
produtos, como no caso do queijo, do iogurte e do álcool, a fatia passa
para 35%."
A quebra na produção de leite e, consequentemente, de seus
derivados, é um dos principais golpes da seca na economia nordestina.
Maior produtor da região, com 1,2 bilhão de litros em 2011, a Bahia deve
registrar uma queda de 50% neste ano, mesmo percentual esperado para
Pernambuco, que antes da estiagem vinha produzindo 2 milhões de litros
por dia.
Sem ração e água para as vacas, em Sergipe a queda foi de
40%, segundo informações do secretário estadual de Agricultura, José
Sobral. No Estado, somente com a cadeia do leite, dos grãos e da
cana-de-açúcar, ele estima prejuízo de R$ 200 milhões até agora. Em
Pernambuco, até maio, o prejuízo acumulado devido à seca estava bem
próximo de R$ 1 bilhão, sendo R$ 856 milhões na pecuária (carne e leite)
e outros R$ 140 milhões na agricultura.
De acordo com a secretaria
nacional de Defesa Civil, ligada ao Ministério da Integração Nacional,
996 municípios estavam em situação de emergência no início de junho - em
meados de abril, eram 458. Sobral lembra, no entanto, que a emergência
humana não é a mesma que a econômica. "Muitas cidades têm água para o
povo beber, por isso não são consideradas como emergência. Mas em termos
econômicos, o número de regiões afetadas é bem maior", explicou.
Considerado
um dos Estados menos afetados, o Maranhão engrossou a lista de
municípios em dificuldades, apesar de o pleito ainda não ter sido
reconhecido pelo Ministério da Integração. Na quarta-feira passada, o
governo estadual anunciou que 58 cidades estão em situação delicada,
sobretudo no centro-norte do Estado, onde foi seriamente comprometida a
produção de arroz e de milho, além do leite. De acordo com o secretário
estadual de Agricultura, Cláudio Azevedo, os prejuízos ainda estão sendo
calculados.
A Bahia tem o maior número de municípios sofrendo com a
seca. De acordo com os levantamentos oficiais mais recentes, são 217
cidades atingidas, mas o governo estadual fala em 256. O tamanho do
Estado, entretanto, ajuda a amenizar os efeitos econômicos da estiagem.
As perdas de produção verificadas no semiárido devem ser compensadas
pelo crescimento das lavouras no oeste baiano, região que não tem
sofrido tanto com a seca.
"Acreditamos que a safra de soja, por
exemplo, fique igual a do ano passado, devido ao crescimento no oeste.
Mas na produtividade perderemos algo em torno de 15%", explica o
secretário estadual de Agricultura, Eduardo Salles. Para o algodão,
outra cultura importante no Estado, ele estima queda de 10% a 15%. Na
Bahia os prejuízos também não foram mensurados. A agropecuária responde
por 24% do PIB local.
Segundo Estado mais afetado, com 196 municípios
em situação de emergência, a Paraíba segue contabilizando as perdas
superiores a 70% na safra agrícola, que representa 6% do PIB estadual. O
secretário de Agricultura, Marenilson Batista, não vê grandes
expectativas de melhora no cenário, a não ser que chova. "Nossa
esperança ainda é o litoral, onde tem chovido. Pelo menos garante o
abacaxi, a cana e se mantém uma parte do gado." O Estado é o maior
produtor de abacaxi do país.
FONTE: http://www.exercito.gov.br/web/imprensa/resenha