Pesquisa Ibope aponta Carlinhos Almeida, do PT,
com 56% das intenções de voto em São José dos Campos (SP); Alexandre
Blanco, do PSDB, apoiado pelo prefeito tucano Eduardo Cury, tem 27%.
247 – A truculenta desocupação da favela do Pinheirinho, na rica
cidade de São José dos Campos, sede da Embraer, pode fazer com que o
PSDB perca uma das prefeituras mais importantes do estado de São Paulo.
Na última pesquisa Ibope, o candidato Carlinhos Almeida, do PT, aparece
com 56% das intenções de voto, contra 27% de Alexandre Blanco, do PSDB,
apoiado pelo prefeito Eduardo Cury. Confira os dados do Ibope:
Carlinhos Almeida (PT) - 56% das intenções de voto
Alexandre Blanco (PSDB) - 27%
Cristiano Ferreira (PV) - 2%
Antonio Alwan (PSB) - 1%
Ernesto Gradella (PSTU) - 1%
Fabrício Correia (PSDC) - 1%
Gilberto Silvério (PSOL) - 0%
Branco/nulo - 5%
Não sabe/não respondeu - 7%
Alexandre Blanco (PSDB) - 27%
Cristiano Ferreira (PV) - 2%
Antonio Alwan (PSB) - 1%
Ernesto Gradella (PSTU) - 1%
Fabrício Correia (PSDC) - 1%
Gilberto Silvério (PSOL) - 0%
Branco/nulo - 5%
Não sabe/não respondeu - 7%
Leia, abaixo, sobre a denúncia à OEA a respeito da desocupação do Pinheirinho:
Denúncia sobre Pinheirinho à OEA é tornada pública.
247 - Uma denúncia contra o massacre de Pinheirinho,
encaminhada à Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados
Americanos (CIDH/OEA), foi tornada pública no último dia 22, na
Faculdade de Direito da USP. O documento foi enviado pelo procurador
Márcio Sotelo Felippe, com outros defensores de Pinheirinho
(magistrados, juristas, políticos e voluntários).
Na denúncia, é pedida a
reparação dos danos humanos e materiais causados pelo brutal massacre e
exige-se a investigação e punição dos culpados.
A reintegração de posse da região de Pinheirinho, na cidade de São
José dos Campos, interior de São Paulo, foi considerada uma ação
truculenta da Polícia Militar. Em março, um relatório divulgado pelo
Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo (Condepe)
registrou mais de 1,8 mil denúncias de violações de direitos humanos que
teriam ocorrido em janeiro, durante a operação.
Confira a íntegra da denúncia no blog do procurador Márcio ou abaixo:
Cópia
Sexta-feira, 22 de junho de 2012
Texto Integral da Denúncia do Caso Pinheirinho à OEA
REQUERENTES
- Rede Social de Justiça e de Direitos Humanos- Associação por
Moradia e Direitos Sociais- ADMS- Sindicato dos Advogados de São Paulo-
Marcio Sotelo Felippe- Fabio Konder Comparato- Celso Antonio Bandeira de
Mello- Cezar Britto- José Geraldo de Sousa Junior- Dalmo de Abreu
Dallari- Aristeu Cesar Pinto Neto- Antonio Donizete Ferreira- Nicia
Bosco- Giane Ambrósio Álvares- Camila Gomes de Lima
Os peticionários não desejam que suas identidades sejam mantidas em reserva frente ao Estado.
ESTADO MEMBRO DA OEA CONTRA O QUAL SE APRESENTA A DENUNCIA:
República Federativa do Brasil
AUTORIDADES RESPONSÁVEIS PELAS VIOLAÇÕES
1. Governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin
2. Prefeito do Município de São José dos Campos, Eduardo Pedrosa Cury
3. Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, Ivan Ricardo Garisio Sartori
4. Juiz assessor da presidência do Tribunal de Justiça de São Paulo, Rodrigo Capez
5. Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, Cândido Além
6. Juíza da 6ª Vara Cível da Comarca de São José dos Campos-SP, Márcia Faria Mathey Loureiro
7. Juiz da 18ª Vara Cível do Fórum Central João Mendes, em São Paulo-SP, Luiz Beethoven Giffoni Ferreira
8. Comandante da Operação Policial, Coronel PM Manoel Messias
DATA E LUGAR DOS FATOS
Os fatos ensejadores das violações de direitos humanos narradas nesta
petição tiveram início no dia 22 de janeiro de 2012, (portanto não
exaurido o prazo de 6 meses, previsto no artigo 32, do Regulamento da
CIDH) com a execução da ordem de despejo contra os moradores da
Comunidade do Pinheirinho, na cidade de São José dos Campos, Estado de
São Paulo, Brasil, e perduram até o dia de hoje, tendo em vista que não
foram realizadas medidas aptas ao restabelecimento de condições de
moradia digna, nem tampouco de respeito ao direito ao trabalho e à
educação, dentre outros, das famílias afetadas.
Da mesma forma, não foram, até a presente data, realizados
procedimentos com vistas à reparação dos danos materiais, morais e
penais sofridos no contexto do que se tornou conhecido no país como o
"Massacre do Pinheirinho".
SUMÁRIO
I. OS FATOS
1. Esclarecimentos prévios
2. A ordem judicial violadora dos direitos fundamentais das vítimas e sua execução
2.1. A morte do morador Ivo Teles da Silva. Evidências de que a morte
ocorreu em decorrência das agressões físicas praticadas por policiais
militares durante a desocupação da comunidade.
2.2. Caso David Washington Furtado. Morador baleado durante a desocupação
3. A situação das vítimas após a destruição do bairro
3.1 Condições atuais de moradia precária.
4. A atuação do Poder Judiciário e dos Poderes Executivos do Estado de São Paulo e do Município de São José dos Campos
II. AS VIOLAÇÕES DA CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS E DEMAIS DOCUMENTOS
III. ADMISSIBILIDADE
IV. RESPONSABILIZAÇÕES E REPARAÇÕES
V. VÍTIMAS
VI. PROVAS E TESTEMUNHAS
I – OS FATOS
1. Esclarecimentos prévios
A comunidade Pinheirinho, localizada em São José dos Campos, Estado
de São Paulo, Brasil, formou-se a partir de 2004 em uma área abandonada
de cerca de 1,3 milhões de metros quadrados. O terreno foi ocupado por
pessoas de baixa renda em decorrência do déficit habitacional no
Município.
Cadastramento realizado em agosto de 2010 pela Prefeitura de São José
dos Campos constatou a presença de 1.659 famílias, num total de 5.488
pessoas, número equivalente a aproximadamente 1% da população do
município. A partir de 2009, por exigência da Companhia de
Desenvolvimento Habitacional e Urbano (órgão do Estado de São Paulo), a
ocupação foi "congelada", não se permitindo mais a entrada de outras
famílias.
Ao longo de quase oito anos o bairro consolidou-se, com casas de
alvenaria, ruas traçadas, avenidas, praças, local para equipamentos
públicos e áreas de preservação ambiental. Quase a totalidade das
moradias estava construída de acordo com as regras urbanas do Município.
O antropólogo Inácio Dias de Andrade conviveu diariamente com os
moradores do Pinheirinho entre os anos 2007 e 2010, escrevendo sua
dissertação de mestrado na Universidade de São Paulo sobre essa
experiência com a comunidade.
Conta o antropólogo:
"O terreno foi dividido, desde o início, em setores que podiam
comportar um número determinado de casas, evitando a superpopulação do
local. Às terças-feiras, cada setor se reunia, após o horário de
trabalho dos moradores – geralmente à seis da tarde. Aos sábados, no
mesmo horário, os moradores formavam uma Assembléia Geral, que contava
com os encaminhamentos feitos anteriormente em cada setor (...) Nesses
espaços de gestão democrática eram decididas as regras gerais de
convivência (...) Delimitava-se as zonas que seriam destinadas à
preservação ambiental, ao plantio de alimentos ou locais de risco em que
não se poderia construir casas. Além disso, nessas ocasiões, eram
resolvidas questões relativas à segurança da população do local e do
entorno. Roubo, tráfico de drogas ou quaisquer outras atividades
ilícitas eram rigidamente controladas pelas lideranças e moradores (...)
Durante todos os anos de existência do acampamento não foi registrada
uma morte sequer no local. Ao invés de vagabundos, o movimento se
constituía num microcosmo de atuação democrática. (texto completo
em http://antropologiausp.blogspot.com.br/2012/02/pinheirinho-para-alem-da-desocupacao.html -
Anexo 01).
Verifica-se por esse relato que a comunidade do Pinheirinho não
resultou de uma ocupação desordenada e caótica nem tampouco foi reduto
de pessoas vivendo à margem da lei. Era formada por cidadãos produtivos e
suas famílias, que construíram uma situação socialmente consolidada,
ocupando uma imensa área abandonada e improdutiva. A comunidade,
portanto, deu ao imóvel sua função social.
Havia uma negociação em curso para a regularização da área como
núcleo habitacional. Participavam dos entendimentos representantes dos
moradores, Secretaria Nacional de Habitação, Secretaria Estadual de
Habitação e a Prefeitura de São José dos Campos. Devido ao grande número
de moradores e à complexidade dos procedimentos burocráticos, as
negociações transcorriam lentamente, desde 2009.
O terreno consta como propriedade da empresa Selecta Comércio e
Indústria S/A, controlada pelo investidor Naji Nahas, nacionalmente
conhecido por acusações de irregularidades praticadas no mercado
financeiro . A empresa está com processo de falência em curso perante a
18ª. Vara Cível da Comarca de São Paulo. No momento dos fatos ora
denunciados todos os créditos privados contra a massa falida haviam sido
resolvidos, remanescendo apenas créditos fiscais em favor da Prefeitura
e da União (Anexo 02- Despacho Juiz Luiz Beethoven).
2. A ordem judicial violadora dos direitos fundamentais das vítimas e sua execução
Afirma o defensor público Jairo Salvador de Souza, que exerce sua função na comarca de São José dos Campos, que
"o histórico desrespeito aos Direitos Humanos na cidade revela uma
reiterada negação ao epicentro axiológico de toda ordem constitucional: o
respeito à dignidade humana. Nesse sentido, o caso Pinheirinho é
emblemático".
Relata que nos últimos 10 anos outras comunidades, sob os mais diversos pretextos, desapareceram:
"Só para citar algumas: Morro do Regaço (Vila Nova Tatetuba, Nova
Detroit, Caparaó, Salinas, Vila do Pena,, Torrão de Ouro, Favela do
Banhado (em curso), Comunidade do Jardim das Indústrias, Santa Cruz I,
Travessa dos Anões, Henrique Dias, Martins Guimarães".
"A política pública implementada na cidade propugnava a eliminação
física dos adensamentos informais" (anexo 03 – Boletim da Associação dos
Juízes para a Democracia).
Anteriormente aos fatos a Prefeitura fez aprovar uma lei – denominada
"Lei Hayashi" – que vedava aos moradores de ocupações o acesso a
serviços públicos. A lei foi declarada inconstitucional.
Em 2004 a massa falida da Selecta ingressou com ação de reintegração
de posse, cuja liminar foi indeferida em 2005 pelo juiz da 6ª Vara Cível
de São José dos Campos.
No entanto, transcorridos quase oito anos, a reintegração liminar foi
deferida pela juíza Marcia Faria Mathey Loureiro, em junho de 2011.
É nesse momento que os interesses da empresa proprietária, que jamais
havia dado finalidade social à área, usando-a para fins meramente
especulativos, e das autoridades municipais, empenhadas em eliminar da
cidade ocupações dessa natureza, ganham a possibilidade de serem
atendidos, pouco importando o destino dos moradores da comunidade.
Em razão das impugnações judiciais cabíveis e também do tempo que a
Polícia Militar necessitava para a execução do despejo dessa magnitude, a
decisão não foi imediatamente realizada.
Diante da tragédia social e humana que se avizinhava, com a iminente
retirada à força de 1659 famílias de suas moradias , parlamentares e
representantes dos moradores tentaram uma negociação com os interessados
e autoridades judiciais.
No dia 18 de janeiro de 2012, quinta-feira, reuniram-se no gabinete
do juiz da Falência, Dr. Luiz Beethoven Giffoni Ferreira, o Senador da
República Eduardo Matarazzo Suplicy, os Deputados Estaduais Carlos
Giannazi e Adriano Diogo, o Deputado Federal Ivan Valente, o síndico da
massa falida Jorge T. Uwada, o advogado da massa falida Julio
Shimabukuro e o advogado da empresa falida Selecta, Waldir Helu.
Conseguiu-se então um acordo de suspensão da ordem judicial de
reintegração de posse pelo prazo de 15 dias. O juiz da falência declarou
na petição em que formalizado o acordo, por despacho de punho próprio,
que havia telefonado para a juíza Márcia Loureiro, responsável pela
ordem de reintegração de posse, comunicando o resultado da negociação
(anexo 04 - Petição do acordo de suspensão do despejo e Anexo 05 –
Relatório Oficial do Senador Suplicy).
No entanto, de surpresa, sem qualquer notificação, em flagrante,
literal e traiçoeira violação do acordo de suspensão da ordem judicial,
três dias depois ocorreu a violenta desocupação e remoção das 1.659
famílias.
Na madrugada de domingo, dia 22 de janeiro de 2012, às 5h30 da manhã,
o bairro Pinheirinho foi cercado pela polícia estadual e pela guarda
municipal de São José dos Campos. Mais de 2 mil policiais entraram na
área, lançando bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha contra uma
população que dormia, indefesa.
Todos os moradores, incluindo mulheres,
recém-nascidos, crianças, idosos e enfermos foram arrancados de suas
casas (Anexo 06 – fotografias do despejo, Anexo 07 – vídeo despejo e
violências, Anexo 08 - Vídeo - Repórter se emociona no Pinheirinho em
São José dos Campos, Anexo 09 - Vídeo - Pinheirinho perdi tudo, Anexo 10
- Vídeo - Reintegração de Posse volta para a massa falida e Anexo 11 -
Vídeo - Audiência Pública Sobre o Pinheirinho - Defensor Jairo
Salvador).
Máquinas derrubaram as edificações, destruindo bens pessoais, móveis e
utensílios dos moradores. Praticamente não foi concedida oportunidade
para a retirada de bens pessoais, documentos e papéis.
Também foram demolidos todos os espaços de uso coletivo e todos os templos religiosos (um católico e seis protestantes).
Aquelas 6 mil pessoas foram tratadas como animais, arrancadas de suas moradias e lançadas em abrigos coletivos improvisados.
Durante a desocupação, dentro dos abrigos, os moradores ainda
recebiam pancadas, eram vítimas de policiais armados, de balas de
borracha e bombas de gás. Ambulâncias saiam do local carregando feridos,
inclusive crianças vítimas dos gases e bombas de efeito moral.
As balas e bombas eram lançadas em todos os bairros contíguos ao terreno, atingindo pessoas e residências.
Mesmo após a desocupação, durante a noite, a Polícia Militar ainda
atirava bombas de gás dentro do pátio da Igreja, onde se resguardavam
moradores que não quiseram ficar nos abrigos.
Os advogados não puderam acompanhar os atos da desocupação,
inobstante sua natureza judicial. Alguns levaram tiros com balas de
borracha, como o advogado Antônio Donizete Ferreira, atingido nas
costas, joelho e virilha por balas de borracha. Membros da Defensoria
Pública, órgão estatal responsável pela assistência jurídica aos
necessitados, foram impedidos militarmente de acompanhar o cumprimento
da ordem.
A imprensa também não pode acompanhar o procedimento policial.
Pode-se comparar a operação policial, em sua brutalidade e
selvageria, a um "pogrom", ou à Noite dos Cristais na Alemanha nazista,
que destruiu milhares de propriedades, casas e templos da comunidade
judaica em 1938. Na comunidade do Pinheirinho, no Brasil de 2012, no
entanto, o motivo não foi o ódio étnico. Foi o alegado direito de
propriedade, reputado absoluto pelo Judiciário e imposto ao custo de
indizível sofrimento de toda uma população.
A remoção violenta das 6 mil pessoas aqui descrita, além de violadora
de diversos dispositivos da Convenção e da Declaração Americanas, a
seguir mencionados, também caracteriza crime contra a Humanidade, nos
termos do art. 7º , letra "k", do Estatuto de Roma: ato desumano que
provocou intencionalmente grande sofrimento, ferimentos graves e afetou a
saúde mental e física de coletividade. Frontal violação do princípio da
dignidade humana, com insuperável dano à integridade física e psíquica
das vítimas e efeitos traumáticos em crianças, que perdurarão em suas
existências.
O Relatório parcial produzido pelo Conselho Estadual de Defesa dos
Direitos da Pessoa Humana (CONDEPE) do Estado de São Paulo. Em reunião
pública, que contou com a colaboração de cerca de 90 defensores dos
direitos humanos, o órgão tomou a termo depoimentos de 634 moradores do
Pinheirinho, então abrigados – ou, melhor dizendo, empilhados - nos
abrigos precários fornecidos pela prefeitura de São José dos Campos
(Anexo 12 – Relatório do Condepe).
Trechos de depoimentos :
"Muito constrangimento. Morava numa casa simples e sonhava que o
loteamento fosse legalizado para viver dignamente. Foi horrível o que
passamos lá. Crianças e idosos sendo tratados feito vermes" (Marisley,
moradora do Pinheirinho com uma filha de 9 anos
"Já existia uma casa onde meus filhos tinham seu quarto, com endereço
e identidade. Vimos o sonho que construímos com luta e dignidade virar
um pesadelo. O que quero é o direito e a oportunidade de ter meu lar e
um lugar digno para minhas filhas" (Luciana, mãe de 3 filhos)
"Não sabia de nada, não teve aviso prévio (...) um dia antes estavam
comemorando que iam conseguir um prazo de 15 dias, mas os policiais
vieram no domingo de surpresa. Quando soube já estavam derrubando outras
casas. Mandaram todos ir para dentro de casas sem explicações. Foi
tentar ver o que acontecia, mas cordões policiais barravam a visão.
Viu
um senhor de uns 70 anos sendo espancado mas não sabe o nome (...) ficou
em casa esperando os policiais chegarem e arrumou umas mochilinhas com
roupas. Os policiais mandaram sair, e avisaram que ligariam depois para
retirar os móveis e tudo o que estivesse nas casas. Pegou telefone e RG
[documento de identidade] mas não ligaram até hoje. Maria voltou lá para
tentar pegar os móveis mas o trator estava chegando, ela pegou apenas o
que pode. No outro dia o marido foi no local da casa e estava tudo
destruído, mesmo os móveis estavam destruídos.
O policial falou no
domingo: 'vocês ainda têm sorte que o comandante liberou vocês para
pegarem as coisas, porque a juíza tinha avisado que tudo que havia
dentro das casas era lixo'. Com as bombas de gás lacrimogênio, a filha J
(15 anos) passou mal mas os hospitais estavam fechados com a confusão"
(Maria de Jesus, moradora do Pinheirinho, com marido e 3 filhos).
"...Disse que na hora mesmo da reintegração só davam 5 minutos para
tirar algumas coisinhas. Se demorasse recebia bala de borracha (...) os
policiais xingavam muito, gratuitamente: 'bando de filho da puta, entra
pra dentro' para mandar as pessoas para dentro de casa" (Cláudia,
moradora com marido e 4 filhos)
"Os policiais foram muito estúpidos, apressando muito, debochando dos
moradores. Ela nem teve tempo de pegar documentos, só a bolsa que tinha
os documentos dos filhos. Os policiais chegaram jogando bombas, muito
brutos e rasgando as faixas do PSTU [partido político] debochando do
'Pinheirinho é nosso' e rindo deles. Uma amiga de Aline levou balas de
borracha na boca (...) o que mais dói é ver os filhos pedindo pra ir pra
casa, fico sem ação." (Aline, moradora do Pinheirinho, com marido e 3
filhos, 8, 5 e 2 anos)
"Estavam dormindo e foram atingidos com bombas e gás pimenta (possui
uma bomba que caiu na casa e não foi deflagrada). Quando estava indo à
Igreja foi surpreendida por 6 policiais do Choque que mandaram correr e
dispararam bala de plástico nas costas (possui fragmento da bala). Sua
esposa também foi agredida com um fragmento de bala ou bomba no nariz e
teve uma reação alérgica com gás pimenta nos lábios e todo o rosto. O
Helicóptero Águia despejou bomba no fundo do quintal, atingindo Iranil e
seu filho de 2 anos que estava no colo. O filho de 6 anos apresentou
quadro de vômito e trauma emocional de todo o processo. Perderam: todo
mobiliário (cama de casal e de solteiro), armário, guarda-roupa,
televisão, aparelho de TV a cabo (...) bicicletas, tanquinho, aparelho
de DVD, prataria, louças, roupas, ferramentas, furadeira, réguas e a
construção. Perda estimada? 16 mil reais (Iranil, com mulher e 3 filhos,
de 6, 4 e 2 anos)
"Ele foi atrás da sogra de 60 anos que devia estar indo para a Igreja
e levou três tiros de balas de borracha na perna esquerda. Os
machucados estão inflamados, com pus.Atiraram de uma distãncia que não
dava nem 5 metros". (José Maria, morador, com mulher e filha de 11 anos)
"A neta está em estado de choque, por ter visto um nenê com a boca
aberta por conta do gás de pimenta.O nenê não conseguia respirar. A neta
é L, de 13 anos, que já sofria de problemas psiquiátricos antes da
reintegração. Seus problemas se agravaram muito com o trauma do dia"
(Lindaura, moradora, com 3 filhos maiores e 4 netos)
"Presenciou agentes da Tropa de Choque agredir uma criança de cerca
de 9 anos próximo à Igreja Evangélica da rua 9. Não reconhece o
agressor, mas diz que poderia reconhecer a vítima (criança, negra,
desacompanhada, à procura dos pais)
O Relatório apresenta um quadro assustador da violência do ato de desocupação. Destacamos alguns pontos .
- Ameaças e humilhações: 260 denúncias- Consequências do uso de
armamentos: 248 denúncias- Pouco tempo para recolher bens: 225
denúncias- Casa demolida sem a respectiva retirada de bens: 205
denúncias- Expulsão/ordem para sair de casa: 179 denúncias- Agressão
física – 166 denúncias- Perda de emprego/impedimento de renda: 80
denúncias- Dificuldade/impedimento de livre circulação: 77 denúncias-
Abrigos em situação de insalubridade: 73 denúncias- Casas saqueadas: 71
denúncias- Ameaças mediante armamentos: 67 denúncias- Falta de
orientação e de oferta de estrutura para retirar bens: 64 denúncias-
Falta de assistência: 54 denúncias- Agressão/morticínio de animais: 33
denúncias- Separação de filhos e outros parentes – 10 denúncias
Esse relatório apontou ainda o número de 1069 crianças e adolescentes nos 4 abrigos, observando o seguinte:
"Um dos efeitos imediatos da reintegração de posse e destruição do
Pinheirinho foi a desinformação dos direitos das crianças e adolescentes
à continuidade de seus vínculos com a escola e a creche. Nas primeiras
duas semanas, o caos prevaleceu nos abrigos, dada a falta de informações
sobre a garantia ou não de matrícula dos filhos e filhas nas escolas e
creches
"a insegurança das famílias quanto à garantia de rematrícula das
crianças e adolescentes na rede escolar de São José dos Campos, a perda
de material escolar com a destruição das casas no processo de
reintegração de posse, a falta de informações sobre as alternativas de
transporte escolar e acesso dentro do calendário do ano escolar e as
consequências psicológicas sobre as crianças e adolescentes das
situações de violência vividas foram as principais queixas
registradas..."
Ainda nos termos do relatório, a população do Pinheirinho era
constituída de trabalhadores de baixa renda. De um total de 466
trabalhadores pesquisados sobre esse ponto (número que possibilita uma
excelente amostragem), 402 tinham atividade remunerada. Destes, 55 eram
pedreiros, 49 empregadas domésticas ou faxineiras, 45 eram
pedreiros/ajudantes de ordem, 28 auxiliares de serviços gerais. Havia
197 trabalhadores com renda até 1 salário mínimo (cerca de U$ 317
dólares norte-americanos na época dos fatos) e 180 trabalhadores com
renda até 2 salários-mínimos. Prejuízos na remuneração foram apontados
por 470 pessoas.
2.1. A morte do morador Ivo Teles da Silva. Evidências de que a morte
ocorreu em decorrência das agressões físicas praticadas por policiais
militares durante a desocupação da comunidade.
O Sr. Ivo Teles da Silva contava com 69 anos e residia no Pinheirinho há 7 anos, com uma companheira.
No dia da desocupação Ivo Teles da Silva foi espancado pela polícia
militar, sofrendo lesões em várias partes do corpo. Foi socorrido no
Posto de Saúde do bairro e encaminhado ao Pronto Socorro do Hospital
Municipal. Ficou desaparecido por mais de uma semana, apesar das
insistentes tentativas de localização, por advogados, entidades de
direitos humanos e amigos. A única resposta do serviço médico era que
somente a Prefeitura poderia dar informações. E a prefeitura, por sua
vez, negava haver efetuado qualquer atendimento à vítima.
Ele só seria encontrado cerca de dez dias depois no Hospital
Municipal, outra unidade de saúde, já em estado de coma, e após ser
submetido a procedimentos cirúrgicos.
O boletim de atendimento de urgência, embora solicitado pela Defensoria Pública e pelo CONDEPE, jamais foi apresentado.
O serviço público de saúde deu alta médica ao Sr. Ivo Teles da Silva,
tendo sido encaminhado para a residência de sua filha, em Ilhéus-BA, de
cadeira de rodas, pois ainda não andava ou falava. Ele viria a falecer
dias depois, em 10.04.2012.
Embora não haja documentos oficias que atestem o nexo de causalidade
entre as agressões praticadas pela polícia e a morte, há inúmeras
evidências de que o seu falecimento se deu em decorrência dos fatos. As
circunstâncias da morte ainda não foram esclarecidas, seguindo a
sistemática sonegação de informação pela Prefeitura e demais órgãos da
administração pública (Anexo 13 – Ivo Teles 1 e Anexo 14 – Ivo Teles 2).
2.2. Caso David Washington Furtado. Morador baleado durante a desocupação.
David foi baleado nas costas, próximo à medula óssea, quando
protegia, com seu corpo, sua esposa, dos tiros de arma de fogo
disparados pela guarda municipal.
Hoje, apesar da intervenção cirúrgica e tratamentos clínicos que
ainda realiza, restaram sequelas nos membros inferiores que o tornaram
parcialmente incapacitado. Um de suas pernas está se atrofiando e David
Washington Furtado não recebe tratamento médico adequado.
Esse fato e os documentos que lhe comprovam estão amplamente registrados no relatório do CONDEPE (Anexo 12).
3. A situação das vítimas após a destruição do bairro
O Poder Público não tomou qualquer medida prévia para assegurar aos
moradores desalojados condições mínimas de sobrevivência.
Espantosamente, soube-se que a operação policial fora preparada durante 4
meses (Anexo 15 – Depoimento juíza Marcia Faria Mathey Loureiro).
Em nenhum momento desses 4 meses houve qualquer preocupação com o
bem-estar dos moradores, obrigação elementar das autoridades, em
especial do governador do Estado. Foram amontoados como animais, em
abrigos públicos.
A conduta das autoridades limitou-se ao uso da força na ação
policial. Tudo se resumiu a preparar violentamente o despejo das 6 mil
pessoas, desprezando-se o direito dos moradores a um tratamento digno
por parte do Estado.
Esse tratamento foi cruel e violador das mais elementares regras de
humanidade e civilidade. Constituiu mais um capítulo da série de ofensas
ao princípio da dignidade humana praticadas no episódio.
O relatório divulgado pela entidade não governamental Justiça Global (Anexo 16 – Relatório Justiça Global) assinala o seguinte:
As famílias despejadas foram levadas inicialmente a um centro de
triagem situado numa quadra poliesportiva próxima à ocupação, e depois
distribuídas por quatro abrigos diferentes, três organizados pela
prefeitura e um pelo movimento social. No dia 25 de janeiro, as famílias
abrigadas no local então coordenado pelo movimento social deixaram e
tiveram que se deslocar a pé para outro abrigo, providenciado pela
prefeitura, distante cerca de 4 km, no bairro Jardim Morumbi (grifo
nosso).
Note-se: famílias foram obrigadas a caminhar a pé 4 km. Homens, mulheres, crianças, idosos e enfermos. Prossegue o relatório:
"Em todos os abrigos as condições sanitárias são precárias, o espaço
insuficiente, o atendimento médico aos necessitados depende de
voluntários. Em quase todos, os desabrigados são obrigados a usar
pulseiras para suposto controle de entrada e saída, mas que, conforme
narrado pelos desabrigados, acabam sendo um sinal de identificação que
permitem agressões por parte da polícia fora dos abrigos".
"No abrigo situado no CAIC, moradores acusam funcionários da
prefeitura e o Conselho Tutelar de ameaçarem continuamente retirarem-lhe
os filhos, e no dia 26 de janeiro pelo menos uma desabrigada não tinha
informações nem acesso à sua neta que fora internada".
"No mesmo abrigo, CAIC, desabrigados relatam que o local estava sujo
com fezes de pombo no interior do alojamento onde as pessoas estão
dormindo. Não há água no local, alguns moradores relatam que a comida
servida está estragada e os desabrigados não estão sendo orientados
quanto ao seu destino."
"Luiz Alberto Ferreira Nunes declara que, além da falta de
alimentação, foi inicialmente proibido entrar no abrigo pelo fato de ter
passado das 23:00hs. Ele havia saído do mesmo para procurar alguma
alimentação para sua esposa, que está grávida, e apenas conseguiu
ingressar novamente no local após conversar com a polícia, assistentes
sociais e explicar a situação."
"Nos dias imediatamente posteriores ao despejo, funcionários da
prefeitura abordaram desabrigados, oferecendo passagens para quem
quisesse deixar a cidade para qualquer destino, inclusive para Estados
do norte ou nordeste, o que foi interpretado como uma sugestão de que os
moradores do Pinheirinho eram indesejados em São José dos Campos.
Diante da fraca receptividade a essas propostas, ela cessaram."
3.1 Condições atuais de moradia precária.
Na condição de desabrigados, sem roupas ou mesmo documentos, uma grande parcela dos moradores perdeu o emprego.
A maior parte das famílias esta recebendo o chamado aluguel social,
de R$ 500,00. Com a distribuição do benefício, os aluguéis de
residências simples, que já são habitualmente caros na cidade,
aumentaram de tal forma que impedem o estabelecimento minimamente
adequado das vítimas, obrigando a vida em condições precárias e muitas
vezes insalubres.
Muitas famílias estão morando em um único cômodo, muitas vezes
desprovido de janelas ou outros meios de ventilação. Outras dividem uma
mesma casa. E algumas ainda se dirigiram para casas com construção
condenada pela Defesa Civil.
A destruição de móveis e eletrodomésticos dificulta, ainda mais a condição precária de subsistência.
Muitas famílias tiveram que se deslocar para outras regiões da
cidade, o que impede a frequência escolar, o atendimento no posto de
saúde, mesmo para os idosos, deficientes e doentes, sem falar a
dificuldade para o convívio com a comunidade a que estavam habituados.
A alteração do local de moradia dificulta a realização do trabalho
daqueles que tem pouca remuneração, como os que fazem a reciclagem de
lixo, pois tem que se deslocar de um lado a outro da cidade, custeando o
transporte.
O aluguel social, portanto, é insuficiente às mínimas garantias de
vida digna para a família. Seria necessário restabelecer uma moradia
adequada, próxima ao antigo local, guarnecida dos móveis e equipamentos
necessários. (Anexo 17 – Matéria Revista "ISTO É")
4. A atuação do Poder Judiciário e dos Executivos do Estado de São Paulo e do Município de São José dos Campos.
Uma síntese da atuação do Poder Judiciário e das autoridades do
Executivo no episódio encontra-se no relatório já mencionado da entidade
Justiça Global (Anexo 15 e Anexo 18 - Reclamação CNJ), do qual nos
valemos para a descrição do que segue.
Havia uma negociação em curso entre o Governo Federal, Estadual e
Municipal para a celebração de um Protocolo de Intenções, visando
regularizar a área e especificando as atribuições de cada esfera de
governo.
A juíza Marcia Faria Mathey Loureiro, em entrevista que concedeu à
programa televisivo, declarou que tinha ciência da negociação (anexo
15). No entanto, segundo suas próprias palavras, entendeu que tais
negociações eram inócuas e estabeleceu, por sua própria conta, que
deveriam ser desconsideradas e determinou a execução IMEDIATA da ordem
judicial de despejo.
Já na madrugada de 17 de janeiro forças policiais se preparavam para
executar o despejo. No entanto, às 4h20 da manhã, a juíza federal
Roberta Monza Chiari deferiu liminar determinando às forças estaduais de
segurança que não promovessem a reintegração de posse, reconhecendo o
interesse da União em face da participação do governo federal no
processo de regularização da área.
O interesse da União fixava a competência da Justiça Federal.
Na parte da tarde do mesmo dia, tal ordem foi suspensa pelo juiz
federal Carlos Alberto Antonio Junior. No entanto, o Tribunal Regional
Federal, por despacho do Desembargador Federal Antonio Cedenho,
restabeleceu a ordem da juíza Roberta, no dia 19 de janeiro.
Assim, no dia dos fatos, 22 de janeiro, duas decisões impediam a
desocupação: o acordo, já mencionado, no processo de falência da
proprietária do imóvel, e a decisão da Justiça Federal confirmada pelo
Tribunal Regional Federal.
No entanto, silenciosamente, o Tribunal de Justiça de São Paulo, por
seu presidente, que não tinha jurisdição sobre o caso por ser autoridade
administrativa, a prefeitura de São José dos Campos e o governo
estadual executaram a decisão, como narrado acima, nas condições
descritas de inaceitável brutalidade e violência.
Deve ser notada a inusitada e peculiar atuação do presidente do
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Desembargador Ivan Sartori,
que determinou a presença de seu assessor, juiz Rodrigo Capez, no local
do despejo, munido de um despacho determinando fosse desconsiderada a
decisão do Tribunal Regional Federal e autorizando que fossem repelidas
quaisquer ordens por parte de forças federais (Anexo 19 – Ofício
Presidente do TJ-SP)
Buscou-se, até as ultimas instancias judiciais, a suspensão da ordem
de reintegração. Entretanto, o Ministro Presidente do Superior Tribunal
de Justiça (STJ) decidiu por respaldar a competência da juíza estadual
para as medidas ditas de urgência.
Mesmo que assim não fosse o ato já havia sido concretizado (com a
demolição das casas e expulsão dos moradores), com natureza satisfativa e
impossibilidade de retorno à situação anterior.
Assim, constata-se nos fatos uma grave anomalia no funcionamento das
instituições públicas e dos mecanismos jurídicos e políticos do país.
Ressaltem-se, para síntese, os seguintes aspectos:
(a) Os governos estadual e municipal, ao mesmo tempo em que
participavam da negociação para elaboração do Protocolo de Intenções
visando regularizar a área, prepararam e executaram, traiçoeiramente, em
atitude inaceitável para quem exerce munus público, a remoção dos 6 mil
moradores. Note-se que a operação policial foi preparada durante 4
meses, e evidentemente jamais teria sido realizada sem autorização do
governador do Estado, Geraldo Alckmin. Esta autoridade participava, por
sua Secretaria de Estado da Habitação, ao mesmo tempo, das negociações
para regularizar o terreno e da preparação da operação de remoção
abrupta dos moradores, executada pela força policial que comanda. Do
mesmo modo se comportou o Prefeito Eduardo Pedrosa Cury, de São José dos
Campos.
(b) A decisão da justiça estadual foi executada contra determinação
expressa da Justiça Federal e desconsiderando o acordo firmado pelo
síndico da massa falida, legítima representante legal da massa falida e
titular da ação de reintegração de posse.
(c) O presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo exorbitou de
suas funções, determinando a execução da ordem judicial sem considerar a
existência de um frontal conflito de competência entre as Justiças
Estadual e Federal. Segundo o ordenamento jurídico brasileiro, conflitos
de competência dessa natureza somente podem ser dirimidos pelo Superior
Tribunal de Justiça. Exerceu, dessa forma, atividade jurisdicional para
a qual não detinha competência, o que é primário e trivial na estrutura
jurídica do Brasil.
II. As violações da Convenção Americana sobre Direitos Humanos e demais documentos
Os fatos descritos constituem violações a diversos dispositivos da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, como segue:
1. Direito à Integridade Pessoal - artigo 5.1: "Toda pessoa tem
direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e moral"
Retirada de surpresa, sem aviso prévio, de madrugada, de 6 mil
pessoas que dormiam indefesas, incluindo crianças de todas as idades,
idosos e enfermos, com o uso de força policial que praticou ainda
inumeráveis atos de violências, significando indelével abalo psíquico e
moral e ofensa ao direito à integridade física da pessoa humana,
incluindo inevitáveis traumas psicológicos ou psíquicos a crianças .
Em situação semelhante de imposição de sofrimento e violação à integridade pessoal, já decidiu a Corte:
149. Remarcó la Comisión que por la época en que ocurrieron los
hechos de este caso, los llamados "niños de la calle" eran sometidos a
varias formas de "abusos y persecuciones" por parte de "agentes de
determinadas fuerzas de seguridad" del Estado, circunstancia que ya
había sido puesta de manifiesto por parte de esse organismo
interamericano en varios de sus informes.
(...)
151. En sus alegatos finales la Comisión sostuvo que los cuatro
jóvenes víctimas de tortura fueron retenidos e incomunicados, situación
que por sí misma necesariamente produce "gran ansiedad y
sufrimiento".(Caso "Niños de la Calle" - Villagrán Morales y otros Vs.
Guatemala)
Colocação das pessoas em abrigos coletivos, desprovidos de qualquer
conforto, em péssimas condições de higiene, em ambiente completamente
insalubre. Conviviam nestes espaços idosos, crianças, jovens,
deficientes físicos e inclusive doentes terminais jogados ao léu,
dormindo no chão (vide anexo 06).
Os moradores do Pinheirinho, empilhados nos abrigos, dividiam estes
espaços também com cachorros, pombos e até porcos (vide anexo 06).
Como é notório, mostra-se deveras desumano obrigar idosos de todas as
idades, inclusive com mais de 80 anos, que buscavam apenas um espaço
para ter privacidade, a permanecerem durante dias nestes abrigos
coletivos, tendo como particular apenas um colchonete para dormir em
meio a outras centenas de colchonetes espalhados pelo chão.
Os moradores da comunidade do Pinheirinho passavam o dia todo em
volta do seu colchão, em meio ao barulho de um local dividido com muitos
outros em situação idêntica.
Os idosos, assim como todas as pessoas, deixaram sob os escombros que
restaram da realização do despejo mais que móveis e roupas. Deixaram
seus sonhos e lembranças. Lembranças de uma vida toda foram soterradas,
fotografias de parentes falecidos, vídeos de crianças que já cresceram,
brinquedo que uma madrinha doou na infância, uma carta recebida há muito
tempo, talvez na juventude. A caixa de recordações que toda família
carrega, de fotos e lembranças recolhidas ao longo da vida, não mais
existe.
Em síntese, além da destruição de bens cujo valor pode ser auferido
(edificações, móveis, utensílios de uso doméstico etc), também foram
destruídos, para sempre, bens imateriais, de valor moral e emocional
inestimável.
A situação aqui retratada, particularmente no que diz respeito à
vulnerabilidade, assemelha-se à apreciada pela Corte, no caso Comunidade
indígena Yakye Axa Vs.Paraguay, sentença de 17 de junho de 2005:
50.108. La falta de garantía del derecho a la propiedad comunitaria
ha ocasionado que los miembros de la Comunidad permanezcan con miedo,
intranquilidad y preocupación. Esta situación los ha hecho vulnerables a
las amenazas y hostigamientos por parte de terceros, que sumado a la
falta de protección estatal, há provocado sentimientos de angustia e
impotencia en los miembros de la Comunidad Yakye Axa.
50.109. Las graves condiciones de vida en que permanecen los miembros
de la Comunidad que se encuentran asentados al costado de la carretera
pública han ocasionado daños inmateriales a éstos.
50.110. Los miembros de la Comunidad Yakye Axa, en particular los
niños y ancianos, han visto gravemente afectada su salud como
consecuencia de las condiciones de vida en la que permanecen."
2. Direito à Propriedade Privada – art. 21.1:"Toda pessoa tem direito
ao uso e gozo de seus bens"; art. 21.2: "Nenhuma pessoa pode ser
privada de seus bens, salvo mediante o pagamento de indenização justa,
por motivo de utilidade pública ou de interesse social e nos casos e na
forma estabelecidos pela lei".
As edificações em que residiam os moradores foram postas abaixo por
máquinas, resultando na destruição dos bens móveis e utensílios pessoais
de pessoas de baixa renda, privando-as do mínimo necessário para a
continuidade de suas vidas. Todo o patrimônio adquirido ao longo da
existência por aquelas pessoas foi destruído pelo Estado (Anexo 07 e
demais vídeos).
3. Igualdade Perante a Lei - art. 24: "Todas as pessoas são iguais
perante a lei. Por conseguinte, têm direito, sem discriminação, a igual
proteção da lei".
No conflito de interesses entre um proprietário privado e moradores,
foi privilegiado de forma absoluta o direito do proprietário, com total
desconsideração pelos direitos de sobrevivência digna e, igualmente,
pelo direito de propriedade dos moradores, que tiveram seus bens
destruídos (Anexo 10).
4. Proteção Judicial – art. 25: "Toda pessoa tem direito a um recurso
simples e rápido ou a qualquer outro recurso efetivo, perante os juízes
ou tribunais competentes, que a proteja contra atos que violem seus
direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição, pela lei ou pela
presente Convenção, mesmo quando tal violação seja cometida por pessoas
que estejam atuando no exercício de suas funções oficiais". Garantias
Judiciais – Art. 8.1: "Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as
devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal
competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por
lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou na
determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil,
trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza".
A Constituição do Brasil dispõe que a República tem como um de seus
fundamentos a dignidade da pessoa humana (art. 1º., inciso III).
Estabelece que é objetivo fundamental da República "erradicar a pobreza e
a marginalização" (art. 3º., inciso III) e "promover o bem de todos".
Os fatos aqui expostos demonstram que não há na legislação
infraconstitucional mecanismo ("simples e rápido", conforme o texto da
Convenção) capaz de assegurar a efetividade dos direitos fundamentais
reconhecidos pela Constituição e pela Convenção, particularmente quando
se trata de pessoas em situação de vulnerabilidade, como crianças,
idosos ou enfermos, além da parcela da população de baixa renda, privada
de condições de sobrevivência digna.
Viu-se o privilégio do direito de propriedade, o privilégio de
interesses econômicos e patrimoniais de pessoas já em situação de
vantagem social em detrimento da população marginalizada ou vulnerável. O
Código Civil e o Código de Processo Civil estabelecem regras para
defesa da posse, conferindo direito de reintegração no caso de esbulho.
Estes dispositivos não fazem nenhuma distinção entre (i) casos em que há
evidente interesse humano e social, com risco potencial ou iminente de
prejuízo à vida, integridade física, dignidade e sobrevivência de
pessoas vulneráveis, crianças, enfermos e idosos ou pessoas de baixa
renda e marginalizados, e (ii) casos em que estão em jogo interesses
exclusivamente econômicos ou patrimoniais. O resultado disso é que fatos
semelhantes a estes ocorrem com freqüência.
A ausência desse mecanismo jurídico determinado pela Convenção tem
sido responsável pela ocorrência de tragédias sociais e humanas.
Prevalece a singela aplicação de regras patrimoniais que remontam ao
Direito Romano, desconsiderando a moderna proteção à dignidade da pessoa
humana e normas correlatas.
Resulta, portanto, que direitos fundamentais, em face da realidade
social e econômica do país, como este caso ilustra, não contam com
proteção judicial porque o sistema jurídico do país os desconsidera
quando em confronto com os direitos de posse e propriedade. Inexistem
normas e instrumentos judiciais que conciliem o direito à
propriedade/posse com a sobrevivência básica de pessoas em situação de
vulnerabilidade social e econômica, de modo que o primeiro possa ser
respeitado sem que se degrade a condição de vida dessas pessoas.
Ressalte-se a peculiar proteção que o direito a um teto deve merecer: é
básico para o exercício de outros direitos. Não há direito ao trabalho, à
educação, à saúde, à integridade física, psíquica ou moral dos
indivíduos em geral e à proteção das crianças, dos enfermos ou dos
idosos, sem teto. A legislação ordinária contém recurso simples e rápido
para a defesa da posse daqueles que não dão cumprimento à função social
de suas propriedades e nenhum recurso simples e rápido para a defesa
dos direitos fundamentais garantidos pela Constituição, inclusive os que
dizem respeito ao elementar direito de sobrevivência digna.
Aplicável ao caso, assim, o artigo XVIII da Declaração Americana dos
Direitos e Deveres do Homem, cujo objeto é o direito à justiça:
"Toda pessoa pode recorrer aos tribunais para fazer respeitar os seus
direitos. Deve poder contar, outrossim, com processo simples e breve,
mediante o qual a justiça a proteja contra atos de autoridades que
violem, em seu prejuízo, qualquer dos direitos fundamentais consagrados
constitucionalmente".
Durante quase 8 anos os moradores da comunidade Pinheirinho litigaram
em vão nos tribunais. Além da inutilidade dos recursos judiciais de que
se valeram, viram-se desalojados sem aviso prévio por ação sorrateira
das autoridades do Judiciário e do Executivo e viram-se sem proteção.
5. Desenvolvimento progressivo - Artigo 26: "Os Estados Partes
comprometem-se a adotar providências, tanto no âmbito interno como
mediante cooperação internacional, especialmente econômica e técnica, a
fim de conseguir progressivamente a plena efetividade dos direitos que
decorrem das normas econômicas, sociais e sobre educação, ciência e
cultura, constantes da Carta da Organização dos Estados Americanos,
reformada pelo Protocolo de Buenos Aires, na medida dos recursos
disponíveis, por via legislativa ou por outros meios apropriados."
O que se presenciou no despejo do Pinheirinho foi verdadeira ação
estatal de destruição de direitos individuais, econômicos, sociais e
culturais. Os documentos oficiais, científicos, notícias e depoimentos
trazidos a esta honorável Comissão apontam para a existência de uma
comunidade urbana organizada e consolidada, inclusive, de acordo com as
normas urbanísticas, e em plena interação com os poderes públicos
locais. Um cenário onde 1.659 famílias estavam gozando de seus direitos,
até o advento da ação estatal.
O despejo realizado constituiu-se em grande retrocesso em matéria de
efetivação dos direitos humanos das famílias do Pinheirinho, que tiveram
rompidos, de maneira violenta, seus vínculos com o direito à dignidade,
moradia, educação, trabalho, saúde e lazer.
Analisando o caso do Pinheirinho em sua totalidade, observa-se que a
ação de despejo representa uma opção deliberada dos poderes públicos
pela via que vai em sentido oposto àquele orientado para o
desenvolvimento progressivo dos direitos humanos, sobretudo em se
tratando de um caso que reflete outras centenas de situações de
conflitos sociais no interior do Estado brasileiro.
6. Violações aos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
O Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos em
matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Protocolo de San
Salvador) obriga os Estados a adotarem medidas para, entre outros,
garantir o direito ao trabalho, saúde, educação, proteção da família,
crianças, idosos e deficientes. Os fatos aqui narrados desnudam a não
efetividade desses direitos no ordenamento brasileiro. As pessoas
desalojadas estão privadas dessas garantias. Patente que inexistem
normas, políticas públicas ou diretrizes governamentais que pudessem
assegurar, antes ou depois dos fatos, o gozo desses direitos. Com isto, o
Estado brasileiro desatende o artigo 2 do Protocolo de San Salvador,
que assim dispõe: "Se o exercício dos direitos estabelecidos neste
Protocolo ainda não estiver garantido por disposições legislativas ou de
outra natureza, os Estados Membros comprometem-se a adotar, de acordo
com suas normas constitucionais e com as disposições deste Protocolo, as
medidas legislativas ou de outra natureza que forem necessárias para
tornar efetivos esses direitos".
Registre-se, nesse aspecto, que os direitos humanos são indivísíveis.
O direito à moradia é pré-requisito para o gozo dos direitos econômicos
e sociais. Não há como se conceber o direito ao trabalho, à educação, à
saúde, proteção das crianças, idosos e enfermos em uma situação em que a
pessoa esteja desprovida de um teto. Programas habitacionais existentes
estão muito longe de atender a esta necessidade básica, o que está na
base de acontecimentos como os do Pinheirinho.
As vítimas das violações aqui noticiadas continuam sofrendo suas
consequências. Muitas permanecem sem abrigo ou acolhidas de favor em
condições desumanas, em parcos espaços cedidos por amigos ou parentes,
com comprometimento do direito à sobrevivência digna, em especial do
bem-estar de crianças, idosos, enfermos. O Estado omite-se, sem adotar
as medidas para atender de imediato as necessidades básicas das vítimas.
III. Admissibilidade
Esta petição preenche os requisitos de admissibilidade estabelecidos
pelos arts. 44, 46.1 'a', 'b', 'c', 'd' e 46.2 'a' e 'b', da Convenção.
As violações originaram-se de determinação do Poder Judiciário, tendo
as vítimas interposto todos os recursos possíveis, desde o início da
ação de reintegração de posse, em 2005, para evitar fossem desabrigadas.
A desocupação, no entanto, deu-se sem aviso prévio e no momento em que a
execução estava suspensa.
A determinação da Justiça Federal que impedia o ato foi descumprida por ato do chefe do Poder Judiciário do Estado de São Paulo.
As vítimas, desde 2005, ano em que foi apresentado à justiça o
primeiro pedido de reintegração de posse, esgotaram todas as
possibilidades de recursos judiciais aptos a evitar a execução do
desalojamento. No momento da execução da ordem de despejo, havia
determinação da Justiça Federal que impedia o ato e um recurso de agravo
em trâmite no Tribunal de Justiça de São Paulo, cuja decisão, que tinha
o condão de suspender a desocupação, foi protelada e permanece até hoje
em aberto (Anexo 18 – Reclamação ao CNJ).
No âmbito da responsabilização penal dos responsáveis diretos e
indiretos pelas violações aqui apontadas, cabe mencionar que não
tramitam procedimentos investigativos ou judiciais aptos para a apuração
e punição das autoridades mencionadas, permanecendo inerte inclusive o
Ministério Público. Considerando o peso funcional dos responsáveis pelas
violações e o histórico de impunidade no país, entende-se que nenhuma
medida de investigação que venha a ser proposta será eficaz para
determinar sanções.
Nesse sentido veja-se comunicado do Tribunal de Justiça de São Paulo,
assumindo responsabilidade pelo episódio (Anexo 21 - Comunicado
Tribunal de Justiça de São Paulo):
"Tendo em vista o noticiário sobre o episódio do Pinheirinho, o
presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo informa:
1 – Toda mobilização policial na data de 22/1/12 se deu por conta e
responsabilidade da Presidência do Tribunal de Justiça, objetivando o
cumprimento de ordem judicial;
2 – O efetivo da Polícia Militar em operação esteve sob o comando da
Presidência do Tribunal de Justiça até o cumprimento da ordem;
3 – O Executivo do Estado, como era dever constitucional seu,
limitou-se à cessão do efetivo requisitado pelo Tribunal de Justiça".
Já é do conhecimento do Sistema Interamericano a patente morosidade
dos procedimentos judiciais internos. Assim, por exemplo, como no caso
do Parque São Lucas (Relatório N° 40/03 - caso 10.301 - 42° Distrito
Policial - Brasil, ocasião em que foi observado pela peticionaria e
acatado pelo relatório que:
"22. A parte peticionária, por sua vez, alegou a ineficácia dos
recursos da jurisdição interna e a demora injustificada na tramitação
dos casos contra os responsáveis pelos fatos ocorridos no 42° Distrito
Policial, bem como a aplicação da exceção prevista no artigo 46.2, da
Convenção. Alegou, ainda, que o argumento do Governo no sentido de que a
denúncia fora apresentada demasiadamente rápido, não tendo havido tempo
para que se desse andamento aos processos da jurisdição interna poderia
ter sido válido em 1989, não procedendo contudo atualmente. Isto,
porque já se passaram mais de seis anos desde que os processos judiciais
iniciaram-se, sem que tenha sido proferida uma decisão definitiva a
respeito, em especial no tocante aos processos que tramitam na Justiça
Militar."
Note-se também que as circunstâncias do caso impõem a necessidade de
invocar a ação internacional porque "os recursos da jurisdição interna e
o próprio sistema jurídico interno não são efetivos para assegurar o
respeito aos direitos humanos das vítimas" (cf. Relatório 40/03 da
CIDH). Isto vincula-se à violação do Direito à Proteção Judicial,
previsto no artigo 25 da Convenção Interamericana.
Os fatos narrados nessa petição, ensejadores de múltiplas violações
de direitos humanos reconhecidos em documentos internacionais, não foram
submetidos à apreciação de nenhuma outra instância internacional de
direitos Humanos.
IV. Responsabilizações e Reparações
Pedem os requerentes que:
- O Estado brasileiro seja declarado responsável pela violação dos
artigos 5.1, 21.1, 21.2, 24, 25, 8.1, 26 da Convenção, artigo XVIII, da
Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e artigo 2º do
Protocolo Adicional (DESC).
- O Estado brasileiro adote as medidas legislativas necessárias, como
a reforma de dispositivos do Código Civil e Código de Processo Civil
relativos à posse, ao lado de políticas públicas, visando proteger
direitos fundamentais de pessoas em situação de vulnerabilidade por
condições pessoais, sociais ou econômicas, particularmente impedindo que
sejam privados de condições mínimas e dignas de sobrevivência em
litígios de posse.
- O Estado brasileiro adote medidas legislativas para instituir
mecanismo judicial (semelhante ao recurso de amparo) destinado a evitar,
de modo simples e rápido, flagrantes violações de direitos humanos como
as ora expostas, tendo em vista a inexistência de instrumentos
jurídicos no direito interno, aptos a à proteção dos direitos violados,
como mencionado no artigo 31, 2, a, do Regulamento da CIDH.
- Recomende-se a regulamentação normativa dos procedimentos judiciais
e policiais relativos à realização de despejos em conflitos fundiários,
nos moldes do Comentário Geral n. 7 do Comitê de Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais da Organização das Nações Unidas, e das Resoluções
nº 87 e 98 do Conselho das Cidades, do Ministério das Cidades do Governo
Federal brasileiro.
- O Estado brasileiro indenize os danos morais e materiais, de forma
justa e compensatória, todas as pessoas desalojadas da comunidade
Pinheirinho em decorrência dos fatos ocorridos no dia 22 de janeiro de
2012 na cidade de São José dos Campos, bem como garanta a efetivação dos
seus direitos à moradia adequada.
- O Estado brasileiro apure responsabilidades civis e penais e puna
os responsáveis pelos fatos ocorridos no dia 22 de janeiro de 2012 na
cidade de São José dos Campos, em todos os níveis, anotando apenas que
no plano estritamente funcional tramita perante o Conselho Nacional de
Justiça procedimento disciplinar (Anexo 18), requerido por alguns dos
peticionários desta denúncia, e que é o único instrumento de
responsabilização ao alcance do cidadão comum.
- Recomende-se ao Estado brasileiro que faça publicar em veículo de
comunicação de grande circulação o Relatório a ser emitido pela Comissão
Interamericana de Direitos Humanos e dê ciência aos Poderes Judiciário,
Executivo e Legislativo.
- Recomende-se que o Estado realize um processo de reforma das
instituições do sistema de segurança pública, admitindo o seu caráter de
justiça transicional, de modo a reorientar o sistema de segurança
pública brasileiro para a garantia e respeito aos direitos humanos,
sobretudo em situações de conflitos fundiários de natureza
reivindicatória de direitos.
- Recomende-se que o Estado, como meio de reparação simbólica,
realize pedido formal de desculpas aos moradores da comunidade do
Pinheirinho.
- A submissão do caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos caso não haja adequada solução.
V. Relação das Vítimas
Qualificação de 489 vítimas.
A listagem acima, contendo a qualificação de 489 vítimas, não é
exaustiva uma vez que o local contava com a presença de cerca de 6 mil
moradores. Posteriormente será informada a Comissão a qualificação de
outras pessoas que tiveram direitos humanos violados.
VI. Provas e Testemunhas
Provas
Sumários dos documentos anexos
Anexo 01 - Relato Antropólogo
Anexo 02 - Despacho Juiz Beethoven
Anexo 03 - Boletim AJD
Anexo 04 – Petição de acordo da suspensão do despejo
Anexo 05 – Relatório Oficial do Senador Suplicy
Anexo 06 – Fotografias
Anexo 07 - Vídeo despejo e violências
Anexo 08 - Vídeo - Repórter se emociona no Pinheirinho em SJC
Anexo 09 - Vídeo - Pinheirinho perdi tudo
Anexo 10 - Vídeo - Reintegração de Posse volta para a massa falida
Anexo 11 - Vídeo - Audiência Pública Sobre o Pinheirinho - Defensor Jairo
Anexo 12 - Relatório Condepe
Anexo 13 - Ivo Teles 1
Anexo 14 - Ivo Teles 2 - documentos médicos
Anexo 15 – Depoimento Juíza Márcia Loureiro
Anexo 16 - Relatório Justiça Global
Anexo 17 – Matéria Revista ISTO É
Anexo 18 - RECLAMAÇÃO DISCIPLINAR AO CNJ
Anexo 19 – Ofício Presidente do TJ-SP
Anexo 20 - Manifesto pela denúncia do caso pinheirinho à CIDH
Anexo 21 - Comunicado Tribunal de Justiça de São Paulo
Testemunhas:
- Eduardo Matarazzo Suplicy, brasileiro, Senador da República
Federativa do Brasil, Senado Federal, Praça dos Três Poderes, Edifício
Principal, Ala Senador Dinarte Mariz, Gabinete 2, Brasília, Distrito
Federal, Brasil.
- Adriano Diogo, brasileiro, geólogo, Deputado Estadual por São
Paulo, Rua Peixoto Gomide, 596 - 196B, São Paulo, São Paulo, Brasil.
- Aristeu Cesar Pinto Neto, brasileiro, advogado, Rua Eugenio Bonadio, 120 Ap.92 Centro, São José dos Campos, São Paulo, Brasil.
- Fausta Camilo de Fernandes, brasileira, Oficial de Justiça, Rua
Merimar Barbosa, 203, Jardim das Nações, Taubaté, São Paulo, Brasil.
- Lucia de Fátima Rodrigues Gonçalves, brasileira, jornalista, Rua
Padre Raimundo da Silva, 65, Vila Califórnia, São Paulo, São Paulo,
Brasil.
- Antonio Donizete Ferreira, brasileiro, advogado, Rua Cabo Frio 391 Jardim Satélite, São José dos Campos, São Paulo, Brasil.
- José Maria de Almeida, brasileiro, metalúrgico, Avenida Professor
Alfonso Boveiro, 546 Ap -404, Sumaré, São Paulo, São Paulo, Brasil.
- Jairo Salvador Souza, brasileiro, Defensor Público, Avenida
Comendador Vicente de Paulo Penido, n.532 - Jardim Aquarius Sao José dos
Campos, São Paulo, Brasil
São Paulo, Brasil, 21 de junho de 2012.
Assinam os peticionários:
Valdir Martins de Souza
Associação por Moradia e Direitos Sociais Aton Fon Filho
Rede Social de Justiça e de Direitos Humanos
Marcio Sotelo Felippe
Carlos Alberto Duarte
Sindicato dos Advogados de São Paulo
Fabio Konder Comparato
Celso Antonio Bandeira de Mello
José Geraldo de Sousa Junior
Cezar Britto
Antonio Donizete Ferreira
Dalmo de Abreu Dallari
Giane Ambrósio Álvares
Nicia Bosco
Camila Gomes de Lima
Aristeu Cesar Pinto Neto
FONTE:http://www.brasil247.com/pt/247/poder/81840/Trucul%C3%AAncia-no-Pinheirinho-pode-dar-prefeitura-do-PSDB-ao-PT.htm
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