Vinte grupos detêm 40% do mercado de ensino superior privado, que está em expansão graças a programas de financiamento universitário.
PRISCILLA OLIVEIRA - Jornal Correio Braziliense.
25. Nov. 2012 - Impulsionado
pelos incentivos do governo, que têm facilitado o ingresso de
brasileiros na graduação por meio de programas de financiamento, o
mercado nacional de educação particular se tornou um negócio promissor
para os grupos do segmento. De olho nos milhões de estudantes que
concluem o ensino médio e não conseguem ingressar nas universidades
públicas, grandes empresas têm promovido uma dinâmica sem precedentes de
compra de instituições de pequeno e médio portes que chega a
movimentar, anualmente, R$ 29,8 bilhões.
Com
as recentes fusões e aquisições, mais de 40% desse setor é controlado
por apenas 20 empresas, segundo levantamento da consultoria Hoper
Educação, concentrando o ensino superior particular — responsável pela
preparação de 73,2% dos universitários — nas mãos de poucos. E a
expectativa é de que, em 2015, 50% do mercado esteja sob a administração
de 12 grupos. De acordo com o presidente da LatinLink Consultoria, Ruy
Coutinho, o país deve manter o ritmo de aglomerações durante, pelo
menos, os próximos três anos.
Para
ele, o grande atrativo está no potencial do setor, que ainda tem muito a
crescer. O número de pessoas com formação intermediária concluída que
não cursam a graduação, segundo a consultoria, é de 13 milhões. E esse
volume é acrescido anualmente por cerca de 1,8 milhão de brasileiros.
“Somente 30% dos alunos que saem do ensino médio ingressam no superior.
Os programas de financiamento do governo, como o Fies e o ProUni, têm
aumentado essa demanda, o que transformou o Brasil em um bom negócio
para as empresas”, afirma Coutinho.
Com
464 polos para aulas presenciais e a distância no Brasil, a Kroton
Educacional compete com o grupo Anhanguera — que soma cerca de 500
unidades — pelo posto de maior rede de ensino privado do país. No mundo,
as duas empresas brasileiras só rivalizam com a chinesa New Oriental,
cujo valor de mercado é de US$ 3,025 bilhões (veja arte), ou R$ 6,3
bilhões.
O
movimento de aquisição de instituições menores pelos grandes grupos,
segundo os especialistas, começou em 2007, com o processo de abertura de
capital, e se expandiu rapidamente. Nos últimos 12 meses, a Kroton,
cotada a R$ 4,7 bilhões, comprou duas unidades e praticamente dobrou o
número de alunos: passou de 264 mil para 411 mil. Avaliada em R$ 4,8
bilhões, a Anhanguera tem outros 440 mil alunos, 209 mil deles
incorporados este ano.
Para
o presidente da Hoper, Cosme Massi, a concentração, nesse caso, é vista
como positiva, além de inevitável. “Na mão desses grupos, a
concorrência entre as faculdades fica acirrada, o que puxa a mensalidade
para baixo”, afirma. “Do ponto de vista da qualidade, as avaliações do
ensino feitas pelo Ministério da Educação não permitem que essas
instituições deixem a desejar nesse quesito”, completa.
Na
contramão, o economista da Planer Consultoria, Demetrius Lucindo,
acredita que o oligopólio de setores essenciais, como educação e saúde, é
negativo a longo prazo. “Quanto menor o número de pessoas ofertando o
serviço, mais fácil a manipulação dos preços”, afirma.
Fundos de investimento - Segundo
analistas de mercado, ao contrário do que ocorre em outros segmentos,
em que as companhias se endividam para crescer com novas aquisições, os
grupos educacionais de maior relevância compram centros por meio de
fundos de investimento.
O
economista Clodoir Vieira explica que, como as empresas apresentam um
endividamento baixo em relação ao patrimônio construído, ainda há espaço
para comprar novas unidades sem a utilização dos fundos. “Há espaço
para se endividar, caso interesse às empresas não utilizar os fundos de
investimento”, afirma. “Esses grupos não têm nenhuma preocupação em
crescer organicamente. O objetivo é aumentar o valor de mercado com
novas aquisições”, completa.
Do
ponto de vista jurídico, os analistas procurados pelo Correio acreditam
que as operações não devem ser barradas pelo Conselho Administrativo de
Defesa Econômica (Cade), à medida que várias instituições de ensino
menores, sem ligação com os grandes grupos, permitem uma pulverização do
mercado. Ao todo, existem no Brasil 2,1 mil instituições, que somam 4,7
milhões de alunos.
Vagas ociosas - A
adesão aos financiamentos ainda é baixa — apenas 17% parcelam os
estudos —, o que aumenta o potencial de alunos que podem recorrer ao
incentivo. Falta oferta de crédito para cerca de 2 milhões de
estudantes, de acordo com a pesquisa da Hoper Educação. Por outro lado,
sobram vagas a serem preenchidas: o setor privado tem hoje 1,5 milhão de
oportunidades ociosas. “Potencialmente, tem gente para estudar, o
grande problema é como transformar esse jovem em aluno de fato, já que
ele não consegue arcar com os custos do estudo”, argumenta Cosme Massi.
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