terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Comissão executiva da Associação Turca de Ciência Política encaminha nota pedindo apoio e solidariedade à comunidade internacional de ciência política.

da redação ABCP
Na manhã da ultima quinta-feira (21), a Comissão Executiva da Associação Turca de Ciência Política (TPSA) encaminhou uma nota por e-mail, solicitando apoio e participação em peso no próximo Congresso Mundial de Ciência Política. A nota cita a recente situação onde 21 professores universitários foram detidos pela polícia após assinarem uma carta pedindo o fim das operações do governo de Erdogan contra rebeldes curdos no sudeste do país, conforme noticiou O Globo. Ainda segundo a nota, não cabe à associação julgar o conteúdo da petição, uma vez que ela acolhe membros com diversas visões políticas e ideológicas, e que é preciso ter certeza da garantia de liberdade de expressão.
A Turquia vem enfrentando desafios políticos nos últimos meses, em especial pelas consequências geradas na guerra na Síria, país com o qual faz fronteira. Nesta semana, a Associação Internacional de Ciência Política (IPSA) também emitiu um comunicado a respeito dos ataques terroristas ocorridos há cerca de dez dias em Istambul, a maior cidade do país.
Confira a íntegra da nota traduzida para o português:
Prezados colegas,
Como todos sabem, o cenário político doméstico e internacional da Turquia vem tendo grandes reviravoltas quase todos os dias, às vezes com consequências alarmantes. Alguns fatos recentes, se não forem revertidos, podem produzir efeitos inaceitáveis para a carreira de acadêmicos, incluindo cientistas políticos de nosso país.
Na última semana, houve pedidos das autoridades para ações legais e administrativas contra os signatários de uma petição fortemente crítica às políticas do governo no sudeste do país. Alguns acadêmicos que assinaram esta petição foram rapidamente levados à interrogatório, mas todos foram liberados após uma investigação do ministério público.
Como uma organização profissional cujos membros simpatizam com múltiplos partidos políticos, ideologias e preferências políticas, sentimos que não há propósito em julgar o conteúdo da petição. No entanto, queremos ter a certeza de que nossos colegas gozam de plena liberdade de expressão, livre do medo do assédio jurídico e administrativo. Isto, naturalmente, é parte de uma questão muito mais ampla que pertence à própria natureza da democracia que concede a liberdade de expressão a todos os cidadãos.
É imperativo que, nestes tempos altamente sensíveis e terríveis, comunidades da ciência política pelo mundo apoiem a Associação Turca de Ciência Política (TPSA) e mostrem sua solidariedade participando em peso no próximo Congresso Mundial de Ciência Política. Este é um congresso organizado com esforços voluntários dos cientistas políticos da Turquia e não está associado ao governo. Qualquer ação, como um boicote, será visto como falta de apoio da comunidade internacional; e provavelmente contribuiria com o isolamento e a marginalização dos cientistas políticos turcos em sua própria sociedade.
Como comitê eleito da TPSA, novamente nós convidamos a todos os cientistas políticos e pesquisadores ao redor do mundo a participarem do 24º Congresso Mundial de Ciência Política em Istambul.
Turkish Political Science Association Executive Board.

Entrevista especial com Azelene Kaingáng: Indios. O direito de ir e vir cerceado, o preconceito e à violência secular.

25.01.2016.
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Azelene Kaingáng
Foto:www.unochapeco.edu.br 
Entrevista especial com Azelene Kaingáng: O direito de ir e vir cerceado: migração para as cidades expõe indígenas ao preconceito e à violência secular. 

"Uma criança indígena teve que ser assassinada de forma brutal, como foi o Vitor, para que pudéssemos fazer com que as autoridades parassem e conversassem conosco sobre como esses indígenas são recebidos quando chegam ao espaço urbano", alerta a socióloga indígena.

Por Leslie Chaves - Instituto Humanitas Unisinos (IHU On Line).

No penúltimo dia de 2015 o menino Kaingáng Vitor Pinto foi assassinado, aos dois anos de idade, enquanto era amamentado pela mãe. O crime que aconteceu no dia 30 de dezembro na Rodoviária de Imbituba, Santa Catarina, marcou o encerramento do ano pela violência contra a vida de uma criança indefesa, mas também trouxe à tona as violências cometidas contra os povos indígenas no Brasil desde 1500, nos levando de volta ao século XV. 

Também não mudaram o choque cultural e o preconceito quanto aos índios, os quais agora são vistos como intrusos em um país que sempre foi deles. Hoje vivem em situação de extrema pobreza e o meio que encontram para sobreviver é vender artesanato, fruto de sua cultura, nas cidades.

Conforme ressalta na entrevista a seguir, concedida por telefone à IHU On-Line, a socióloga indígena e servidora da Fundação Nacional do Índio - FUNAIAzelene Kaingáng, "esse acontecimento trágico reafirma a necessidade de debatermos sobre essa migração, ainda que temporária, das famílias indígenas para as cidades. Principalmente em época de temporada de veraneio, tal migração se dá de uma forma muito mais intensa. Os indígenas do ParanáSanta Catarina e Rio Grande do Sulcostumam migrar por 60 e até 90 dias, muitas vezes, ficando expostos a diversos riscos".

De acordo com a socióloga, são insuficientes os investimentos direcionados aos povos indígenas no país. "Na verdade somos muito carentes de políticas públicas dentro das comunidades indígenas e a tendência é piorar cada vez mais. Os recursos estão diminuindo progressivamente e o orçamento da União não contempla realmente a questão indígena da forma que deveria. O Brasil se diz multiétnico e pluricultural em fóruns onde isso é muito aplaudido, no entanto, são pouquíssimas as políticas que de fato refletem e dialogam com essa diversidade, entre elas a dos povos indígenas, que sobrevivem como podem nesse contexto de escassez", ressalta.

Para a indígena e socióloga, que através de seu trabalho na FUNAI acompanha de perto a situação desses povos, a herança cultural e o modo de viver das diversas etnias indígenas presentes no país devem ser respeitados, porém as circunstâncias em que vivem atualmente, em territórios reduzidose com poucos meios de sobrevivência, também têm que ser consideradas na formulação de políticas públicas para esses grupos. "Não adianta as pessoas quererem nos deixar em uma redoma, como animais de zoológico, se precisamos nos alimentar, sobreviver e buscar sustento para os nossos filhos. 

Precisamos produzir e para que isso seja possível são necessários projetos programas que gerem produção alimentar e o desenvolvimento das comunidades indígenas para que elas possam sair dessa situação de extrema pobreza", aponta.

Azelene Kaingáng nasceu na terra indígena Carreteiro, no Rio Grande do Sul, é graduada em Sociologia pela Universidade Católica do Paraná - PUC - PR, e mestre em Políticas Sociais e Dinâmicas Regionais pela Universidade de Chapecó - Unochapecó - SC. Desde 1994, é servidora da Fundação Nacional do Índio - FUNAI, onde é coordenadora geral de Defesa dos Direitos Indígenas. Também é fundadora e membro da Comissão Nacional das Mulheres Indígenas e do Warã Instituto Indígena Brasileiro. Em 2006, ganhou o Prêmio Nacional dos Direitos Humanos da Presidência da República e, em 2010, recebeu a Comenda da Ordem do Mérito Cultural, por sua luta pelos direitos dos índios brasileiros.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - O que o assassinato do menino indígena Vitor pode revelar sobre como os indígenas são vistos e tratados pelo Brasil?

Azelene Kaingáng - O assassinato do Vitor nos faz acordar para uma realidade que as autoridades têm muita resistência em tratar, que é essa migração temporária dos indígenas para as cidades para a comercialização de artesanato ou outros afazeres. Então, se desperta para uma questão que precisa ser discutida e ser dada a importância que ela merece, pois temos encontrado muita dificuldade de fazer esse diálogo com as autoridades.

As pessoas ainda têm muito preconceito quanto à presença de indígenas nas cidades e essa morte traz à tona essa questão. Uma criança indígena teve que ser assassinada de forma brutal, como foi o Vitor, para que pudéssemos fazer com que as autoridades parassem e conversassem conosco sobre como esses indígenas são recebidos quando chegam ao espaço urbano. Geralmente, quando eles chegam à cidade, logo recebemos uma série de ligações telefônicas nos avisando que há índios nas praças, ou embaixo de viadutos. Isso não acontece com qualquer outro grupo que esteja acampado, ou com pessoas em situação de rua nesses lugares. Aí se revela o preconceito.

Assim, esse acontecimento trágico reafirma a necessidade de debatermos sobre essa migração, ainda que temporária, das famílias indígenas para as cidades. Principalmente em época de temporada de veraneio, essa migração se dá de uma forma muito mais intensa. Os indígenas do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul costumam fazer essa migração por 60 e até 90 dias muitas vezes, ficando expostos a diversos riscos.

Como indígena e militante dos direitos indígenas, eu espero que pelo menos essa morte sirva paradespertar as autoridades porque não é possível continuar essa situação, pois o tipo de violência que os indígenas sofrem cotidianamente, quando precisam acessar o ambiente urbano, é inacreditável.

IHU On-Line - Como está o caso do assassinato do menino Vitor? Houve algum encaminhamento? Foi dado algum apoio à família?

Azelene Kaingáng - Sim, foi dado todo apoio à família. No dia do assassinato gestores da Fundação Nacional do Índio - FUNAI foram acompanhar de perto o caso, também conduziram o processo de liberação e traslado do corpo do menino, pois os pais não tinham condições de fazer isso, estavam muito abalados. A família continua sendo assistida com atendimento médico, fornecimento de cestas básicas, enfim, o que eles têm precisado para que consigam, pelo menos neste primeiro momento, ter forças até para contribuir com as investigações. O caso ainda está com a polícia de Imbituba - SC, que está coletando provas e depoimentos, e depois será enviado para o Judiciário.

Já temos a informação triste de que foi um crime premeditado, rigorosamente pensado. Vimos os vídeos gravados pelas câmeras de segurança da rodoviária, que estão exibidos nas redes sociais e também estão sendo usados pela polícia, antes desse material ser divulgado na mídia, e ainda tivemos acesso ao depoimento do acusado. Também, eu acompanhei pessoalmente os pais da criança deporem porque eu falo Kaingáng e eles falam português ainda com certa dificuldade. Queríamos ter certeza de que aquilo que eles falassem fosse integralmente colocado no depoimento prestado.

Está posto e revelado que foi um crime com objetivos torpes. Também verificamos o histórico do assassino, que é uma pessoa problemática, que já tentou tirar a vida dos pais, que adora a ritos satânicos.

Assim, é lamentável que uma pessoa com esse comportamento possa vir a ficar solta, porque ela não é uma ameaça só para os índios, ela ameaça a toda a sociedade. Esperamos realmente que a justiça seja feita com rigor.

Esse rapaz que assassinou Vitor, neste momento, está em prisão temporária, mas a polícia está tentando convertê-la em prisão preventiva, que tem um período mais longo. Então ele está preso, confessou o crime e alegou que o cometeu por motivos religiosos, se é que se pode enquadrar como religiosos os motivos dados, pois disse que matou a criança porque queria provocar uma grande comoção e receber notoriedade. Assim, é possível perceber que uma pessoa com esse tipo de comportamento não pode ficar livre.

IHU On-Line - De que forma a sra. avalia a decisão da polícia em desconsiderar o assassinato como um crime étnico? Como a família e a comunidade indígena entendem essa questão?

Azelene Kaingáng - Está claro para todo mundo que um crime como esse é um atentado contra vida, mas não deixa de ter esse viés étnico. Digo isso porque no vídeo fica claro que havia uma outra criança não-indígena brincando na rodoviária e o criminoso passa quase por cima desta criança e escolhe justamente a criança indígena para matar. Se não havia essa questão étnica, por que esse homem fez isso? Por que se dirigiu diretamente à criança indígena? Assim, vejo uma motivação racial, preconceituosa que comprova que o Vitor foi morto também porque era uma criança indígena. Se não fosse assim, o criminoso teria matado qualquer outra criança que estivesse no terminal rodoviário.

Os pais da criança e a comunidade indígena da qual essa família faz parte acreditam que o assassinato de Vitor foi uma tentativa de espantá-los das cidades. A maioria desse grupo migra para as cidades para comercializar o artesanato que produz e tem claro que a população urbana não gosta da presença indígena nesse espaço.

IHU On-Line - Que tipo de políticas públicas poderia garantir a segurança às populações indígenas que precisam se sustentar da venda do artesanato?

Azelene Kaingáng - Na verdade somos muito carentes de políticas públicas dentro das comunidades indígenas e a tendência é piorar cada vez mais. Os recursos estão diminuindo progressivamente e o orçamento da União não contempla realmente a questão indígena da forma que deveria. O Brasil se dizmultiétnico e pluricultural em fóruns onde isso é muito aplaudido, no entanto, são pouquíssimas as políticas que de fato refletem e dialogam com essa diversidade, entre elas a dos povos indígenas, que sobrevivem como podem nesse contexto de escassez.

A venda de artesanato não é um hobby e antes de ser um direito é algo necessário para a subsistênciados indígenas. Eles têm o direito de ir e vir e de vender seus produtos, mas com certeza se não tivessem a necessidade de fazer isso, optariam por não se expor aos riscos da cidade, como ter um filho assassinado, ou ser espancado nas ruas, como aconteceu com um indígena recentemente em Belo Horizonte - MG. Os índios vão para as cidades vender o artesanato porque precisam de uma renda para sustentar os filhos e a família, e as terras indígenas estão muito carentes de programas, projetos e políticas que propiciem a sustentabilidade com dignidade para as comunidades.

Os governos estaduais acham que as comunidades indígenas não são responsabilidade deles, muito menos as prefeituras. Equivocadamente as autoridades pensam que se trata de uma incumbência apenas do governo federal, o que é um grande erro, porque a questão indígena é uma responsabilidade de todo o Estado brasileiro, que compreende as instâncias dos governos dos Estados, dos municípios e, é claro, do país.

A chegada dos indígenas nas cidades poderia ser vista com mais atenção pelas autoridades. Precisaria haver um lugar onde eles pudessem chegar com a família em segurança e onde também fosse possível deixarem as crianças enquanto eles estão nas ruas comercializando o artesanato. Uma coisa é certa, eles não vão deixar de levar os filhos junto nessa migração, porque nós indígenas somos assim. Quando saímos levamos os filhos, os nossos idosos, enfim, toda a família, e isso não vai deixar de acontecer. Então, o que tem que ser pensado é de que forma as cidades deveriam receber esses grupos.

IHU On-Line - Entre as etnias indígenas presentes no Brasil, qual é a situação do povo Kaingáng?

Azelene Kaingáng - Nós somos hoje em torno de 40 mil pessoas de origem Kaingáng e a situação dos indígenas na região Sul, incluindo os Guarani e os Xetá, é de extrema pobreza. Nossos territórios são muito reduzidos, posso dizer que eles representam o fundo do quintal dos territórios indígenas da Amazônia. São áreas super pequenas, espremidas entre propriedades rurais e cidades, onde a disputa territorial é acirradíssima. Além disso, não existem políticas de produção alimentar. A nossa alimentação e economia são baseadas no plantio de grãos e não mais na coleta e na pesca, pois não há mais o que coletar e nem pescar, uma vez que as águas já estão contaminadas, alguns rios já secaram, não há mais florestas e matas.

Diante desse contexto, a situação do povo Kaingáng, que é a terceira etnia indígena mais numerosa do país, chegou à extrema pobreza, sobrevivendo do fornecimento de pouquíssimas cestas básicas distribuídas pela Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB, da inserção de alguns indígenas em programas sociais do governo, como o Bolsa Família, e ainda da aposentadoria que às vezes se consegue para os mais velhos. Dentre essas formas de buscar sustento, está a comercialização de artesanato.

IHU On-Line - Como está a situação dos indígenas especificamente na região Sul, local onde ocorreu o assassinato? Houve algum progresso na demarcação de terras na região?

Azelene Kaingáng - Não houve avanços na demarcação de terras. Essa é uma questão muito polêmica, pois quase todos os processos de demarcação de terras, incluindo os da região Sul, estãojudicializados. Conforme eu mencionei antes, é uma disputa acirradíssima com agricultores, pequenos produtores etc. Nós já perdemos diversos processos em função disso.

Então, nada mudou. A gente espera que as autoridades se sensibilizem com esse crime, que nós não vamos deixar cair no esquecimento, para que as questões relacionadas aos direitos indígenas evoluam de alguma forma.

IHU On-Line - Quais são as pautas mais urgentes da questão indígena que devem entrar em debate neste ano?

Azelene Kaingáng - Diversos temas devem entrar em debate, mas o destaque será a Proposta de Emenda Constitucional número 215. A PEC 215 foi proposta principalmente por grupos ligados aos agricultores, eu particularmente como técnica indigenista discordo muito do texto desta proposta e lamentavelmente acho que ela será aprovada. Infelizmente não temos parlamentares indígenas no Brasil, então defendo que nós devemos dialogar com a comissão especial que está à frente desse processo para buscarmos minimizar os impactos para os direitos indígenas, as perdas que poderemos ter com a aprovação dessa PEC e tentarmos sensibilizar os políticos para que eles também olhem para os direitos desses povos.

Nós sabemos que os agricultores também têm direitos e eu enquanto militante dos Direitos Humanosreconheço isso. Os direitos dos agricultores são tão importantes quanto os dos povos indígenas, mas é interessante termos em vista que um direito não inviabiliza o outro. Acho que o desafio é justamente proporcionar uma convivência pacífica entre indígenas e agricultores.

Falando especificamente da região Sul, sabemos que já houve mortes por conta da disputa territorial. Então, me preocupa ainda mais a Proposta de Emenda Constitucional número 215. O texto é bastante prejudicial e precisamos dialogar no sentido de modificá-lo para minimizar as perdas para os indígenas e assegurar também os direitos dos agricultores.

Outra questão que também deve ser debatida em 2016 é a violência contra os povos indígenas, pois estamos vivendo uma onda assustadora de hostilidade. Um cacique relatou que tem sentido medo de sair na rua porque percebe que, quando é identificado como indígena, é discriminado e até xingado só pelo fato de ser indígena. Tivemos o assassinato de Vitor e o de outro indígena que foi espancado até a morte em Belo Horizonte, além de tantos outros casos que não são divulgados pela mídia. Por isso, certamente a violência será uma questão muito discutida nesse ano que se inicia.

Nós os Kaingáng, e também as demais etnias presentes na Região Sul, temos uma grande expectativa sobre como ficará a nossa sobrevivência e o desenvolvimento das comunidades indígenas. É extremamente necessário que as autoridades e instituições pensem uma forma de desenvolvimento econômico para os grupos da região Sul. Temos terras pequenas e precisamos produzir comida, então temos que usar tecnologia

Não adianta as pessoas quererem nos deixar em uma redoma, como animais de zoológico, se precisamos nos alimentar, sobreviver e buscar sustento para os nossos filhos. Precisamos produzir e para que isso seja possível são necessários projetos e programas que gerem produção alimentar e o desenvolvimento das comunidades para que elas possam sair dessa situação de extrema pobreza.


link original desta matéria: http://port.pravda.ru/cplp/brasil/25-01-2016/40250-entrevista_kaingang-0/#sthash.UEdjeSjX.dpuf

Economia. A China implanta-se no Próximo-Oriente.

O príncipe Mohammed bin Salman acolhe a delegação chinesa no aeroporto de Riade, a 16 de janeiro de 2016.














Por Thierry Meyssan.
O presidente chinês, Xi Jinping iniciou uma digressão à Arábia Saudita, Egipto e República Islâmica do Irão. Oficialmente, não se trata de falar de política mas unicamente de economia. A China propõe aos Estados do Próximo-Oriente participar na construção da «nova rota da seda» de maneira a desenvolverem-se e libertarem-se do colonialismo ocidental.
O Mundo árabe, hoje em dia, é dominado pelos Estados Unidos que tentam explorá-lo e impedir o seu desenvolvimento. No entanto, numerosas revoltas, na Palestina, na Síria, no Iraque, no Iémene e Barein, atestam uma vontade de resistência que contrasta com a voluntária servidão dos Europeus.
Este jogo, inteiramente controlado por Washington desde as actuações de Henry Kissinger, é alterado, por um lado, pela intervenção militar russa na Síria e, por outro, pelo retorno do comércio chinês, que dominava o Mediterrâneo na Antiguidade Tardia e na Idade Média. É neste contexto que o presidente Xi Jinping iniciou uma digressão à Arábia Saudita, Egipto e República islâmica do Irão com o objectivo de abrir secções de uma nova via de comunicação, segundo o slogan do líder do desde 2013: «uma cintura, uma estrada». 
Trata-se ao mesmo tempo de uma via terrestre, como a antiga «Rota da Seda», e de uma via marítima como a imaginada na época Ming pelo almirante Zheng He. Para bem realizar este projecto capital, que ela prepara desde há uma dezena de anos, a República Popular da China criou, no ano passado, o Banco Asiático de Investimento para as Infra-estruturas (BAII), do qual os três Estados que Xi visita hoje em dia são membros –-mesmo se o Irão ainda não ratificou o tratado---.
Muito embora o presidente chinês evite falar de política e de contrariar directamente os interesses ocidentais, o seu projecto económico, se vier a ver o dia, levaria a uma liderança sino-russa no mundo e marcaria o fim do império talassocrático dos Britânicos e dos Norte-americanos.
Seria errado acreditar que Pequim não se move politicamente e está, neste plano, ausente da região. A China apoiou o combate da Resistência palestiniana, que pôde abrir um Escritório de representação em Pequim há já muito tempo. Em 2006, os mísseis mar-ar chineses tinham permitido ao Hezbolla impedir Israel de bombardear a costa libanesa. E, segundo numerosos peritos, estes mísseis não eram operados por árabes, mas por conselheiros chineses. Hoje em dia, a China juntou-se às negociações em torno da Síria e recebeu nestes últimos meses os representantes de todas as facções. Seja como fôr, Xi limitou suas intervenções políticas durante a sua viagem.

A República popular da China produziu, em 2015, Dragon Blade, um filme de grande espetáculo sobre a «Rota da Seda» durante a Antiguidade tardia. Ele visava mostrar que os Impérios não são necessariamente inimigos, mas que podem cooperar em seu reciproco interesse.
Arábia Saudita - A China é o principal cliente da Arábia Saudita, da qual importa petróleo pelo valor de 70 bilhões de dólares. Ela conta que os Saud deixarão suas mercadorias atravessar o seu País [no caso, sua propriedade]. No entanto, Chineses e Sauditas são rivais no Paquistão e travam uma guerra feroz no Xinjiang. Desde há uma década, pelo menos, os Estados Unidos recrutam jihadistas chineses, via serviços secretos sauditas, durante a peregrinação a Meca. Na maior parte dos casos Uígures, que são posteriormente dirigidos pelos serviços secretos turcos afim de cometer atentados, primeiro no Oeste da China, mas agora um pouco por todo o lado no país, em nome do Estado Islâmico.
O rei Salman e o presidente Xi inauguraram a refinaria de Yasref-Yanbu, na costa Oeste do país. É a primeira refinaria construída no estrangeiro pela Sinopec. Com um valor de 10 bilhões de dólares a propriedade dela é detida em dois terços pela Aramco e um terço pela companhia chinesa. Esta instalação gigantesca, construída em dois anos, é um investimento que surge quando a Coligação Internacional U.S. anti-Daesh bombardeou, e destruiu, todos os equivalentes investimentos da China no Iraque. Em caso de futura partição da Arábia a refinaria ficará no Estado formado em torno das santas mesquitas.
O Presidente Xi também se reuniu com o Secretário-Geral do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC), para acelerar o estabelecimento de uma zona de comércio livre, e o da Organização da Cooperação Islâmica.
Em 2009, a televisão nacional chinesa transmitiu uma série, em 59 episódios, sobre a vida e as viagens de Zheng He, o «grande eunuco das três jóias», o qual no século XV tentou restaurar a Rota da Seda», mas, por via marítima. Ele constituiu uma frota de 70 navios e 30.000 marinheiros. Ele fez a peregrinação a Meca, subiu o Mar Vermelho até ao Egipto e desceu a costa africana até Moçambique. A série insiste no carácter pacífico das suas 7 expedições. Por razões de política interna, à sua morte, as suas notas foram queimadas, o Imperador destruiu a frota e a China fechou-se em si mesma durante 600 anos.
Egito - Chegando ao Egito, o presidente Xi encontrou-se com o seu homólogo, o General al-Sissi. Os dois homens fizeram o ponto da situação da empreitada de duplicação do Canal de Suez. No ano passado, os Ocidentais ficaram espantados deste faraónico esforço do Cairo, quando o Egipto não consegue alimentar a sua população e só sobrevive graças à ajuda financeira saudita. Fica agora claro que este projecto, que não tinha nenhum sentido em termos do actual comércio mundial, se inscreve, a médio prazo, no da China.
Uma vasta zona industrial foi aberta na embocadura do Canal, a 120 quilômetros do Cairo. Investimentos sem precedentes estão aí previstos, e que irão permitir empregar 40.000 egípcios. Desde já os chineses investiram nas pedreiras, de tal modo que a pedra se tornou o centro do comércio entre os dois Países. Além disso, a China participa na construção de uma nova capital egípcia.
O Cairo, que era na época de Nasser a principal potência árabe, gradualmente apagou-se da cena internacional. A vitória do presidente al-Sissi sobre os Irmãos Muçulmanos e a relativa estabilização do país permitem-lhe encarar de novo a assunção deste papel. A descoberta pelos Italianos de reservas consideráveis de petróleo prometem resolver-lhe, rapidamente, os seus problemas econômicos e garantem, desde já, contrair empréstimos nos mercados internacionais.
A delegação chinesa, lembrando-se das relações entre os dois Países na época de Nasser e Zhou Enlai reuniu com o presidente do Parlamento, Ali Abdel Aal, e estabeleceu uma cooperação institucional com a Assembleia do Povo.
O presidente Xi e seu homólogo egípcio declararam publicamente o seu apoio ao processo político na Síria, e recusaram todas as intenções que derrube o regime pela força. No entanto, eles abstiveram-se de revelar o conteúdo das suas conversações a este respeito.
O presidente Xi dirigiu-se por fim à Liga Árabe. Ele sublinhou o enorme potencial comercial da região, e a necessidade de colaboração pacífica entre nações para acelerar o desenvolvimento econômico
República islâmica do Irã - No momento em que escrevo estas linhas o presidente Xi acaba de chegar ao Irã. As duas nações têm uma longa história comum desde a Antiguidade, como o atestam certas estátuas de Persépolis e a influência chinesa na pintura iraniana. Na Idade Média, a «Rota da Seda» contornava a Índia e passava pela Ásia Central para atravessar o Irã, depois o Iraque e a Síria. Desde a altura do presidente Ahmadinejad as universidades iranianas diminuíram a sua formação linguística em Inglês para aumentar a prática do Chinês.
Para Pequim, o Irão não é simplesmente uma etapa histórica na «Rota da Seda», é uma cultura próxima da qual esteve muito tempo separada, um parceiro natural que, dada a sua identidade muçulmana, lhe permite entrar mais facilmente num mundo árabe que percepciona globalmente como atrasado e violento.
A República popular da China e a Federação da Rússia anunciaram a sua intenção de fazer entrar a República islâmica do Irã como membro pleno da Organização de Cooperação de Xangai. Esta decisão, que havia sido adiada durante o período de sanções ocidentais, fará de Teerã um ator maior nas relações internacionais.
A reter: 
Descrição: - A China entende prosseguir a construção da nova rota da seda através do mundo árabe. Ela obteve já a duplicação do Canal do Suez. Ela age com prudência em relação à Arábia Saudita e parece mais à vontade com o Egito e o Irã.
Descrição: - Pequim interessa-se pelas trocas comerciais com o Próximo-Oriente, mas, mais ainda com a Europa através do Próximo-Oriente. 
Descrição: - Muito embora ela se abstenha de se manifestar no plano político, a China está discretamente presente ao lado das Resistências árabes ao imperialismo ocidental. Proximamente, o Irã tornar-se-á membro pleno da Organização de Cooperação de Xangai.
Tradução Alva.

Link original desta matéria: http://www.voltairenet.org/article190060.html 

domingo, 24 de janeiro de 2016

Economia. Por que é urgente romper a paralisia do Banco do Sul?

© David Manrique
Os governos da América do Sul se encontram em uma encruzilhada. As economias da região latino-americana se contraíram em 2015 e, segundo diversas estimativas, terão um crescimento nulo em 2016. 
Nada indica que os preços dos produtos primários vão subir. De novo surge o dilema entre realizar ajustes de gasto público e solicitar empréstimos às instituições de crédito submetidas ao Departamento do Tesouro dos Estados Unidos.
Contudo, Ariel Noyola considera que os mandatários da região também poderiam apostar em fortalecer as bases da arquitetura financeira sul-americana mediante a inauguração do Banco do Sul, um projeto que ficou parado durante mais de oito anos e que, frente à gravidade da situação econômica atual, pode impedir o aprofundamento da crise.
Diante do aprofundamento da recessão mundial, é urgente que os mandatários da América do Sul coloquem todas as suas energias na construção de instituições de crédito próprias e no uso de instrumentos de cooperação financeira orientados a debilitar a influência do dólar na região.
Toda vez que o governo dos Estados Unidos busca impor por todos os meios possíveis sua dominação econômica na região, se torna indispensável para os países sul-americanos conquistar a autonomia política frente às instituições tradicionais de crédito.
O modus operandi do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) já é bastante conhecido: a utilização da dívida como um mecanismo de pressão contra os povos afundados na insolvência; a imposição de medidas econômicas draconianas (diminuição dos gastos sociais, cortes nos salários, privatização das empresas estatais de carácter estratégico, etc.); a assistência financeira sem limites a governos surgidos de um golpe de Estado, mas apoiados pela Casa Branca (como ocorreu no Chile na década de 1970); etc. Por essas e muitas outras razões, é necessário fortalecer as bases da arquitetura financeira sul-americana.
Em primeiro lugar, é necessário uma Unidade Monetária sul-americana (UMS). A UMS não é uma “moeda comum” como o euro, mas uma cesta de referência formada por um conjunto de moedas (como os Direitos Especiais de Saque do FMI). Definitivamente, a UMS é uma referência que goza de maior estabilidade que o dólar, tanto para a emissão de bônus como para a comparação de preços dentro da região. Paralelamente, deve-se estimular que os intercâmbios comerciais sejam feitos em moedas nacionais.
Desde 2008, a Argentina e o Brasil iniciaram o Sistema de Pagamentos em Moedas Locais (SML). E em outubro de 2015, Paraguai e Uruguai implementaram um mecanismo de pagamentos semelhante. Graças a isso, evita-se passar pelo dólar, e os custos de transação foram reduzidos consideravelmente entre as empresas de ambas as partes. Agora só falta incluir a Bolívia e a Venezuela para, desta maneira, incentivar a “desdolarização” entre todos os países que integram o Mercado Comum do Sul (MERCOSUR).
Em segundo lugar, os países da América do Sul necessitam de um poderoso fundo de estabilização monetário capaz de proteger suas balanças de pagamentos das violentas flutuações do dólar, ainda mais depois que o Sistema da Reserva Federal (FED) dos Estados Unidos elevou a taxa de juros dos fundos federais (‘federal funds rate’) em dezembro do ano passado [1].
Ao longo de 2002 e 2009, o auge dos preços das matérias primas (‘commodities’) favoreceu a acumulação maciça de reservas internacionais e, apesar disso, a América do Sul continuou financiando os países industrializados.
Uma boa parte dos bilhões de dólares que a região sul-americana economizou durante os últimos anos foi usada para investir em bônus do Tesouro dos Estados Unidos, em lugar de ser canalizada para atividades produtivas mediante um fundo do Sul de grande potência.
Nestes momentos o único fundo de estabilização que existe na região é o fundo Latino-americano de Reservas (FLAR), lançado originalmente pela Comunidade Andina em 1978 sob o nome de fundo Andino de Reservas, e atualmente formado por Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.
Contudo, os recursos à disposição do FLAR são insuficientes para conter as fugas de capitais em conjunturas críticas: seu capital subscrito é de apenas 3,609 bilhões de dólares, uma quantia que representa menos de 15% das reservas do Banco Central da Bolívia. O mercado mundial de crédito se tornou demasiado volátil. Apenas em 2015, fugiram mais de 98 bilhões de dólares dos investimentos financeiros dos países emergentes, segundo as estimativas do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês) [2].
Portanto, é urgente pôr mãos à obra ante esta perigosa vulnerabilidade. Os países do MERCOSUL necessitam de um fundo de estabilização próprio que, dado o alto grau de integração financeira do Brasil com o resto do mundo, conte com pelo menos 100 bilhões de dólares de capital, que é o volume de recursos com o qual o Acordo de Reservas de Contingência dos BRICS (sigla para Brasil, Rússia, Índia, China e África do sul) vai começar a operar.
E em terceiro lugar, os países sul-americanos devem tirar o Banco do Sul dos entraves burocráticos em que se encontra para que emita finalmente seus primeiros empréstimos [3].
Os detalhes técnicos estão praticamente prontos: o capital inicial será de 7 bilhões de dólares e o capital autorizado, de 20 bilhões de dólares; a sede principal ficará na Venezuela; Argentina e Bolívia terão outras duas sucursais. Contudo, o início das operações foi adiado outras vezes, tanto é que depois de mais de oito anos da assinatura de sua ata de fundação na cidade de Buenos Aires, o Banco do Sul ainda não consegue abrir suas portas [4].
Isso porque existem poderosos interesses econômicos que o impedem de romper com o status quo, tanto dentro como fora da região. Ainda que em um primeiro momento se cogitou que o Banco do Sul iria agrupar todos os países da União das Nações Sul-americanas (UNASUR), isto parece impossível; Suriname e Guiana não têm interesse, enquanto Chile, Colômbia e Peru estão obcecados em apoiar os projetos de integração promovidos por Washington, tanto a Aliança do Pacífico como o Acordo de Associação Transpacífico (TPP, na sigla em inglês).
Consequentemente, os membros do Banco do Sul ficaram reduzidos aos países do MERCOSUL mais o Equador. Por outro lado, as resistências dentro do bloco, vem sobretudo do Itamaraty, o Ministério de Relações Exteriores do Brasil. Na América do Sul, a influência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) do Brasil é óbvia, a tal ponto que em vários anos conseguiu superar o crédito proporcionado pelo FMI, Banco Mundial e BID.
O BNDES não tem interesse em avançar a integração latino-americana, na realidade sua missão é garantir o fornecimento de matérias primas (‘commodities’) às empresas brasileiras [5].
Os recursos do BNDES estão orientados a megaprojetos que reproduzem a dependência primário-exportadora dos países sul-americanos, como a Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional (IIRSA), uma rede de rodovias de dimensões continentais que só vai beneficiar um punhado de empresas [6].
Em contraste, o dinheiro do Banco do Sul não será direcionado unicamente a obras de infraestrutura, mas também a um amplo leque de programas de investimentos ligados a educação, saúde, moradia, etc. O Banco do Sul descartará completamente os critérios do “Consenso de Washington”, que trouxeram tanta pobreza à Nossa América; realizará empréstimos a juros muito baixos, pois seu objetivo é estimular o desenvolvimento econômico integral dos povos.
Sem dúvida, o Banco do Sul constitui uma grande esperança em tempos de crise. Por um lado, servirá como um poderoso mecanismo de alívio econômico para os países da América do Sul que são vítimas de severas recessões. Por outro lado, será um apoio decisivo para financiar as metas mais ambiciosas da integração sul-americana: projetos científicos e tecnológicos conjuntos, uma rede de ferrovias, rede energética, etc.
Concluindo, os governos sul-americanos precisam tomar medidas concretas que parem a restauração conservadora que está em curso, caso contrário precipitarão sua queda. É evidente que o governo dos Brasil tem a maior responsabilidade de salvaguardar a soberania continental. Dos altos funcionários do Itamaraty dependerá em última instância romper a paralisia do Banco do Sul...
Tradução de João Aroldo - Tradutor freelance para sites como Rede Voltaire, Redecastorphoto e Tlaxcala. 
[1] «Fed’s rate rise could heighten problems in emerging markets», James Quinn, The Telegraph, December 18, 2015.

[2] «Emerging market portfolio flows at weakest level since global financial crisis», Jonathan Wheatley, The Financial Times, January 4, 2016.

[3] “Banco do Sul, crise global e turbulência na América Latina”, Ariel Noyola Rodríguez, Tradução Ina Thomé Picoli, Rede Voltaire, 27 de Setembro de 2014?

[4] «The Bank of the South: Bolivarian finance», The Economist, December 13, 2007.

[5] «Brasil vs. Banco del Sur», por Oscar Ugarteche, Agencia IPI (Perú), Red Voltaire, 28 de agosto de 2007.

[6] «Interconexión sin integración: 15 años de IIRSA», Raúl Zibechi,Programa de las Américas, 23 de septiembre de 2015.

Link original desta matéria: http://www.voltairenet.org/article190020.html