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Aquecimento global ? |
Carta aberta à presidente Dilma Rousseff.
Mudanças climáticas: hora de recobrar o bom senso.
24/05/2012
Exma. Sra.
Dilma Vana Rousseff
Presidente da República Federativa do Brasil
Excelentíssima Senhora Presidente:
Em uma recente reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, a
senhora afirmou que a fantasia não tem lugar nas discussões sobre um
novo paradigma de crescimento – do qual a humanidade necessita, com
urgência, para proporcionar a extensão dos benefícios do conhecimento a
todas as sociedades do planeta. Na mesma ocasião, a senhora assinalou
que o debate sobre o desenvolvimento sustentado precisa ser pautado pelo
direito dos povos ao progresso, com o devido fundamento científico.
Assim sendo, permita-nos complementar tais formulações, destacando o
fato de que as discussões sobre o tema central da agenda ambiental, as
mudanças climáticas, têm sido pautadas, predominantemente, por
motivações ideológicas, políticas, acadêmicas e econômicas restritas.
Isto as têm afastado, não apenas dos princípios basilares da prática
científica, como também dos interesses maiores das sociedades de todo o
mundo, inclusive a brasileira. Por isso, apresentamos-lhe as
considerações a seguir.
1) Não há evidências físicas da influência humana no clima global:
A despeito de todo o sensacionalismo a respeito, não existe
qualquer evidência física observada no mundo real que permita demonstrar
que as mudanças climáticas globais, ocorridas desde a revolução
industrial do século XVIII, sejam anômalas em relação às ocorridas
anteriormente, no passado histórico e geológico – anomalias que, se
ocorressem, caracterizariam a influência humana.
Todos os prognósticos que indicam elevações exageradas das
temperaturas e dos níveis do mar, nas décadas vindouras, além de outros
efeitos negativos atribuídos ao lançamento de compostos de carbono de
origem humana (antropogênicos) na atmosfera, baseiam-se em projeções de
modelos matemáticos, que constituem apenas simplificações limitadas do
sistema climático – e, portanto, não deveriam ser usados para
fundamentar políticas públicas e estratégias de longo alcance e com
grandes impactos socioeconômicos de âmbito global.
A influência humana no clima restringe-se às cidades e seus
entornos, em situações específicas de calmarias, sendo estes efeitos
bastante conhecidos, mas sem influência em escala planetária.
Para que a ação humana no clima global ficasse demonstrada, seria
preciso que, nos últimos dois séculos, estivessem ocorrendo níveis
inusitadamente altos de temperaturas e níveis do mar e, principalmente,
que as suas taxas de variação (gradientes) fossem superiores às
verificadas anteriormente.
O relatório de 2007 do Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC) registra que, no período 1850-2000, as temperaturas
aumentaram 0,74°C, e que, entre 1870 e 2000, os níveis do mar subiram
0,2 m.
Ora, ao longo do Holoceno, a época geológica correspondente aos
últimos 12.000 anos em que a civilização tem existido, houve diversos
períodos com temperaturas mais altas que as atuais. No Holoceno Médio,
há 5.000-6.000 anos, as temperaturas médias chegaram a ser 2-3°C
superiores às atuais, enquanto os níveis do mar atingiam até 3 metros
acima do atual. Igualmente, nos períodos quentes conhecidos como Minoano
(1500-1200 a.C.), Romano (séc. VI a.C.-V d.C.) e Medieval (séc. X-XIII
d.C.), as temperaturas atingiram mais de 1°C acima das atuais.
Quanto às taxas de variação desses indicadores, não se observa
qualquer aceleração anormal delas nos últimos dois séculos. Ao
contrário, nos últimos 20.000 anos, desde o início do degelo da última
glaciação, houve períodos em que as variações de temperaturas e níveis
do mar chegaram a ser uma ordem de grandeza mais rápidas que as
verificadas desde o século XIX.
Entre 12.900 e 11.600 anos atrás, no período frio denominado Dryas
Recente, as temperaturas caíram cerca de 8°C em menos de 50 anos e, ao
término dele, voltaram a subir na mesma proporção, em pouco mais de meio
século.
Quanto ao nível do mar, ele subiu cerca de 120 metros, entre 18.000
e 6.000 anos atrás, o que equivale a uma taxa média de 1 metro por
século, suficiente para impactar visualmente as gerações sucessivas das
populações que habitavam as margens continentais. No período entre
14.650 e 14.300 anos atrás, a elevação foi ainda mais rápida, atingindo
cerca de 14 metros em apenas 350 anos – equivalente a 4 m por século.
Por conseguinte, as variações observadas no período da industrialização se enquadram, com muita folga, dentro da faixa de oscilações naturais do clima e,
portanto, não podem ser atribuídas ao uso dos combustíveis fósseis ou a
qualquer outro tipo de atividade vinculada ao desenvolvimento humano.
Tais dados representam apenas uma ínfima fração das evidências
proporcionadas por, literalmente, milhares de estudos realizados em
todos os continentes, por cientistas de dezenas de países, devidamente
publicados na literatura científica internacional. Desafortunadamente, é
raro que algum destes estudos ganhe repercussão na mídia, quase sempre
mais inclinada à promoção de um alarmismo sensacionalista e
desorientador.
2) A hipótese “antropogênica” é um desserviço à ciência:
A boa prática científica pressupõe a busca permanente de uma
convergência entre hipóteses e evidências. Como a hipótese do
aquecimento global antropogênico (AGA) não se fundamenta em evidências
físicas observadas, a insistência na sua preservação representa um
grande desserviço à ciência e à sua necessária colocação a serviço do
progresso da humanidade.
A história registra numerosos exemplos dos efeitos nefastos do
atrelamento da ciência a ideologias e outros interesses restritos. Nos
países da antiga URSS, as ciências biológicas e agrícolas ainda se
ressentem das consequências do atraso de décadas provocado pela sua
subordinação aos ditames e à truculência de Trofim D. Lysenko, apoiado
pelo ditador Josef Stálin e seus sucessores imediatos, que rejeitava a
genética, mesmo diante dos avanços obtidos por cientistas de todo o
mundo, inclusive na própria URSS, por considerá-la uma ciência “burguesa
e antirrevolucionária”.
O empenho na imposição do AGA, sem as devidas evidências, equivale a
uma versão atual do”lysenkoísmo”, que tem custado caro à humanidade, em
recursos humanos, técnicos e econômicos desperdiçados com um problema
inexistente.
Ademais, ao conferir ao dióxido de carbono (CO2) e outros gases
produzidos pelas atividades humanas o papel de principais protagonistas
da dinâmica climática, a hipótese do AGA simplifica e distorce um
processo extremamente complexo, no qual interagem fatores astrofísicos,
atmosféricos, geológicos, geomorfológicos, oceânicos e biológicos, que a
ciência apenas começa a entender em sua abrangência.
Um exemplo dos riscos dessa simplificação é a possibilidade real de
que o período até a década de 2030 experimente um considerável
resfriamento, em vez de aquecimento, devido ao efeito combinado de um
período de baixa atividade solar e de uma fase de resfriamento do oceano
Pacífico (Oscilação Decadal do Pacífico, ODP), em um cenário semelhante
ao verificado entre 1947-1976. Vale observar que, naquele intervalo, o
Brasil experimentou uma redução de 10-30% nas chuvas, o que acarretou
problemas de abastecimento de água e geração elétrica, além de um
aumento das geadas fortes, que muito contribuíram para erradicar o café
no Paraná. Se tais condições se repetirem, o País poderá ter sérios
problemas, inclusive, nas áreas de expansão da fronteira agrícola das
regiões Centro-Oeste e Norte e na geração hidrelétrica (particularmente,
considerando a proliferação de reservatórios “a fio d’água”,impostos
pelas restrições ambientais).
A propósito, o decantado limite de 2°C para a elevação das
temperaturas, que, supostamente, não poderia ser superado e tem
justificado todas as restrições propostas para os combustíveis fósseis,
também não tem qualquer base científica: trata-se de uma criação
“política” do físico Hans-Joachim Schellnhuber, assessor científico do
governo alemão, como admitido por ele próprio, em uma entrevista à
revista Der Spiegel (17/10/2010).
3) O alarmismo climático é contraproducente:
O alarmismo que tem caracterizado as discussões sobre as mudanças
climáticas é extremamente prejudicial à atitude correta necessária
frente a elas, que deve ser orientada pelo bom senso e pelo conceito de
resiliência, em lugar de submeter as sociedades a restrições
tecnológicas e econômicas absolutamente desnecessárias.
No caso, resiliência significa a flexibilidade das condições
físicas de sobrevivência e funcionamento das sociedades, além da
capacidade de resposta às emergências, permitindo-lhes reduzir a sua
vulnerabilidade às oscilações climáticas e outros fenômenos naturais
potencialmente perigosos. Tais requisitos incluem, por exemplo, a
redundância de fontes alimentícias (inclusive a disponibilidade de
sementes geneticamente modificadas para todas as condições climáticas),
capacidade de armazenamento de alimentos, infraestrutura de transportes,
energia e comunicações e outros fatores.
Portanto, o caminho mais racional e eficiente para aumentar a
resiliência da humanidade, diante das mudanças climáticas inevitáveis, é
a elevação geral dos seus níveis de desenvolvimento e progresso aos
patamares permitidos pela ciência e pela tecnologia modernas. Além
disso, o alarmismo desvia as atenções das emergências e prioridades
reais. Um exemplo é a indisponibilidade de sistemas de saneamento básico
para mais da metade da população mundial, cujas consequências
constituem, de longe, o principal problema ambiental do planeta.
Outro é a falta de acesso à eletricidade, que atinge mais de 1,5
bilhão de pessoas, principalmente, na Ásia, África e América Latina.
No Brasil, sem mencionar o déficit de saneamento, grande parte dos
recursos que têm sido alocados a programas vinculados às mudanças
climáticas, segundo o enfoque da redução das emissões de carbono, teria
uma destinação mais útil à sociedade se fossem empregados na correção de
deficiências reais, como: a falta de um satélite meteorológico próprio
(de que dispõem países como a China e a Índia); a ampliação e melhor
distribuição territorial da rede de estações meteorológicas, inferior
aos padrões recomendados pela Organização Meteorológica Mundial, para um
território com as dimensões do brasileiro; o aumento do número de
radares meteorológicos e a sua interligação aos sistemas de defesa
civil; a consolidação de uma base nacional de dados climatológicos,
agrupando os dados de todas as estações meteorológicas do País, muitos
dos quais sequer foram digitalizados.
4) A “descarbonização” da economia é desnecessária e economicamente deletéria:
Uma vez que as emissões antropogênicas de carbono não provocam
impactos verificáveis no clima global, toda a agenda da”descarbonização”
da economia, ou “economia de baixo carbono”, se torna desnecessária e
contraproducente – sendo, na verdade, uma pseudo-solução para um
problema inexistente. A insistência na sua preservação, por força da
inércia do status quo, não implicará em qualquer efeito sobre o clima,
mas tenderá a aprofundar os seus numerosos impactos negativos.
O principal deles é o encarecimento desnecessário das tarifas de
energia e de uma série de atividades econômicas, em razão de:
a) os
pesados subsídios concedidos à exploração de fontes energéticas de baixa
eficiência, como a eólica e solar – ademais, inaptas para a geração
elétrica de base (e já em retração na União Europeia, que investiu
fortemente nelas);
b) a imposição de cotas e taxas vinculadas às
emissões de carbono, como fizeram a Austrália, sob grande rejeição
popular, e a União Europeia, para viabilizar o seu mercado de créditos
de carbono;
c) a imposição de medidas de captura e sequestro de carbono
(CCS) a várias atividades.
Os principais beneficiários de tais medidas têm sido os
fornecedores de equipamentos e serviços de CCS e os participantes dos
intrinsecamente inúteis mercados de carbono, que não têm qualquer
fundamento econômico real e se sustentam tão somente em uma demanda
artificial criada sobre uma necessidade inexistente. Vale acrescentar
que tais mercados têm se prestado a toda sorte de atividades
fraudulentas, inclusive, no Brasil, onde autoridades federais investigam
contratos de carbono ilegais envolvendo tribos indígenas, na Amazônia, e
a criação irregular de áreas de proteção ambiental para tais
finalidades escusas, no estado de São Paulo.
5) É preciso uma guinada para o futuro:
Pela primeira vez na história, a humanidade detém um acervo de
conhecimentos e recursos físicos, técnicos e humanos, para prover a
virtual totalidade das necessidades materiais de uma população ainda
maior que a atual. Esta perspectiva viabiliza a possibilidade de se
universalizar – de uma forma inteiramente sustentável – os níveis gerais
de bem-estar usufruídos pelos países mais avançados, em termos de
infraestrutura de água, saneamento, energia, transportes, comunicações,
serviços de saúde e educação e outras conquistas da vida civilizada
moderna. A despeito dos falaciosos argumentos contrários a tal
perspectiva, os principais obstáculos à sua concretização, em menos de
duas gerações, são mentais e políticos, e não físicos e ambientais.
Para tanto, o alarmismo ambientalista, em geral, e climático, em
particular, terá que ser apeado do seu atual pedestal de privilégios
imerecidos e substituído por uma estratégia que privilegie os princípios
científicos, o bem comum e o bom senso.
A conferência Rio+20 poderá ser uma oportuna plataforma para essa necessária reorientação.
Kenitiro Suguio - Geólogo, Doutor em Geologia Professor Emérito do Instituto de
Geociências da Universidade de São Paulo (USP). Membro titular da
Academia Brasileira de Ciências.
Luiz Carlos Baldicero Molion - Físico, Doutor em Meteorologia e Pós-doutor em Hidrologia de Florestas Pesquisador Sênior (aposentado) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) Professor Associado da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).
Fernando de Mello Gomide - Físico, Professor Titular (aposentado) do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) Co-autor do livro Philosophy of Science: Brief History (Amazon Books, 2010, com Marcelo Samuel Berman).
José Bueno Conti - Geógrafo, Doutor em Geografia Física e Livre-docente em Climatologia Professor Titular do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP) Autor do livro Clima e Meio Ambiente (Atual, 2011).
José Carlos Parente de Oliveira - Físico, Doutor em Física e Pós-doutor em Física da Atmosfera
Professor Associado (aposentado) da Universidade Federal do Ceará (UFC) Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE).
Francisco Arthur Silva Vecchia - Engenheiro de Produção, Mestre em Arquitetura e Doutor em Geografia
Professor Associado do Departamento de Hidráulica e Saneamento da
Escola de Engenharia de São Carlos (USP) Diretor do Centro de Recursos Hídricos e Ecologia Aplicada (CRHEA).
Ricardo Augusto Felicio - Meteorologista, Mestre e Doutor em Climatologia Professor do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP).
Antonio Jaschke Machado - Meteorologista, Mestre e Doutor em Climatologia. Professor do
Departamento de Geografia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” (UNESP).
João Wagner Alencar Castro - Geólogo, Mestre em Sedimentologia e Doutor em Geomorfologia Professor Adjunto do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) Chefe do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu
Nacional / UFRJ.
Helena Polivanov - Geóloga, Mestra em Geologia de Engenharia e Doutora em Geologia de
Engenharia e Ambiental Professora Associada do Departamento de Geologia
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Gustavo Macedo de Mello Baptista - Geógrafo, Mestre em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos e Doutor em Geologia Professor Adjunto do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília (UnB) Autor do livro Aquecimento Global: ciência ou religião? (Hinterlândia, 2009).
Paulo Cesar Soares - Geólogo,Doutor em Ciências e Livre-docente em Estratigrafia Professor Titular da UniversidadeFederal do Paraná (UFPR).
Gildo Magalhães dos Santos Filho - Engenheiro Eletrônico, Doutor em História Social e Livre-docente em História da Ciência e Tecnologia Professor Associado do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP).
Paulo Cesar Martins Pereira de Azevedo Branco - Geólogo, Pesquisador em Geociências (B-Sênior) do Serviço Geológico do Brasil – CPRM Especialista em Geoprocessamento e Modelagem Espacial de Dados em Geociências.
Daniela de Souza Onça - Geógrafa, Mestra e Doutora em Climatologia Professora da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).
Marcos José de Oliveira - Engenheiro Ambiental, Mestre em Engenharia Ambiental e Climatologia Aplicada Doutorando em Geociências Aplicadas na Universidade de Brasília (UnB).
Geraldo Luís Saraiva Lino - Geólogo, coeditor do sítio Alerta em Rede Autor do livro A fraude do aquecimento global: como um fenômeno
natural foi convertido numa falsa emergência mundial (Capax Dei, 2009).
Maria Angélica Barreto Ramos - Geóloga, Pesquisadora em Geociências (Senior) do Serviço Geológico do Brasil – CPRM Mestre em Geociências – Opção Geoquímica Ambiental e Especialista
em Geoprocessamento e Modelagem Espacial de Dados em Geociências.
Com
informações do Diário do Vale.