Jornal O GLOBO.
Novo estatuto levou ao assassinato de policiais como represália
25.Nov.2012. São
Paulo - Desde o início deste ano, 96 policiais militares foram mortos em
São Paulo (em todo ano passado foram 47).
O "salve" de agosto, espécie
de comunicado interno da facção criminosa, determina que os PMs a serem
assassinados devem ser da mesma corporação responsável pela morte de
integrantes da organização. Pelo menos duas execuções por parte da elite
da PM paulista, a Rota, teriam motivado os ataques, de acordo com o
texto.
A
reação dos policiais aos ataques, com mais mortes, foi um dos motivos
que levaram à queda do secretário de Segurança Antonio Ferreira Pinto,
que perdeu o controle da tropa, segundo avaliação do governo paulista.
Desde janeiro, 4.107 pessoas morreram no estado de São Paulo, contra
3.610 no mesmo período do ano passado - um aumento de 14%. Em outubro,
foram 176 mortes na capital, contra 82 no mesmo mês de 2011.
A
atuação dos integrantes da facção pelo Brasil é supervisionada por
membros chamados de "sintonia dos estados", que respondem diretamente ao
comando. Eles dividem entre si as áreas de influência, cada um com seu
caixa próprio, alimentado por mensalidades, lucros de rifas e doações. A
maior dificuldade nos outros estados é manter os integrantes fiéis à
facção quando deixam as unidades prisionais. Diferentemente de São
Paulo, onde a presença marcante de integrantes nas ruas facilita o
controle sobre infiéis.
Cada
integrante fora da cadeia era obrigado a pagar R$ 600 mensais à
organização. Desde meados deste ano, com o fortalecimento do combate ao
grupo, o preço subiu para R$ 850. Em troca da mensalidade, o integrante
obtém benefícios no caso de ser preso (advogado e ajuda financeira para a
família), além do direito de se identificar como integrante da facção.
Se
os primeiros estatutos da facção davam mais ênfase à "luta pela
liberdade, justiça, paz e igualdade", a última versão trata do
fortalecimento do crime e da cobrança pela morte de policiais a cada
execução de integrantes. "Vida se paga com vida, sangue se paga com
sangue", diz o texto.
A
expansão da organização fora de São Paulo se deu a partir da prisão de
criminosos paulistas ligados à facção em outros estados. O grupo mantém
um livro de controle único para novos adeptos, alimentado com dados
transmitidos dos estados e com numeração por ordem de chegada. Foi dessa
forma que se constatou serem mais de 5 mil. Em São Paulo, o controle é
feito pelo número de matrícula dos detentos no sistema prisional.
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