quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Famem e UVB realizam nesta quinta-feira, dia 18, o Encontro Nacional de Vereadores e Prefeitos, que acontece no Auditório Fernando Falcão, na ALEMA.


O presidente da FAMEM, prefeito Gil Cutrim, recebeu hoje, os vereadores Gilson Conzatti e Asaf Sobrinho, presidente e superintendente regional da União dos Vereadores do Brasil, respectivamente.

Na reunião, foram tratados os últimos detalhes sobre o Encontro Nacional de Vereadores e Prefeitos.

Evento promovido pela UVB e que acontece nesta quinta-feira, dia 18, a partir das 9h, no auditório Fernando Falcão, na Assembleia Legislativa. 

A programação é composta de painéis nos quais serão abordados temas diversos, dentre eles Prestação de Contas de Vereadores e Prefeitos e a Repercussão nas Eleições Municipais de 2016; Governança e Transparência na Gestão Pública; Pacto Federativo; Fortalecimento do Municipalismo; Novos Desafios das Eleições 2016; e Federalismo Fiscal. 

Informações detalhadas sobre o encontro municipalista no www.famem.org.br

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Goiás - Serial killer que já confessou ter cometido 39 assassinatos, é condenado a 20 anos de prisão.

Felipe Pontes - Repórter da Agência Brasil.
O vigilante Thiago Henrique Gomes da Rocha, de 28 anos, foi condenado a 20 anos de prisão pelo assassinato da estudante Ana Karla Lemes da Silva, de 15 anos, morta a tiros em 15 de dezembro de 2013 no bairro de Jardim Planalto, em Goiânia.

A sentença foi lida pelo juiz Jesseir Coelho de Alcântara, no 1º Tribunal do Júri de Goiânia, após o júri, formado por sete pessoas, decidir pela condenação do réu por homicídio duplamente qualificado, isto é, por motivo torpe e sem que a vítima tivesse chance de se defender. 

Rocha demonstrou tranquilidade ao ser interrogado pelo juiz e ao longo da sessão, transparecendo maior agitação somente no momento em que era lida a sentença. Em seu depoimento, ele afirmou não se lembrar de ter matado Ana Karla.

Foto - www.dailymail.co.uk
O promotor Cyro Terra, do Ministério Público de Goiás, recorrerá da sentença para que a pena seja aumentada para 30 anos. A defesa também alegou que entrará com recurso, visando a diminuição da sentença, levando em consideração que Rocha confessou o crime no depoimento na delegacia. O juiz acatou ambos os recursos, contando a partir de hoje o prazo de cinco dias para a apresentação dos argumentos.

A defesa usou o diagnóstico de psicopatia e transtorno de comportamento antissocial, atribuído a Rocha por uma junta médica oficial do Tribunal de Justiça de Goiás, para argumentar que o réu não tinha plena consciência do mal que causava ao cometer o crime, tendo uma “imputabilidade reduzida”. Nenhuma prova foi contestada. 

O promotor, em sua manifestação, defendeu que a condenação do réu é justa, merecida e necessária, pois caso fosse solto ele voltaria a matar.

Serial killer - Rocha foi preso em outubro de 2014 e chegou a confessar, em depoimento à polícia, ter cometido 39 assassinatos, sendo então rotulado como serial killer de Goiás. 
Alguns meses depois, orientado pela defesa, ele informou número menor de homicídios dos quais confessava ser autor.

Após concluída a fase de investigação, Rocha foi acusado por mais 29 homicídios, além do de Ana Karla Lemes da Silva. O próximo júri popular a ser enfrentado por ele está marcado para 8 de março, referente ao assassinato de Juliana Neubia Dias, de 22 anos, morta com 2 tiros quando estava dentro do carro do namorado, em 22 de julho de 2014.

Os crimes atribuídos a Thiago Henrique Gomes da Rocha foram cometidos entre 2011 e 2014. O vigilante abordava pessoas desconhecidas na rua e atirava.

Edição: Carolina Pimentel.

O negócio do vírus da zika e os mosquitos transgênicos.

Os dados em que se baseia a declaração de emergência internacional por causa do vírus da zika são surpreendentes. 
Não pelos riscos que a expansão deste vírus implicaria, mas, ao contrário, pela falta de evidências para motivar tão grandiloquente declaração por parte da Organização Mundial da Saúde (OMS) frente a uma enfermidade leve, com muito poucos indícios de conexão com doenças mais sérias e sem provas científicas a esse respeito. 
Para suprir estas ausências, acrescenta que como o vetor da doença – o mosquito Aedes Aegypti – é também o vetor da dengue echikungunya, estão atacando os três.
A reportagem é de Silvia Ribeiro, publicada por La Jornada, 06-02-2015. A tradução é do Cepat.
Este contexto alarmista, focado em aspectos singulares – o “ataque” ao vetor, isolado de suas causas – favorece enfoques precários, errôneos e inclusive perigosos. Por exemplo, a empresa Oxitec, que fez controvertidos experimentos com mosquitos transgênicos, agora, promove-os como “solução” (na realidade como negócio) frente à expansão do vírus da zika, obviamente sem mencionar os riscos que acarreta e que os mosquitos, inclusive, poderiam piorar a situação.
A empresa Oxitec já realizou experimentos de liberação de mosquitos transgênicos nas Ilhas CaymanMalásia,Panamá e Brasil. Tentou fazer o mesmo na Europa, que não deu permissão por razões de biossegurança e estudos de impacto deficientes. 
Encontrou regulações “flexíveis” no Brasil, onde fez experimentos no Nordeste, embora não tenha conseguido a autorização da ANVISA, autoridade sanitária desse país. Sua técnica é produzir Aedes Aegypti transgênicos manipulados com um gene letal condicional, que não se expressa, caso se aplique o antibiótico tetraciclina, o que fazem durante a reprodução. Em seguida, são liberados para cruzarem com mosquitos selvagens, que se não encontram o antibiótico, produzem descendência estéril.
A empresa Oxitec cita uma redução de 80-90% da população de mosquitos nas áreas de experimento. Porém, segundo documentados relatórios de Edward Hammond, da Rede do Terceiro Mundo e de GeneWatch, a realidade é muito diferente.
Em um relatório de 2015, GeneWatch explica que a diminuição de mosquitos não está comprovada, porque os mosquitos selvagens podem simplesmente ter mudado para áreas próximas. 
Os resultados das Ilhas Cayman sugerem que a técnica é muito ineficaz, já que usaram 2,8 milhões de mosquitos, semanalmente, para combater uma população selvagem de 20.000 mosquitos e, de qualquer forma, ainda que tenham informado uma baixa na área de liberação, houve um aumento da população de mosquitos em regiões vizinhas. 
Além disso, mesmo que provisoriamente tenha diminuído a quantidade de mosquitos, não existe evidência, em nenhuma parte do mundo, de que os mosquitos transgênicos tenham reduzido a incidência de dengue, nem de outras doenças.
Ao contrário, uma das preocupações sobre os impactos dos mosquitos transgênicos, particularmente em regiões endêmicas, é que a diminuição temporal possa baixar a resistência cruzada a vários sorotipos da dengue que existe nessas populações, favorecendo o avanço de formas mais agressivas como a dengue hemorrágica. 
Além disso, o deslocamento do Aedes Aegypti pode favorecer a expansão de transmissores rivais, no caso da dengue, do Aedes albopictus, que é mais difícil de erradicar.
GeneWatch também considera que a empresa Oxitec não apresentou provas de que a proteína que os mosquitos transgênicos expressam, chama tTA, não produza efeitos alergênicos ou tóxicos em animais e humanos, apesar de já se ter observado toxicidade e neurotoxicidade em ratos.
Desde 2015, a empresa Oxitec passou a ser propriedade da Intrexon, empresa de biologia sintética estadunidense, razão pela qual poderia estar considerando o uso de tecnologias de biologia sintética com mosquitos, mais arriscadas, como o uso de condutores genéticos (gene drives) que poderiam modificar toda uma população de mosquitos em uma ou duas gerações. 
As consequências em modificar toda uma espécie teriam implicações imprevisíveis, incluindo sérios impactos potenciais no ecossistema e mutações nos agentes das doenças. Já existem experimentos confinados de modificação de insetos com esta técnica em universidades dos Estados Unidos, o que motivou um alerta de cientistas sobre os altos riscos desta tecnologia, inclusive a respeito de seu potencial uso como arma biológica (The Indepent, 02/08/2015). No entanto, tendo em vista a “emergência” pelo vírus da zika, aumentam a propaganda e pressões para usar esta tecnologia.
São remendos técnicos estreitos, concebidos mais como negócio do que para realmente enfrentar os problemas. Além dos impactos que acarretam, desviam a consideração das causas e atrasam sua atenção real.
Segundo dados oficiais em 02/02/2016, foram confirmados 404 casos de microcefalia no Brasil. Somente 17 tinham simultaneamente o vírus da zika. São apenas 4,2% dos casos confirmados e só mostram que o vírus estava presente, não que fosse o causador de microcefalia, anomalia que tem um amplo espectro de causas possíveis, como exposição durante a gravidez a tóxicos, desnutrição e outras infecções, todos fatores de alta incidência entre a população pobre do Nordeste, onde estão 98% dos casos referidos.
Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) publicou uma excelente Nota Técnica e carta aberta ao povo, fazendo notar que o aumento de microcefalia pode estar relacionado ao uso de inseticidas e larvicidas que são colocados na água potável (!), cuja concentração aumentou no Nordeste no período em questão, em razão do racionamento de água por secas inesperadamente mais intensas que o normal. 
Exigem uma consideração ampla das causas de microcefalia, em uma estratégia decidida com as pessoas, a partir de suas condições, que ao contrário desses enfoques técnicos de alto risco, é a única forma efetiva de enfrentar as epidemias.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Abrasco nega ter relacionado larvicida Pyriproxifen a casos de microcefalia.

Sumaia Villela – Correspondente da Agência Brasil
“Não dissemos que o larvicida [Pyriproxifen] está associado à microcefalia”. A afirmação é do coordenador do Grupo de Saúde e Ambiente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Marcelo Firpo. No último sábado (13), nota técnica da entidade foi usada pelo governo do Rio Grande do Sul para justificar a suspensão do uso do Pyriproxifen, sob a alegação de que o produto pode estar relacionado à ocorrência de microcefalia em bebês.

Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, Firpo argumentou que tudo não passou de um mal-entendido, mas reafirmou que a entidade é contra o uso de agentes químicos na água potável. “Na nossa nota técnica não colocamos essa relação em questão, ou seja, não dissemos que o larvicida está associado à microcefalia”, disse Firpo. 

Aedes aegypti
Nota técnica da Abrasco critica o uso de produtos químicos, como larvicidas e fumacês, como principal estratégia de combate ao mosquito Aedes aegypti  Divulgação/Fiocruz
Na nota técnica, divulgada no dia 2 de fevereiro, a Abrasco fala da necessidade de investimentos em saneamento básico e se posiciona contra o uso de substâncias químicas como principal estratégia de combate ao mosquito Aedes aegypti.

Nas redes sociais, se espalhou a notícia de que a microcefalia seria causada pelo Pyriproxifen, e a nota da Abrasco era citada como fonte.

A associação foi criada há mais de 30 anos e já participou ou participa de vários espaços de representação social, como o Conselho Nacional de Saúde (CNS), Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) e Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM).

Firpo também é pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Apesar de negar a relação com a microcefalia, ele avisa que os danos à saúde provocados por produtos semelhantes não estão descartados. E diz que a principal causa da proliferação do Aedes aegypti é a falta de saneamento básico no Brasil.

Confira a íntegra da entrevista:

Agência Brasil: A microcefalia estaria ligada ao larvicida Pyriproxifen?

Marcelo Firpo: A Abrasco já lançou uma nota de esclarecimento. Está havendo um mal entendido. Na nossa nota técnica não colocamos essa relação em questão, ou seja, não dissemos que o larvicida está associado à microcefalia.

Agência Brasil: E qual seria a relação?

Firpo: A nota técnica está disponível na página da Abrasco. A nossa posição fundamental é uma crítica ao modelo de combate ao mosquito centrado, focado no uso intensivo de venenos, larvicidas e inseticidas no mosquito adulto. Esse foco é equivocado. As populações mais atingidas são justamente as mais pobres, com problemas estruturais de saneamento básico, de acesso à água potável. Consideramos um contrassenso sanitário, um absurdo a colocação de veneno larvicida na água potável, e consideramos também um absurdo o uso de uma substância considerada cancerígena pelo Iarc [Agência Internacional de Pesquisa para o Câncer, na sigla em inglês], da OMS [Organização Mundial da Saúde] – o Malathion – nos fumacês pelo país. Existem outras medidas que deveriam ser priorizadas.

Agência Brasil: E quais seriam as soluções para acabar ou minimizar essas doenças causadas pelo Aedes aegypti?

Firpo: Aedes aegypti nunca vai ser totalmente eliminado, na nossa opinião. Existe uma série de equilíbrios ecológicos na formação das cidades. Nno máximo, vamos reduzir o nível de concentração elevada, e isso já é um objetivo bastante razoável para a campanha. E essa redução da infestação em médio e longo prazo precisa ter como foco medidas de saneamento básico. Por exemplo: nesse momento foi criado já há algum tempo o Plano Nacional de Saneamento Básico, e a previsão do governo federal é uma redução de 50% das medidas de saneamento do plano do Ministério das Cidades e de 70% de redução dos investimentos em saneamento rural da Funasa [Fundação Nacional de Saúde], do Ministério da Saúde.

Temos situação que ao mesmo tempo se fala da gravidade do vírus Zika, da dengue, da chikungunya e, simultaneamente, temos uma redução substancial da velocidade de implementação do plano de saneamento básico. Esse é o primeiro ponto: reduzir a pobreza, as desigualdades sociais e espaciais e investir no saneamento básico. Essa é a questão fundamental.

E, no curto prazo, é preciso eliminar e substituir essas medidas pontuais. O que deveríamos fazer é uma campanha de envolvimento da população e criar as condições para que as populações, principalmente com condições mais precárias, tenham outros métodos para resolver armazenamento de água. Essa população tem frequentemente acesso à água potável cortado por causa de precariedade do fornecimento, deixam de receber água em casa. Muitas vezes armazenam água em condições muito precárias. É preciso criar condições de proteção a essas formas de armazenamento e ao mesmo tempo investir na qualidade do fornecimento de água. Existem medidas como colocação de redes, fornecimento de tampas para domicílios que fazem esse armazenamento provisório.

Edição: Luana Lourenço.
Leia Mais:
1 - 2016.02.14 - A Sumitomo Chemical fabricante do Pyriproxyfen rebate suspeitas de que o larvicida cause microcefalia. http://maranauta.blogspot.com.br/2016/02/a-sumitomo-chemical-fabricante-do.html.


Artigo. O diabo e a garrafa de Mauro Santayana.

Mauro Santayana * 


(Rede Brasil Atual) - Em pleno processo de impeachment, e de julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), das ações envolvendo a chapa vitoriosa nas últimas eleições, a situação da República tem sido marcada pela espetacularização de um permanente “pega para capar” jurídico-policial, a ascensão da “antipolítica”, o aprofundamento da radicalização e a fascistização do país. 
 
Políticos e empresários têm sido presos – muitos por ilações frágeis ou exagerado rigor cautelar –, enquanto outros homens públicos e bandidos e delatores premiados apanhados com milhões de dólares na Suíça circulam livremente ou estão em prisão domiciliar. 

Milhares de brasileiros acreditam piamente que o Brasil é um país quebrado e destruído, quando temos as sextas maiores reservas internacionais do mundo e somos o terceiro maior credor individual externo dos Estados Unidos. 

Que um perigoso “bolivarianismo” pretende implementar uma ditadura de esquerda na América Latina, quando, seguindo os ritos democráticos normais, e sob amplo acompanhamento de observadores internacionais, a oposição liberal acaba de ganhar, pelo voto, as eleições na Venezuela e na Argentina. 

Que o Brasil é um país comunista quando pagamos juros altíssimos, e somos, historicamente, dominados, na economia e na política, por um dos mais poderosos sistemas financeiros do mundo, pelo agronegócio e o latifúndio, por bancos e empresas multinacionais. 

Discutindo na mesa de pôquer da sala de jogos do Titanic, envolvidos por suas disputas, e por uma rápida sucessão de fatos e acontecimentos, que têm cada vez mais dificuldade em digerir e acompanhar, os homens públicos brasileiros ainda não entenderam que a criminalização da política, criada por eles mesmos, como parte de uma encarniçada e deletéria disputa pelo poder, há muito extrapolou o meio político tradicional, espalhando-se, como o diabo que escapa da garrafa, como uma peste pela sociedade brasileira, na forma de uma profunda ojeriza, preconceito e desqualificação do sistema político, e daqueles que disputam e detêm o voto popular. 

Se não se convocar a razão e o bom senso, para reagir ao que está acontecendo, e se estabelecer um patamar mínimo de normalidade político-institucional, tudo o que restará será o confronto, o arbítrio e o caos. 

Está muito enganado quem acha que o mero impedimento de Dilma Rousseff resolverá a questão. 

No final da década de 20, os judeus conservadores comemoravam, da varanda de suas mansões, na Alemanha, o espancamento, nas ruas, de esquerdistas e socialistas, pelos guardas de grupos paramilitares nazistas como as SS e as SA, e se regozijavam, em seu íntimo, por eles os estarem livrando da ameaça bolchevista. 

Depois também viram passivamente – achando que estariam resguardados por suas fortunas – passar sob suas janelas, as filas de operários e pequenos comerciantes judeus a caminho dos campos de concentração – até chegar a sua vez de ocupar, como sardinhas em uma lata, o seu lugar nas câmaras de gás. 

Poucas vezes, na história, o efeito bumerangue costuma poupar aqueles que, como aprendizes de feiticeiro, se atrevem a cutucar o que está dentro da caixa de Pandora. 

Depois de Dilma e do PT, seria a vez de Temer, e depois de Temer virão os outros – todos os partidos e lideranças que tenham alguma possibilidade de alcançar o poder, por via normal. 

Parafraseando Milton Nascimento, na política brasileira “nada será como antes amanhã”. 

O Brasil que se seguirá à batalha sem quartel e sem piedade, levada a cabo pela oposição nos últimos anos e meses tendo como fim a destruição e total aniquilamento do PT – cujas principais vítimas não serão esse partido, mas o Estado de Direito, o presidencialismo de coalizão, a governabilidade e a própria Democracia – não terá a cara do Brasil do PSDB de Serra, de Aécio, ou de FHC, mas, sim, a de Moro e a de Bolsonaro. 

A do messianismo, da vaidade, da onipotência e do imponderável, e a do oportunismo e do fascismo – e aqui não nos referimos ao velho fascio italiano – em seu estado mais puro, ensandecido e visceral. 

* jornalista .

Publicado originalmente em http://www.maurosantayana.com/2016/01/o-diabo-e-garrafa.html

Profissionais da Justiça ainda desconhecem decisões da CIDH, diz novo presidente.

Alex Rodrigues - Repórter da Agência Brasil.
O juiz brasileiro Roberto Caldas assume a presidência da 
CIDH/Arquivo
Com 30 anos de experiência profissional, o sergipano Roberto Caldas, 53 anos, preside a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) desde o começo do ano. 

Oficialmente, porém, sua posse ocorre nesta segunda-feira (15), em San Jose, na Costa Rica, onde funciona a sede da mais alta corte do sistema americano de promoção dos direitos humanos, cuja principal atribuição é zelar pela correta aplicação e interpretação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos por todos os países que ratificaram o tratado, de 1969.

Tendo advogado em casos ligados aos direitos trabalhistas e sociais – inclusive perante o Supremo Tribunal Federal (STF) –, Roberto Caldas atuou como juiz auxiliar nos três processos envolvendo o Brasil que a CIDH julgou entre 2007 e 2010. Entre eles está o que atribuía ao Estado brasileiro a responsabilidade por não ter apurado devidamente o desaparecimento, a tortura e morte de guerrilheiros no Araguaia, na década de 1970. Na ocasião, Caldas declarou que os fatos apurados configuravam crimes de lesa-humanidade, cujo julgamento a Lei da Anistia não podia impedir.

Indicado pelo governo brasileiro em 2013, com o apoio de entidades de classe e organizações sociais, ele foi eleito juiz titular daquela corte, tornando-se o segundo brasileiro a ocupar o posto desde a criação do órgão, em 1979. Após ocupar a vice-presidência do tribunal, foi eleito para presidir a CIDH pelos próximos dois anos, repetindo a trajetória do primeiro brasileiro a chegar à entidade, o jurista Antônio Augusto Cançado Trindade (1995/2006).

Especialista em ética e direito constitucional e ex-membro da Comissão Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo, Caldas se empolga ao falar sobre a importância da CDIH para a promoção dos direitos humanos. Mesmo ao responder sobre as dificuldades orçamentárias da entidade, que recebe mais recursos de países europeus do que dos próprios Estados-membros americanos - uma ameaça no momento em que o Continente Europeu se vê obrigado a mobilizar esforços para responder à crise humanitária decorrente das ondas migratórias.

Caldas também espera colaborar para tornar a corte mais acessível – hoje, só 1% das denúncias apresentadas à comissão interamericana chegam ao julgamento da corte. Em entrevista à Agência Brasil, o ritmo tranquilo de sua fala só se alterou quando reconheceu que profissionais da Justiça do país ainda desconhecem decisões da CIDH, que são obrigados a aplicar, e diante da polêmica em torno dos Estados Unidos, que ignoram a Convenção Americana – único assunto sobre o qual se furtou a opinar.

O juiz acredita que, com maior visibilidade da CIDH, é de se esperar que mais organizações sociais recorram ao tribunal contra o Estado brasileiro, conforme entrevista a seguir:

Agência Brasil - O senhor assumiu uma das sete cadeiras da Corte Interamericana de Direitos Humanos em fevereiro de 2013, indicado pelo governo brasileiro. Após ocupar a vice-presidência, o senhor foi eleito por seus pares para presidir a entidade. Apenas um brasileiro [o jurista Antônio Augusto Cançado Trindade] havia ocupado tais cargos antes. Há, para o Brasil, alguma implicação política e prática dessa maior visibilidade na corte?

Roberto Caldas – É relevante. É a cultura jurídica brasileira que está sendo homenageada. Ainda que, a partir do ingresso na corte, os juízes passem a ser considerados representantes interamericanos. Perante o tribunal, o vínculo nacional de cada juiz deixa de existir. Apesar de, atualmente, não podermos votar nos casos que envolvem nossos países de origem. Há, inclusive, grande controvérsia em torno dessa decisão, adotada antes de meu ingresso na corte, porque a própria Convenção Americana estabelece que os vínculos nacionais não se mantêm após a nomeação.

Agência Brasil – Quais serão suas prioridades à frente da corte?

Roberto Caldas – É muito importante incrementarmos o diálogo com a sociedade e com os próprios Estados-Membros da OEA [Organização dos Estados Americanos] – especialmente com os Poderes Judiciários nacionais – para fortalecer e estruturar a corte como um tribunal de nível superior. Cada julgamento da Corte Interamericana estabelece um precedente de interpretação da Convenção Americana de Direitos Humanos, e a maioria dos países adota essas decisões como normas legais equivalentes às suas constituições. Por isso, o diálogo é importante para que as interpretações da Corte Interamericana sejam aplicadas cotidianamente por todas as autoridades dos Três Poderes nacionais.

Agência Brasil – Até recentemente, quase metade dos recursos financeiros da corte vinha de doações de países europeus? Esta situação persiste?

Roberto Caldas - Continua. Entendemos que essa situação deve ser aperfeiçoada. A cooperação internacional com países europeus ou de outros continentes deveria ser apenas para aperfeiçoarmos alguns serviços e projetos, e não como acontece hoje, ser de fundamental importância para o funcionamento da corte. Qualquer déficit orçamentário deveria ser suprido pelos próprios Estados-Membros. Vamos nos esforçar para que os Estados garantam recursos fixos ordinários a fim de que não fiquemos dependendo de cooperação internacional ou renovação de convênios, o que não é desejável para a independência e o funcionamento normal do tribunal.

Agência Brasil – E qual a expectativa orçamentária para 2016?

Roberto Caldas – A partir das doações dos estados, a Organização dos Estados Americanos deve nos repassar cerca de US$ 2.7 milhões. Além disso, algo em torno de US$ 3 milhões normalmente vêm da cooperação internacional. Nossa preocupação é que esse valor tende a diminuir, já que os países europeus estão redirecionando seus recursos para enfrentar os reflexos da onda migratória com que toda a Europa está lidando. Esse também é um grande desafio. É importante que os estados americanos passem a dar o aporte necessário para que a corte, que já opera com orçamento abaixo do necessário, não deixe de realizar serviços fundamentais. Grande parte dos nossos serviços é prestada por voluntários, o que está longe do ideal. Podemos ter que diminuir o número de sessões de julgamento, o que resultaria em atraso na apreciação de processos, entre outros problemas.

Agência Brasil – Quantas denúncias anuais, em média, a Comissão Interamericana recebe, quantas ela encaminha para o julgamento da Corte e quantas efetivamente são julgadas?

Roberto Caldas – A Corte tem recebido da Comissão Interamericana, em média, cerca de 20 novos casos contenciosos por ano. Eles são apresentados pela Comissão de julgamos, todos eles. É preciso observar que a Corte é mais importante pela qualidade de suas sentenças do que pela quantidade, já que cada decisão estabelece um precedente a ser seguido por todos os Estados e não só pelo que é citado no processo. Eu não saberia dizer agora o número exato, mas a comissão recebe em torno de 2 mil denúncias anuais. Logo, é diminuto o número de casos que chegam à Corte.

Agência Brasil – É necessário e possível tornar esse trâmite mais amplo e célere?

Roberto Caldas – Não há demora na corte. Sempre podemos aperfeiçoar os trâmites, mas hoje, na corte, os casos são apreciados entre 18 e 24 meses, em média, o que é uma duração bastante razoável. Já na comissão, realmente, há uma certa demora, com alguns casos ultrapassando 20 anos para serem analisados e remetidos para julgamento da corte. A comissão já está enfrentando esse problema com vigor. Além disso, nos últimos anos, incrementamos bastante o diálogo entre os dois órgãos.

Agência Brasil – Qual a implicação das normas internacionais que o Brasil ratificou, como a Convenção Americana dos Direitos Humanos, para as leis brasileiras? Um país sofre algum tipo de sanção quando infringe esses tratados?

Roberto Caldas – Após serem ratificadas por qualquer país, as normas internacionais passam a ter o mesmo vigor, o mesmo peso das leis locais do país. A Convenção Americana, também conhecida como Pacto de San José, traz princípios fundamentais para a proteção e promoção dos direitos humanos. Por isso, normalmente, equipara-se às constituições nacionais. No Brasil, o patamar hierárquico da convenção continua em debate no STF [Supremo Tribunal Federal], que discute se ela está em grau constitucional ou infraconstitucional. De qualquer forma, ela é de vigência obrigatória, e todos os operadores de Justiça têm obrigação de aplicá-la. Sua não aplicação pode levar um país que a tenha ratificado a ser condenado na Corte Interamericana.

Agência Brasil – Os operadores da Justiça (juízes, servidores, procuradores e advogados) brasileiros estão familiarizados com os preceitos gerais dos direitos humanos, com os mecanismos internacionais de proteção e com as decisões da Corte Interamericana?

Roberto Caldas – Há um déficit imenso. Uma pesquisa de 2008 revelou que a utilização de decisões da corte e da Convenção Americana de Direitos Humanos é mínima. Várias gerações foram formadas sem estudar direitos humanos e direitos internacionais. A minha própria geração, durante a graduação, na maioria dos casos não teve nada sobre isso na faculdade. Estávamos vindo de um período autoritário, durante o qual proibiu-se o ensino dessas e de outras matérias. Isso torna ainda mais importante a presença do Brasil na Corte Interamericana. Para chamar a atenção para o tema, multiplicar o conhecimento sobre o sistema e, assim, chegarmos ao patamar desejado. Já houve uma melhoria, mas notamos que a comunidade jurídica brasileira ainda conhece pouco o sistema americano de promoção de direitos humanos.

Agência Brasil - O simples fato de a comissão interamericana apreciar uma denúncia e, não havendo acordo, considerar que as informações apresentadas pelos denunciantes são suficientes para que a corte julgue os fatos, é suficiente para arranhar a imagem de um país?

Roberto Caldas – Esta é uma consideração que pode ter múltiplas facetas. Alguns entendem que sim, que o país está sendo exposto, colocado no banco dos réus, sob a luz dos holofotes. Outros entendem que isso é uma sequência natural e lógica. Claro que quando se trata de um fato repetido, que já tem precedente, a comissão interamericana age de forma mais vigorosa. Aí sim, o embaraço é inegável.

Agência Brasil - Uma das primeiras denúncias que a corte vai julgar em seu mandato envolve o Brasil. Trata-se do caso da Fazenda Brasil Verde, que envolve o suposto trabalho escravo em uma fazenda particular do Pará, entre os anos 1980 e 2000. Esse julgamento, independentemente da sentença final, também prejudica a imagem do Brasil, hoje apontado internacionalmente como referência no combate ao trabalho escravo?

Roberto Caldas – Não deveríamos distinguir as obrigações estabelecidas por Estados-Membros das [obrigações] externas. A Convenção Americana de Direitos Humanos, por exemplo, deve ser obrigatoriamente aplicada pelos países que a ratificaram, caso do Brasil, e os Poderes Judiciários Nacionais têm que lidar com esse dispositivo, garantindo que ele seja cumprido. O fato de uma denúncia de eventual desrespeito à convenção chegar à corte pode resultar em um redirecionamento ou criação de determinadas políticas públicas, a obrigação de observar o que estabelece o pacto internacional. Sobre o caso específico da denúncia contra o Estado brasileiro, por minha nacionalidade, eu não participarei desse julgamento. Logo, só me resta esperar pela decisão dos meus colegas juízes.

Agência Brasil– Quantas denúncias contra o Estado brasileiro estão pendentes de julgamento na corte? Há expectativa de que o número de casos remetidos à corte pela comissão interamericana aumente nos próximos anos?

Roberto Caldas – É natural que quanto mais um sistema se torna conhecido, mais ele é acessado. É crível, portanto, que aumente o número de denúncias feitas à comissão interamericana e, consequentemente, de casos remetidos à corte. Isso não quer dizer que está aumentando o grau de violações aos direitos humanos, mas sim que o sistema internacional está sendo mais acessado em busca de respostas às violações. Isso já ocorreu com outros países e acredito que aconteça também com o Brasil. Hoje, na corte, temos apenas dois casos pendentes de julgamento. Na comissão, no entanto, há vários. Só em 2015 foram apresentadas cerca de 100 novas denúncias.

Agência Brasil - Então a expectativa é de que o número de julgamentos em geral aumente?

Roberto Caldas – Sim. E acredito que também passaremos a julgar mais casos relativos aos chamados direitos sociais, como o direito à vida, à saúde, à educação ou ao trabalho. Temas extremamente relevantes para os países da América, já que o continente é marcado por uma distribuição de renda precária e pela desigualdade social. É possível que, dada a nova composição da corte, passemos a julgar essas questões como violações aos direitos humanos, segundo uma tendência de que o desrespeito a esses direitos também pode ser judicializado.

Agência Brasil – Em 2010 o senhor atuou como juiz nomeado no julgamento de episódios ocorridos durante a chamada Guerrilha do Araguaia. A corte condenou o Estado brasileiro a investigar os fatos, determinar o paradeiro dos desaparecidos, julgar e punir os responsáveis. Na ocasião, o senhor afirmou que os Poderes Públicos dos países que aceitaram a Convenção Americana de Direitos Humanos devem respeitá-la, inclusive adequando suas leis às decisões da corte. Para o senhor, os “crimes de desaparecimento forçado, execução sumária extrajudicial e de tortura, perpetrados sistematicamente pelo Estado brasileiro para reprimir a Guerrilha do Araguaia, são exemplos acabados de crimes de lesa-humanidade, e seu julgamento não pode ser impedido pela passagem do tempo ou por dispositivos normativos, como a Lei da Anistia”. Na condição de presidente da corte, o que o senhor diz sobre esse episódio? O Brasil deve julgar e punir os agentes do Estado que, durante a ditadura civil-militar sequestraram, torturaram, mataram e, em muitos casos, desapareceram com os corpos de oponentes do regime e, em alguns casos, de pessoas que não tinham ligações com a luta armada?

Roberto Caldas – Em relação à guerrilha, essa foi a sentença da corte, e é nossa opinião, lavrada sobre a jurisprudência anterior. A sentença deve ser integralmente cumprida, e esperamos que a interpretação do tribunal seja devidamente aplicada pelo Brasil. Lógico que cada país tem seu ritmo, mas já estamos vendo que a decisão começa a ser observada por algumas instâncias do Judiciário. Acreditamos que o Supremo Tribunal Federal também o fará quando chegar a hora.

Agência Brasil – Os Estados Unidos resistem a ratificar a Convenção Americana dos Direitos Humanos, mas, ainda assim, a sede da comissão interamericana fica em Washington. O senhor é favorável à transferência da entidade para outro país que reconheça a validade do tratado internacional?

Roberto Caldas - Esta é uma questão política que compete aos estados discutir e diz respeito à comissão. É um tema aberto à discussão, mas não me cabe, como presidente da corte, emitir minha opinião sobre o tema.

Edição: Stênio Ribeiro
Leia mais: Juiz brasileiro assume presidência da Corte Interamericana de Direitos Humanos. http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2016-02/juiz-brasileiro-assume-presidencia-da-corte-interamericana-de.


domingo, 14 de fevereiro de 2016

A Sumitomo Chemical fabricante do Pyriproxyfen rebate suspeitas de que o larvicida cause microcefalia.

Kelly Oliveira – Repórter da Agência Brasil

O laboratório fabricante do larvicida  Pyriproxyfen rebateu a suspeita de que produto pode causar microcefalia. Em nota, a Sumitomo Chemical disse que não há base científica que comprove danos à saúde provocados pelo larvicida.

A empresa diz que o Pyriproxyfen é aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso em campanhas de saúde pública, como “inseticida-larvicida, controlando vetores de doenças, dentre os quais mosquitos Aedes Aegypti, Culex quinquefasciatus e mosca doméstica”.

“O produto é registrado desde 2004 e o Governo brasileiro o vem utilizando como inseticida-larvicida no combate ao Aedes Aegypti. Pyriproxyfen é registrado  também para o combate do Aedes aegypti em países como Turquia, Arábia Saudita, Dinamarca, França, Grécia, Holanda, Espanha. Na América Latina, República Dominicana e Colômbia vêm utilizando o produto desde 2010”, acrescenta a empresa.

Ontem (13), no Dia Nacional de Mobilização contra o Mosquito Aedes Aegypti, o Governo do Rio Grande do Sul anunciou a suspensão do uso do larvicida, apontado em nota técnica da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), como possível causador de microcefalia.

O produto é utilizado em caixas d’água para eliminar larvas do mosquito vetor da dengue, da febre chikungunya e do vírus Zika. “A suspeita é suficiente para nos fazer decidir pela suspensão do uso. Nós não podemos correr esse risco”, disse o secretário de Saúde do Rio Grande do Sul, João Gabbardo dos Reis.

Em nota, o Ministério da Saúde disse que só usa larvicidas recomendados pela OMS. A pasta ressalta que alguns locais onde o Pyriproxyfen não é usado também registraram casos de microcefalia.

“Ao contrário da relação entre o vírus Zika e a microcefalia, que teve sua confirmação atestada em exames que apontaram a presença do vírus em amostras de sangue, tecidos e no líquido amniótico, a associação entre o uso de Pyriproxifen e a microcefalia não possui nenhum embasamento científico”, disse a nota.

A pasta ressalta que o Rio Grande do Sul tem autonomia para utilizar o produto adquirido e distribuído pelo Ministério da Saúde ou desenvolver estratégias alternativas.

Edição: Beto Coura.