Segundo levantamento do Correio, 18% dos alunos matriculados na faculdade em 2010 não retornaram à graduação no ano passado. Especialistas destacam falta de interesse, de aptidão e de qualidade das instituições
GRASIELLE CASTRO - 25.Out.2012.
Recentemente
o Ministério da Educação (MEC) anunciou aumento de 5,7% nas matrículas
do ensino superior, entre 2010 e 2011.
O número, que superou a marca de
6,7 milhões de graduandos aliado ao dado de concluintes — 1.022.711 —,
mostrou também a outra face da expansão da etapa escolar no país.
Apesar
de o leque ter se aberto para mais estudantes, o número dos que
conseguem levar o curso até o fim ainda é baixo. Levantamento realizado
pelo Correio mostra que de 2010 para 2011 praticamente um milhão de
alunos não renovou a matrícula — taxa equivalente a 18%. Dos 5.398.637
de graduandos, somente 4.392.994 efetivaram a inscrição. Especialistas
afirmam que a expectativa de conclusão do curso no Brasil gira em torno
de 50%.
São
diversos os motivos que levam alunos a desistirem dos cursos. O diretor
do Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da
Tecnologia, Roberto Leal Lobo, especialista no tema, destaca a falta de
motivação, de interesse, questões financeiras e até a qualidade da
universidade. “Existe um mundo de possibilidades. Muitas instituições
não conseguem fazer uma boa transição entre o que o estudante espera e o
que ele vai encontrar no ensino superior. Também existem os que não têm
base e se perdem na universidade, logo são desencorajados.”
Desistência - A técnica de segurança do trabalho, Cecília Nunes, 28 anos, faz parte da relação dos que tentaram seguir o caminho do ingresso na faculdade, mas deu errado. A estratégia não funcionou para a jovem que não conseguiu sair do primeiro semestre de turismo, em uma faculdade particular do Distrito Federal. “Gostava do curso, mas não tive condições financeiras”, conta. A solução foi o ensino técnico. Formada em segurança do trabalho, Cecília pensa em voltar a estudar. “Mas faria outro curso. Turismo não tem mais a ver com meu projeto de vida.”
Prejuízo - Alguns estudantes não necessariamente desistem da graduação, apenas mudam de área ou trancam o curso. Ainda assim, para especialistas, esses alunos entram na conta de investimento sem o lucro esperado. Segundo cálculos do Instituto Lobo, cada aluno custa cerca de R$ 15 mil ao ano nas instituições públicas e R$ 9 mil nas privadas. Para Roberto Lobo, o prejuízo não se restringe ao estudante e à instituição. “A sociedade também perde”. O número de desistências, hoje estimado em 18%, embora seja alto, já foi pior e está perto da média global. “O pico foi em 2008 e 2009, quando houve a expansão do ensino — chegou a 21%. Nos Estados Unidos, por exemplo, as boas universidades são as que colecionam índices baixos.”
Na
opinião do assessor especial da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e professor da Universidade
Católica de Brasília, Célio Cunha, a qualidade do ensino oferecido é o
motivo mais forte do baixo índice de renovação de matrículas,
principalmente nas instituições públicas. Segundo ele, é fundamental que
as universidades apostem em uma pedagogia que possa acompanhar os
alunos mais de perto. “É importante ter uma política de orientação, como
ocorre na pós-graduação”, acredita. O Ministério da Educação diz estar
ciente dos dados e estuda a situação.
Metologia
Superior incompleto - A quantidade de estudantes que não renovaram a matrícula foi calculada pela reportagem do Correio com base no Censo da Educação Superior 2011. O levantamento do Inep mostrou que 6.379.299 de pessoas se matricularam em instituições de ensino em 2010. Excluindo os 980.662 formandos, mais de 5 milhões de pessoas deveriam ter feito a matrícula novamente.
Em 2011, das 6.739.689 inscrições, 2.346.695 foram de calouros, totalizando 4.392.994 de estudantes remanescentes. Ao subtrair o número dos que se matricularam com os que deveriam ter se inscrito, a reportagem chegou aos 1.005.643 que ficaram para trás.
Os dados, entretanto, não levam em consideração estudantes que mudaram de curso, trancaram provisoriamente ou morreram no período. O Inep promete para esta semana o lançamento dos microdados do Censo, capazes de precisar ainda mais a informação.
Fonte: http://www.exercito.gov.br/web/imprensa/resenha
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