Ao todo, foram assassinados 67 policiais da ativa e 18 aposentados;
número é maior do que o de todo o ano passado, quando houve 56 mortes na
corporação; confrontos com o Primeiro Comando da Capital, o PCC, estão
por trás da onda de insegurança em São Paulo.
Repórter da Agência Brasil.
São Paulo – Desde o começo deste ano até a última
quinta-feira (26), 85 policiais foram mortos em todo o Estado de São
Paulo. O dado oficial, confirmado pela Polícia Militar, ainda não
contabiliza a morte de um policial em folga, ocorrida na noite da última
quinta-feira (25) na capital paulista.
Segundo a Polícia Militar, 67
destes policiais mortos eram da ativa e 18 aposentados. O número já é
bem superior ao que foi registrado em todo o ano passado. Em 2011, de
acordo com a PM, 56 policiais foram assassinados, tanto da ativa quanto
os aposentados. Em 2010 foram 71 policiais militares, informou o órgão,
que não comenta o balanço.
Na última quinta-feira (25), o governador de São Paulo Geraldo
Alckmin informou que 117 pessoas foram presas nos últimos dois meses sob
suspeita de participação nos ataques contra os policiais militares.
Segundo o governador, outros 28 suspeitos estão sendo procurados e 19
morreram em confrontos com a polícia. “O governo não retroage. Não vai
voltar um milímetro. O que ganha um criminoso quando ataca a polícia?
Ele (criminoso) está querendo criar intimidação”, disse o governador,
defendendo a ação policial no enfrentamento contra o crime no estado.
Balanço divulgado na última quinta-feira (25) pela Secretaria de Segurança
Pública (SSP) informou que entre janeiro e setembro deste ano 13
policiais militares e dois policiais civis foram mortos em serviço. No
mesmo período do ano passado, 13 policias militares e oito civis foram
mortos em serviço. Mas o balanço não contabiliza o número de policiais
mortos enquanto estavam de folga.
Também entre janeiro e setembro deste ano, 28 pessoas morreram em
confrontos com policiais civis e 369 por policiais militares,
totalizando 397 pessoas mortas em confrontos com policiais no período.
Isso significou aumento de 8,5% em comparação ao ano passado. Nos mesmo
período de 2011, 30 pessoas morreram em confronto com policiais civis e
333 por policiais militares, totalizando 363 pessoas mortas em
confrontos.
Os números da secretaria também revelaram aumento de 96% no número de
homicídios na cidade de São Paulo no mês de setembro em comparação com o
mesmo período do ano passado. Em setembro, a capital registrou 135
casos de homicídios, enquanto no mesmo mês de 2011 foram registrados 69
casos.
No acumulado entre janeiro e setembro, a alta foi de 22% na capital,
com 920 casos de homicídios e 982 vítimas (o número de vítimas é maior
porque pode haver mais mortes em um mesmo boletim de ocorrência). Em
todo o estado, no mesmo período, o aumento foi de 8%.
Em entrevista concedida na manhã de sexta-feira (26), o secretário de
Segurança Pública Antonio Ferreira Pinto disse não acreditar que a
morte de policiais decorra de uma retaliação de organizações criminosas.
“O que está incomodando é o combate efetivo ao tráfico de drogas. Há
essa reação deles (criminosos), mas sem aspecto de retaliação”, disse.
“A estratégia é exatamente essa: com policiamento mais efetivo. O
combate é efetivo e temos certeza de que vamos reverter esse quadro
adverso no momento”, disse ele.
Durante a entrevista, o secretário disse que a estratégia de combate à
violência em São Paulo está correta. “Não há estratégia dando errada. A
estratégia tem dado certo”, disse Ferreira Pinto.
Ele também descartou a necessidade de as Forças Armadas auxiliarem as
ações policiais neste momento no estado. “São Paulo é auto-suficiente. A
polícia de São Paulo é preparada, tanto a civil quanto a militar”,
falou.
Segundo o secretário, a maior parte dos autores dos homicídios contra
os policiais já foi presa. “Temos apenas 10 (criminosos) computados que
reagiram e acabaram morrendo”, disse.
Em entrevista à Agência Brasil, o coronel reformado da PM paulista
José Vicente da Silva Filho, consultor de segurança e professor do
Centro de Altos Estudos de Segurança da Polícia Militar de São Paulo,
também analisa como correta a estratégia utilizada pela polícia no
estado. “Neste ano, a polícia vem fazendo uma repressão muito severa ao
tráfico e distribuição de drogas nas ruas da cidade o que tem suscitado
uma ação mais intensa dos criminosos incomodados com isso”, falou.
Segundo ele, também é preciso analisar os números referentes às
mortes de policiais, que indicam que a maior parte não ocorreu em
consequência a confrontos com organizações criminosas. “O que a polícia
tem percebido – e conversei sobre isso recentemente com o secretário e
com o comandante-geral da PM (Roberval Ferreira França) – é que há uma
variedade muito grande. Não se pode colocar tudo numa única cesta de
casos e atribuir uma causa comum a isso.
Temos aí uma quantidade
expressiva de policiais que reagiram a um assalto e morreram, que somam
mais de 20 casos, e casos de policiais que estavam executando algum
trabalho no seu horário de folga (como vigilantes particulares, por
exemplo) e acabaram morrendo. E temos também os casos com
características de execução, que é um outro grupo”, disse.
Para o coronel, o aumento no número de mortes de policiais neste ano
se deve a dois principais fatores: “Um é a intensificação muito grande
da polícia ao tráfico de entorpecentes. Outro aspecto é que a polícia
vem mantendo o ritmo pesado de prisão de criminosos”, disse. Segundo
ele, o que pode estar ocorrendo também é que alguns criminosos têm
aproveitado a onda de violência para “fazer ações contra seus principais
desafetos”.
“Historicamente, o que se percebe é que o grande instrumento que
existe para a polícia reduzir crimes é a reação competente dela ao
criminoso. O bandido tem de ter medo da polícia. Medo de ser apanhado,
de ser preso”, defendeu o coronel.
Já a socióloga e pesquisadora-associada do Núcleo de Estudos da
Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP), Camila Dias, acredita
que os números de mortes de policiais no estado revela “um contexto de
desequilíbrio das relações entre criminosos, sobretudo do PCC (Primeiro
Comando da Capital), e a polícia”.
Segundo ela, os números de mortes de policiais e civis são altos
porque decorrem “de uma guerra entre a polícia militar e o PCC”. Para
ela, “Isto produziu um perverso círculo vicioso cuja expressão é a
elevação das taxas de pessoas mortas, sobretudo com características de
execução sumária”.
Para Camila, há erros na política de segurança pública estadual. “Há
um 'mais do mesmo' que envolve o aumento do encarceramento e
investimentos na Polícia Militar, com compra de equipamentos e armas e
não se busca uma solução que vá além disto. Isto, aliás, não se limita a
São Paulo”, disse ela.
Camila defende que uma das soluções para evitar esses conflitos é
fazer uso da inteligência policial e de técnicas de investigação para
identificar os responsáveis pelas mortes. “Mas não basta identificar e
prender os acusados pelas mortes dos policiais. É evidente que isso é
importante.
Mas é fundamental, também, identificar os responsáveis pelas
mortes de civis que aumentam exponencialmente quando ocorre execução de
policiais e, muitas vezes, esse aumento se dá horas depois, no mesmo
bairro. É preciso, assim, investigar seriamente esses crimes,
principalmente se eles tiverem o envolvimento de policiais como muito
deles parecem ter”.
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