domingo, 3 de janeiro de 2016

Maranhão - Madeireiros intensificam ataques aos indígenas KA ´APOR.

Foto - Vias de Fato.
Para os Indígenas, madeireiros agem com a conivência de políticos e até da polícia.
O Conselho Indigenista Missionário (CIMI), denuncia a gravidade da situação dos indígenas Ka´apor do Maranhão que continuam sob fortes ataques de madeireiros. Nesse período em que as atenções ficaram voltadas para as festas de fim de ano, os criminosos aproveitaram para invadir o território e causar terror nas aldeias.
De acordo com os indígenas, no dia 20 de dezembro um grupo de Ka`apor realizava o controle dos incêndios na Terra Indígena Alto Turiaçu, quando se deparou com vários madeireiros em um dos ramais que havia sido fechado por eles. Até uma ponte sobre o rio Turi, havia sido construída pelos invasores, para facilitar a retirada ilegal da madeira.

Foto - Vias de Fato.















Os indígenas então, atearam fogo em um caminhão e duas motocicletas e apreenderam sete homens no intuito de entregá-los ao Ibama. 

Porém, um deles conseguiu fugir e avisou outros madeireiros que estavam no povoado Nova Conquista, município de Zé Doca. 

A partir daí, um grupo de mais de 20 madeireiros armados, invadiram o território Ka´apor, agredindo e atirando nos indígenas e expulsando as pessoas das aldeias.

Os que mais sofrem, são as mulheres, as crianças e os idosos que, mesmo estando, alguns, gravemente doentes, tiveram que fugir às pressas. Desde então, sucessivas e violentas invasões e perseguições aos indígenas e a defensores de direitos humanos, vem acontecendo, sem que nada seja feito para deter os criminosos. Depois de várias denúncias à Polícia, ao Governo do Estado e ao Ministério Público, a Polícia Civil esteve no local, e teria ouvido apenas os madeireiros. 

Posteriormente, a Polícia Federal visitou o local e teria limitado-se a dizer que os Ka´apor é que deveriam ter evitado o confronto: “Como vocês nem resolveram o primeiro problema (se referindo ao inquérito que apura o assassinato de Eusébio Ka`apor que está parado) não poderiam ter evitado um segundo problema?” Teria dito o Policial Federal.
Foto - Vias de Fato.
O Dr. István van Deursen Varga, coordenador geral do Núcleo de extensão e pesquisa com populações e comunidades Rurais, Negras quilombolas e Indígenas (NuRuNI) da UFMA, e integrante da Associação Nacional de Ação Indigenista (ANAÍ), chama atenção para a informação de que, segundo depoimentos dos Ka’apor e cópia do “laudo médico” que lhe foi repassada, no único atendimento prestado aos indígenas baleados, o médico do Distrito Sanitário Especial Indígena do Maranhão (DSEI-MA) se limitou a realizar curativos nos ferimentos, sem sequer realizar qualquer inspeção ou tentativa de retirada dos projéteis, nem solicitar exame radiológico para avaliar a extensão dos ferimentos – o que configuraria um caso gravíssimo de negligência médica.
Tudo isso, causa muita indignação e tristeza nos indígenas, que dizem não ter com quem contar, ou em quem confiar. De acordo com eles, nem a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), nem o Batalhão da Polícia Ambiental (BPA), lhes passam segurança, pois, os guardas do BPA ficam de conversa com os moradores dos povoados que tem ligação direta com os madeireiros, não existe transparência no trabalho.
“As pessoas estão apavoradas, estressadas, lembram constantemente o momento da invasão, estão em estado de choque. Principalmente as crianças, os adolescentes e os idosos. Diz Auridenes Matos, integrante do Fórum Estadual de Transparência, Controle Social e Políticas Públicas (FETCSPP).
Para os Ka´apor, todos esses conflitos, agressões, ameaças e assassinatos são resultados da inoperância do Estado. Do envolvimento de políticos com a máfia da madeira, e da falta de implementação de políticas ambientais.
Um caso de grande repercussão foi o do Deputado Estadual maranhense, Fernando Furtado, do PCdoB, que foi eleito pela organização Survival International o vencedor do prêmio “Racista do ano de 2015”. 
O parlamentar disse em audiência pública em São João do Caru que os índios eram um bando de “viadinhos” e “baitolas”. Para a Survival, “Essas observações repugnantes indicam a extensão do racismo contra os povos indígenas entre algumas das pessoas mais poderosas na sociedade brasileira.”
“Tudo o que acontece aqui é por falta de fiscalização do Estado, pela falta de punição aos agressores, pela concessão de licenças ambientais ilegais por parte da Secretaria de Meio Ambiente, concessões de alvarás para as serrarias, movelarias e cerâmicas usarem madeiras ilegais extraídas das terras indígenas. 
O Estado deixa primeiro a violência acontecer para depois agir. O pior é que essas ações sempre prejudicam ainda mais nosso povo” Denunciou uma liderança Ka`apor.
Foto - Vias de Fato.
Para os indígenas, é um direito, defender e proteger seu território, pois a floresta é a casa deles. 

“Esses homens entram nas nossas terras, derrubam as árvores, roubam nossos equipamentos de trabalho dentro da nossa casa, roubam nossas caças, o único alimento que temos para nós e nossos filhos, nos agridem, nos matam e nós é que somos violentos?” Questiona um indígena.

Muitas lideranças Ka´apor, estão sob ameaças de morte, não podem sequer retornar para suas famílias. Recentemente, um indígena, enviou uma mensagem de socorro, pedindo para alguém pelo menos ajudar sua família, pois, por causa das ameaças, estava escondido e não podia sequer caçar para alimentar os filhos.

Um outro fator que tem causado bastante revolta, é o apoio que os madeireiros tem encontrado em parte da imprensa tradicional, com reportagens que incitam o ódio racial. A imprensa que faz questão de vitimar os agressores, também faz questão de esquecer do assassinato da liderança indígena, Eusébio Ka´apor, em abril de 2015, das pessoas assassinadas dentro da Reserva Biológica (REBIO) do Gurupi, entre elas, O Sr. Raimundo Rodrigues, conselheiro da REBIO. Todos esses crimes são atribuídos a madeireiros e continuam impunes.


No Maranhão, como em todo o Brasil, várias instituições e entidades que trabalham em defesa dos interesses e direitos dos povos indígenas e tradicionais também têm tido seus profissionais e militantes diretamente ameaçados: “O que nos causa perplexidade, até agora, é a morosidade do Governo do Estado e dos órgãos que deveriam atuar na proteção dos indígenas. 

Ficamos de mãos atadas, corremos grande perigo, muitos de nós temos que ficar escondidos por causa das ameaças” lamenta Gilderlan Rodrigues do CIMI.

Os indígenas alegam ainda que sempre respeitaram o direito dos não índios e que não vão aceitar que os seus, sejam violados. “Não queremos guerra, queremos apenas viver em paz na nossa terra. Mas, não vamos temer nem nos intimidar com as armas dos madeireiros, vamos continuar nossa luta em defesa do nosso território, do nosso jeito. Somos guerreiros Ka´apor!”.

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