sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Noam Chomsky repassa as principais tendências do cenário internacional, a escalada militarista do seu país e os riscos crescentes de guerra nuclear.

Ministerio de Cultura de la Nación Argentina / Flickr

Texto de Agustín Fernández Gabard e Raúl Zibechi – La Jornada.

“Os Estados Unidos sempre foram uma sociedade colonizadora. Inclusive antes de se constituírem como Estado já trabalhavam para eliminar a população indígena, o que significou a destruição de muitas nações originárias”, como bem lembra o linguista e ativista estadunidense Noam Chomsky, quando se pede que descreva a situação política mundial. Crítico feroz da política externa de seu país, ele recorda 1898, quando ela apontou seus dardos ao cenário internacional, com o controle de Cuba, “transformada essencialmente numa colônia”, e logo nas Filipinas, “onde assassinaram centenas de milhares de pessoas”.

Chomsky continua seu relato fazendo uma pequena contra-história do império: “roubou o Havaí da sua população originária 50 anos antes de incorporá-lo como um dos seus estados”. Imediatamente depois da II Guerra Mundial, os Estados Unidos se tornaram uma potência internacional, “com um poder sem precedente na história, um incomparável sistema de segurança, controlando o hemisfério ocidental e os dois grandes oceanos. E, naturalmente traçou planos para tentar organizar o mundo conforme a sua vontade”.

Contudo, ele aceita que o poder da superpotência diminuiu com respeito ao que tinha em 1950, o auge da sua hegemonia, quando acumulava 50% do produto interno bruto mundial, muito mais que os 25% que possui agora. Ainda assim, Chomsky lembra que “os Estados Unidos continua sendo o país mais rico e poderoso do mundo, e incomparável a nível militar”.

Um sistema de partido único
Em algum momento, Chomsky comparou as votações em seu país com a eleição de uma marca de pasta de dentes num supermercado. “Nosso país tem um só partido político, o partido da empresa e dos negócios, com duas facções, democratas e republicanos”, proclama. Mas ele acredita que já não é possível continuar falando dessas duas velhas coletividades políticas, já que suas tradições sofreram uma mutação completa durante o período neoliberal.

Chomsky considera que “os chamados democratas não são mais que republicanos modernos, enquanto a antiga organização republicana ficou fora do espectro, já que ambas as vertentes se moveram muito mais à direita durante o período neoliberal – algo que também aconteceu na Europa”. O resultado disso é que os novos democratas de Hillary Clinton adotaram o programa dos velhos republicanos, enquanto estes foram completamente dominados pelos neoconservadores. “Se você olha os espetáculos televisivos onde dizem debater política, verá como somente gritam entre eles e as poucas políticas que apresentam são aterrorizantes”.

Por exemplo, ele destaca que todos os candidatos republicanos negam que o aquecimento global ou são céticos – não o negam mas dizem que os governos não precisam fazer algo a respeito. “Entretanto, o aquecimento global é o pior problema que a espécie humana terá pela frente, e estamos nos dirigindo a um completo desastre”. Em sua opinião, as mudanças no clima têm efeitos comparáveis somente com os da guerra nuclear. Pior ainda, “os republicanos querem aumentar o uso de combustíveis fósseis. Esse não é um problema de centenas de anos, mas sim um criado pelas últimas duas gerações”.

A negação da realidade, que caracteriza os neoconservadores, responde a uma lógica similar à que impulsiona a construção de um muro na fronteira com o México. “Essas pessoas que tratamos de distanciar são as que fogem da destruição causada pelas políticas estadunidenses”.

“Em Boston, onde vivo, o governo de Obama deportou um guatemalteco que viveu aqui durante 25 anos, ele tinha uma família, uma empresa, era parte da comunidade. Havia escapado da Guatemala destruída durante a administração de Reagan. A resposta a isso é a ideia de construir um muro para nos prevenir. Na Europa acontece o mesmo. Quando vemos que milhões de pessoas fogem da Líbia e da Síria para a Europa, temos que nos perguntar o que aconteceu nos últimos 300 anos para chegar a isto”.

Invasões e mudanças climáticas se retroalimentam
Há apenas 15 anos, não existia o tipo de conflito que observamos hoje no Oriente Médio. “É consequência da invasão estadunidense ao Iraque, que é o pior crime do século. A invasão britânica-estadunidense teve consequências horríveis, destruíram o Iraque, que agora está classificado como o país mais infeliz do mundo, porque a invasão cobrou a vida de centenas de milhares de pessoas e gerou milhões de refugiados, que não foram acolhidos pelos Estados Unidos, e tiveram que ser recebidos pelos países vizinhos pobres, obrigados a recolher as ruínas do que nós destruímos. E o pior de tudo é que instigaram um conflito entre sunitas e xiitas que não existia antes”.


As palavras de Chomsky recordam a destruição da Iugoslávia durante os Anos 90, instigada pelo ocidente. Assim como Sarajevo, ele destaca que Bagdá era uma cidade integrada, onde os diversos grupos culturais compartilhavam os mesmos bairros e se casavam membros de diferentes grupos étnicos e religiosos. “A invasão e as atrocidades que vimos em seguida fomentaram a criação de uma monstruosidade chamada Estado Islâmico, que nasce com financiamento saudita, um dos nossos principais aliados no mundo”.

Um dos maiores crimes foi, em sua opinião, a destruição de grande parte do sistema agrícola sírio, que assegurava a alimentação do país, o que conduziu milhares de pessoas às cidades, “criando tensões e conflitos que explodiram após as primeiras faíscas da repressão”.

Uma das suas hipóteses mais interessantes consiste em comparar os efeitos das intervenções armadas do Pentágono com as consequências do aquecimento global.

Na guerra em Darfur (Sudão), por exemplo, convergiram os interesses das potências ocidentais e a desertificação que expulsa toda a população às zonas agrícolas, o que agrava e agudiza os conflitos. “Essas situações desembocam em crises espantosas, e algo parecido acontece na Síria, onde se registra a maior seca da história do país, que destruiu grande parte do sistema agrícola, gerando deslocamentos, exacerbando tensões e conflitos”, reflete.

Chomsky acredita que a humanidade ainda não pensa com mais atenção sobre o que significa essa negação do aquecimento global e os planos a longo prazo dos republicanos, que pretendem acelerá-lo: “se o nível do mar continuar subindo e se elevar muito mais rápido, poderá engolir países como Bangladesh, afetando a centenas de milhões de pessoas. Os glaciares do Himalaia se derretem rapidamente, pondo em risco o fornecimento de água para o sul da Ásia. O que vai acontecer com essas bilhões de pessoas? As consequências iminentes são horrendas, este é o momento mais importante da história da humanidade”.

Chomsky crê que estamos diante um ponto crucial da história, no qual os seres humanos devem decidir se querem viver ou morrer: “digo isso literalmente, não vamos morrer todos, mas sim se destruiriam as possibilidades de vida digna, e temos uma organização chamada Partido Republicano que quer acelerar o aquecimento global. E não exagero, isso é exatamente o que eles querem fazer”.

Logo, ele cita o Relógio do Apocalipse, para recordar que os especialistas sustentam que na Conferência de Paris sobre o aquecimento global foi impossível conseguir um tratado vinculante, somente acordos voluntários. “Por que? Simples: os republicanos não aceitariam. Eles bloquearam a possibilidade de um tratado vinculante que poderia ter feito algo para impedir essa tragédia massiva e iminente, uma tragédia como nenhuma outra na história da humanidade. É disso que estamos falando, não são coisas de importância menor”.

Guerra nuclear, possibilidade certa

Chomsky não é de se deixar impressionar por modas acadêmicas ou intelectuais. Seu raciocínio radical e sereno busca evitar o furor, e talvez por isso não joga palavras ao vento sobre a anunciada decadência do império. “Os Estados Unidos possuem 800 bases ao redor do mundo e investe em seu exército tanto quanto todo o resto do mundo junto. Ninguém tem algo assim, soldados lutando em todas as partes do mundo. A China tem uma política principalmente defensiva, não possui um grande programa nuclear, embora seja possível que cresça”.


O caso da Rússia é diferente. É a principal pedra no sapato da dominação do Pentágono, porque “tem um sistema militar enorme”. O problema é que tanto a Rússia quanto os Estados Unidos estão ampliando seus sistemas militares, “ambos estão atuando como se a guerra fosse possível, o que é uma loucura coletiva”. Chomsky acredita que a guerra nuclear é irracional e que só poderia suceder em caso de acidente ou erro humano. Contudo, ele concorda com William Perry, ex-secretário de Defesa dos Estados Unidos, que disse recentemente que a ameaça de uma guerra nuclear hoje é maior que durante a Guerra Fria. O intelectual estima que o risco se concentra na proliferação de incidentes que envolvem as forças armadas de potências nucleares.

“A guerra esteve a ponto de ser deflagrada inumeráveis vezes”, admite ele. Um de seus exemplos favoritos é o sucedido sob o governo de Ronald Reagan, quando o Pentágono decidiu provar as defesas russas através de uma simulação de ataques contra a União Soviética.

“Acontece que os russos levaram a sério. Em 1983 depois que os soviéticos automatizaram seus sistemas de defesa, foi possível detectar um ataque de mísseis estadunidense. Nesses casos, o protocolo é ir direto ao alto mando e lançar um contra-ataque. Havia uma pessoa que tinha que transmitir essa informação, Stanislav Petrov, mas decidiu que era um alarme falso. Graças a isso, podemos estar aqui falando”.

Chomsky defende que os sistemas de defesa dos Estados Unidos possuem sérias falhas, e há poucas semanas se conheceu um caso de 1979, quando se detectou um ataque massivo com mísseis que vinham da Rússia. Quando o conselheiro de Segurança Nacional, Zbigniew Brzezinski, estava levantando o telefone para chamar o presidente James Carter e lançar um ataque de represália, chegou a informação de que se tratava de um alarme falso. “Há cada ano são registradas dúzias de alarmes falsos”, assegura ele.

Neste momento, as provocações dos Estados Unidos são constantes. “A OTAN está realizando manobras militares a 200 metros da fronteira russa com a Estônia. Nós não toleraríamos algo assim se acontecesse no México”.

O caso mais recente foi a derrubada de um caça russo que estava bombardeando forças jihadistas na Síria, no final de novembro. “Há uma parte da Turquia quase rodeada pelo território sírio e o bombardeiro russo voou através dessa zona durante 17 segundos, até ser derrubado. Uma grande provocação que, por sorte, não foi respondida pela força”. Chomsky argumenta que fatos similares estão sucedendo quase diariamente no mar da China.

A impressão que ele tem, e que expressa em seus gestos e reflexões, é que se as potências agredidas pelos Estados Unidos atuassem com a mesma irresponsabilidade que Washington, o destino do planeta estaria perdido.

Visão sobre a Colômbia
O linguista estadunidense Noam Chomsky conhece de perto a realidade colombiana. Fiel ao seu estilo e suas ideias, ele visitou o país e sua diversidade, conheceu a Colômbia que existe longe dos focos acadêmicos e midiáticos, adentrou no Vale do Cauca, onde grupos indígenas constroem sua autonomia, com base em seus saberes ancestrais, atualizados em meio ao conflito armado.


“Parece haver sinais positivos nas negociações de paz”, reflete Chomsky. “A Colômbia tem uma terrível história de violência desde o século passado, a violência nos Anos 50 era monstruosa”, lembrou ele, reconhecendo que a pior parte foi obra de operações paramilitares. Mais recentes são as fumigações realizadas pelos Estados Unidos, verdadeiras operações de guerra química, que deslocaram populações enormes de camponeses, para beneficio das multinacionais.

Como consequência, a Colômbia se tornou o segundo país do mundo em número de migrantes dentro do próprio território, depois do Afeganistão. “Deveria ser um país rico, próspero, mas está se quebrando em pedaços”, agrega. Por isso, se as negociações tiverem sucesso, eliminarão alguns dos problemas, mas não todos. “A Colômbia, mesmo sem o problema da guerrilha, continuará sendo um dos piores países para os defensores dos direitos humanos, para líderes sindicais e outros”.

Um dos perigos que ele observa, no caso de que se assine o acordo definitivo de paz, seria a integração dos paramilitares ao governo, uma realidade latente no país. Ainda assim, ele sustenta que a redução do conflito com as FARC seria um grande passo para frente, por isso acredita que deve se fazer todo o possível para contribuir com o processo de paz.

Tradução: Victor Farinelli

Publicado por  Carta Maior.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Lula: matar o mito para encerrar o ciclo.

Foto - Brasil 247.
Artigo da Jornalista Tereza Cruvinel.
Quando Juscelino Kubitscheck morreu, em 1976, viu-se que deixou uma fazendinha em Luziânia e um apartamento no Rio de Janeiro. 
E, no entanto, nos anos que se seguiram ao golpe de 1964, a ditadura forjou a lenda de que fora cassado porque era corrupto e roubara muito durante a construção de Brasília. JK foi cassado porque era o mito eleitoral e político daquele tempo, o candidato mais forte às eleições presidenciais que estavam marcadas para 1965.
O triunfo da nova ordem política erigida pelos militares exigia a destruição do mito JK, o presidente que mudara a face do Brasil acelerando a industrialização e interiorizando a capital.
Mataram o mito. Depois, o pleito de 1965 foi desmarcado e os brasileiros só votaram novamente para presidente em 1989. Para visitar a cidade que criara, ele vinha a jantares clandestinos organizados pela amiga Vera Brant.
Na segunda morte de JK, a morte física em 1976, estudantes, candangos e centenas de brasilienses acompanharam o féretro da Catedral até o cemitério Campo da Esperança cantando o "peixe vivo" e gritando "abaixo a ditadura". Foi a primeira grande manifestação política de que participei.
Antes de JK, a caçada a outro mito também relacionado a mudanças sociais e econômicas de viés popular, havia terminado com o suicídio de Getúlio Vargas, que com o tiro no peito adiou em dez anos o golpe de 1964.
Há uma clara semelhança entre o assassinato político de JK pela ditadura e a caçada Lula para abrir caminho a uma troca de guarda no poder.
Para colocar um fim à ordem política instaurada pelo PT com a chegada de Lula à presidência em 2002 é preciso acabar não apenas com a ideia de que os governos petistas promoveram os mais pobres à cidadania, reduziram a desigualdade, resgataram milhões da miséria e mitigaram, com políticas afirmativas a nossa dívida histórica para com os negros e afrodescendentes.
É preciso apagar a ideia de que a Era Lula produziu um invejável ciclo de crescimento e instaurou, com Celso Amorim, uma política externa altiva que garantiu ao Brasil uma projeção internacional sem precedentes.
Não basta também apenas a desqualificação eleitoral do próprio PT, por erros cometidos e por erros que são do sistema político. É preciso destruir o mito projetado por estas mudanças, o mito Lula.
Em janeiro, afastada das lides diárias do jornalismo, acompanhei de longe a abertura da temporada de caça a Lula. O que se prenunciava desde o início do ano ficou claro em 27 de janeiro com a Operação Triplo X, que a pretexto de investigar lavagem de dinheiro pela OAS através da venda de apartamentos no Edifício Solaris, mirou Lula e o tríplex que ele cogitou comprar mas nunca adquiriu.
De lá para cá os caçadores se espalharam e se armaram, obtendo agora do juiz Sergio Moro a autorização para abrir um inquérito específico destinado a investigar se as empreiteiras beneficiaram Lula ilegalmente através de obras num sítio de amigos de sua família.
Se Lula não tem um tríplex, o crime estará em ter pensando em possuí-lo? Há muitos meses eu o ouvi contar a amigos o que dissera a sua mulher Marisa para que desistissem do apartamento e resgatassem o valor da cota já pago. "Marisa, eles nunca vão nos aceitar como vizinhos num prédio como aquele. Não vão querer andar de elevador com a gente. Vamos desistir disso antes que comecem os aborrecimentos".
Era tarde, vieram mais que aborrecimentos. Vieram acusações difusas, sem forma clara, sem fundamentos sólidos, mas corrosivas para o mito. O "tríplex do Lula" passou a existir no imaginário popular, embora não exista na escritura.
Agora, com o novo inquérito, querem provar que o sítio de Atibaia não é de seus donos, mas de Lula. E que empreiteiras investigadas pela Lava Jato investiram nele numa forma indireta de pagar propina ao ex-presidente. É isso que querem provar, embora não digam. Mas no imaginário popular a narrativa já colou. Outra ferida no mito.
Feri-lo porém não basta. A destruição de um mito exige mais, exige sua completa humilhação, exige a retirada de toda e qualquer aura de veneração e respeito. Para isso será preciso processar, condenar, trucidar.
Será preciso prender Lula. É a este ponto que desejam chegar os caçadores de Lula, para que nada reste da admiração pelo presidente que saiu da miséria extrema do Nordeste, tornou-se operário, liderou greves, fundou um partido, aceitou as derrotas e um dia venceu a eleição presidencial, tornando-se o presidente brasileiro mais popular internamente e o mais conhecido e respeitado lá fora. "O cara", como disse Obama, precisa ser reduzido a pó.
Lula talvez tenha subestimado a sanha dos caçadores e se atrasado na defesa. Certamente cometeu alguns erros na estratégia de defesa. Do PT combalido, pouco pode esperar. Mas certamente algo ainda espera dos que ainda acreditam nele.
Se planeja em algum momento denunciar à sua base política e social a natureza política da caçada que enfrenta, o momento chegou. A hora é de crise para todos e isso não favorece reações populares.
Mas ainda que seja como prestação de contas aos que o levaram à glória e assistem à sua destruição sem ouvir um chamado, Lula precisa fazê-lo.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Mensalão Mineiro: Justiça nega recurso de Azeredo contra condenação a 20 anos de prisão.

André Richter - Repórter da Agência Brasil.
A Justiça de Minas Gerais negou recurso apresentado pela defesa do ex-senador Eduardo Azeredo, do PSDB de Minas Gerais, contra condenação a 20 anos e dez meses de prisão pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro. 
A decisão foi proferida no dia 2 de fevereiro pela juíza Melissa Pinheiro Costa Lage, na ação penal que ficou conhecida como mensalão mineiro.

No recurso, a defesa do ex-parlamentar alegou que houve omissões na sentença anunciada em dezembro do ano passado. A suposta omissão é em relação às declarações de testemunhas que inocentavam Azeredo.

Ao analisar os argumentos dos advogados, a juíza entendeu que o magistrado não é obrigado a mencionar todas as provas produzidas, mas somente as necessárias a seu convencimento. Além disso, a ela entendeu que não há obscuridade ou contradição na sentença.

Azeredo foi condenado por crimes cometidos na campanha eleitoral por sua reeleição ao governo de Minas Gerais, em 1998. Ele respondeu pelos crimes de peculato, ou seja, desvio de bens por servidor praticado contra a administração pública, e de lavagem de dinheiro. Ele pode recorrer da sentença em liberdade.

Edição: Beto Coura

A gestão cultural sob ataque: crise e direitos culturais no Brasil.

Foto - Vinicius Wu.
A gestão cultural precisa ser defendida por aqueles que acreditam na viabilidade de um projeto democrático e includente para o país.
Não é razoável retrocedermos naquilo que ainda somos devedores. Os direitos culturais mal começaram a se afirmar no Brasil.

Por Vinicius Wu.

Em 2015, vários municípios e estados brasileiros extinguiram ou fundiram suas secretarias de Cultura. Muitas unidades gestoras de cultura foram preservadas, mas mantidas em condições precárias. Cortes orçamentários foram realizados em todos os níveis de governo, ameaçando a manutenção de equipamentos e políticas culturais em diversas unidades da federação.

Já no ano de 2016, o Tribunal de Contas de Sergipe mandou suspender o Carnaval em 53 municípios; vários prefeitos, em todo o país, suspenderam seus festejos carnavalescos com base no argumento populista de que vão “priorizar a Saúde” – redirecionando recursos que são irrisórios para a Saúde, mas que comprometem negócios, turismo e a economia local em várias cidades brasileiras.

O Tribunal de Contas da União acaba de tomar decisão que interfere na gestão da Lei Rouanet e uma liminar da 4ª Vara Federal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal suspendeu o recolhimento da taxa Condecine (Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional), retirando R$ 700 milhões ao ano do setor, o que pode desestruturar, completamente, as políticas para o audiovisual.

Não é preciso muito esforço para concluirmos que a gestão cultural no Brasil está sob ataque. A crise bateu forte na área cultural e ela é uma das mais afetadas por uma política fiscal que inibe a capacidade do Estado em desenvolver políticas públicas.

A crise econômica, associada a um entendimento precário a respeito da relevância da afirmação dos direitos culturais por parte de governantes e setores da sociedade, está levando a gestão cultural a uma situação alarmante. A ideia de cultura como algo supérfluo – que deve ser imediatamente cortado em períodos de crise – pode nos levar a um significativo retrocesso em relação ao que foi conquistado na última década.

O Brasil avançou nos últimos anos, mas ainda estamos distantes de uma gestão profissional das políticas culturais, que permita o desenvolvimento de estratégias públicas mais efetivas, abrangentes e eficazes. E a forma como os diferentes governos estão reagindo à crise pode comprometer a continuidade do processo de aperfeiçoamento das políticas culturais no país.

E isso ocorre num momento no qual as políticas culturais deveriam receber atenção ainda maior por parte dos agentes públicos interessados em aprofundar as mudanças na sociedade brasileira iniciadas na última década.

Afinal, se quisermos disputar um projeto transformador para o Brasil nos próximos anos teremos de nos ocupar de preencher as lacunas deixadas pelos governos de esquerda na última década. E uma das mais importantes diz respeito à necessidade de compreensão do papel estratégico das políticas culturais na afirmação de uma perspectiva democrática, humanista e republicana para o Estado brasileiro e mesmo para a conformação de uma nova cultura política no país.

Uma agenda transformadora não é sustentável, no longo prazo, sem que sejam mobilizados elementos simbólicos indispensáveis à conformação de uma hegemonia social e política baseada nos valores da democracia, da solidariedade e da justiça social.

É preciso reconhecer que a mera satisfação das necessidades materiais não é suficiente para que se gere apelo simbólico necessário à consolidação de uma cultura democrática, republicana e de respeito à diversidade étnica, cultural e religiosa em uma sociedade tão complexa quanto a brasileira. Os partidos de esquerda no Brasil, em geral, têm sido negligentes em relação à disputa do imaginário nacional e pagam um alto preço em função dessa desatenção.

A gestão cultural precisa ser defendida por aqueles que acreditam na viabilidade de um projeto democrático e includente para o país. Não é razoável retrocedermos naquilo que ainda somos devedores. Os direitos culturais mal começaram a se afirmar no Brasil.

É hora de defendermos a gestão cultural e advogar em favor de sua centralidade na construção de uma agenda pós-crise, que nos permita superar a paralisia, a intolerância e os diferentes bloqueios ao aprofundamento de um projeto de desenvolvimento pleno, substancial e verdadeiramente democrático para o país.

Foto de capa: Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Eleições nos EUA e a Psicologia de Massas. A “Psico” Ted Cruz.

Foto - Ted Cruz.
As «operações psicológicas» (Psi Ops) são «artimanhas de guerra» à imagem do cavalo de Tróia. Sob a influência do general Edward Lansdale, os Estados Unidos, dotaram os seus exércitos, e a CIA, de unidades especializadas deste tipo, primeiro nas Filipinas, no Vietnã (Vietnã-br), contra Cuba, e depois de forma permanente [1].
As operações psicológicas são muito mais sofisticadas que a propaganda, a qual apenas visa deformar a visão da realidade. Por exemplo, durante a guerra contra a Síria em 2011, a propaganda aliada consistia em convencer a população que o presidente el-Assad ia fugir, tal como o presidente Ben Ali havia feito antes dele, na Tunísia. Os Sírios deviam pois preparar-se para um novo regime. Enquanto no início de 2012 uma operação psicológica previa substituir os canais nacionais de televisão, por programas falsos, encenando a queda da República Árabe da Síria, de modo a que a população não opusesse qualquer resistência [2].
Do mesmo modo que existem agora exércitos de mercenários, tais como a Blackwater-Academi, DynCorp ou CACI, existem, igualmente, companhias privadas especializadas em operações psicológicas, entre as quais a britânica SCL-Strategic Communications Laboratories - («Laboratórios de Comunicações Estratégicas»- ndT) e a sua filial norte-americana Cambridge Analytica. No meio do maior secretismo, elas ajudam a CIA a organizar «revoluções coloridas» e ensaiam agora a manipulação de eleitores. Desde 2005, participam na Feira britânica Defence Systems Equipment International (DSEI) e propõem a venda de seus serviços a quem pague melhor [3]. 
No exemplo sírio a SCL trabalhou, no início de 2011, no Líbano, onde ela estudou as possibilidades de manipulação da população comunidade por comunidade.

Operações psicológicas e eleitorado. 

Nas sociedades modernas as autoridades políticas são designadas pela via eleitoral. Isto pode variar, de uma simples escolha —segundo as suas qualidades pessoais— entre candidatos pré-selecionados, até à designação de personalidades portadoras de um projecto político determinado.
Em todos os casos, os candidatos devem apoiar-se em militantes, ou em empregados, para realizar suas campanhas. Sabe-se que o vencedor é, quase sempre, aquele que conseguiu reunir atrás de si o maior número de militantes.
Convêm pois não só fabricar um candidato, mas, também, um partido ou um movimento para o apoiar. Ora, os eleitores hesitam hoje em dia em se inscrever numa organização e os empregados custam caro.
A SCL teve a ideia de utilizar as técnicas comportamentais para fabricar um partido político que levaria o seu cliente ao poder. Os seus psicólogos elaboraram o perfil-tipo do militante sincero e manipulável, depois eles colectaram os dados sobre a população-alvo, determinaram quem correspondia ao seu perfil-tipo, e determinaram as mensagens mais eficazes para os convencer a apoiar o seu cliente.
Pela primeira vez isto acaba de acontecer em grande escala : nos Estados Unidos com Ted Cruz.
O slogan de campanha de Ted Cruz : «TrusTed», jogo de palavras significando «Ted, aquele em que se pode acreditar».

O financiamento da operação.

Robert Mercer, um dos dez principais doadores na vida pública norte-americana, pagou indiretamente mais de US$ 15 milhões de dólares à SCL-Analytica Cambridge para que ela tomasse a cargo a campanha de Ted Cruz [4].
Inventor de um software de reconhecimento de voz, Mercer é hoje o patrão da Renaissance, uma sociedade de investimento entre as mais eficientes do mundo. Assim, o seu célebre fundo Medallion realizou de 1989-2006, em média, 35% de proveitos ao ano, ao mesmo tempo que desenvolvia um sistema de evasão fiscal para os seus clientes [5].
Robert Mercer, jamais se exprimiu publicamente quanto às suas opiniões políticas, e os comentaristas US não sabem muito em como classificar este «republicano». Ignora-se, por exemplo, quais as suas posições sobre questões sociais como o direito ao aborto ou o casamento gay. No máximo, sabe-se que ele não acredita que as mudanças climáticas sejam provocadas pela atividade humana. Ainda assim, ele opõe-se claramente a Hillary Clinton e ao seu amigo Donald Trump, e está próximo de John Bolton.
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Fonte : Bloomberg
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Fonte : The Guardian
Como cozer seu toucinho sobre o cano da sua metralhadora.

A coleta de dados pessoais.

Para selecionar os cidadãos susceptíveis de se tornar militantes, a SCL/Cambridge Analytica reuniu, secretamente, dados pessoais sobre milhões de eleitores [6].
O doutor Aleksandr Kogan comprou os dados da Amazon, a gigante de vendas “online” nos Estados Unidos, depois pagou, cerca de 1 dólar extra por cliente, para que um questionário lhe fosse enviado via Mechanical Turk (MTurk). Aceitando identificar-se via Facebook, o internauta deixava a MTurk aceder aos seus dados pessoais, que os cruzava com os da Amazon e os transmitia através da empresa de Kogan —Research Global Science (GSR)— para a SCL. Muito embora o doutor Kogan tenha assegurado ao Guardian só trabalhar com fins de pesquisa científica, e unicamente com dados anónimos, eles estão hoje em dia em posse da SCL [7].
Em alguns meses, a SCL dispunha de uma detalhada base de dados sobre mais de 40 milhões de eleitores dos E.U, à sua revelia.
Em 2008, o Tribunal Internacional de Justiça decidiu obrigar os Estados Unidos a rever o processo de um Mexicano condenado sem ter recebido assistência jurídica consular. No entanto, Ted Cruz, então Procurador-geral do Texas, defendeu perante o Supremo Tribunal que um Estado federado não era obrigado a obedecer a um Tribunal estrangeiro enquanto o Tratado assinado por Washington não fosse transcrito para a legislação jurídica nacional. Ele venceu, os EUA denunciaram o Protocolo Adicional à Convenção de Viena, e o condenado foi executado.

A interpretação de dados pessoais.

A Cambridge Analytica procedeu então a uma avaliação de cada perfil segundo o método OCEAN, quer dizer : 
- «Ouverture»(Abertura) (apreciação sobre arte, emoção, aventura, ideias pouco convencionais, curiosidade e imaginação) ; 
- «Consciencialização» (autodisciplina, respeito pelas obrigações, organização mais que espontaneidade ; orientação para objetivos) ; 
- «Extroversão» (energia, emoções positivas, tendência a buscar estímulos e a companhia dos outros, empreendedor) ; 
- «Agréabilité» (Empatia) (tendência a ser compatível e cooperante mais que desconfiado e antagónico em vista dos outros) ; 
- «Neuroticismo» (tendência a experimentar facilmente emoções negativas como a cólera, a inquietação ou a depressão, vulnerabilidade).
Para cada sujeito-cobaia, ela conseguiu estabelecer um gráfico de personalidade utilizando, para isso, as 240 perguntas de teste NEO PI-R (Neuroticism-Extroversion-Openness Personality Inventory-Revised).
Nesta base, a SCL identificou os indivíduos que constituiriam militantes sinceros e manipuláveis, depois ela elaborou argumentos personalizados para os convencer.
Poderia pensar-se que estudos de personalidade desenvolvidos sem conhecimento dos sujeitos-cobaia seriam, apenas, muito aproximativos. E, no entanto ...

Brilhante advogado, Ted Cruz, defendeu o monumento dos Dez Mandamentos instalado no Capitólio do Estado do Texas. Redigiu o parecer dos procuradores - gerais de 31 Estados, segundo quem a interdição do porte de armas de mão fere o direito ao porte de armas garantido pela segunda emenda da Constituição dos Estados Unidos. Ele defendeu, igualmente, a récita do Juramento de fidelidade à bandeira dos Estados Unidos, uma «Nação sob Deus», nas escolas públicas.

O candidato Ted Cruz

O candidato, que se é suposto levar para a Casa Branca, Ted Cruz, é um excelente advogado, brilhante tribuno e polemista. Ele advogou muitas vezes com sucesso no Supremo Tribunal dos Estados Unidos. É, talvez, mais um libertário que um conservador.
O seu pai, o pastor evangélico Rafael Cruz, é um emigrante cubano que prega o mandato que Deus teria dado aos homens de fé para governar «a América». Ele garante que no fim dos tempos, que não tardarão, Deus distribuirá aos justos as riquezas dos ímpios [8].
A esposa de Ted, Heidi Cruz, foi diretora para a América do Sul no Conselho de Segurança Nacional, na era de Condolezza Rice, depois, vice-presidente da Goldman Sachs, encarregada da gestão de fortunas de clientes do Sudoeste do país [9].
No início da campanha presidencial, Ted Cruz foi creditado com poucos opiniões favoráveis e a imprensa referia a sua personalidade muito pouco empática. No entanto, graças à ajuda de SCL/Cambridge Analytica, ele constituiu rapidamente um vasto grupo de apoio e ganhou as primárias republicanas no Iowa.

Em 1988, Ted Cruz afirmava o seu ideal na vida : «Tomar o contrôle do mundo. A dominação mundial, gerir tudo, ser rico, poderoso, este gênero de coisas».
A sua eventual ascensão à Casa Branca provaria a possibilidade de subverter uma campanha eleitoral, recorrendo para isso às técnicas das operações psicológicas.
Tradução - Alva.

[1Edward Lansdale’s Cold War, Jonathan Nashel, university of Massachusetts Press, 2005.

[2] “A NATO prepara uma vasta operação de intoxicação”, Thierry Meyssan, Komsomolskaïa Pravda , Rede Voltaire, 13 de Junho de 2012. “Iminente OpPSY da Otan contra a Síria”, Tradução Alva, Rede Voltaire, 9 de Agosto de 2012.

[3] “You Can’t Handle the Truth. Psy-ops propaganda goes mainstream” («Não se Pode Esconder a Verdade, Op Psico de propaganda chegam à Grande Média»- ndT), Sharon Weinberger, Slate, September 2005.

[4] “The Man Who Out-Koched the Kochs” («O Homem que Fintou os Kochs»- ndT), Annie Linskey, Bloomberg, October 23, 2014.

[5] “Renaissance Avoided More Than $6 Billion Tax, Report Says” («A Renaissance Escapou a Mais de $US 6 bilhões de Dólares de Imposto, Diz Relatório»- ndT), Zachary R. Mider, Bloomberg, July 22, 2014.

[6] “Cruz partners with donor’s ’psychographic’ firm. The GOP candidate’s campaign is working closely with a data company owned by Cruz’s biggest donor”, Kenneth P. Vogel and Tarini Parti, Politico, July 7, 2015. “Cruz-Connected Data Miner Aims to Get Inside U.S. Voters’ Heads” («Especialista em Mineração de Dados Aponta a Entrar no Cérebro dos Votantes U.S.»- ndT), Sasha Issenberg, Bloomberg, November 12, 2015. “Cruz campaign credits psychological data and analytics for its rising success”, Tom Hamburger, The Washington Post, December 13, 2015.

[7] “Ted Cruz sing firm that harvested data on millions of unwitting Facebook users”, Harry Davies, The Guardian, December 11, 2015.


[9] “Heidi Nelson Cruz, Ted’s Wife: 5 Fast Facts You Need to Know”, Tom Cleary, Heavy, March 23, 2015. “Heidi Nelson Cruz: A Political Spouse Making Sacrifices and Courting Donors” («Heidi N. Cruz : A Esposa de um Político Que Faz Sacrifícios e Corteja Doadores»- ndT), Steve Eder & Matt Flegenheimer, The New York Times, January 18, 2016.

Senador Roberto Rocha será candidato a Governador em 2018?


Matéria copiada do Blog do Ed Wilson.

O senador Roberto Rocha (foto) concedeu entrevista ao jornal O Imparcial, neste domingo (7) sobre o panorama político nacional e estadual.

Ele não esconde de ninguém que quer a cadeira do governador Flávio Dino (PCdoB).

Disse Rocha:

“Nós temos um mandato de senador, um mandato longo, de oito anos. Quando terminar o mandato do Flávio e da Dilma, o meu estará no meio, correto? Então é normal, em qualquer canto, um senador, no meio do seu mandato, ser um potencial candidato. Isso aos olhos da classe política. (…) Sou da mesma idade do governador, de partido diferente, e nunca fui do executivo. Todo mundo sabe que o meu desejo é esse. Tenho me preparado pra bem servir meu estado também no executivo, um dia”.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Maranhão - Índios Gamela em protesto contra invasão de seu território interditam a Rodovia MA-014.

Foto - Vias de Fato.

Indígenas denunciam que policiais militares estão fazendo serviço de jagunços para proteger os invasores do território Gamela em Viana-MA. 

De acordo com os indígenas, as únicas viaturas dos municípios de Matinha e Viana, em vez de proteger a população no período carnavalesco, estão protegendo os latifundiários que invadiram o território Gamela. 

Foto - Vias de Fato
Na manhã deste domingo (7), os indígenas fotografaram as viaturas, após perceberem que estavam sendo fotografados e filmados pelos indígenas, os policiais tentaram intimidá-los, chamando mais viaturas e policiais fortemente armados para o local. 

Em protesto, o Povo Gamela interditou a rodovia MA- 014, neste domingo, e continuam com o protesto sem previsão de desbloqueio da rodovia. 

Ontem á noite por volta das 21:30h, foram feitos 5 disparos de arma de fogo nas proximidades do protesto. 

O Povo Gamela resiste!