Créditos Foto: © AFP |
A manifestação contra o aumento de preços do
transporte público no estado de São Paulo, violentamente reprimida pela
polícia, foi o início do movimento atual. Mas na realidade, são vários e
diferentes os problemas cuja solução por parte dos governos – o federal
e os estaduais – é exigida pelos manifestantes. O Brasil já conheceu
greves de bancários, de funcionários do metrô, manifestações de
estudantes, de professores, de motoristas, de índios, protestos contra a
construção de usina em Belo Monte e contra a FIFA, nas vésperas da Copa
do Mundo.
Há pessoas que afirmam que tudo isso se
confunde em um só nó górdio do governo federal. Um país tão vasto como o
Brasil deveria reagir com maior precisão aos problemas locais dos seus
estados e, em vez de espalhar pelo mundo a imagem de uma economia que
pode desafiar os "tigres" asiáticos e os "gigantes" reconhecidos, fazer
esta economia funcionar para o bem dos cidadãos. Outras declaram que as
palavras de ordem que gritam os manifestantes, se referem a problemas
inventados ou artificialmente "inchados".
Por exemplo, o
jornal britânico The Financial Times publicou na semana passada um
artigo em que sublinha que há frases usadas no movimento popular que vêm
da publicidade comercial, alegando que isto seria sinal de "consumismo
excessivo e alienação política". (No entanto, várias pesquisas do
folclore moderno confirmam a apropriação de frases correntes na mídia
por movimentos populares como prática existente e legítima, que vem
depois do Maio 68 francês.)
O correspondente da Voz da
Rússia conversou com Moara Feola Capellari, estudante da Universidade de
São Paulo, que agora está estudando a língua russa em Moscou, sobre os
acontecimentos que estão acontecendo no seu país.
– Como você vê o movimento social no Brasil agora?
–
O movimento social que está acontecendo agora no Brasil é muito
importante, pois evidencia problemas que enfrentamos no país e que têm
sido escondidos atrás do crescimento econômico do Brasil, ou da Copa do
Mundo.
– A onda das manifestações que agora surgiu
no Brasil tem como fonte uma série de problemas do âmbito tanto social,
como político. Existe um ponto geral que une os problemas, fazendo
possível um movimento unido?
– O que aconteceu foi
um estopim (o aumento da tarifa no transporte público), mas diversos
problemas são discutidos agora, no momento que estão dando voz aos
manifestantes. O problema maior é que não há um direcionamento das
reivindicações, e agora, a direita se apropria da "onda" de
manifestações para fazer manifestações vazias e sem proposta como ''sem
corrupção'' ou ''pela paz''.
– Quais são os problemas principais de que tratam os manifestantes?
–
O problema principal foi o aumento da passagem no transporte público,
mas a insatisfação vem sendo resultado de muitas coisas, por exemplo, a
ascenção da banca conservadora, e por exemplo, ter Marco Feliciano como
líder da comissão de direitos humanos, o que é surreal, pois ele é, além
de homofóbico, racista. Houve também a aprovação pela Comissão de
Finanças do absurdo Estatuto do nascituro, o que causou muita revolta
também, o que mostra que temos muito mais questões a serem observadas
além de somente a tarifa do transporte público. Mas o congelamento no
preço foi a primeira de muitas vitórias.
– Qual a sua opinião sobre os atos de violência e sobre a evolução do crime de rua durante os protestos?
–
Os atos de violência, na minha opinião, sempre partem da policia, a
reação da massa será imprevisível, e possivelmente, será respondida na
mesma moeda.
– Segundo você, para quando a resolução da tensão social e política que existe agora? O que deveriam fazer o governo e o povo?
–
Acho que o governo está no caminho certo, desfazendo licitações
bilionárias com as concessionárias de ônibus e propondo plebiscitos, e o
povo também, deve sair e manifestar-se.
– Você participou ou gostaria de participar de uma ação dessas?
– Só não participei por que estava fora do Brasil, mas sim, teria participado.
–
As ações de protesto de estudantes da USP em 2011 produzem a impressão
de que os alunos do Brasil são muito politizados, entendem muito de
política e querem participar dela. Os universitários são um grupo muito
ativo, ou é fenômeno geral?
– Acredito que a
população do Brasil sempre foi afastada propositalmente da política,
então o engajamento político não é uma coisa muito disseminada entre o
povo em geral. No meio estudantil acredito que a disseminação de ideias
políticas tem muito mais forca.
– Existe diferença
na quantidade dos manifestantes em São Paulo e em outras cidades ou
estados? As exigências são as mesmas ou diferem dependendo da região?
–
Acredito que no sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais)
talvez haja mais manifestantes. O Brasil é um país enorme e muito
heterogêneo, as reivindicações variam de região para região, na região
norte, por exemplo, tivemos manifestações contra a construção da usina
de Belo Monte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário