terça-feira, 8 de novembro de 2016

O Vaticano, o Microcrédito e a Dignificação dos Pobres

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Este Texto foi escrito por: J. M. de Barros Dias
http://faculdadesaobraz.academia.edu/JMdeBarrosDias.

Criado na década de 1970 por Muhammad Yunus, um economista e banqueiro bengali, ganhador do Prêmio Nobel da Paz, em 2006 – juntamente com o Grameen Bank, por ele fundado – o microcrédito constitui uma medida política de combate à pobreza que tem, como público-alvo, as populações economicamente excluídas, sem acesso ao crédito. 
O microcrédito é, em suas linhas de orientação, um mecanismo de combate à exclusão e não um instrumento utilizado para financiar marginalizados. Segundo Yunus, enquanto o mercado livre capitalista prospera globalmente, quase sem oposição, trazendo prosperidade sem precedentes para muitos, metade do mundo vive com dois Dólares por dia ou muito menos”, até. 
Se, em termos sociais, a “erradicação da pobreza permanece o maior desafio diante o mundo”, o microcrédito permite aos pobres, por intermédio da concessão de pequenos empréstimos, a geração de auto-emprego e, também, de renda, permitindo-lhes que cuidem deles e de suas famílias.
No entanto, para Aneel Karnani, Professor de Estratégia na Universidade de Michigan, “o microcrédito não acaba com a pobreza”. Ainda assim, de acordo com o mesmo autor, há alguns anos, o mundo tinha no microcrédito um tipo de intervenção econômica muito prestigiada junto dos desfavorecidos nos países em desenvolvimento. 
No artigo intitulado “É o Microcrédito Um Conto de Fadas Neoliberal?”, publicado no jornal inglês The Guardian, Madeleine Bunting aponta os pontos débeis desta modalidade de financiamento. Consoante a autora, eles são os seguintes: 
1.º – o microcrédito se baseia numa premissa atrativa, mas falsa, segundo a qual as pessoas pobres podem tornar-se ricas desde que tenham acesso ao crédito[1]
2.º – o microcrédito sempre defendeu que o autofinanciamento não está relacionado com os custos de arranque iniciais do projeto empresarial[2]
3.º – a maioria dos empréstimos não é utilizada para criar pequenos negócios[3]
4.º – o microcrédito não é muito bem sucedido na criação de pequenos negócios prósperos a longo prazo[4].
Participando em Roma, no 3.º Fórum Europeu de Microfinanciamento, o Cardeal Dom Peter Kodwo Appiah Turkson, Presidente do Pontifício Conselho para a Justiça e da Paz, proferiu, no dia 19 de outubro, uma palestra intitulada “Economia Social de Mercado, Acesso ao Crédito e Combate à Pobreza”. 
Naquela oportunidade, o prelado salientou a necessidade de se adotar um progresso de tipo integral que tenha presentes os aspectos fundamentais da Doutrina Social da Igreja[5], isto é, o bem comum, a solidariedade e a subsidiariedade. 
Para o Cardeal ganês, o microfinanciamento e o microcrédito são geradores de um “impacto econômico, mas também social e cultural”. Deste modo, considerou ele, “a solidariedade toma o lugar de garantias pessoais ou reais”, o que permite “uma cultura da subsidiariedade”, que dá aos mais pobres a confiança de poderem “cumprir os compromissos assumidos”, vivenciando deste modo uma dignidade idêntica à dos outros cidadãos. 
Tendo presentes as consequências da crise econômica mundial que, desde 2008, atingiu os países economicamente desenvolvidos e, num breve período de tempo, alastrou a todo o planeta, aquele dirigente do Vaticano sublinhou: “Seria dramático se diante da crise enfrentada em muitos países pelos institutos de créditos tradicionais, o microcrédito se tornasse uma oportunidade gananciosa de expandir as finanças para fins especulativos”.
Para o Cardeal Turkson a economia não pode perder o sentido humano das relações produtivas, devendo fomentar, além da concessão de microcrédito, a empregabilidade e a produtividade dos pobres. Em consonância com o preceito bíblico – “o sábado foi feito para o homem[6] – e com o Papa Francisco, o purpurado ganês defende ser necessário que o mundo aposte na sustentabilidade, que se promove com medidas de financiamento de pequenos produtores e com uma produção diversificada”. 
Apesar do vigor do individualismo neoliberal que, em nossos dias, se manifesta de modo implacável até em relação aos mais desfavorecidos, o realismo otimista do Cardeal Turkson permite-lhe afirmar, citando Francisco: “Nem tudo está perdido, porque os seres humanos, capazes de tocar o fundo da degradação, podem também superar-se, voltar a escolher o bem e regenerar-se[7]
Por isso, entendendo a economia a partir de um humanismo de matriz cristã, aberto à transcendência, Turkson propõe: “Recebemos este mundo como um jardim, não deixemos como herança aos nossos filhos e às futuras gerações uma terra selvagem”.
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Imagem “Cardeal Dom Peter Turkson, Presidente do Pontifício Conselho para a Justiça e Paz” (Fonte):
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Notas e Fontes consultadaspara maiores esclarecimentos:
[5] VerPAPA LEÃO XIII, Carta Encíclica Rerum Novarum, 1891.
Disponível online:
[6] VerMc 2.27.
[7] VerFRANCISCO, Laudato Si’. Louvado Sejas. Sobre o Cuidado da Casa Comum, São Paulo, Paulus Editora – Edições Loyola Jesuítas, 2015, trad. do italiano, § 205 [pág. 120].

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

São Paulo. Cinco Jovens podem ter sido vítimas de grupo de extermínio, diz conselheiro.

Elaine Patricia Cruz – Repórter da Agência Brasil
Foto - Jovens assassinados. http://www.ponte.org
Quatro dos cinco corpos encontrados pela polícia, que podem ser de cinco jovens desaparecidos em São Paulo, há 17 dias, têm marcas de balas de arma de fogo. O quinto corpo tem marca de faca. 

As informações são de Ariel de Castro Alves, membro do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), que esteve hoje (7) no Instituto Médico-Legal, na região oeste da capital paulista. “Em quatro corpos foram encontrados projéteis e sinais de que eles receberam disparos e, em um dos corpos, os sinais são de faca, de arma branca. Essas são informações ainda preliminares. Ainda serão realizados laudos”, disse Ariel.

“Existem indícios da possível atuação de um grupo de extermínio”, disse Ariel. “Cápsulas ponto 40 e ponto 12 foram encontradas no local, e também teriam sido encontradas nos corpos. Isso seria mais um indício que reforça a suspeita de participação de policiais ou de agentes do Estado”, disse, ressaltando que esse tipo de armamento é de uso restrito no país. “Dá para se concluir que foi execução sumária”, acrescentou.

Os nomes e fotos de quatro dos cinco jovens aparecem no site da Polícia Civil, no registro de pessoas desaparecidas. São eles: Jonathan Moreira Ferreira, 18 anos; César Augusto Gomes Silva, 20 anos; Caique Henrique Machado Silva, 18 anos; e Robson Fernando Donato de Paula, 17, que é cadeirante. O quinto jovem, que dirigia o carro, era Jones Ferreira Januário, 30 anos.

Hoje pela manhã, familiares dos jovens desaparecidos estiveram no IML para reconhecer os corpos encontrados ontem (6) em um matagal de Mogi das Cruzes. Três dos corpos apresentavam características semelhantes à dos desaparecidos, mas o reconhecimento oficial ainda depende de laudo do IML. 

“As famílias não viram os corpos. Os corpos, em princípio, estão irreconhecíveis por estarem há mais de 15 dias enterrados, com cal misturado [o que, segundo Ariel, intensifica o processo de decomposição] e ação de urubus. Eles estavam em um estágio bem avançado de decomposição, irreconhecíveis. As roupas foram recolhidas e ensacadas e estão sendo encaminhadas para o DHPP. Os projéteis também já foram recolhidos e foram encaminhados para o DHPP”, explicou o membro do Condepe.

Segundo Ariel, os familiares estão, neste momento, buscando informações e prontuários dos desaparecidos em hospitais e em unidades da Fundação Casa. “O mais importante para a identificação e caracterização é trazer prontuários odontológicos e também raios X. O raio X ajuda bastante no processo de identificação nos casos daqueles que sofreram cirurgias e tinham lesões na coluna ou nas pernas [um dos desaparecidos era cadeirante e o raio X poderia ajudar nessa identificação]. E quem já teve restauro de dente, esse prontuário odontológico colabora bastante”, explicou.

O reconhecimento oficial dos corpos, segundo Ariel, pode ocorrer ainda hoje, se as famílias conseguirem encaminhar os documentos e prontuários  rapidamente.  “Se não conseguirem fazer as conclusões [sobre a identificação dos corpos] com os prontuários, daí precisará de exame de DNA. Já recolheram a saliva [de parentes] para os exames de DNA”.

As famílias
“Para mim foi uma emboscada”, disse Daiane Pamela Oliveira Ferreira Neves Barbosa, irmã de Jones, que esteve hoje no IML. Segundo ela, o irmão dela não tinha passagem pela polícia. Jones foi contratado para levar os demais jovens a uma festa em Ribeirão Pires. “Ele estava no lugar errado, na hora errada, com as pessoas erradas”.

Ela contou não ter podido ver o corpo e que foi orientada a buscar radiografias do irmão, que tinha problemas na bacia, e a trazer sua mãe para um possível exame de DNA. “Tem que se fazer Justiça. Não é só aparecer os corpos e acabou o caso. Tem que aparecer a Justiça e punir quem fez”, disse ela.

“Espero por Justiça para todos. Não é porque os quatro são bandidos [que eles deveriam morrer] porque eles já tinham pagado, já tinham ficado presos. Então não é chegar e matar. Todos são seres humanos. Aí mata, pega e joga cal para não dar para a família reconhecer? Agora não vamos poder nem velar, teremos que enterrar direto”, falou ela.

O caso
Os cinco amigos sumiram após saírem de carro da zona leste da capital para uma festa em Ribeirão Pires, na Grande São Paulo. O carro em que eles estavam foi encontrado depois, abandonado próximo a uma alça do Rodoanel. Uma mensagem de áudio enviada por Jonathan a uma amiga sugere que o grupo teria sido abordado pela polícia em uma blitz.

O caso é acompanhado pela Corregedoria da PM e pela Ouvidoria das Polícias devido às suspeitas do envolvimento de policiais no desaparecimento. Robson ficou paraplégico ao ser baleado em confronto com a polícia. Na região onde os jovens moravam, houve recentemente a morte de um agente público e as mortes desses jovens poderiam estar relacionados à uma vingança.

Edição: Maria Claudia

LEIA MAIS:
1 - Cápsulas achadas perto de corpos de jovens que estavam sumidos foram compradas pela PM. http://ponte.org/capsulas-achadas-perto-de-corpos-de-jovens-que-estavam-sumidos-foram-compradas-pela-pm/

2 - Polícia Militar consultou dados de jovens na noite em que foram assassinados. http://ponte.org/policia-consulta-desaparecidos/

Bolsa Família. Governo cancela 469 mil benefícios e bloqueia 667 mil inscritos no Programa.

Mariana Branco - Repórter da Agência Brasil
O ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra, fala sobre pente-fino nos benefícios do Bolsa Família
 Wilson Dias/Agência Brasil
O Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário encontrou irregularidades em 1,136 milhão de benefícios do Bolsa Família. Destes, 469 mil foram cancelados e 667 mil, bloqueados. 
No caso dos bloqueios, os usuários têm até três meses para comprovar que cumprem os requisitos do programa de distribuição de renda e podem voltar a receber o benefício. A pasta também convocou 1,4 milhão de famílias para fazer atualização cadastral em janeiro de 2017.
Os dados são resultado de um pente-fino no Bolsa Família iniciado em junho, que envolveu diversas bases de dados nacionais.
Os cancelamentos já começam a valer em novembro e terão impacto de R$ 1,024 bilhão na folha de pagamento do Bolsa Família. No caso dos bloqueios, o governo espera uma economia de R$ 1,428 bilhão, caso as irregularidades sejam confirmadas.
Segundo o ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra, os recursos economizados com o fim de benefícios indevidos serão aplicados na própria área social. Parte desse dinheiro contribuirá, inclusive, para o ingresso de novos usuários no Bolsa Família.
“Não houve, em nenhum momento, redução dos programas sociais. Não há nenhum direcionamento do governo para reduzir ou acabar com eles. Em junho, inclusive, nós reajustamos o Bolsa Família em 12,5%. O Orçamento de 2017 para o programa é superior ao de 2016. O reajuste deste ano foi acima da inflação e pode ser que tenha novamente [reajuste] no ano que vem”, disse o ministro.
Cruzamento de dados
Para realizar o pente-fino, o governo cruzou informações do Cadastro Único para Programas Sociais, que contêm os inscritos no Bolsa Família, com dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), Sistema de Controle de Óbitos (Sisobi), Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Sistema Integrado de Administração de Recursos Humanos (Siape) e Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ).
Além disso, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Tribunal de Contas da União compararam a base de dados do Bolsa Família com informações sobre 114 mil doadores de campanha para candidatos às eleições de 2016, o que levou ao bloqueio de 13 mil benefícios.
De acordo com o secretário nacional de Renda de Cidadania, Tiago Falcão, quando o benefício é bloqueado, o pagamento continua sendo feito, mas o dinheiro não pode ser sacado. “Se for resolvido o problema [que causou o bloqueio], as pessoas sacam de forma retroativa”, informou. Os  beneficiários nessa situação devem procurar as instâncias municipais responsáveis pelo Cadastro Único.
Renda acima da declarada
Os cancelamentos e bloqueios ocorreram porque o governo identificou que os beneficiários do Bolsa Família atingidos pela medida tinham renda acima da declarada oficialmente. A exceção são os 13 mil bloqueios a partir dos dados do TSE e TCU, motivados pela revelação de que os beneficiários figuravam como doadores de campanha com valores acima do permitido.
Nos casos em renda per capita mensal dos beneficiários superava R$ 440, houve cancelamento. Já as famílias com renda mensal per capita entre R$ 170 e R$ 440 tiveram o benefício bloqueado. E a chamada para atualização cadastral destina-se aos beneficiários com renda abaixo de R$ 170, mas em cujas informações prestadas foi encontrada alguma inconsistência.
Os municípios com maior número proporcional de cancelamentos - ou seja, em relação à quantidade de beneficiários - foram Treviso (SC), com 25,93%; Picada Café (RS), com 23%; Vargem Bonita (SC), com 18,89%; Itaipulândia (PR), com 16,62%; Muçum (RS), com 16,42%; Santa Ernestina (SP), com 16,35%; Jumirim (SP), com 15,87%; Presidente Lucena (RS), com 15,38%; Cocal do Sul (SC), com 15,33% e Nova Erechim (SC), com 15,28%.
Considerando o número absoluto de cancelamentos, a lista inclui metrópoles populosas, como São Paulo (28.664 cancelamentos), Rio de Janeiro (11.887), Salvador (6.389), Fortaleza (5.383), Manaus (3.666), Brasília (3.606) e Recife (3.378).
Pente-fino será mensal
O governo anunciou que, a partir de agora, o pente-fino nos benefícios do Bolsa Família ocorrerá todos os meses. Outra novidade é que a análise de possíveis irregularidades será prévia à concessão de novos benefícios. Segundo Osmar Terra, ainda este mês, o governo deve anunciar ainda este mês um programa de inclusão produtiva, destinado a auxiliar a inclusão da população assistida pelo Bolsa Família na atividade econômica.
O Bolsa Família é voltado para famílias extremamente pobres (renda per capita mensal até R$ 85) e pobres (renda per capita entre R$ 85,01 e R$ 170). Ao entrarem no programa, elas recebem o auxílio financeiro e, como contrapartida, cumprem compromissos nas áreas de saúde e educação. Atualmente, cerca de 13,9 milhões de famílias recebem o benefício concedido pelo governo federal.

Edição: Luana Lourenço

CONSULTORIA JURÍDICA DO SENADO CONCLUI QUE PEC (241) 55 É INCONSTITUCIONAL.

O parecer diz que a PEC nº 55 tende a abolir as cláusulas pétreas previstas na Constituição Federal, razão pela qual deve ter sua tramitação interrompida no Congresso.
O parecer diz que a PEC nº 55 tende a abolir as cláusulas pétreas previstas na Constituição Federal, razão pela qual deve ter sua tramitação interrompida no Congresso.



“Consideramos que a PEC nº 55, de 2016, tende a abolir as cláusulas pétreas previstas nos incisos II, III e IV do § 4º do art. 60 da Constituição Federal, que se referem, respectivamente, ao voto direto, secreto, universal e periódico; à separação de Poderes e aos direitos e garantias individuais, razão pela qual deve ter sua tramitação interrompida no âmbito das Casas do Congresso Nacional”, diz o consultor em seu parecer.


Ele diz ainda que “caso isso não ocorra e a PEC logre aprovação, promulgação e publicação, entendemos estar presentes os requisitos constitucionais para que os legitimados pelo art. 103 da Constituição proponham a competente ação direta de inconstitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal arguindo, nesse momento, a inconstitucionalidade da emenda constitucional na qual a PEC tenha eventualmente se transformado.”

Direitos e garantias individuais

O parecer destaca os direitos e garantias individuais violadas pela PEC 55, ao afirmar que “a PEC nº 55, de 2016, também trata das aplicações mínimas em ações e serviços públicos de saúde e em manutenção e desenvolvimento do ensino, direitos sociais fundamentais previstos na parte permanente da CF, respectivamente, no inciso I do § 2º do art. 198 e no caput do art. 212.” 

Ao congelar os gastos públicos em saúde e educação, a PEC 55 desobedece a Constituição de 1988, que estabelece que as aplicações mínimas em saúde no âmbito da União correspondem a um percentual da receita corrente líquida do respectivo exercício financeiro. “Logo, pelo texto permanente da Constituição, a União é obrigada a aplicar anualmente, no mínimo, 15% da receita corrente líquida do respectivo exercício financeiro”, diz o tecto.

Para a educação, a regra geral prevista na parte permanente da Constituição Federal é a de que a União aplicará, anualmente, nunca menos de 18% da receita resultante de impostos.

Violação ao voto popular

Outra violação da PEC 55, segundo o consultor do Senado, diz respeito ao voto direto, secreto, universal e periódico. 

Ele explica que “no sistema presidencialista, a elaboração da peça orçamentária anual assim como do plano de longo prazo (plano plurianual) e seu encaminhamento ao Poder Legislativo para discussão e aprovação são atribuições das mais nobres do Chefe do Poder Executivo.”

“O art. 84, inciso II, da CF dispõe ser competência privativa do Presidente da República exercer a direção superior da administração federal com o auxílio dos Ministros de Estado”, afirma Ronaldo Vieira, para em seguida, anunciar que “eliminar, como pretende a PEC nº 55, de 2016, a possibilidade de o Chefe do Poder Executivo – legitimamente eleito pelo povo, por intermédio do voto direto, secreto, universal e periódico – definir o limite de despesas de seu Governo significa retirar-lhe uma de suas principais prerrogativas de orientação, direção e gestão.”

Separação dos poderes

A PEC também viola o princípio da separação dos Poderes. Segundo o consultor do Senado, “o estabelecimento de limites individuais de despesas primárias para os próximos 20 exercícios financeiros para Poderes e órgãos da União com base na despesa paga, no ano de 2016, corrigida anualmente pela inflação apurada até junho do exercício anterior –, é medida draconiana que possui graves consequências.”

“De um lado, estrangula e mitiga a independência e a autonomia financeira do Poder Legislativo e do Poder Judiciário, e a autonomia financeira do Ministério Público da União e da Defensoria Pública da União, na medida em que impõe, na realidade, o congelamento de despesas primárias por 20 exercícios financeiros”, anuncia Ronaldo Vieira, acrescentando que dessa forma, qualquer perspectiva de ampliação da atuação desses Poderes e órgãos fica inviabilizada pelos próximos 20 anos.”



De Brasília - Márcia Xavier 


Leia tambem:

247 - Um estudo da área técnica do Senado Federal concluiu que a PEC 55 (241 na Câmara dos Deputados), que impõe um teto dos gastos públicos do governo federal pelos próximos 20 anos, é "inconstitucional".
O artigo técnico é produzido pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas da Consultoria Legislativa, assinado por Ronaldo Jorge Araujo Vieira Junior, consultor legislativo do Senado na área do direito constitucional, administrativo, eleitoral e partidário, e está disponível no site do Senado (aqui).
A Comunicação do Senado, porém, decidiu não divulgar o estudo por meio de reportagem na Agência Senado, como acontece em todos os casos. 
O estudo concluiu que "a PEC nº 55, de 2016, tende a abolir as cláusulas pétreas previstas nos incisos II, III e IV do § 4º do art. 60 da Constituição Federal, que se referem, respectivamente, ao voto direto, secreto, universal e periódico; à separação de Poderes e aos direitos e garantias individuais, razão pela qual deve ter sua tramitação interrompida no âmbito das Casas do Congresso Nacional".

Daniel Ortega é reeleito presidente da Nicarágua.

Monica Yanakiew
Da Agência Brasil
Ortega liderou a Revolução Sandinista há 37 anos, derrotando da ditadura de Anastásio Somoza. THE PRESIDENTIAL PRESS AND INFORMATION OFFICE/FOTOS PÚBLICAS
Ortega liderou a Revolução Sandinista há 37 anos, derrotando da ditadura de Anastásio Somoza. THE PRESIDENTIAL PRESS AND INFORMATION OFFICE/FOTOS PÚBLICAS
O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, foi reeleito no domingo (6), com 71,3%, segundo os resultados preliminares da apuração. Mas antes da contagem de votos terminar, milhares de simpatizantes comemoraram a continuidade do ex-guerrilheiro de 70 anos no poder.  Esse será o terceiro mandato presidencial consecutivo do homem que liderou a Revolução Sandinista há 37 anos, derrotando da ditadura de Anastásio Somoza.
Os opositores – entre os quais alguns ex-guerrilheiros que lutaram a seu lado – acusam Ortega de autoritarismo e de querer perpetuar a família no poder, como o ditador que ele combateu. Anastásio Somoza foi o último de uma dinastia que governou a Nicarágua durante mais de 40 anos.
Ortega mudou a Constituição para eliminar os limites da reeleição. Seu partido, a Frente Sandinista da Liberação Nacional (FSLN), foi ganhando o controle das instituições. E sua mulher, Rosário Murillo, será vice-presidente.
Às vésperas das eleições, as pesquisas de opinião davam a vitória do casal como certa – até porque o maior partido da oposição foi excluído do pleito e os outros quatro candidatos tinham pouco peso. Ortega não permitiu a presença de observadores internacionais nesta votação, levando uma parte dos opositores a criticar a falta de transparência e fazer campanha pela abstenção.

Primeira eleição foi em 1984

Ortega foi eleito presidente pela primeira vez em 1984. Mas, seu governo esquerdista foi marcado pela guerra civil com os Contras – rebeldes financiados e armados pelos Estados Unidos. Com a economia do país em crise, foi negociado um acordo de paz, que levou à realização de novas eleições presidenciais em 1990.
Desde então, Ortega tentou mais de uma vez candidatar-se à presidência, mas só conseguiu reconquistar o poder em 2006. Ele foi reeleito em 2011 e, durante seus dez anos de governo, a economia nicaraguense cresceu acima da média regional. Segundo o Banco Mundial, a pobreza foi reduzida em 13%.
Nesse período, o pais recebeu US$ 4,8 bilhões em empréstimos e investimentos da Venezuela, que foram usados para projetos de energia, desenvolvimento do comércio, agricultura e também em programas sociais. 
Apesar das melhorias econômicas e sociais, a Nicarágua ainda está entre os países mais pobres da América Latina e precisa atrair investimentos estrangeiros. Mas a Venezuela – que foi duramente afetada pela queda do preço do petróleo, seu principal produto de exportação – enfrenta uma crise econômica e política e já não pode socorrer os vizinhos como antes.
A Nicarágua tem uma baixa taxa de violência em relação aos seus vizinhos ( Honduras, El Salvador e Guatemala), o que deveria contribuir para a atração de investimentos estrangeiros. Mas o país tem sido duramente criticado pela falta de transparência democrática pelos Estados Unidos, um de seus principais parceiros comerciais.
O Congresso norte-americano ameaça limitar os empréstimos concedidos por organismos internacionais à Nicarágua se o presidente Daniel Ortega não promover reformas democráticas. Na votação de domingo também foram eleitos 90 deputados da Assembleia Nacional.

Rússia, China e Arábia Saudita, domando a hegemonia do (US$) Dollar norte-americano.

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Os EUA aumentaram os obstáculos que tentam manter a hegemonia do dólar como moeda de reserva mundial. 

Nos últimos meses, os países emergentes tinham vendido um imenso lote de títulos do Tesouro dos EUA, principalmente a Rússia, a China e a Arábia Saudita.

Além disso, para se proteger de flutuações violentas do dólar, os bancos centrais de vários países adquiriram grandes quantidades de ouro para diversificar suas reservas de moeda. Em resumo, a ofensiva global contra o dólar explodiu através da venda maciça de dívida dos EUA e, em paralelo, a compra maciça de metais preciosos.

A supremacia de Washington no sistema financeiro global sofreu um tremendo golpe em agosto: Rússia, China e Arábia Saudita venderam títulos do Tesouro dos EUA estimados em US$ 37,9 bilhões de dólares, de acordo com a última atualização dos dados oficiais publicados há poucos dias [1].

Do ponto de vista geral, os investimentos globais em dívida do governo dos Estados Unidos estão em seu nível mais baixo desde julho de 2012. Claramente, o papel de moeda de reserva mundial do dólar ainda é questionada. Em 2010, o almirante Michael Mullen, chefe do Estado Maior Conjunto dos EUA, advertiu que a dívida era a principal ameaça à segurança nacional [2]. 

Em minha opinião, não é tanto a elevada dívida pública (mais de US$ 19 trilhões [3]) para evitar que a economia dos EUA entre em colapso, mas para Washington é crucial garantir um enorme fluxo de recursos estrangeiros todos os dias, para cobrir os déficits gêmeos (comércio e orçamento); que é para o Departamento do Tesouro uma questão de vida ou morte para vender títulos de dívida no mundo e assim financiar as despesas dos EUA.

Lembre-se que o colapso do Lehman Brothers em setembro de 2008, o Banco da China tem estado sob enorme pressão de Ben Bernanke, então presidente do Federal Reserve (Fed), não vende os títulos de dívida dos EUA.

Na primeira, os chineses decidiram manter o dólar. No entanto, desde então, por duas vezes, o Banco Central Chinês tem evitado comprar outros títulos norte-americanos e, ao mesmo tempo, iniciou um plano para diversificar suas reservas cambiais.

Beijing compra ouro maciçamente nos últimos anos, assim como o banco central da Rússia. No segundo trimestre de 2016, as reservas de ouro do Banco da China atingiram 1.823 toneladas contra 1.762 toneladas registrados no último trimestre de 2015.

A Federação Russa aumentou as reservas de ouro de cerca de 290 toneladas entre dezembro de 2014 e junho de 2016, fechando o segundo trimestre deste ano com um total de 1.500 toneladas.

Confrontados com os choques brutais do dólar é crucial para comprar ativos mais seguros como o ouro que, em tempos de instabilidade financeira grave, atua como um porto seguro. Assim, a estratégia de Moscou e de Pequim para vender títulos do Tesouro dos EUA e comprar ouro, é seguida por muitos países.

Como estimado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), as reservas de ouro dos bancos centrais ao redor do mundo já atingiu o máximo dos últimos 15 anos, registrando, assim, no início de outubro um volume de cerca de 33.000 toneladas [4].

A Geopolítica faz a sua parte na formação da nova ordem financeira global. Após a imposição de sanções económicas ao Kremlin, a partir de 2014, a relação com a China tem tido grande importância para os russos. Desde então, as duas potências aprofundaram os laços em todos os campos, de economia e finanças para a cooperação militar. 

Além disso, garantindo o fornecimento de gás para a China para as próximas três décadas, o presidente Vladimir Putin construiu com o homólogo Xi Jinping uma aliança financeira poderosa que busca acabar de uma vez por todas para o domínio da moeda norteamericana.

Atualmente, os hidrocarbonetos que Moscou vende à Pequim são pagos em yuan, não dólares. Assim, a "moeda do povo" os ( "RMB" em chinês) emerge gradualmente para o mercado mundial de hidrocarbonetos com o comércio entre a Rússia e a China, países que, na minha opinião, levam a construção do sistema monetário multipolar.

A grande novidade é que a corrida para desdolarizar a economia global juntou à Arábia Saudita, um país que há décadas é um aliado ferrenho da política externa de Washington.

Surpreendentemente, nos últimos 12 meses, foi executado por Riad a venda de mais de US$ 19 bilhões investidos em títulos do Tesouro dos Estados Unidos, com a China a tornar-se um dos principais vendedores de dívida dos EUA [5].

Para piorar a situação, o reino saudita se enfurece mais e mais com a Casa Branca. No final de setembro, o Congresso dos EUA aprovou a eliminação do veto do presidente Barack Obama a uma lei que impedia os EUA de denunciar a Arábia Saudita num tribunal por alegado envolvimento nos ataques de 11 de Setembro de 2001 [6].

Juntos, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) chegou a um acordo histórico com a Rússia para reduzir a produção de petróleo e, assim, promover o aumento dos preços [7].

É também surpreendente que agora Pequim abriu a troca direta entre o yuan e o Rial saudita através da China Sistem Foreign Exchange Trading (CFETS, na sigla em Inglês) para transações entre as duas moedas, sem passar pelo dólar.

Portanto, é muito provável que, mais cedo ou mais tarde, a companhia de petróleo Aramco saudita aceite pagamentos em yuan em vez de dólares [8].

Se isso acontecer, a Casa de Saud apostaria tudo no petroyuan [9].

O mundo está mudando diante de nossos olhos ...

Texto de Ariel Rodríguez Noyola

Tradução - Alessandro Lattanzio


Fonte - Russia Today (Rússia).

[1] «Major Foreign Holders of Treasury Securities», U.S. Department of Treasury, October 18, 2016.

[2] «Mullen: Debt is top national security threat», CNN, August 27, 2010.

[3] «Federal Debt: Total Public Debt», Federal Reserve Bank of St. Louis, August 26, 2016.

[4] «Quarterly times series on World Official Gold Reserves since 2000», World Gold Council, September 7, 2016.

[5] «U.S. Bond Market’s Biggest Buyers Are Selling Like Never Before», Liz McCormick, Andrea Wong, Wes Goodman, Bloomberg, September 25, 2016.

[7] «OPEC agrees modest oil output curbs in first deal since 2008», Rania El Gamal, Alex Lawler & Vladimir Soldatkin, Reuters, September 29, 2016.


[9] “Il petroyuan è la grande scommessa di Russia e Cina”, di Ariel Noyola Rodríguez, Traduzione Alessandro Lattanzio, Russia Today (Russia) , Rete Voltaire, 19 maggio 2016.