TODA SOLIDARIEDADE AS VÍTIMAS DA OPRESSÃO EM SÃO PAULO.
O senador Eduardo Suplicy (PT) e o deputado federal Ivan Valente (PSol)
foram detidos no começo da tarde deste domingo (22) ao tentar se
aproximar do comando da Polícia Militar que realiza a reintegração de
posse do Pinheirinho, em São José dos Campos, no interior de São Paulo.
Os moradores resistem a sair do local em que vivem desde 2004.
Por: Rodrigo Machado - Do UOL, em São José dos Campos.
![]() |
Jovem ferido é custodiado pela PM. |
Atualização: Segundo comentário da leitora Maíra no blog (http://www.viomundo.com.br/denuncias/tropa-de-choque-da-pm-faz-reintegracao-de-posse-do-pinheirinho.html) (...) O advogado do Pinheirinho está processando a prefeitura de
São José em flagrante por desobediência à ordem judicial federal. Mas o
impasse é que a justiça estadual havia mantido a reintegração de posse,
embora hierarquicamente, a justiça federal deva se sobrepor... É uma
vergonha isso tudo! Minha família é vizinha da comunidade do Pinheirinho
e acordou hoje com o som da truculência militar, helicóptero e bombas.
Ninguém entra no local, nem mesmo a imprensa. E há notícias de que já
são três mortos no conflito.
8 dias atrás
Lembro-me quando nos mudamos para o [bairro do] Cachoeira. Foram anos
até conseguir ter um terreno para construir nossa casa.
Detalhe: já
havíamos passado por diversas situações de luta por um cantinho pra
morar, lembro-me vagamente - na época ainda era um bebê - do que acabou
por dar origem a bairros como a parte de cima da Ataliba, Filhos da
Terra, o Pombal do Jaçanã, entre outros. Lembro dos acampamentos, das
noites sob a lona preta, entre as cordas, sonhando que era ali que
moraríamos, daquele dia em diante. Lembro de passeatas para Brasília, na
qual minha mãe tinha que nos deixar sozinhos em casa e ir “pro front”,
junto a nossos companheiros que também não tinham onde morar. A luta
sempre foi uma constante para nós.
Mesmo após anos, mudando para o Cachoeira, com poucos meses na nova
moradia, recebemos uma ordem de despejo, uma notificação, que dizia que
em 15 dias todas as casas estariam no chão. Imagine-se recebendo uma
carta da prefeitura após anos batalhando para construir sua casa,
dizendo que eles estão chegando em 15 dias para a demolição? Desespero
total, reuniões na recém-formada Associação de Moradores, enfim: sem
informações ou meios a recorrer, abandonamos o local e fomos morar de
favor na casa da família do meu padrasto. Minha mãe temia por nossas
vidas, pois existia uma história de que na última desapropriação próxima
das Furnas, muitos anos atrás, uma casa foi demolida com uma moradora
ainda dentro que faleceu no desabamento. Coisa que ninguém duvidava
devido ao fato de conhecermos a brutalidade dos braços da
prefeitura/governo que se aproximam do povo.
Voltamos a morar no Cachoeira, todos os moradores voltaram, aos poucos,
numa decisão unânime de lutar por seu lugar. Retornamos, vimos nossas
casas demolidas, as refizemos com madeirite, ganhando a "cara" de
favela. Água e luz irregulares, sem esgoto, e te falo: não acabou ali
não. Foram inúmeras as vezes em que fizemos vigílias temendo que
ateassem fogo ou roubassem nossos barracos, cordões humanos para que o
mínimo de saneamento básico chegasse, pneus queimados parando a rodovia
Fernão Dias contra a falta de segurança para os transeuntes que
precisavam cruzá-la... Nada nunca foi noticiado, sofremos e lutamos em
silêncio e, sempre, dali em diante passei a pensar em quantas famílias
viviam as mesmas situações…
Hoje, vi a fotografia dos moradores de uma região conhecida como
Pinheirinho, em São José dos Campos, São Paulo, e resolvi falar sobre
isto, pois a história é cíclica, e ocorre em muitos cantos do nosso
Brasil sem noticiamento algum e com desdobramentos mais violentos - vide
as histórias recentes da criança indígena queimada por madeireiros, da
marinha desrespeitando os quilombolas, veja o caso da Favela do Moinho
em SP, incendiada criminalmente às vésperas do Natal, o projeto Nova Luz
que visa desapropriar a região do centro para inserir nela “mais vida”.
Estes são apenas alguns dos casos de maior repercussão midiática. Se
formos estudar a fundo, realmente entramos no balanço da reforma agrária
do ano que se passou e nos deparamos com outros inúmeros casos tristes
de povos ribeirinhos/quilombolas/tradicionais que perdem suas
comunidades em nome da especulação imobiliária, obras da Copa e tantos
outros mega-projetos que tem ocorrido por aqui.
Senti orgulho de ver nossos irmãos no front e tristeza pela situação em
si, que ainda muito se repetirá por nosso país. Meu desejo com este
texto e com estas palavras, é enviar-lhes força, pois partilhamos do
mesmo sonho, um Brasil sem desigualdade social, onde não exista tanta
terra na mão de tão pouca gente, um país onde os mais pobres não tenham
que pagar com o que não tem, pelas ideias bilionárias de quem pouco se
importa com quantas vidas serão destruídas pela construção dos alicerces
de seus edifícios.
E ainda chamam isto de progresso! Na verdade até é: o
termo progresso possui uma conotação ambígua, o que nos resta é lutar
para que o termo possa ser empregado mais vezes com um sentido positivo.
Esta semana, coincidentemente, recebi o email de um companheiro do MST
que me enviou a letra de “Num É Só Ver”, dizendo como esta letra
trabalhava o tema com perfeição. Sincronicidade é foda! Nossos corações
estão ligados a um mesmo sonho, a uma mesma luta, é involuntário que
nossas poesias sejam um espelho disto.
Muito amor e todo apoio ao povo do Pinheirinho.
A rua é nóiz.
Emicida
Num é só ver
(Rael da Rima/ Emicida)
"Empresários perdem milhões
Pobres acham, devolvem
Barões matam nações
Que se refazem, se movem
Manipulam informações
Fodem!
Grandes populações
Que não se envolvem.
Trancados em mansões
É, eles podem
Seguros das monções
Oh right, no problem
Epidemias, liquidações.
Dormem pessoas simples nos barracões
Orem
Calam manifestações
Olhem
Por cifras, com vidas
Não estranhe que joguem
Atrás de notícias compradas
Se escondem
Sem dó tiram comida
De outro homem
Artistas fazem rir
Presidentes fazem chorar
Tiros são barulhentos
Mas não impedem de escutar
O canto dos que lutam pelo povo
Sempre vivo
Gente louca faz música
Gente séria explosivo".
fONTE: http://www.emicida.com/blog/as-armas-companheiro-pela-liberdade-so-por-ela
Nenhum comentário:
Postar um comentário