quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Goiânia. Pai mata o filho acadêmico de matemática, por discordar de ocupação da Universidade Federal de Goiás - UFG.

Foto - Guilherme Silva Neto - Jovem assassinado por pai em Goiânia. Reprodução/facebook.
POR TOM CARLOS.

Uma tragédia familiar aconteceu nesta terça-feira, 15, no setor Aeroporto, na avenida República do Líbano, em Goiânia. Testemunhas afirmam que engenheiro e estudante discutiram sobre manifestações.

O engenheiro Alexandre da Silva Neto, 60, teria assassinado o filho Guilherme Silva Neto, 20, após uma discussão referente a ocupação dos estudantes na Universidade Federal de Goiás (UFG).

Guilherme era estudante de matemática na UFG e defendia as ocupações [das escolas e universidades contra a PEC 55/2016 que limita os gastos públicos.] Além de participar ativamente da agenda do movimento estudantil.

[Conforme seu perfil nas redes sociais, a vítima (Guilherme) participativa ativamente das manifestações contra a ampliação das Organizações Sociais (OSs), ele também se posicionava a favor da legalização do aborto, contra o estupro, esta militância social,] deixava o pai apreensivo quanto aos desdobramentos policiais dos protestos.

No caso do conflito que motivou o homicídio seguido de suicídio, o pai tinha se manifestado preocupado com a possibilidade da Polícia Federal invadir as ocupações e colocar em risco a vida do filho, que tem realizado atos junto aos ocupantes dos prédios da UFG.

A Justiça deu prazo até ontem para que os manifestantes deixem as faculdades da UFG.

A discussão entre Alexandre e Guilherme teria se alongado por vários minutos pela manhã. Por volta das 16h30, o pai teria saído.

Quando o filho saiu de casa, o pai [ao encontrá-lo na Rua] atirou quatro vezes, ato contínuo deitou-se sobre a vítima e atirou na própria cabeça. [O pai Alexandre foi socorrido e levado ao Hospital Geral de Urgências de Goiânia (HUGO)], não resistindo ao ferimento veio a óbito no início da noite de terça-feira. 

Link's desta matéria:



terça-feira, 15 de novembro de 2016

Cresce o número de docentes em greve em Instituições de Ensino Superior contra a PEC 241/55.

Com imagens de Adufsj-SSind, William Boessio.
Os docentes de vinte e cinco Instituições de Ensino Superior (IES) já aprovaram deflagração de greve contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55/16 (antiga PEC 241), a Medida Provisória (MP) 746 da Reforma do Ensino Médio. 

São dezoito universidades que já têm suas atividades paralisadas contra a retirada de direitos, enquanto sete decidiram iniciar a greve nos próximos dias.




As vinte e cinco IES estão espalhadas por todas as regiões do país e abrangem tanto instituições federais quanto estaduais. A discussão da greve foi indicada por duas reuniões conjuntas entre o Setor das Instituições Federais de Ensino (Ifes) e o Setor das Instituições Estaduais e Municipais de Ensino (Iees/Imes) do ANDES-SN, realizadas em Brasília (DF), nas últimas semanas. 




A última reunião dos setores, realizada em 5 e 6 de novembro, indicou às seções sindicais que iniciassem rodadas de assembleia em todo o país para discutir e deliberar sobre o indicativo de greve da categoria docente, em articulação com os setores da Educação, contra a PEC 55 (PEC 241 na Câmara) e contra a MP 746/2016, bem como definir a temporalidade da greve.




Nos dias 19 e 20 de novembro ocorrerá nova reunião conjunta dos Setores das Ifes e das Iees/Imes do Sindicato Nacional para avaliar os resultados da rodada de assembleias e apontar os encaminhamentos tendo como referência as deliberações da base.




Em meio ao debate na categoria docente sobre a deflagração da greve, Fasubra e Sinasefe já estão em greve, e milhares de estudantes em todo o país ocupam suas escolas, universidades e institutos. Os estudantes lutam contra a PEC, mas também contra a Reforma do Ensino Médio. São mais de mil escolas e institutos ocupados, além de 71 universidades (confira a lista ao final da matéria).  




LISTA DE IES COM GREVE DEFLAGRADA




*com base em informações levantadas até a tarde de segunda (14)




Universidade Federal do Pará (Ufpa)




Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra)




Instituto Federal do Piauí (IFPI)




Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)




Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf)




Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)




Universidade de Pernambuco (UPE)




Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)




Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob)




Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB)




Universidade Federal de Goiás (UFG) Catalão




Universidade Federal de Goiás (UFG) Jataí




Universidade Federal de Lavras (Ufla)




Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop)




Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ)




Universidade Federal de Alfenas (Unifal)




Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM)




Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes)




Universidade Federal de Uberlândia (UFU)




Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)




Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)




Universidade Federal de Pelotas (Ufpel)




Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)




Universidade Federal de Rio Grande (Furg)




Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) Rio Grande.

Com imagens de Adufsj-SSind, William Boessio.
Confira a lista de universidades ocupadas:




*com base em informações levantadas até a tarde de segunda (14)




1.    FURG



2.    UDESC



3.    UEA



4.    UEFS



5.    UEL



6.    UEM



7.    UEMA



8.    UEMG



9.    UEMS



10.    UEPA



11.    UEPG



12.    UERN



13.    UESB



14.    UESC



15.    UFAL



16.    UFBA



17.    UFCSPA



18.    UFES



19.    UFF



20.    UFFS



21.    UFG



22.    UFGD



23.    UFJF



24.    UFLA



25.    UFMA



26.    UFMG



27.    UFOB



28.    UFOP



29.    UFPA



30.    UFPE



31.    UFPI



32.    UFPR



33.    UFRB



34.    UFRGS



35.    UFRN



36.    UFRPE



37.    UFRJ



38.    UFRRJ



39.    UFS



40.    UFSB



41.    UFSC



42.    UFSJ



43.    UFT



44.    UFTM



45.    UFU



46.    UFV



47.    UFVJM



48.    UNB



49.    UNEAL



50.    UNEB



51.    UNESPAR



52.    UNICENTRO



53.    UNIFAL



54.    UNIFEI



55.    UNIFESSPA



56.    UNIOESTE



57.    UNIVASF



58.    UPE



59.    URCA



60.  UNIFAP



61. UNB



62. UFS



63. UNIFESP



64. UFSCAR



65. UFSM



66. UFRR



67. UFPEL



68. PUC-RS



69. UERGS



70. PUC-MG



71. UFC


Fonte: ANDES-SN

A importância de ler Slavoj Zizek.

A  importância de ler Slavoj Zizek. 25401.jpeg
Foto - Slavoj Zizek

Slavoj Zizek é hoje o mais original e provocador teórico da esquerda no mundo inteiro. Misturando principalmente os conceitos de Karl Marx com os do psicanalista francês Jacques Lacan, Zizek faz uma nova leitura dos limites do capitalismo e propõe uma retomada do comunismo sobre bases totalmente diferentes das existentes até então.

Nascido em Liubliana, Eslovênia, em 1949, Zizek é professor da European Graduate School e pesquisador do Instituto de Sociologia da Universidade de Liubliana, mas é acima de tudo um novo tipo de filósofo e político que se utiliza de todos os meios de comunicação possíveis para emitir opiniões sobre os mais variados temas, que vão da crise do capitalismo às artes, passando pelo cinema e pela música.

São, porém, em seus livros e nos debates acadêmicos, que faz pelo mundo inteiro, inclusive no Brasil, que Zizek, solidamente apoiado pela leitura dos grandes filósofos alemães do passado, principalmente Hegel e Kant, e dos franceses atuais, como Lacan, Foucault e Badiou, destila seus pensamentos sempre originais.

Ao negar a hegemonia da democracia como modelo político, principalmente a chamada democracia liberal, ele afirma que esse modelo é apenas a face visível do capitalismo como sistema econômico, que só funciona na medida em que se fundamenta na existência de dois grupos sociais, o dos "incluídos" e o dos "excluídos".

No ensaio intitulado "Alain Badiou ou a violência da subtração", contido em seu livro "Em defesa das causas perdidas" (Boitempo Editorial, 2011), ele faz uma distinção entre povo e proletariado e defende a ideia de "ressuscitar a boa e velha ditadura do proletariado como a única maneira de romper com a biopolítica atual".

Diz ele que que devemos usar a palavra ditadura no sentido exato em que a democracia também é uma forma de ditadura, ou seja, é uma determinação puramente formal e que o estado-burguês, mesmo com suas eleições periódicas, é uma fachada para a ditadura burguesa.

Ao retomar o conceito de Marx do sentido revolucionário do proletariado, Zizek diz que o proletariado é a única classe social capaz de representar o interesse universal da sociedade, porque ao contrário das outras classes sociais que podem potencialmente atingir a condição de "classe dominante", o proletariado não pode atingir essa condição sem abolir a si mesmo como classe.

Em seu livro "Às portas da revolução: escritos de Lenin de 1917", já publicado no Brasil (Boitempo Editora, 2005), Zizek afirma que Lenin soube articular o realismo com a utopia, quando diz que "é preciso sonhar, mas com a condição de crer em nosso sonho. De observar com atenção a vida real, de confrontar a observação com nosso sonho, de realizar escrupulosamente nossas fantasias. Sonhos, acredite neles".

O legado de Lenin, a ser reinventado hoje, diz Zizek, é a política da verdade. Tanto a democracia liberal, como o totalitarismo impedem uma política da verdade.

Espalhados pelos seus diversos livros, quase todos traduzidos para o português, ou nas suas múltiplas conferências, podemos colecionar alguns pensamentos de Zizek, quase sempre polêmicos.

Sobre fundamentalismos: "Precisamos parar de estabelecer essa relação direta do fundamentalismo com o Islã, há fundamentalistas nos Estados Unidos, na Noruega, na Europa Oriental, a Hungria vive um pesadelo agora, isso sem falar na Índia, onde o fundamentalismo é muito mais forte entre os hindus."

Sobre ideologias: "É fascinante dizer hoje que, com exceção de algum louco fundamentalista religioso, nós não temos mais ideologia, somos todos cínicos pragmáticos. Mas não, eu acho que mais do que nunca a ideologia é hoje parte da nossa vida cotidiana. Na verdade, é uma parte até invisível".

Sobre Hillary Clinton: "Julian Assange está certo em sua cruzada contra Hillary, e os liberais que o criticam por atacar a única figura que pode nos salvar de Trump estão errados. O alvo a ser atacado e solapado agora é precisamente esse consenso democrático contra o 'vilão'."

Sobre a Europa: "A Europa está presa em um ciclo vicioso, oscilando entre dois falsos opostos: a rendição ao capitalismo global, ou a sujeição a um populismo anti-imigração"

Sobre a corrupção: "A lição dos Panama Papers é justamente que a corrupção não é um desvio do sistema capitalista global, ela é parte de seu funcionamento básico".

Sobre a luta de classes e os atentados na França: "É preciso trazer de volta a luta de classes e insistir na solidariedade global dos explorados e oprimidos. Sem essa visão global, a patética solidariedade para com as vítimas de Paris não passa de uma obscenidade pseudo-ética."

Sobre o ateísmo: "Enquanto um verdadeiro ateu não tem necessidade de apoiar sua própria posição provocando crentes com blasfêmia, ele também se recusa a reduzir o problema das caricaturas de Maomé ao respeito às crenças de outras pessoas."

Sobre os refugiados: "Não podemos abordar a crise dos refugiados sem enfrentar o capitalismo global. Os refugiados não chegarão à Noruega. Tampouco a Noruega que eles procuram existe."

Sobre ser politicamente correto: "A necessidade de regras politicamente corretas surge quando os valores não ditos de uma sociedade não são mais capazes de regular efetivamente as interações cotidianas - no lugar de costumes consolidados seguidos de forma espontânea, ficamos com regras explícitas  - negro se torna afro-americano, favela se torna comunidade, um ato de tortura passa a ser denominado oficialmente de técnica aprimorada de interrogação de tal forma que estupro poderia muito bem passar a ser chamado de técnica aprimorada de sedução".

Sobre as favelas brasileiras: "O Brasil é um dos únicos países que conheço que não esconde as favelas. Em Buenos Aires, por exemplo, elas não são vistas. Não digo que elas formem um magnífico cenário hollywoodiano, mas pelo menos é melhor que sejam vistas! E me pergunto: como funciona a vida social nas favelas? Há milhares de pessoas amontoadas, então, além dos bandidos e comunidades religiosas, tem de haver um tipo de rede social que faça a favela funcionar.

Sobre os objetivos da esquerda: "O sonho secreto da Esquerda radical nas últimas décadas consistiu no que ela mais temia, a perspectiva real de tomar o poder. Eles têm medo do poder. Acho que nesse sentido temos de ser brutais e não ter medo do poder".

Sobre o papel das mulheres: "Lacan fala de Santa Tereza, por exemplo - que a mulher goza, que ela não sabe o quê, mas simplesmente, sem palavras, goza. É interessante pensarmos em Santa Tereza nesse sentido. Se há uma pessoa que não existiu fora da ordem simbólica, ela é Santa Tereza. Ela escrevia o tempo inteiro, era uma pessoa de escrita histérica. Essa é a posição feminina, não esse tipo de mãe primordial.

Sobre as recentes manifestações públicas na Europa: "Sou a favor de reuniões e protestos, porém não me convencem seus manifestos de desconfiança de toda a classe política. A quem se dirigem, então, quando pedem uma vida digna"?

Sobre ele mesmo: "Sou um pessimista no sentido de que estamos nos aproximando de tempos perigosos. Mas sou um otimista exatamente pela mesma razão. O pessimismo significa que as coisas estão ficando bagunçadas. O otimismo significa que esta é precisamente, a época em que a mudança é possível".

No dia 6 de março de 2013, um dia após a morte de Hugo Chávez, Slavoj Zizek começava uma conferência na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, afirmando que "Chávez era um de nós independente do que se queira dizer sobre ele" e depois explicou porque pensava assim: "Todo mundo gosta de simpatizar com favelas, de fazer caridade. Caridade é o que existe de mais fashion no novo capitalismo global. Faz as pessoas se sentirem bem e ao mesmo tempo despolitiza a situação. Todos querem fazer caridade, mas nem todos querem incluir a favela na política. Chávez viu que não incluir todos os excluídos significa viver em permanente guerra civil. Por isso ele viverá para sempre".

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  Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS.

MPF/RJ acusa diretor do Arquivo Nacional de violar laicidade do Estado.


MPF/RJ acusa diretor do Arquivo Nacional de violar laicidade do Estado
Imagem ilustrativa - iStock (adaptado)
O Ministério Público Federal no Rio de Janeiro (MPF-RJ) ingressou com ação civil pública por ato de improbidade administrativa contra o diretor-geral do Arquivo Nacional, José Ricardo Marques, acusado de, entre os dias 10 de março e 14 de julho de 2016, promover cultos evangélicos semanais no auditório principal da instituição federal, utilizando-se dos equipamentos de áudio e vídeo, bem como do trabalho de um servidor do órgão. Os cultos só cessaram após o fato ter sido revelado pela imprensa, no dia 19 de julho.

Clique aqui e leia a íntegra da ação. 

Criado em 1838, o Arquivo Nacional é uma das instituições federais mais antigas do país e tem, por Lei, a função de promover a “gestão e o recolhimento dos documentos produzidos e recebidos pelo Poder Executivo Federal, bem como preservar e facultar o acesso aos documentos sob sua guarda, e acompanhar e implementar a política nacional de arquivos”.

Segundo apurou o MPF, o atual diretor do órgão, que é membro de uma comunidade evangélica, foi nomeado em fevereiro de 2016, em substituição ao servidor de carreira Jaime Antunes, que tem formação na área e dirigiu a instituição por 23 anos.

Tão logo tomou posse no cargo, Marques indagou ao então coordenador de administração quem eram os servidores do órgão que professavam a sua crença. Em seguida, mandou chamar o grupo e disse que, daquela data em diante, eles não mais se reuniriam na área livre onde estavam habituados, mas sim no auditório principal da instituição.

O coordenador de administração do órgão chegou a argumentar com Marques que um espaço multiuso, no subsolo do bloco P do Arquivo, estava sendo preparado para aulas de dança, coral e instrumentos musicais, e que as reuniões evangélicas talvez pudessem ocorrer neste local, uma vez que nele, diversamente do que ocorre com o auditório principal, não há despesas extras com ar-condicionado e energia elétrica. O Diretor da unidade, porém, recusou veemente a sugestão, dizendo que o local sugerido era um “buraco” e que jamais faria reuniões evangélicas em tal espaço.

Em razão da determinação do diretor, os cultos evangélicos passaram então a ser realizados semanalmente no auditório principal do Arquivo,  com o suporte de um servidor federal destacado para operar os equipamentos de áudio e vídeo (pertencentes ao patrimônio público) usados nas oito sessões realizadas.

Até a chegada do atual diretor da unidade, o único evento religioso realizado no Arquivo era uma cerimônia de natureza ecumênica/plurirreligiosa, promovida por ocasião do Natal, e da qual participavam um padre, um pastor evangélico e um representante do espiritismo.
 
José Ricardo Marques também está sendo acusado, na ação, de ter mentido ao MPF em ofício datado de 1o de setembro de 2016, e de ter tentado instruir a testemunha Maurício Antonio de Camargos, que é pastor evangélico e servidor do órgão. No ofício n.º 018/2016/COAD-AN, Marques textualmente afirmou ser  “falsa a informação de que teria participado de evento de natureza religiosa no auditório do Arquivo Nacional”. Segundo o Diretor do órgão, o evento realizado no dia 14 de julho de 2016 teria tido como propósito “tão somente receber boas-vindas de um grupo de servidores, em seu intervalo de almoço”.

Posteriormente, porém, o MPF obteve a gravação em áudio do evento e constatou que se tratava, sem nenhuma dúvida, de ato de natureza religiosa, o que contraria o disposto no art. 19, inciso I, da Constituição (princípio da laicidade do Estado), a Lei 8.159/91 e a Portaria do Arquivo Nacional que disciplina o uso do espaço da instituição.

O MPF também ouviu a testemunha Maurício, que afirmou ter recebido um envelope encaminhado pelo diretor da instituição, contendo instruções sobre como deveria responder às indagações feitas pelo Ministério Público.

Na ação, os procuradores da República Sergio Gardenghi Suiama e Jaime Mitropoulos afirmam que a conduta do Diretor do Arquivo Nacional causou perda patrimonial e desvio de recursos públicos para fins privados, além de atentar contra os princípios da legalidade, imparcialidade, honestidade e lealdade às instituições.

Estado laico - Segundo os procuradores, desde 1898 o Estado brasileiro adotou o princípio da separação entre Estado e Religião, sendo, assim, vedado a qualquer servidor utilizar bens e serviços públicos para endossar esta ou aquela crença religiosa, em detrimento da igualdade e do respeito a todas as demais crenças e não-crenças. “Sobremodo, não pode o agente público, em hipótese alguma, usar a repartição para fazer proselitismo religioso, transformando o espaço em local de pregação”.

Ainda segundo os procuradores que assinam a ação, Marques agiu de forma desleal com a instituição que dirige pois, “ao invés de promover os interesses lícitos e relevantes para os quais o Arquivo Nacional foi criado, buscou promover-se e promover os interesses privados da sua própria Igreja, utilizando-se, para tanto, dos poderes do cargo comissionado que temporariamente ocupa.”

Por esses motivos, o MPF pediu que o servidor seja condenado ao:

a) ressarcimento integral dos valores gastos com os oito eventos religiosos realizados no auditório; 

b) perda da função pública exercida; 

c) suspensão de seus direitos políticos por oito anos; 

d) pagamento de multa civil em valor equivalente a cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente; 

d) proibição de contratar com o Poder Público Federal ou dele receber benefícios, incentivos fiscais ou creditícios pelo prazo de cinco anos. 

Assessoria de Comunicação Social - 
Procuradoria da República no Rio de Janeiro.

Maranhão. Governo realiza Conferência do Conselho Mundial da Paz.

Como parte da programação alusiva ao Novembro pela Paz, o Governo do Maranhão realiza nesta segunda-feira (14) às 15h, no auditório do Palácio dos Leões, o lançamento da Conferência e Assembleia Mundial da Paz do Conselho Mundial da Paz (CMP), além 4ª da Assembleia Nacional do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz).

A coletiva de apresentação será feita pelo Secretário de Estado de Comunicação e Assuntos Políticos (Secap), Márcio Jerry, do Secretário de Estado de Direitos Humanos e Participação Popular, Francisco Gonçalves e da Presidenta do Cebrapaz, Socorro Gomes.

Esta é a primeira vez que o Brasil receberá a Conferência e a Assembleia do Conselho Mundial da Paz. O Cebrapaz é filiado ao Conselho Mundial da Paz. Fundado em 1949, o CMP reúne-se em Assembleia Geral a cada quatro anos com movimentos e organismos de mais de 90 países mobilizados na luta pela solidariedade e pela paz.

O Governo do Estado promove o “Novembro pela Paz” durante todo este mês. A ação busca promover a cultura de paz, do respeito às leis e aos direitos humanos pelas instituições públicas, entidades da sociedade civil e cidadãos maranhenses. A Lei Estadual nº 10.387, de 21 de dezembro de 2015, que criou o Pacto pela Paz, dá subsidio ao ato.

SERVIÇO

O QUÊ: Lançamento do Cebrapaz

QUANDO: Segunda-feira, dia 14 de novembro

HORÁRIO: 15H

LOCAL: Auditório do Palácio dos Leões

Contato: Luana Melo – 9.9105.5518.

Neoliberalismo: a história profunda que jaz por trás do triunfo de Donald Trump.

14/11/2016, por George Monbiot, The Guardian.


Entreouvido na Vila Vudu:

Vamo combiná: quando até o Instituto Millenium teria de estar criticando a Killary por ter traído os ideais de Hayek (é o que se lê no artigo abaixo), mas até o Instituto Millenium está criticando o adversário da Killary agora eleito, e o de-to-na com o palavrão mais feio que os Milleniums conhecem ("Trump é Lula")...

FRANCAMENTE, tá na cara que alguma coisa está é muuuuuuuuito mal contada, na insuperável burritsia 'analítica' da elite USP-UDN & Estadão [pano rápido]


Os eventos que levaram à eleição de Donald Trump começaram na Inglaterra, em 1975. Numa reunião, poucos meses depois de Margaret Thatcher assumir o comando do Partido Conservador, uma de suas companheiras – ou pelo menos é o diz a história – explicava o que, para ela, seria o núcleo dura das crenças do conservadorismo. Mas Thatcher abriu a bolsa, tirou de lá um livro amarfanhado e bateu com ele na mesa. "Nós acreditamos nisso" – disse ela. Assim começou uma revolução que varreria todo o planeta.

O livro era The Constitution of Liberty de Frederick Hayek [A Constituição da Liberdade]. Sua publicação, em 1960, marcou a transição de uma filosofia honesta, ainda que extrema, numa fraude de proporções monstro. A filosofia era chamada "Neoliberalismo". 

Ali, a característica que definiria as relações humanas seria sempre a concorrência, a competição. O mercado descobriria uma hierarquia natural de ganhadores e perdedores, criando sistema mais eficiente que jamais poderia ser alcançado mediante planejamento nem por projeto. Qualquer coisa que impedisse esse processo, como impostos significativos, leis regulatórias, atividade sindical ou oferta de qualquer coisa pelo Estado, seria contraproducente. Empresários perfeitamente livres gerariam a riqueza que, em seguida, escorreria pirâmide abaixo [ing. trickle down] para todos.

Valha o que valer, essa era a concepção original. Mas quando afinal Hayek veio a escrever The Constitution of Liberty, a rede de lobbyistas e pensadores que aquela concepção gerara já era abundantemente paga por multimilionários que tomaram a doutrina como ferramenta para se defenderem contra os riscos da democracia. Nem todos os aspectos do programa neoliberal promoviam os interesses deles. Ao que parece, Hayek arregaçou as mangas para preencher as lacunas.

Começa o livro expondo a concepção mais rasa que jamais existiu de liberdade: uma ausência de coerção. Rejeita noções como liberdade política, direitos universais, igualdade entre os homens e na distribuição da riqueza, todas essas noções, porque limitam a ação dos ricos e poderosos, interferindo na ausência de qualquer coerção (a "liberdade") que o modelo exige necessariamente.

Democracia, por sua vez, "não é valor definitivo ou absoluto". De fato, a liberdade depende de impedir-se que a maioria possa escolher a direção que política e sociedade devam tomar.

Para justificar essa posição, Hayek cria uma narrativa heroica da riqueza extrema. Aproxima a elite econômica, livre para gastar o próprio dinheiro de novas maneiras, e os pioneiros da filosofia e da ciência. Assim como o filósofo político tem de ter liberdade para pensar o impensável, assim também os muito ricos têm de ser livres para fazer o factível, sem nenhuma consideração com o interesse público ou a opinião pública.

Os ultra ricos são "escoteiros", "batedores" [ing. "scouts"], "sempre a experimentar novos estilos de vida", que abrem as trilhas pelas quais seguirá o resto da sociedade. O progresso da sociedade depende da liberdade que tenham esses "independentes" para ganhar tanto dinheiro quanto desejem e gastá-lo como queiram. Tudo que é bom e útil, portanto, é fruto da desigualdade. Não pode haver conexão entre mérito e recompensa, nenhuma distinção entre renda justa e não justa e nenhum limite aos rendimentos [ing. rents] a serem cobrados.

Riqueza herdada é mais socialmente útil que riqueza alcançada com trabalho: "os ricos ociosos" [ing. "the idle rich"] que não têm de trabalhar pelo próprio dinheiro podem devotar-se a influenciar "campos de pensamento e opinião, de gostos e de crenças". Ainda que pareçam estar gastando dinheiro só em "gastos sem objetivo" [ing. "aimless display"], estão, de fato, operando como a vanguarda da sociedade.

Hayek suavizou sua oposição aos monopólios, e endureceu sua oposição aos sindicatos. Atacou os impostos progressivos e as tentativas, pelo Estado, de melhorar as condições gerais de bem-estar dos cidadãos. Insistiu que "há motivos insuperáveis que se podem opor a serviços de saúde gratuitos para todos"; e descartou qualquer movimento para conservar recursos naturais. Ninguém, entre especialistas e interessados em geral que acompanham esses assuntos, surpreendeu-se quando Hayek recebeu o Prêmio Nobel de economia.

No momento em que Mrs Thatcher batia na mesa o livro de Hayek, uma vivíssima rede de thinktankslobbyistas e acadêmicos que viviam de promover as doutrinas de Hayek já se formara dos dois lados do Atlântico, abundantemente financiada por algumas das pessoas e empresas mais ricas do mundo, dentre os/as quais DuPont, General Electric, as cervejarias Coors, Charles Koch, Richard Mellon Scaife, Lawrence Fertig, a Fundação William Volker e a Fundação Earhart. Servindo-se de psicologia e linguística para resultados realmente impressionantes, os pensadores que esses patrocinadores mantinham encontraram as palavras e os argumentos necessários para converter o que era hino religioso de uma elite, em um programa político plausível.

As ideologias que Margaret Thatcher e Ronald Reagan defendiam eram apenas duas facetas do neoliberalismo. Fotografia: Arquivo Bettmann / Bettmann

O Thatcherismo e o Reaganismo não eram ideologias por direito próprio: eram apenas duas caras do Neoliberalismo. Os cortes massivos para os ricos, o ataque violento contra os sindicatos, redução na moradia subsidiada, desregulação, privatização, terceirização regras concorrenciais para os serviços públicos, todas são ideias propostas por Hayek e seus discípulos. Mas o real triunfo dessa rede não foi ter capturado a direita, mas a colonização dos partidos que, antes de colonizados, defendiam tudo que Hayek detestava.

Bill Clinton e Tony Blair não têm narrativas próprias. Em vez de desenvolver uma narrativa política nova, acharam que bastaria uma triangulação. Em outras palavras, extraíram alguns elementos das crenças ativas nos respectivos partidos, misturaram com elementos das crenças ativas entre os respectivos opositores e desenvolveram, a partir dessa combinação improvável, uma "terceira via".

Era inevitável que a autoconfiança ousada, insurrecional do Neoliberalismo criasse pulso gravitacional mais forte que o da estrela cadente da social-democracia. O triunfo de Hayek pode ser constatado por toda parte, da expansão da iniciativa da finança privada, de Blair, até a rejeição da Lei Glass-Steagal, de Clinton. Apesar da elegância e das boas maneiras, Barack Obama, que tampouco oferece narrativa própria (exceto "hope" [ing. esperança]), foi aos poucos sendo aspirado para perto dos que eram donos dos meios de persuasão.

Como alertei em abril, o resultado é primeiro desempoderamento, depois cassação de direitos. Se a ideologia dominante impede governos de mudar resultados sociais, os governos deixam de poder responder às necessidades dos eleitores. A política torna-se irrelevante para a vida das pessoas; o debate é reduzido à tagarelice de uma elite remota. Os desempoderados voltam-se facilmente para uma antipolítica virulenta, na qual fatos e argumentos são substituídos por slogans, símbolos e sensação. O homem que fez naufragar a possibilidade de Hillary Clinton chegar à presidência não foi Donald Trump. Foi o marido dela.

Resultado paradoxal é que o revide contra o esmagamento da escolha política promovido pelo Neoliberalismo acabou por entronizar exatamente o tipo de homem que Hayek cultivou como divindade. Trump, que não tem política coerente, não é um neoliberal clássico. Mas é a perfeita representação do "independente" de Hayek; o beneficiário de riqueza herdada, não constrangido pela moralidade comum, cujas gostos grosseiros abrem uma nova trilha que outros poderão trilhar. Agora, os 'especialistas' de think-tanks enxameiam em torno desse homem vazio, desse saco vazio à espera de ser preenchido pelos que sabem o que querem. Resultado provável é a demolição das últimas decências que restam aos EUA, a começar pelo acordo para limitar o aquecimento global.

Os que contam as estórias comandam o mundo. A política fracassou, quando não tinha narrativas de oposição. A tarefa chave agora é contar uma nova estória do que é ser homem e mulher humanos no século 21. Pode atrair alguns dos que votaram em Trump e no Partido Britânico Independente, tanto quanto os apoiadores de Clinton, Bernie Sanders ou Jeremy Corbyn.

Poucos de nós temos trabalhado sobre isso e podemos discernir o que talvez seja o início de uma estória. É ainda cedo demais para falar muito, mas no núcleo duro dessa estória está o reconhecimento de que – como a psicologia e a neurociência moderna ensinam tão claramente – os seres humanos, comparados a outros animais, somos notavelmente sociais notavelmente altruístas. A atomização e o comportamento auto-referente que o Neoliberalismo promove anda na contracorrente de grande parte do que se entende por natureza humana.

Hayek retratou-nos como quis e estava errado. Nosso primeiro passo é exigir de volta a nossa humanidade.*****