A Síria foi tomada por
alvo para ser destruída, porque tem papel crucial no Eixo da Resistência do
mundo árabe contra a expansão de Israel e EUA. Por isso o Hezbollah – outra
parte do mesmo Eixo – luta ao lado do Exército Árabe Sírio no conflito sírio, e
a Síria apoia a luta do Hezbollah no Líbano.
O Hezbollah é movimento
libanês islâmico, de resistência contra qualquer agressão em território
libanês. Tem-se oposto aos planos israelenses para estabelecer uma 'terra
prometida' de Israel ("Greater Israel", aprox. "Israel Expandida"),
que se estenderia do Nilo ao Eufrates, como desejavam os primeiros líderes
sionistas e os atuais ideólogos do sionismo. E também se opõe à ocupação
israelense da Palestina. O Hezbollah tem também consistentemente apoiado os
palestinos e jamais agiu do modo degenerado como agem muitos governos árabes,
cujas políticas para Israel são de rendição e aquiescência.
Em 2000, o Hezbollah
libertou com sucesso o sul do Líbano, que havia sido ocupado por Israel. Em
2006, numa guerra que durou 33 dias, o Hezbollah derrotou o poder dos militares
israelenses e repeliu o ataque de Israel ao Líbano.
Ao longo daqueles 33 dias,
Israel mobilizou todo seu enorme poder militar, esperando vitória rápida, em 2,
3 dias. Em vez disso, os soldados do Hezbollah defenderam suas posições e
derrotaram o ataque israelense contra o país deles.
A derrota de Israel diante
do Hezbollah em 2006 foi golpe psicológico terrível para os israelenses, que
derrubou o mito da invencibilidade e quebrou a aura de medo que até ali cercara
Israel.
Sayyed Hassan Nasrallah,
secretário-geral do Hezbollah orgulha-se daquele feito: "Beirute foi
destruída por Sharon e reconstruída por Hafez Al-Assad. Hoje dizemos 'Longa
vida a Al-Assad da Síria'".
O presidente Hafez Al
Assad, ex-governante da Síria, ajudou a criar o Hezbollah e foi dos primeiros a
apoiar o movimento. Síria, Hezbollah e Irã formam, juntos, o que os árabes
conhecem como Eixo da Resistência.
Esse Eixo assumiu o compromisso de resistir
contra Israel e de defender os interesses dos árabes, onde se oponham aos interesses
de Israel e dos EUA.
Mas o Eixo da Resistência
tem inimigos no mundo árabe. Opõem-se a ele os estados árabes conservadores,
alinhados com os EUA.
Por exemplo, o caso do
Egito. O povo egípcio apoiou o Hezbollah até quando o Egito esteve mais intimamente
alinhado com os EUA, quando estava no governo o ex-presidente Hosni Mubarak.
Mas o aparelho de inteligência egípcio prendeu egípcios que apoiavam o
Hezbollah durante a guerra de 2006 com Israel. O Egito também fechou a passagem
de Rafah na fronteira com a Faixa, quando Gaza estava sendo atacada por Israel.
Mas a rua árabe no Egito e
por toda parte apoia o Hezbollah. Para a maioria dos árabes, Israel é o
inimigo. É absolutamente natural apoiar o Hezbollah, como elemento crucialmente
importante do Eixo da Resistência.
Isso cria para os
governantes de muitos dos países árabes uma situação muito embaraçosa. A
maioria deles querem reconhecer Israel e normalizar as relações com Israel. Mas
o povo quer coisa diferente. Para os eleitores, esse movimento nada tem de
'normalização' e significa liquidar interesses árabes, do povo árabe, e
entregar terra árabe a Israel. Resultado é que em quase todo o mundo árabe,
povo e governo estão cada dia mais em campos separados.
Depois da guerra de 2006,
a popularidade do Hezbollah aumentou muito entre os árabes. O que tornou ainda
mais difícil a posição de vários governos árabes. A resposta deles, comandada
pelas monarquias autocráticas reacionárias do Conselho de Cooperação do Golfo,
foi conseguir que a Liga Árabe declarasse o Hezbollah "Grupo
Terrorista".
A triste verdade é que as
monarquias ditatoriais de Arábia Saudita, Qatar e Bahrain essencialmente
controlam a Liga Árabe, por causa do dinheiro e do poder que têm. Resultado é
que podem servir-se da Liga Árabe para promover a própria agenda daqueles
monarcas no Oriente Médio – agenda alinhada, não com os mais amplos interesses
dos árabes ou o desejo das massas árabes, mas alinhada com agenda e desejos dos
EUA e de Israel.
Resultado é que a Liga
Árabe recebeu com entusiasmo a guerra no Iraque, apoia a agressão saudita
contra o Iêmen e, em 2013 apoiou até a decisão dos EUA de bombardearem a Síria,
assim como, antes, havia apoiado a decisão dos EUA de bombardearem a Líbia.
Assim se formou o cenário
da guerra que a Síria enfrenta hoje.
Essencialmente, essa
guerra é parte de um plano de EUA e Israel, com seus aliados árabes
reacionários do CCG, para quebrar o Eixo da Resistência. De fato, o que querem
é destruir o Hezbollah, movimento chave da Resistência contra Israel; estão
tentando destruir a Síria, para cortar o apoio que a Síria lhe dá.
Isso implica dizer que as
guerras no Líbano e na Síria não podem ser separadas uma da outra. O método aí
é esfacelar a região em mil cacos, incendiando a violência religiosa. O
Hezbollah é xiita; o presidente da Síria é alawita. Então, criaram o chamado
'Estado Islâmico' [que não é nem "estado", nem "islâmico"], é sunita.
Esse chamado Estado
Islâmico foi concebido para atrair militantes Takfiri de todo o planeta, para
que se unissem na guerra contra a Síria. Assim, a guerra para destruir a Síria
e quebrar o Eixo da Resistência nunca enfrentou problema de falta de fanáticos
a serem recrutados. A guerra é patrocinada e financiada pela Arábia Saudita,
essa, sim, verdadeira fábrica do wahhabismo, e por países como Qatar e Turquia
[antes da tentativa de golpe contra o governo de Erdogan].
O plano é derrubar o
presidente Bashar al-Assad, que deu prosseguimento à política de seu pai, de
apoio ao Hezbollah e ao Eixo da Resistência, e recusou-se a normalizar relações
com Israel e a reconhecer a ocupação israelense de terra árabe e palestina.
O
plano é derrubar Assad e substituí-lo com algum representante dos
"rebeldes moderados", que tanto querem trabalhar com Israel e não
veem Israel como inimigo, porque estarão obcecados com a ideologia do islamismo
radical. Assim se alcançariam dois objetivos: o Hezbollah e o Exército Árabe
Sírio seriam destruídos – as duas maiores forças militares que resistem contra
Israel.
Quanto aos árabes, é
necessário que compreendamos a natureza do jogo que está sendo jogado contra
nós. Gaddafi teria sido derrubado na Líbia porque fosse xiita ou alawita? Claro
que não. Foi derrubado porque era uma peça nesse jogo de dominós.
Quanto a alguma
"democracia", como poderíamos confiar em "democracia" que
chegue até nós trazida pelos tanques norte-americanos? A história recente está
aí, bem próxima de nós, para nos servir como guia! E quanto ao Iraque? Por
acaso passou a ser "democrático" depois que os EUA invadiram o país?
E não enforcaram Saddam Hussein, que era sunita, não era alawita nem xiita?
E que alternativa os EUA
oferecem para pôr no lugar dos líderes derrubados? Só o caos. Só o chamado
"Estado Islâmico". Destruição como meio de vida. Suicidas-bombas.
É tudo só um passo a mais
na direção do que Condoleezza Rice chamou certa vez de "o novo Oriente
Médio": região frágil, fácil de controlar, com recursos fáceis de pilhar.
Se conseguissem eliminar a
Resistência na Síria, na sequência EUA e Israel passariam a tentar eliminar o
Exército Árabe Sírio: principal frente de defesa dos árabes, ante os ataques
israelenses.
Os EUA querem esfacelar o
exército sírio, exatamente como uma vez esfacelaram o exército do Iraque, e
pela mesma razão. Não querem que estados árabes mantenham exércitos fortes. E,
para conseguir essas metas de destruição, os EUA estão preparados para fazer o
que for necessário: jogar com diferenças sectárias ou pôr grupos étnicos, como
os curdos, uns contra outros.
Síria, Irã, Iraque, Rússia
e Hezbollah são as únicas potências que genuinamente dão combate ao terrorismo
no Oriente Médio. No Oriente Médio, "terrorismo" é mais uma arma
criada e usada pelos EUA para alcançar seus objetivos geopolíticos. Quebrar o
Eixo da Resistência é prioridade absoluta. Por isso criaram a guerra na Síria.
O Hezbollah e o Exército
Árabe Sírio não são agressores. Jamais quiseram atacar alguém. Apenas defendem
o próprio povo e a própria terra, de agressões externas.
É guerra pela própria
existência, para os povos árabes; e é guerra inventada. Mas é também uma única
guerra: a guerra contra a Síria e a guerra contra o Líbano são uma e a mesma
guerra.
É não é guerra exclusivamente contra Síria ou Líbano: há outros alvos
já definidos para serem também destruídos. Ninguém pode dizer que o Hezbollah
luta só pela Síria.
Nem ninguém pode dizer que a Síria defende só o Líbano ou
só o Hezbollah. Todas essas forças lutam juntas, contra um mesmo plano do
imperialismo, que já estava organizado desde antes de 2006.
A luta das forças
da Resistência não pode ser fracionada.*****
Postado por Dario Alok às
05:20.