quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Egito prende líder da Irmandade Muçulmana

Da Agência Brasil * 

Brasília – As autoridades do Egito detiveram hoje (30) o líder da Irmandade Muçulmana, Essam Al Erian, informou a agência de notícias do país, Mena. Al Erian, chefe do Partido da Liberdade e da Justiça, foi detido em seu apartamento, no distrito de Novo Cairo, na capital do país, onde estava escondido. Ele não resistiu à prisão.

Irmandade Muçulmana
O líder foi transferido ao complexo prisional de Tora, no sul da capital, onde muitos membros da Irmandade Muçulmana estão detidos. Al Erian é acusado de incitar a violência e a morte de manifestantes nos protestos do dia 30 de junho, que deixaram nove mortos e mais de 90 feridos.

Por meio de seu telefone celular, o líder enviou mensagens a membros e apoiadores da irmandade imediatamente após ser preso, assegurando que os seguidores não devem entrar em pânico e que eles se "reencontrarão em breve", disse.

Mais de 2 mil membros da irmandade foram presos desde a saída do poder do ex-presidente Mohamed Mursi, no início de julho deste ano. Os apoiadores do regime de Mursi criticam o governo militar e caracterizam o movimento do Exército como sendo um golpe de Estado.

Eles negam que Mursi queria instalar um governo islâmico, argumentando que ele buscava um país democrático. O julgamento do ex-presidente e de outros 14 membros da Irmandade, inclusive de Essam Al Erian, está marcado para o dia 4 de novembro, na próxima semana.

* Com informações da agência de notícias da China, Xinhua

Edição: Beto Coura
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MCV - viatura blindada em testes no Japão.

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http://www.forte.jor.br/2013/10/24/imagens-viatura-blindada-em-testes-no-japao/
O MCV é uma viatura blindada de oito rodas, armada com canhão de 105mm, e atualmente em fase de testes pelas Forças Terrestres de Autodefesa do Japão. 

Desenvolvida para prestar apoio direto a tropas de infantaria, além de a mobilidade na estrada e a facilidade de transporte reforçarem a capacidade de deslocamento das forças terrestres do país. O veículo tem previsão de entrada em serviço na segunda metade de 2014.

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NOTA DA EDITORA: você pode ver um vídeo demonstrativo da viatura blindada clicando aqui.

FONTE: Militaryphotos.net

LInk desta Matéria: http://www.forte.jor.br/2013/10/24/imagens-viatura-blindada-em-testes-no-japao/

Desvio de minério de Carajás - Notícias de ontem...

O DNPM (Departamento Nacional da Produção Mineral) investigava, em 2003, as transferências de minério de ferro efetuadas pela Companhia Vale do Rio Doce do porto da Ponta da Madeira, no Maranhão, para o porto de Tubarão, no Espírito Santo, e os possíveis destinos que podem ter tido a partir daí.

Apesar de denúncias feitas sobre o constante desvio, para o consumo interno, do minério de Carajás que chega ao litoral maranhense com o destino declarado do mercado internacional, beneficiando-se de toda a política federal de desoneração de impostos concedida às exportações, até agora os técnicos do departamento só conseguiram comprovar um volume muito pequeno de minério irregular: pouco  mais de 6 milhões de toneladas ao longo de 10 anos, entre 1991 e 2002.

Quando as inspeções foram iniciadas, a expectativa era de que a quantidade de minério manipulado pela empresa seria muito maior. A própria CVRD apontava quantidades bem superiores em seus relatórios anuais de lavra. A apuração dos dados prosseguiu em São Luís, devendo se estender até Tubarão, o outro grande porto de embarque da Vale, no Sistema Sul. A pesquisa estava sendo efetuada com base nas notas fiscais de venda, devolução e transferência de minério emitidas pela empresa.

As primeiras denúncias concretas sobre o desvio do minério de ferro de Carajás começaram a ser feitas há algum tempo, mas só se tornaram mais incisivas depois que a Vale colocou em operação a usina de pelotização, uma das maiores do país, ao lado do porto da Ponta da Madeira, em São Luiz.

Embora a fábrica conte com uma unidade de moagem de minério, a Vale continuou a enviar o sinter-feed, que é o minério mais fino, para ser moído no porto de Tubarão, em Vitória, onde funcionam oito fábricas semelhantes à de São Luís. Outra parte do minério era vendida ou transformada em pelotas.

A manutenção desse fluxo começou a intrigar. Normalmente, o sinter-feed saía da Ponta da Madeira com nota fiscal de transferência com valor de custo de aproximadamente 2,5 dólares a tonelada. Em Tubarão, o minério agregava valor em função do beneficiamento da pelotização, passando a ser comercializado entre 30 a 32 dólares por tonelada, tanto na fábrica da própria CVRD quanto das sete outras unidades independentes. Além de servir à agregação em pelotas, o minério é moído e depois vendido.

Ao fazer o levantamento dessas vendas, os técnicos do DNPM investigam se a ex-estatal está deixando de pagar os royalties devidos, estimados em algo em torno de 200 milhões de reais.

(Artigo de 2003)

Mais Médicos: 162 médicos chegaram ao Maranhão.

Desembarcaram na tarde desta terça-feira (29), no Aeroporto Hugo da Cunha Machado, em São Luís, 81 dos 162 médicos estrangeiros da segunda etapa do programa federal Mais Médicos, que vão atender a população em municípios maranhenses.
 
Nesta quarta-feira (30), à tarde, chegará mais um grupo de 81 médicos.

Adicionar legenda
Antes de se dirigirem aos municípios, estes profissionais participarão da Semana de Acolhimento realizada pela Secretaria de Estado da Saúde (SES), com o objetivo de explicar a atual situação da saúde no Maranhão.

O treinamento começa nesta quarta-feira, às 9h, no hotel Praia Mar (Ponta d’Areia) e prossegue até a sexta-feira.

Os médicos chegaram a São Luís em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) e são, em sua maioria, de Cuba. Eles atenderão em 69 cidades maranhenses. Os 162 profissionais se juntarão a outros 37 médicos que já estão atendendo 12 municípios do estado.

Com a segunda etapa, sobe para 199 o número de profissionais do programa Mais Médicos atendendo no Maranhão.

Um dos médicos que integram a segunda etapa do programa é o cubano Jamon Alfredo. 

Com 20 anos de experiência, ele disse estar preparado para enfrentar a realidade local.

Após o treinamento oferecido pela SES, os médicos seguirão para os 69 municípios nos quais serão lotados.

Os médicos desta etapa do programa começarão a atender na próxima semana em cidades como Alcântara, Anajatuba, Buriti Bravo, Arari, entre outros.

Na primeira etapa do programa Mais Médicos, o Maranhão recebeu 37 profissionais provenientes de países como Cuba, Venezuela e México, que foram encaminhados para 12 municípios, a exemplo de Altamira do Maranhão, Arame, Buriticupu, Chapadinha, Coroatá, Monção, Santa Helena, São José de Ribamar e Serrano do Maranhão.


terça-feira, 29 de outubro de 2013

Sociologia - Livro A Marcha para o Oeste, narra a saga dos Irmãos Villas Bôas.



Foto do Livro.

Este é um dos melhores livros publicados nos últimos anos. Trata-se de um registro fiel ou quase das peripécias dos irmãos Villas Bôas durante o tempo em que realizaram trabalho de campo para a Fundação Brasil Central. Uma narrativa épica que revela em detalhes como uma das regiões mais importantes do Brasil na atualidade foi desbravada.

Até a página 166 os principais personagens da narrativa são os sertanejos que, superando todas as dificuldades fazem a expedição avançar. Eles trabalharam com obstinação e agindo de maneira surpreendentemente adequada às vicissitudes impostas pela natureza, pelos índios xavantes e até mesmo pela incompetência administrativa que deixou a vanguarda sem comida várias vezes.

O outro personagem da narrativa nesta primeira parte do livro é a natureza, que forneceu não só obstáculos (rios, alagados, chuvaradas, etc...) e insetos nocivos e pestilentos, mas também auxílio indispensável (animais, frutas, peixes, aves, mel e material para a construção dos abrigos temporários).

A expressão natural dos sertanejos que participaram da expedição foi registrada com riqueza de detalhes. As cantorias, ladainhas, casos, crendices, repentes e outras modas improvisadas de viola foram transcritas pelos autores. As histórias verdadeiras ou quase, contadas pelos peões que ajudaram a levar adiante a expedição  Roncador-Xingu, foram reproduzidas com fidelidade.

O livro é um verdadeiro manancial de informações sobre a terra incógnita e sobre o homem comum brasileiro que fez o Brasil avançar para as profundezas do nosso território. Há algumas referências literárias (Monteiro Lobato, Rui Barbosa) e científicas (Humboldt), mas o que predomina na obra são as citações que dizem respeito à cultura dos sertanejos da expedição. Nesta primeira parte do livro os índios somente aparecem como elementos ocultos, que tentam desencorajar a expedição infernizando as noites dos expedicionários ou tentando interrompê-la colocando fogo na mata, nas picadas ou nos acampamentos.

Até a página 166 o livro pode ser comparado a obra “Os Sertões”. Mas há uma diferença fundamental entre estes dois livros. Ao contrário de Euclides da Cunha, os irmãos Villas Bôas conviveram intensamente com os sertanejos e registraram sua peculiar forma de expressão. O autor de “Os Sertões” registrou os fatos da guerra de Canudos pela lente dos seus preconceitos, dos quais foi se libertando lentamente à medida que sua narrativa avançava.

A segunda parte do livro, que vai da página 167 até o final tem por objeto a natureza indômita e exuberante do Brasil Central, bem como os índios e seus costumes. Nesta segunda parte da obra, os Villas Bôas registraram os primeiros contatos que fizeram com várias tribos que habitavam as regiões percorridas pela expedição Roncador Xingu. Algumas destas tribos eram totalmente desconhecidas dos brasileiros, outras eram conhecidas apenas em razão de contatos eventuais e violentos.

A obra faz um inventario mais ou menos detalhado dos usos e costumes de várias etnias indígenas contatadas pela expedição. As línguas utilizadas por várias destas tribos eram então desconhecidas ou pouco estudadas, fato que dificultou bastante a comunicação entre a expedição e os nativos. Durante estes contatos, os Villas Bôas recolheram uma quantidade imensa de artefatos que foram levados ao Museu do Índio no Rio de Janeiro (o mesmo que um certo governador tentou destruir recentemente).

O relacionamento entre os membros da expedição e os indígenas foi, na maioria das vezes, muito pacífico de parte a parte, mas a expedição chegou a correr riscos em algumas oportunidades. É nesta parte do livro que foram registradas as animosidades que existiam entre tribos rivais e o trabalho da expedição para amenizá-las. Também é nesta parte do livro que foram registrados, do ponto de vista dos Villas Bôas, o trabalho dos cientistas brasileiros e dos jornalistas que acompanharam a expedição Roncador-Xingu com o intuito de estudar os índios e seu habitat.

Lamentavelmente a expedição acarretou uma imensa mortandade de animais silvestres, muitos dos quais tiveram que ser abatidos para servir de alimento. O Brasil Central foi desbravado à custa do sangue de uma infinidade de veados, caititus, queixadas, tatus, pacas, macacos, capivaras e onças. A quantidade de onças que foram mortas pelos Villas Bôas e pelos seus auxiliares é assustadora. Muitas delas, por falta de outro alimento, foram comidas apesar da carne de onça não ser muito saborosa.

Em duas oportunidades o livro narra com requinte de detalhes estes encontros que resultaram nas mortes das onças, numa delas os autores lamentam o fato como que adotando o ponto de vista do infeliz felino. Também é bastante poético o caso do burro de tropa que virou comida de onça porque entrou pelo mato adentro correndo ao encontro do animal feroz que rugia num grotão próximo de uma pista de pouso.

O livro é uma mina de ouro para quem estiver interessado na história da aviação no  Brasil. A obra narra as dificuldades encontradas pelos Villas Bôas para localizar e escolher locais adequados para os campos de aviação que permitiriam à expedição ser abastecida pelos aviões. Registra de maneira precisa o trabalhoso processo de desmatamento e preparação das pistas, bem como a abertura de novas rotas aéreas. Os acidentes mais ou menos graves com as aeronaves utilizadas pela Fundação Brasil Central também foram narrados.

A história do jornalismo no Brasil também entrou nesta obra de diversas formas. A expedição Roncador-Xingu foi acompanhada por jornalistas em algumas oportunidades. Durante muito tempo os Villas Bôas foram as únicas fontes jornalísticas da expedição, fornecendo aos jornalistas pelo rádio informações sobre a mesma para que as novidades fossem contadas ao 'respeitável público' brasileiro. A obra também reproduz alguns textos jornalísticos que os próprios Villas Bôas escreveram e que foram publicados em jornais na época.

O livro narra muitas coisas marcantes ocorridas durante os contatos que os Villas Bôas travaram com os índios. Citarei aqui apenas três. 

O primeiro diz respeito à alegria e surpresa dos índios, que tinham uma dificuldade imensa para fazer fogo, ao ver um membro da expedição acender uma fogueira usando uma caixa de fósforos. O que para nós era e ainda é algo bastante banal se transforma em algo espetacular para quem nunca havia tido contato com aquilo. 

A segunda foi a forma como os índios reagiram a uma eclipse do sol: os homens atirando flechas acesas para o céu tentando acendê-lo novamente, as mulheres e crianças se escondendo chorosas daquele evento pouco compreendido pelos indígenas. 

O terceiro refere-se ao caráter humanitário da economia indígena: "... moitará é uma prática importante da cultura xinguana. É um comércio todo ele na base da troca. E o valor dos objetos negociados é calculado pelo tempo de trabalho despendido em cada um. Cada tribo tem sua especialização em determinada atividade." (p. 332)

Um pouco mais adiante, depois de terem detalhado o que cada tribo fabricava e comercializava no moitará, os Villas Bôas relatam um impressionante exemplo de "economia solidária" e de civilização. O exemplo é tão bom, belo e justo, que deveria servir de exemplo para nós, que nos dizemos civilizados e que no entanto praticamos variedades cada vez mais irracionais e destrutivas de um capitalismo descrito pela esquerda como "selvagem" (muito embora a expressão "capitalismo selvagem" seja uma contradição em termos se levarmos em conta o exemplo de "economia solidária" e altamente civilizada dada pelos selvagens). Relatam os Villas Boas que: "Ontem assistimos aqui no pátio do posto a uma troca simbólica entre duas aldeias - kamaiurá e trumai.

Andavam os trumai numa série crise de alimentação. Nas suas roças, ainda novas, não havia uma só raiz de mandioca.

Na troca-comércio os dois grupos se colocaram um em frente ao outro, e entre eles ficou um terreirinho de um a dois metros quadrados, previamente varrido. 

O chefe trumai, nessa ocasião, expôs aos presentes a situação de sua aldeia com respeito à alimentação. Dito isto, colocou no centro do terreirinho, à guisa de troca, uma bolinha de massa de pequi (tamanho de um grão de milho) e pediu em troca massa de mandioca. 

Tamacu, o cacique kamaiurá, incontinente a recolheu, dela tirou uma partícula minúscula e a levou à boca, oferecendo-a em seguida aos de sua aldeia. Diversos chefes de casa avançaram e imitaram o cacique. Momentos depois, as mulheres daqueles que provaram do pequi colocaram no mesmo lugar - no terreirinho - imensas cestas de pães secos de mandioca. Algumas centenas de quilos.

Sem menos esperar, assistimos a uma belíssima demonstração de solidariedade, e há que levar em conta ainda que esses índios durante anos foram figadais inimigos." (A MARCHA PARA O OESTE, Orlando Villas Bôas e Cláudio Villas Bôas, Companhia das Letras, 2012, p. 333/334).

Citei este episódio com detalhes porque ele nos faz pensar. Pouco desta civilidade e solidariedade indígenas são encontradas hoje em dia no Brasil. Sob o comando dos governos Lula/Dilma o Estado brasileiro tentou recriar e modernizar experiências como as relatadas pelos irmãos Villas Bôas com os programas Bolsa Família (renda para quem não a tem) e o Prouni (educação universitária pública para quem não a teria). Os dois programas,  entretanto, tem sofrido intensa oposição de alguns setores que se consideram "mais civilizados" da sociedade brasileira. 

As palavras "civilidade" e "civilização", como podemos ver são bastante ambíguas. Ambas podem ser encontradas entre indígenas ágrafos e muito pobres quando da expedição Roncador-Xingu (trumai e kamaiurá). Entre as camadas mais cultas e ricas da sociedade brasileira ainda hoje predominam a mais abjeta barbárie. Falta-lhes a humildade para aprender com os indígenas brasileiros a capacidade de respeitar os outros seres humanos, inclusive aqueles que são ou que foram considerados inimigos.

A MARCHA PARA O OESTE é um livro maravilhoso, mas tem um defeito muito grande. Ele não tem um índice detalhado que permita ao leitor ir direto às páginas em que pessoas, coisas, animais, acidentes de terreno, episódios, etc... foram referidos pelos autores. Em se tratando de um livro volumoso e que cobre uma gama imensa de assuntos um bom índice seria indispensável, especialmente para quem tiver que utilizá-lo para pesquisar assuntos específicos. Esperamos que para a próxima edição esta falha seja corrigida.

AVC pode ser prevenido com hábitos saudáveis, lembram especialistas.

Thais Leitão - Repórter da Agência Brasil.

Brasília - Apontado como uma das principais causas de internação e morte no país, o acidente vascular cerebral (AVC) pode ser prevenido, em boa parte dos casos, com hábitos saudáveis no decorrer da vida, como a prática moderada de exercícios. 

No Dia Mundial de Combate ao AVC, lembrado hoje (29), especialistas alertam que a busca por atendimento médico de emergência logo após o aparecimento dos primeiros sintomas é fundamental. O atendimento rápido garante que a aplicação dos medicamentos ocorra antes de quatro horas e meia, período considerado chave para reduzir a mortalidade.

De acordo com a Organização Mundial de AVC, a doença é responsável por 6 milhões de mortes a cada ano. Dados do Ministério da Saúde mostram que entre 2000 e 2010, a mortalidade por acidente vascular cerebral no país caiu 32% na faixa etária até 70 anos, que concentra as mortes evitáveis. Apesar disso, só em 2010, mais de 33 mil pessoas morreram em decorrência de AVC nessa faixa etária.

Membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia e presidente da Sociedade de Neurocirurgia do Rio de Janeiro, o médico Eduardo Barreto acredita que o desconhecimento da população sobre os sintomas é uma dos maiores dificuldades no combate ao AVC.

"Um dos maiores problemas que percebemos é o desconhecimento dos sintomas, que servem como sinal de alerta e, se fossem identificados adequadamente, poderiam evitar verdadeiras catástrofes provocadas pelo AVC", disse ele, que citou como principais sintomas a fraqueza ou dormência súbita em um lado do corpo, dificuldade para falar, entender o interlocutor ou enxergar, tontura repentina e dor de cabeça muito forte sem motivo aparente.  "Assim que algum dessas situações for percebida, é preciso buscar imediatamente assistência médica de urgência", acrescentou.

O especialista ressaltou que quando o atendimento ocorre em tempo hábil é possível submeter o paciente a exames para determinar o tipo de AVC e a área do cérebro atingida e fazer os procedimentos necessários, como a injeção de medicamentos que dissolvem o coágulo. Ele enfatizou que, com isso, as possibilidades de recuperação são muito maiores. 

Barreto destacou que, sem o diagnóstico precoce, o AVC pode provocar, com mais frequência, o comprometimento irreversível do cérebro, causando perda da noção das relações - capacidade de o paciente identificar se uma pessoa é sua mãe, esposa ou filha, por exemplo - sequelas motoras, como paralisia de pernas e braços e perdas de linguagem. 

Ele acrescentou que os fatores que aumentam as chances de ocorrer um AVC são a hipertensão, o diabetes, fumo, álcool, a alta taxa de colesterol e o sedentarismo. A doença atinge principalmente idosos com mais de 60 anos de idade, porém há registros de ocorrências em jovens e recém-nascidos.

O AVC é causado pela interrupção brusca do fluxo sanguíneo em uma artéria cerebral provocada por um coágulo, denominado isquêmico, ou o rompimento de um vaso sanguíneo provocando sangramento no cérebro, chamado hemorrágico. O AVC isquêmico é o mais comum, representando mais de 80% dos casos da doença.

A Organização Mundial de AVC recomenda, para saber se uma pessoa está tendo a doença, primeiramente pedir que ela sorria e verificar se o sorriso está torto. Em seguida, observar se ela consegue levantar os dois braços. Outro passo é notar se há alguma diferença na fala, se está arrastada ou enrolada. Caso seja identificado algum desses sinais, deve-se procurar imediatamente um serviço de saúde.

Edição: Graça Adjuto. Todo o conteúdo deste site está publicado sob a Licença Creative Commons Atribuição 3.0 Brasil. Para reproduzir as matérias é necessário apenas dar crédito à Agência Brasil.

Link:  http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-10-29/avc-pode-ser-prevenido-com-habitos-saudaveis-lembram-especialistas

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Desopilando - O Mundo ficou mais careta sem Gabriela, uma senhora puta.

Roldão Arruda
Crédito : Reprodução
Postado por Daniela Novais - 22/10/2013.


Por Roldão Arruda - Quando uma colega de redação me falou de uma prostituta que estava tentando organizar as colegas de trabalho para defender seus direitos, torci o nariz, não botei fé. 

Achei até que era vontade de aparecer. Afinal, como é que alguém ia organizar um grupo tão marginalizado? Tão lúmpen – devo ter dito, com as minhas fumaças esquerdistas de então.

Isso ocorreu por volta de 1980. Nos anos seguintes iria compreender que meu conceito de organização era limitado e que Gabriela Leite era uma puta valorosa. O objetivo de seu trabalho era a promoção dos direitos civis.

Ao longo de quase três décadas ela defendeu que a saúde é um direito de todos, trabalhou na prevenção da Aids, estimulou o sentimento de dignidade no meio de um grupo que a sociedade trata como se não existisse, lutou pela regulamentação de sua atividade profissional.

Lembrei dessas coisas quando, no dia 10, quinta-feira, soube que ela tinha morrido de câncer, aos 62 anos. Também lembrei que, mesmo aposentada e afastada da rua, preferia ser chamada de puta – daí o fato de usar a palavra no título desse post em sua homenagem. Dizia que era pra combater o preconceito que carrega.

Li que estudou ciências sociais na Universidade de São Paulo (USP). No final da década de 1960, na ditadura militar, decidiu abandonar a escola e o emprego que tinha num escritório para se tornar prostituta. Trabalhou na Boca do Lixo, em São Paulo, em Belo Horizonte e no Rio.

Em 1987 participou da organização do primeiro encontro nacional de prostitutas. Defendeu-se ali o reconhecimento da atividade como profissão.

Em 1992, fundou a ONG Davida, que promove estudos e debates sobre questões que envolvem interesses das prostitutas. É bom notar que Gabriela nunca se propôs a tirar essas mulheres da rua. O que defendia, como já lembrei, era a promoção da cidadania. “A prostituição é um direito sexual”, dizia.

“De mais a mais, as pessoas se esquecem de que as prostitutas estão lá no seu trabalho trabalhando porque tem alguém que vai lá procurar elas. Então existe essa demanda, existe na sociedade”, afirmou ao ser entrevistada no programa Roda Viva, da TV Cultura, em 2009. “Para mim a grande história é sair de debaixo do tapete, se mostrar e dizer: olha, eu sou uma delas e estou aqui, sou uma mulher inteirona, como qualquer outra mulher.”

Em 2002, finalmente, o Ministério do Trabalho reconheceu a prostituição como atividade profissional. A medida abriu caminho para o recolhimento de contribuições previdenciárias e o direito à aposentadoria.

Em 2005, Gabriela criou a grife Daspu, ironizando a Daslu, a meca dos artigos de luxo do País na época. Logo depois lançou o livro Filha, Mãe, Avó e Puta: A História da Mulher que Decidiu Ser Prostituta.

Na primeira página, apresentava suas três paixões: “Adoro homens, gosto de estar com eles, e não conheço homem feio. Outra coisa que adoro é falar o que penso, sem papas na língua. Quem ler este livro vai perceber isso. Existe uma terceira coisa que eu prezo muito, talvez a que mais prezo, aliás, que é a liberdade, liberdade de pensar diferente, de se vestir diferente, de se comportar diferente”.

Também contava no livro que era filha de uma dona de casa conservadora e que seu pai trabalhava em casas de jogo, recolhendo apostas. Aproveitou para falar às colegas de profissão sobre maneiras de se prevenirem contra doenças.

Participou das eleições de 2010 como candidata a deputada federal pelo PV do Rio. Não se elegeu, mas  aproveitou a campanha para defender o fortalecimento do Sistema Único de Saúde, a união civil homossexual, o direito ao aborto e a regulamentação da prostituição.

Mais recentemente ajudou o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) na redação do projeto de lei que propõe o regime de aposentadoria especial para profissionais do sexo, permitindo que se aposentem após 25 anos de trabalho. No mesmo texto também está proposta a legalização das casas de prostituição, com o intuito de evitar a super exploração das mulheres.

O projeto, que leva o nome dela, está parado no Congresso. É combatido por grupos evangélicos e criticado por movimentos feministas. Fala-se que representa a institucionalização do patriarcado.

Na justificativa do projeto, o deputado Jean Wyllys escreveu que “atualmente os trabalhadores do sexo sujeitam-se a condições de trabalho aviltantes e sofrem com o envelhecimento precoce”.

Sonia Corrêa, fundadora da organização feminista brasileira SOS Corpo – Instituto Feminista para Democracia, pesquisadora da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) e integrante da coordenação da Sexuality Policy Watch, conheceu e desenvolveu vários trabalhos ao lado de Gabriela. Na semana passada pedi a ela que me dissesse algo pessoal sobre essa relação.

Sonia contou o seguinte: “Gabriela primeiro mexeu comigo de longe quando, por volta de 1979 ou 1980, li sua entrevista dizendo que as putas tinham direito a voz, ao trabalho digno, a ir e vir: direito a ter direitos. Depois me ensinou de perto em vários momentos. 

Lembro bem da primeira vez que a vi num debate sobre sexualidade no Recife: uma mesa em que estávamos eu, ela, Herbert Daniel. Esse era o tempo em que cantávamos Vai Passar (Chico Buarque). E depois continuamos passando, apesar disso, daquilo, daquilo outro. Apesar da “coisa”, da pedra no meio do caminho. Passamos ontem, passamos hoje e vamos passando. Vamos sentir muito a falta dela.”

Sonia finalizou dizendo que “o mundo ficou mais pobre, mais careta, mais covarde, mais cinza” sem Gabriela. Achei tão merecido e bonito que usei no título do post.

*Roldão Arruda é jornalista e repórter da editoria de política do Estadão. Dedica-se sobretudo à cobertura de temas relacionados a direitos humanos e questões de movimentos sociais. Já trabalhou nos jornais Movimento e Folha de S. Paulo e na revista Veja. É autor do livro 'Dias de Ira'.