A Secretaria da Comunicação (Secom) da presidência da República,
responsável pelo investimento publicitário das verbas do governo
federal, autarquias e empresas estatais, publicou texto assinado pelo
seu secretário questionando críticas realizadas por pequenas empresas de
comunicação e empreendedores individuais, entre eles blogueiros, acerca
dos seus critérios.
A Altercom como entidade tem defendido os interesses da sua base e
proposto entre outros pontos que se estabeleça como política a
destinação de 30% das verbas publicitárias às pequenas empresas de
comunicação. Pratica adotada em outros setores da economia, como na
compra de alimentos para a merenda escolar. E também em outros países
onde a pluralidade informativa é obrigação do Estado, inclusive do ponto
de vista do financiamento.
Em nome da qualidade do debate democrático, a Altercom utilizará os
números do estudo divulgado pela Secom para defender sua tese de que a
política atual do governo federal está fortalecendo os conglomerados
midiáticos, não garante a pluralidade informativa e mais do que isso não
reflete os hábitos de consumo de comunicação e informação do
brasileiro.
Tem como única referência os parâmetros das grandes agências
de publicidade e seu sistema de remuneração onde o principal elemento é
a Bonificação por Volume (BV).
A partir disso, seguem algumas observações que têm por base os
números do estudo publicado e assinado pelo secretário executivo da
Secom.
Em 2000, ainda no governo FHC, o meio televisão representava 54,5% da
verba total de publicidade que era de 1,239 bilhão.
Em 2012, esse
percentual cresceu para 62,63% de uma verba de 1,797 bilhão. Ou seja,
houve concentração de verba em TV mesmo com a queda de audiência do meio
e o fortalecimento da internet.
Em 2011, os grandes portais receberam 38,93% das verbas totais de
internet.
Em 2012, os grandes portais passaram a receber 48,57% deste
volume. Mesmo com a ampliação da diversidade na rede a Secom preferiu a
concentração de recursos.
Também de 2011 para 2012, a Rede Globo aumentou sua participação no
share de Tvs. Saiu de 41,91% em 2011 para 43,98% no ano passado.
Se a Secom utilizasse como base o que a TV Globo recebeu da sua verba
total ano a ano, o resultado seria desprezível do ponto de vista da
desconcentração como defendido a partir do estudo.
Em 2000 a TV Globo
teve 29,8% do total da verba da Secom e em 2012 esse percentual foi de
27,5%. Neste número não estão incluídas as verbas para TV fechada, que
eram de 2,95% em 2000 e passaram para 10,03% do total do meio TV em
2012. Nesse segmento, provavelmente a maior parte dos recursos também
vai para veículos das Organizações Globo que ainda tem expressivos
percentuais dos recursos para jornais, rádios, revistas, portais etc.
Utilizando os dados da Secom também é possível chegar a conclusão de
que em 2000, a TV Globo ficava com aproximadamente 370 milhões das
verbas totais de publicidade do governo federal. Em 2012, esse valor
passou a ser de aproximadamente 495 milhões.
O secretário executivo da Secom também afirma que houve ampliação do
número de veículos programados de 2000 para 2012, o que a Altercom
reconhece como um fato. Essa ampliação foi significativa, mas no texto
não é informado qual a porcentagem do valor total destinado a esses
veículos que antes não eram programados.
Por fim, no estudo o secretário parece defender apenas o critério da
audiência quantitativa como referência para programação de mídia. Sendo
que a legislação atual não restringe a distribuição das verbas de mídia
ao critério exclusivo de quantidade de pessoas atingidas.
Aponta, por
exemplo, a segmentação do público receptor da informação e o objetivo do
alcance da publicidade, entre outras questões. E é notório também que a
distribuição dos recursos deve considerar a qualidade do veículo
programado e a sua reputação editorial.
Considerando que a Secom está disposta ao diálogo, o que é bom para o
processo democrático, a Altercom solicita publicamente e por pedido de
informação que será protocolado com base na legislação vigente, os
seguintes dados.
A lista dos investimentos em todas as empresas da Organização Globo no período do estudo apresentado pela Secom (2000 a 2012).
O número de veículos programados pela Secom ano a ano no período do estudo (2000 a 2012).
Quanto foi investido por cada órgão da administração direta e indireta no período do estudo (2000 a 2012).
Quais foram os 10 veículos que mais receberam verbas publicitárias em
cada órgão da administração direta e indireta em cada meio (TV, rádio,
jornais, revistas, internet etc) no período do estudo (2000 a 2012).
A curva ABC dos veículos e investimentos realizados pela Secom. Ou
seja, o percentual de verbas aplicadas nos 10 maiores veículos, nos 100
maiores e nos demais no periodo de 2000 a 2012.
O que justifica do ponto de vista dos hábitos de consumo da
comunicação a ampliação do percentual de verbas publicitárias de 2000
para 2012 no meio TV.
O sistema e o critério de classificação e ranqueamento que estaria sendo utilizado pela Secom para programação de mídia.
A Altercom tem outras ponderações a fazer a partir do estudo
apresentado, mas confiando na postura democrática da atual gestão avalia
que os pontos aqui levantados já são suficientes para que o debate seja
feito em outro patamar.
Reafirmamos nossa posição de que a distribuição das verbas
publicitárias governamentais não pode atender apenas a lógica
mercadista. Elas precisam ser referenciadas nos artigos da Constituição
Federal que apontam que o Estado brasileiro deve promover a diversidade e
a pluralidade informativa.
A Altercom também reafirma a sua sugestão de que a Secom deveria
adotar o percentual de 30% das verbas publicitárias para os pequenos
veículos de informação, o que fortaleceria toda a cadeia produtiva do
setor da comunicação.
E colocaria o Brasil num outro patamar
democrático, possibilitando o fortalecimento e o surgimento de novas
empresas e veículos neste segmento fundamental numa sociedade
informacional.
Matéria Lincada de: http://mariafro.com/2013/04/23/nota-da-altercom-estudo-da-secom-comprova-concentracao-das-verbas-nos-grandes-veiculos/
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