sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Brasil. Governo federal abandona indígenas e eles enfrentam retrocesso histórico.

Morreu no ultimo dia 16 de janeiro, o morador de rua de origem indígena chutado e pisoteado na madrugada no Centro de Belo Horizonte. Câmeras de segurança de lojas na Rua 21 de Abril, onde ocorreu o crime, registraram as cenas de violência sem justificativa. O corpo do morador de rua, ainda sem identificação, foi removido para o Instituto Médio Legalo (IML). A polícia continua à procura do agressor, mas até o fim da tarde ainda não havia identificado o autor do ataque. As imagens mostram o momento em que a vítima, que tinha o hábito de dormir no local, chega cambaleante, se ajeita embaixo de uma marquise e se deita. Pouco depois das 2h, quando o morador de rua estava dormindo, um rapaz se aproximou e começou a agredi-lo com chutes no rosto e pisadas na cabeça. São cenas de extrema violência. O agressor chegou a desferir uma sequência de 12 chutes no rosto do indigente (O Estado de Minas).
A crise gerou insegurança política, jurídica, na governabilidade e afetou drasticamente a economia, impondo, especialmente aos trabalhadores e às camadas mais pobres e vulneráveis da população, a insegurança quanto ao cotidiano da vida, refletida em ameaças de desemprego, preços dos alimentos e dos vestuários em elevação, inflação crescente, o aumento de impostos, a recessão e a precariedade na assistência em educação, saúde e segurança.
É também a partir deste contexto que se deve avaliar a atuação do governo federal no que tange às políticas para indígenas, quilombolas e outros grupos ou comunidades tradicionais. Com a crise institucional, o governo, que já era omisso no que tange aos direitos indígenas e quilombolas, tornou-se ainda mais omisso.
Em função disso, as violências praticadas contra os povos indígenas intensificaram-se em todo o país. Na ausência do poder estatal, a orientação política acabou sendo dada por aqueles setores da economia que ambicionam a exploração das terras.
Terras que para os povos indígenas e quilombolas são base de sustentação física e cultural, enquanto que para esses setores são atrativas em função de suas potencialidades, tendo em vista a geração de energia hidráulica, exploração de minérios, expansão da agricultura — especialmente de soja, milho, cana-de-açúcar — e da pecuária.
As terras indígenas têm sido vistas como uma nova fronteira para a expansão da produção de grãos e de carne e aqueles que as habitam tradicionalmente são considerados entraves, no entendimento dos setores dominantes.
Os povos indígenas são vistos como um “problema”, na medida em que atrapalham os planos de expansão produtiva e de um suposto desenvolvimento econômico.
O governo federal, dobrando-se à concepção desenvolvimentista, tomou a decisão de paralisar as demarcações das terras reivindicadas pelos povos ainda no ano de 2013 e manteve-se, em 2015, inoperante.
A ausência do Estado e a falta de regularização das terras são geradores de conflitos e violências, em especial nos estados do nordeste, sudeste e sul do Brasil.
De acordo com o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), há 1.044 terras indígenas no Brasil, dentre as quais apenas 361 estão registradas, outras 154 estão “a identificar” e 399 estão classificadas como “sem providências”.
A ação política dos ruralistas motiva, fomenta e legitima as mais variadas práticas de violência contra indígenas e quilombolas.
No período de 2003 a 2014, foram assassinados no Brasil 754 indígenas, sendo 390 no Mato Grosso do Sul.
No âmbito do Congresso Nacional estão sendo propostos projetos de lei e de emendas à Constituição Federal com o claro objetivo de inviabilizar as demarcações e de possibilitar a exploração dos recursos naturais das áreas homologadas.
Só para se ter uma ideia da articulação e da força que se volta contra os povos indígenas no âmbito Legislativo, tramitam na Câmara dos Deputados e Senado Federal mais de 100 proposições que visam alterar artigos concernentes aos direitos indígenas na Constituição Federal.
Dentre as propostas legislativas mais perigosas encontra-se o Projeto de Emenda à Constituição (PEC) 215/2000 que visa alterar o texto constitucional para colocar sob responsabilidade do Poder Legislativo as demarcações de terras indígenas no país.
O projeto prevê a autorização da esfera legislativa para se promover qualquer demarcação de terra, restringindo a ação administrativa do Poder Executivo.
Com isso, todas as demarcações de terras indígenas e quilombolas passariam pelo crivo e aval dos parlamentares e cada demarcação exigiria a aprovação de uma lei específica.
Os direitos indígenas, assegurados na Lei Maior do país, estariam suscetíveis aos interesses políticos de ocasião.
Além disso, terras demarcadas ao longo de décadas poderiam ser revisadas, caso a PEC fosse aprovada.
A proposta aprovada na Comissão Especial, que segue para o Plenário da Câmara dos Deputados, inclui dispositivos que viabilizariam o arrendamento das terras indígenas — que são bens da União — possibilitando a terceiros a exploração e a obtenção de lucros.
Inclui-se ainda outro dispositivo que rompe com a autonomia e o protagonismo dos povos ao restituir a categorização de distintos “estágios de desenvolvimento” e ao apregoar a gradativa inserção dos “índios” na sociedade nacional.
Tal dispositivo colide com o disposto no Artigo 231 da Carta Magna, que reconhece aos povos indígenas suas organizações sociais, seus costumes, línguas, crenças e tradições.
A proposição sinaliza um retrocesso nas formas como se estabelecem as relações do Estado brasileiro para com os povos indígenas.
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Complementado por Tulio Muniz, no Facebook:
Grave, a violência vem sendo gestada ao longo das duas últimas décadas de maneira inédita no Brasil. É fato que a violência é a gênese da formação do pais, no massacre contra indígenas, contra africanos, contra pobres em geral… os acontecimentos são inúmeros.
Entretanto, o final do séc. XX e as primeiras décadas do XXI são marcadas por três fatores.
Primeiro, a eliminação gradual, e agora praticamente concluída, de espaços de sociabilidade acessíveis à diferentes classes sociais, tais como escola pública, clubes, cinemas – e não falo das salas de exibição de shoppings centers. Sem acesso a equipamentos culturais e à educação pública de qualidade, o embrutecimento da população aumenta.
Segundo, um apartheid social que e manifesta em atos de violência oriundas do desejo de higienização social e também em arrastões criminosos, mitas vezes perpetrados por pessoas impelidas à violência por conta do empobrecimento material e ‘cultural’. Esse segundo quesito leva a entender, em parte, o assassinato contra o índio nas ruas de BH.
Terceiro, pela assimilação e naturalização da violência, seja na busca de refúgio em condomínios fechados, seja na segregação em favelas e periferias (‘comunidades’, conforme eufemismo do senso-comum ‘politicamente correto’).
O que tenho chamado de “Estado contra a Sociedade”, que se omite não prioriza políticas em Educação e Cultura, tem mantido e agravado a disseminação e a naturalização da violência no Brasil, tem impedido a emergência de diálogos entre classes sociais diferentes — daí pouco ter resultado, ao nível institucional, dos manifestos gerais de 2013, diferentemente de Portugal e Espanha, por exemplo.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Bahia. Terra indígena Pataxó já reconhecida sofre reintegração de posse.

Enviado por Leo V
Do Racismo Ambiental
 
Foto - 
Deusuleide Câmara


Ontem à tarde, posto de saúde, casas e a escola do Território Pataxó Comexitibá, no sul da Bahia, foram destruídos numa ação de ‘reintegração de posse’, realizada pela polícia. Cabe destacar que a Terra Indígena já foi oficialmente reconhecida, com Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação publicado pela FUNAI no Diário Oficial da União de 27 de julho de 2015.
Abaixo, a denúncia do ataque em carta de Sandro Tuxá, da Apoinme; no depoimento de Francisco Cancela, professor na Universidade do Estado da Bahia; e em vídeo postado por Joelia Braz.
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Carta de Sandro Hawaty Tuxa
Venho informar para todos os parentes e aliados da luta indígena, que nesse momento nossos irmãos Pataxó do Extremo Sul da Bahia entraram em conflito com a polícia Federal e Militar, pois a Terra que foi Declarada pelo Ministro da Justiça Eduardo Cardos, em meados do ano passado, como Terra Indígena Pataxó Kaí Pequí Comexatiba, está sendo assolada pela ação da Polícia Federal e Militar, com aplicar o mandado de reintegração de posse.
Tudo que estava em pé na aldeia de nossos parentes foi destruído, como: Posto de saúde, escola e casas de moradia…
O nosso companheiros Dário e seu Zé Fragoso Pataxó, estão na linha de Frente do Conflito com a polícia, temo por eles…
Estamos acionado todos os aliados e pedimos a APOINME, CNPI, APIB para nos ajudar contra essa ação brutal contra os direitos de nossos parentes. Veja o que vcs podem fazer para ajudar.
Os professor e as lideranças indígenas que estão em SSA farão uma moção de repúdio e haverá uma campanha nas redes sociais ainda hoje.
Hawaty Tuxá
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Relato do Professor Francisco Cancela, da UNEB
De uma hora para outra, os telefones não pararam de tocar. Um levantava dali, outro cochichava de cá. A notícia se espalhava rapidamente. Os rostos transcendiam de repente: aflição, raiva e perplexidade. Não tinha outra explicação, tratava-se de mais uma notícia de violação dos direitos indígenas na Bahia.
Este foi o cenário que enfrentei hoje no início da tarde. Estava na sala de aula, ministrando a disciplina de História do Brasil. Os estudantes eram todos indígenas, da área de Ciências Humanas da Licenciatura Intercultural em Educação Escolar Indígena da UNEB. O motivo da agitação estava distante: do extremo sul do estado chegava a informação da invasão violenta da polícia no território Pataxó Comexitibá.
Em meio a ligações e mensagens, as notícias ficavam mais tristes. As casas, o posto de saúde e a escola das aldeias Cahy e Tibá foram destruídos. Este constituía o saldo de uma operação de reintegração de posse de um território recentemente reconhecido por meio do Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação, publicado pela FUNAI no Diário Oficial da União no dia 27 de julho de 2015. Com aparato bélico desproporcional e com a truculência habitual, a força armada do Estado atendeu aos interesses de fazendeiros e empresários da hotelaria.
Diante desta vergonhosa violação de direitos, nossa aula ganhou um novo tom. Não foi difícil perceber que a história do Brasil recente reproduz muito da violência, da expropriação e da arrogância do passado de conquista e colonização. Também foi fácil observar que, pelas expressões e falas dos professores indígenas ali presentes, a resistência dos índios continuará forte, tal como nestes mais de 515 anos de luta. E, em meio a incertezas, foi firme o sentimento generalizado de solidariedade aos indígenas de Comexitibá, especialmente ao seu Fragoso, velho e incansável liderança daquelas bandas do sul.
Que a luta escreva novas páginas desta nossa história.
– Destaque: Tania Pacheco - Racismo Ambiental.
Informação enviada para Combate Racismo Ambiental por Leonilton Cagy Silva.

Planeta do Medo, artigo de Pepe Escobar.


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19/1/2016, Pepe ESCOBARStrategic Culture FoundationTraduzido por Vila Vudu.

Parar de frente para a skyline coruscante de Doha num inverno no Golfo Persa tem o mérito de garantir perspectiva panorâmica. Muitas nações em torno dele vão derreter e as que restarem – com a exceção do Irã – não mostram nem a liderança política nem a infraestrutura econômica e institucional para fazer outra coisa que não seja aceitar mansamente qualquer o tsunami que desabe sobre suas praias. Não passam de espectadores assustados.

O Império do Caos tem máquinas de guerra preposicionadas, a distância de uma cusparada, em quantidade suficiente para converter em cinzas todo o sudoeste da Ásia – com a gangue dos suspeitos de sempre no Departamento de Estado, neoconservadores e neoliberais conservadores, que ainda não encontraram cura para aquela comichão de “realmente vencer a próxima guerra”, numa espécie de “Choque e Pavor” exponencial.

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O medo reina supremo. Jim Rickards, autor de Currency Wars [Guerra das Moedas, Lisboa: Ed. Presença], economista e agente da CIA, acaba de lançar novo livro, The Big Drop, com mensagem bem sombria. Por seu lado, Jim Rogers, codinome “Sábio de Cingapura”, que passa quase todo o tempo ensinando à elite chinesa onde pôr seus investimentos, tem perspectiva nuançada sobre o ocidente, e culpa a China por todo o tumulto atual que agita a economia global.

Segundo Rogers, “sim, a China está desacelerando. Mas principalmente o mundo está desacelerando. O Japão, dos maiores parceiros comerciais da China está oficialmente em recessão. Em grande parte da Europa, é ainda pior. O mercado de ações dos EUA esteve em baixa em 2015 enquanto o mercado de ações chinês era um dos mais fortes do mundo”.

Rogers acrescenta, “as coisas vão piorar em todo o mundo, e todos sofrerão e é ‘culpa’ de alguém. A fonte original [das culpas] é o Federal Reserve dos EUA e aqueles juros deles, ridículos, artificiais, causados por massiva emissão de dinheiro, que o mundo copiou. Todos lançados em dívida descomunal, pelos aumentos da dívida pelo governo dos EUA [que o mundo também copiou], e que em breve será o inferno para pagar “.

Portanto, não é surpresa que rumores apocalípticos de guerra sejam hoje o novo normal – ainda que os passadistas fales de “apenas” uma “boa velha guerra mundial à moda antiga”, como se trocas nucleares não fossem parte da equação. Umas poucas cabeças firmes no eixo atlanticista preocupa-se que, se Il Duce Trump vence as próximas eleições presidenciais dos EUA, a coisa venha a traduzir-se em bancarrota garantida para os EUA, e – e o que poderia ser? – guerra, se Il Trumpissimo implementa metade do que se gaba de que fará.

Encolha qualquer petróleo que você tenha aí. - O festival anual de conversa fiada de Davos está para começar; é uma dessas ocasiões quando os Masters of the Universe – que usualmente decidem tudo a portas fechadas – mandam seus capitães-do-mato para “debater” o futuro das suas holdings. O debate atual está centrado em se ainda estamos em plena Terceira Revolução Industrial – digitalizada – e a Internet das Coisas [ing. Internet of Things] – ou se já estamos entrando na Quarta.

KLAUS SCHWAB

Mas no mundo real, todo o cacarejo só tem a ver, mesmo com a idade do velho petróleo fora de moda. O que nos leva às miríades de efeitos da estratégia do petróleo barato aplicada pela Casa de Saud sob ordens de Washington.

Corretores no Golfo Persa, off the record, não têm dúvidas em afirmar que não há nenhum excedente (ing. surplus) real consequente de petróleo, porque todo o petróleo bombeado foi injetado no mercado obedecendo àquelas ordens de Washington.

Petroleum Intelligence Weekly estima que o excedente esteja num máximo de 2,2 milhões/dia, mais 600 mil barris/dia que vêm adiante, ainda nesse ano, do Irã. O consumo de petróleo dos EUA – e, 19,840 milhões de barris/dia, 20% da produção mundial – não aumentou; os outros 80% é que estão absorvendo a maior parte do óleo injetado no mercado.

Alguns corretores chaves no Golfo Persa não vacilam ao afirmar que o petróleo estará começando a subir já na segunda metade de 2016. É o que explica por que a Rússia não está em pânico com o petróleo já despencando rumo a $30 o barril. Moscou sabe perfeitamente bem que os “parceiros” comandam a manipulação do mercado de petróleo contra a Rússia e, ao mesmo tempo, antevê que não vai durar muito.

Isso explica por que o vice-ministro das Finanças da Rússia, Maxim Oreshkin tenha lançado uma espécie de mensagem tipo “calma, fiquem firmes”: ele espera que os preços do petróleo permaneçam no patamar de $40-60 por pelo menos os próximos sete anos, e a Rússia bem pode viver nesse quadro.

Os Masters of the Universe – exatamente como os russos – já perceberam que o negócio deles, de manipular petróleo, não é coisa que possa durar muito. Previsivelmente, a histeria já tomou conta. Por isso ordenaram que grandes corretoras de Wall Street livrem-se de petróleo, pagando em dinheiro. A obediente mídia-empresa norte-americana recebeu ordens para ‘noticiar’ que uma falta de dinheiro (orig. a shortfalls) durará para sempre. A meta é fazer o preço do barril de petróleo cair, se possível, a $7.

A estratégia original dos Masters of the Universe levaria eventualmente a ‘mudança de regime’ na Rússia, com os oligarcas suspeitos de sempre de volta às rédeas, para reiniciar operação massiva de saque que a Rússia sofreu nos anos 1990s.

Uma Casa de Saud trêmula de medo é reles peão nessa estratégia. Assumindo-se que o plano funcione, a Casa de Saud governada pelo – já praticamente demente – rei Salman, confinado agora a uma sala em seu palácio em Riad – passaria por ‘mudança de regime’, em ação de militares sauditas treinados no ocidente e recrutados por agentes ocidentais. Como brinde, a República Islâmica do Irã também colapsaria, com “moderados” (rebeldes?) assumindo o poder.

Implica dizer que a estratégia dos Masters of the Universe resume-se, na essência a uma ‘mudança de regime’ na Rússia, no Irã e na Arábia Saudita, levando para lá elites/vassalos amigas/os do Excepcionalistão; em suma, o capítulo derradeiro da Guerra (global) por Recursos. Mas, até agora, o único ‘efeito’ desse ‘plano’ é a Casa de Saud feito barata tonta, sem nem ideia do que lhes pode acontecer; os reis em Riad talvez suponham que estejam ‘minando’ a ordem no Irã e na Rússia; no fim, talvez descubram que só aceleraram o próprio fim.

Perder minha religião. - Na Europa, é como se estivéssemos de volta a 1977, quando The Stranglers cantaram No More Heroes. Agora, heróis nunca mais, e ideais nunca mais. Ainda que alguns jovens europeus dos melhores e mais brilhantes tenham tentado combater a violência imensa que é o neoliberalismo, via o altermundismo (“Outro mundo é possível”), os mais pobres dentre os jovens estão agora mergulhados em violência e em niilismo suicidário – o wahhabismo extremo que aprenderam online. Mas nada disso tem a ver com Islã, e não é guerra ‘de religião’, como aquele zilhão de partidos de extrema direita em toda a Europa nunca se cansam de rotineiramente insistir que seria.

Em todo o espectro, movida pelo medo, a mistura tóxica de instabilidade política e econômica continua a se alastrar, levando alguns insiders a considerar que é possível que os dois, o Fed e o Comitê Central do Politburo em Pequim, realmente não tenham ideia do que está acontecendo.

É o que basta para outra vez inflar as hordas dos queredores de guerra, para as quais aquela “boa velha guerra mundial fora de moda” é sempre a bola da vez. Cancele toda a velha dívida; emita caminhões de títulos de dívida nova; converta arados e iPhones em canhões. E depois de um pequeno intercâmbio termonuclear, bem vindos todos ao pleno emprego e a uma nova (desperdiçada) terra Waste Land de oportunidades.

É nesse contexto que, sob o vulcão, surge um ensaio de Guido Preparata, especialista ítalo-norte-americano em economia política agora trabalhando no Vaticano. Em The Political Economy of Hyper-Modernity [Economia política da hipermodernidade], a ser publicado em breve numa antologia editada por Palgrave/Macmillan, Preparata oferece um balanço dos últimos 70 anos da história/dinâmica monetária EUA/internacional, usando um único indicados: o balanço geral de pagamentos dos EUA – que não é divulgado desde 1975.

Mas a mais importante conclusão do ensaio parece ser que “o motor neoliberal, que tem de girar principalmente com combustível doméstico, demonstrou (…) resiliência apreciável”. O Tesouro dos EUA e o Federal Reserve, “juntos” deram jeito de erigir um “muro de dinheiro”. Mesmo assim “Tecnocratas dos EUA parecem ter-se desiludido da máquina neoliberal”. Assim, “como alternativa de momento, os tecnocratas convocaram uma espécie de ‘reequilibramento global'”.

O sistema comandado pelos EUA “parece estar em transição para regime neomercantilista”. E a resposta são as ‘parcerias’, a Parceria Trans-Pacífico [TPP, Trans-Pacific Partnership] e a Parceria Transatlântica para Comércio e Investimento [TTIP, Transatlantic Trade and Investment Partnership] acordos comerciais que, juntos, “porão os EUA no centro de uma zona comercial aberta que representa cerca de 2/3 do produto econômico global”.

Implicaria algum tipo de saída “Façam Comércio, Não Façam Guerra”. Nesse caso, por que tanto medo? Porque na feroz batalha intestina que se trava entre os próprios Masters of the Universe, os neoliberais conservadores ainda não impuseram sua última palavra. Por isso, todo o cuidado com os Falcões de Guerra.

Pepe Escobar (1954) é jornalista, brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em inglês. Mantém coluna no Asia Times Online; é também analista de política de blogs e sites como:  Sputinik, Tom Dispatch, Information Clearing House, Red Voltaire e outros; é correspondente/ articulista das redes Russia Today e Al-Jazeera.

Educação: Travestis comemoram entrada em universidades e esperam diálogo mais saudável.

Ana Elisa Santana - Repórter do Portal EBC.
bandeira LGBT
Na edição do Enem de 2015, travestis, mulheres e homens transsexuais puderam celebrar a aprovação e as novas perspectivas de vida. Foto -   Marcello Camargo/Arquivo/Agência Brasil.


O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2015 teve 278 participantes que puderam usar os nomes sociais para fazer as provas. Nesta semana, com o resultado do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), algumas dessas pessoas  - travestis, mulheres e homens transsexuais - puderam celebrar a aprovação e as novas perspectivas de vida com a entrada na universidade.

O espaço acadêmico ainda é pouco ocupado por trans e travestis e a representatividade na universidade é, para Ana Flor Fernandes Rodrigues, de 19 anos, fundamental. A jovem, que é moradora de Várzea, bairro do Recife onde fica a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), fez o Enem pela segunda vez e teve a felicidade de ver seu nome entre os aprovados no curso de pedagogia. Para Ana Flor, esta é uma oportunidade de ampliar a visão que a sociedade tem da comunidade trans: "A pedagogia agora vai fazer com que eu consiga falar sobre mim", explica. ''A partir do momento que eu começar a estudar [pedagogia], ela fará com que eu seja dona das minhas próprias narrativas, e não mais um objeto de estudo", disse Ana Flor.

A opinião é compartilhada por Amanda Palha, aprovada em primeiro lugar para o curso de Serviço Social, também na UFPE. "O olhar de fora tem dificuldade de captar algumas nuances da nossa realidade. Sendo sujeitos dessa produção teórica, a relação entre a teoria e a realidade tende a ser mais fácil. Não é uma garantia, mas tende a ser mais fácil", explica a travesti de 28 anos.

Narrativas próprias - Amanda Palha passou a ter interesse pela universidade depois de começar a trabalhar, em São Paulo, em um projeto de assistência à população de rua. Para ela, o curso de Serviço Social oferece um amplo campo de pesquisa, além de se relacionar com a sua área de estudo e militância. "Não acho que a academia seja o único espaço em que a teoria é feita, mas é onde isso acontece, então eu quero fazer mestrado, doutorado, trabalhar com pesquisa. Mesmo com as limitações que a assistência social tem, ela é uma ferramenta de redução de danos importante, principalmente para a nossa população, e eu vejo o quanto assistentes sociais mal preparados são danosos para os nossos processos. Garantir que a gente tenha pessoas bem preparadas também é importante", explica. 

A jovem Ana Flor também tem a perspectiva de desenvolver pesquisas que falem de sua própria realidade. Ela acredita que, com o tempo, a inserção da população de trans e travesti no espaço acadêmico possa mudar as relações na sociedade como um todo, reduzindo o preconceito. "Quando vejo mais pessoas trans e travestis entrando na universidade, consigo ver que elas vão usar o diálogo para destruir essa opressão estrutural. Futuramente será possível um diálogo mais saudável com as pessoas", espera.

Inclusão - 
Saiba Mais
O Enem foi a porta de entrada de Amanda e Ana Flor na universidade. 
Para Amanda, ter uma estrutura familiar sólida e contar com apoio no trabalho foram fatores determinantes para conseguir estudar e se preparar. "Foi possível para mim porque a relação com a minha família era positiva, porque consegui concluir o ensino médio, tive uma rede de amigos que me deram suporte, tive a chance de trabalhar na área e descobrir que gostaria de estudar serviço social. Eu tive acesso a uma educação popular de qualidade que poucas pessoas têm", explica.

Amanda Palha, travesti aprovada em Serviço Social na UFPE
Amanda Palha, travesti aprovada em Serviço Social na UFPE. Foto: Arquivo Pessoal

A nova estudante de serviço social acredita que sua entrada na universidade pode inspirar não só pessoas trans a querer ocupar o espaço acadêmico, mas estimular que projetos sociais ajudem, cada vez mais, a favorecer esse contexto.  "O fato de ser primeiro lugar no curso tem que ser incentivo não só para as meninas [trans] acharem que elas podem, mas para todas as pessoas que têm interesse em ver a inserção acontecendo se movimentarem para isso. Criar condições sociais para que isso aconteça faz muito mais sentido do que a gente achar que é só uma questão de estudar muito, porque não é", afirma Amanda.

Ana Flor espera que sua aprovação seja um empurrão para que as pessoas do seu bairro possam se sentir capazes de estudar na universidade que está a dez minutos de suas casas: "Eu me sinto muito realizada, porque quando eu olhava para a UFPE, eu sempre via algo muito distante de mim. Acredito que, da minha rua, eu seja a primeira pessoa que conseguiu passar. Isso mostra que por mais que a UFPE esteja no bairro onde eu moro, as pessoas do bairro onde eu moro não estão na UFPE. Para além de travesti, negra, periférica, eu falo também do bairro onde eu moro", critica.

Nome Social - Apesar de não ter solicitado o uso de nome social para a prova, Amanda Palha chamada dessa forma durante a realização do exame. Ela afirma que o respeito é fundamental para que as pessoas trans e travestis consigam ficar mais tranquilas. "A hora de fazer a prova é muito tensa, e não é só pelo nome social. A gente é exceção, então as pessoas olham, fazem comentários, dão risadinhas, apontam", lamenta.

Ana Flor usou seu nome social no dia do Exame e afirma que se sentiu mais confortável por fazer a prova em uma sala que tinha apenas mulheres. Para ela, no entanto, o nome do RG deveria ser retirado da lista de candidatos da sala: ambos os nomes, oficial e social, aparecem na lista que todos os participantes da sala assinam. "O MEC pode tentar melhorar essa lista ou criar um mecanismo para que essas meninas não sejam expostas dessa forma, visando o bem estar, tanto físico quanto mental. Assim as pessoas vão se sentir melhor e, consequentemente, se sair bem na prova", acredita.

Redação - Ana Flor se emocionou ao ver que o tema da redação era a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira e ficou satisfeita ao poder falar, no texto, sobre a realidade que enfrenta no dia a dia. Com o desempenho em sua dissertação, a jovem conseguiu 880 pontos.

''Não fiquei tão feliz [com o tema da redação] porque infelizmente é um tema muito pesado, mas ao mesmo tempo eu pude falar sobre mim e sobre as minhas irmãs, as minhas iguais. Foi a primeira vez que eu poderia escrever no Enem algo em que eu podia narrar, de certa forma, a minha vida e a vida de minhas amigas, tendo como plano de intervenção algo narrado por nós, para nós e construído por nós também", diz Ana Flor.

Na UFPE, Amanda e Ana Flor farão companhia a Maria Clara Araújo, mulher trans que também foi aprovada pelo Enem e cursa pedagogia desde o segundo semestre de 2015. "O fato de a gente estar próximas pode facilitar a construção de coisas juntas. Construir teoria para a nossa população, não só para entender quem a gente é, mas para dar subsídios para a nossa luta, assim como a luta de todas as pessoas oprimidas", acredita Amanda.

Ela é cautelosa ao falar que ainda há muito caminho a percorrer. "O que faz a diferença não é a gente simplesmente ocupar esse espaço acadêmico, mas o que a gente faz com a ocupação desse espaço. O que a gente vai fazer é o que vai permitir falar de vitória daqui a alguns anos", prevê.

Edição: Fernanda Duarte.

Antena do 1º satélite de defesa e comunicações do governo é instalada em Brasília.

Brasília, 15/1/2016 – Foi concluída com sucesso esta semana a instalação da antena que fará o controle remoto do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGCD), primeiro equipamento do tipo totalmente controlado pelo governo brasileiro. 
O projeto é uma parceria entre os ministérios da Defesa (MD), das Comunicações (MC) e da Ciência e Tecnologia (MCTI) e envolve investimentos da ordem de R$ 1,7 bilhão, com previsão de lançamento em órbita em 2017.
Instalada dentro do 6º Comando Aéreo Regional (COMAR) da Aeronáutica, em Brasília, a antena – que tem 18 metros de altura e 13m de diâmetro – será utilizada para controlar remotamente o SGDC. 
O satélite ficará posicionado a uma distância de 36 mil quilômetros da superfície da Terra, cobrindo o território brasileiro e o oceano Atlântico. 
Uma segunda antena auxiliar no comando do satélite também será montada em outro centro de operações, no Rio de Janeiro.
O satélite vai operar na chamada banda X, uma faixa de frequência destinada exclusivamente ao uso militar, correspondendo a 25% da capacidade total do satélite – que também será utilizado pelo governo para levar internet banda larga a regiões remotas do País, como a Amazônia.
Hoje, as comunicações militares brasileiras são realizadas por meio do aluguel da banda X em dois satélites privados, ao custo anual de R$ 13 milhões. Quando o satélite SGDC já estiver operando, o MD vai manter apenas um desses contratos com operadores privados, apenas como garantia em caso de possíveis falhas no SGDC.
Além da economia de recursos, o lançamento do satélite vai possibilitar ao Ministério da Defesa reforçar seu Sistema de Comunicações Militares por Satélite (SISCOMIS) com mais 288 MHz de largura de banda, além do aumento de cobertura e potência de transmissão.
O SGDC - O Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas está sendo fabricado em Cannes, na França, e começou a ser construído em janeiro de 2014. O lançamento está previsto para ocorrer no entre dezembro deste ano e o começo de 2017, pela empresa Arianespace, da base de lançamento de Kourou, na Guiana Francesa.
A construção do equipamento está sendo feita pela Thales Space, sob contrato com a Visiona, uma joint ventureentre a Telebras – estatal federal do setor de telecomunicações – e a Embraer – empresa privada líder nos setores aeroespacial e de defesa. A criação da Visiona, em 2012, corresponde a uma das ações selecionadas como prioritárias no Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE) para atender aos objetivos e às diretrizes da Política Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (PNDAE) e da Estratégia Nacional de Defesa (END).
Assessoria de Comunicação do Ministério da Defesa (61) 3312-4070.

Colombia: Libertados 17 guerrilheiros das Farc anistiados pelo governo.

Da Agência Lusa
(AP Photo/Ricardo Mazalan).
Em um gesto para aumentar a confiança nos diálogos de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), 17 dos 30 guerrilheiros anistiados pelo governo recuperaram hoje (21) a liberdade, informou a imprensa local.

Embora a libertação dos guerrilheiros fosse esperada há vários dias, o caso manteve-se em absoluto sigilo por parte das autoridades. Até essa quarta-feira nenhuma fonte oficial havia confirmado a saída dos guerrilheiros das prisões.

No início da semana, o ministro colombiano da Justiça, Yesid Reyes, tinha dito que os guerrilheiros anistiados recuperariam a liberdade nos próximos dias.

A libertação dos integrantes das Farc  tinha se tornado um elemento de tensão na mesa de diálogos de Havana, em Cuba, onde o governo colombiano e as Farc negociam há mais de três anos o fim do conflito armado.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Planeta X. Cientistas encontram um nono planeta no sistema solar.

Cientistas do Instituto de Tecnologia da Califórnia disseram, nesta quarta-feira, que finalmente foram encontradas "boas evidências" para um nono planeta no nosso sistema solar. 

Imagina-se que o gigante gasoso seja quase tão grande quando Netuno e orbita a bilhões de quilômetros de distância da órbita do oitavo planeta: longe o bastante para levar de 10 mil a 20 mil anos para dar uma volta completa em torno do sol.

O Planeta 9, como os pesquisadores o chamam, ainda não foi localizado. Eles basearam a descoberta em cálculos matemáticos e modelagem computadorizada, e anteciparam sua descoberta via telescópio, que deve acontecer dentro de cinco anos ou menos.
Imagem de Plutão feita pela sonda NASA New Horizons
Missão New Horizons: uma viagem de 9 anos até Plutão.

Os dois cientistas que encontraram as evidências, Konstantin Batygin e Mike Brown, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, nos Estados Unidos, divulgaram a pesquisa hoje, no Astronomical Journal, e querem que outras pessoas ajudem a localizar o novo corpo celeste. 
Brown insiste que, uma vez detectado, deve haver um debate planetário ao estilo do de Plutão. O astrônomo foi chamado de "assassino de Plutão", quando ajudou a conduzir a acusação contra o "ex-planeta" que resultou no rebaixamento do seu status em 2006, para planeta-anão. 
Seu colega de pesquisa é o cientista planetário Konstantin Batygin. "Pela primeira vez em mais de 150 anos, existem boas evidências de que o censo planetário do sistema solar esteja incompleto", disse Batygin, referindo-se a descoberta de Netuno, como planeta 8. 
Ambos basearam sua previsão no fato de que seis objetos no gelado Cinturão de Kuiper, também conhecido como Zona do Crepúsculo — uma longínqua região do sistema solar — parecem ser influenciados por apenas uma coisa: um planeta verdadeiro. 
Brown descobriu um dos seis objetos há mais de uma década: Sedna um grande asteroide que orbita na fronteira do sistema solar. "Isso é uma previsão, O que nós encontramos foi uma assinatura gravitacional do Planeta 9, escondido na periferia do sistema solar" disse Batygin. 
Dependendo de onde o novo planeta esteja em sua órbita oval, um telescópio especial pode ser necessário para confirmar sua presença, disseram os pesquisadores. Eles afirmaram que os telescópios disponíveis podem detectar o planeta, caso ele esteja relativamente próximo de nós em seu caminho em torno do sol. Estima-se que ele esteja de 32 bilhões a 160 bilhões de quilômetros de distância da Terra.