terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Reitor da USP é réu em ação por improbidade.

é réu em ação por improbidade

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Defesa prévia de João Grandino Rodas foi rejeitada e ele terá de responder por supostos contratos ilegais e uso de verba de gabinete para promoção pessoal, sob ameaça de ter de devolver R$ 3,3 milhões ao Estado.

10 de Dezembro de 2013.

Uruguai deve aprovar hoje Lei da Maconha.

Monica Yanakiew
Correspondente da Agência Brasil/EBC.

Montevideu – O Uruguai deve se converter, nesta terça-feira (10), no primeiro país a legalizar e a regulamentar a produção, a venda e o consumo da marijuana. O polêmico projeto de lei, defendido pelo presidente uruguaio Jose “Pepe” Mujica e aprovado pela Câmara dos Deputados, será votado pelo Senado, onde o governo tem 17 dos 30 legisladores.

Imagem Ilustrativa
Vinte e oito mil uruguaios – 5% da população entre 15 e 65 anos – fumam um cigarro de maconha por dia. Segundo a Junta Nacional de Drogas do Uruguai, 22 toneladas de marijuana são vendidas anualmente no Uruguai – o dobro do ano passado.

Consumir drogas (mesmo as mais fortes, como a cocaína ou o crack) não é considerado crime no Uruguai. Foi permitido, por decreto, há 40 anos. 

A lei só proíbe comprar e vender. “Essa contradição beneficia os narcotraficantes. Como o consumo é permitido e o comércio é proibido, criamos um mercado cativo para o crime organizado, que comercializa a droga sem qualquer controle”, explicou, em entrevista à Agência Brasil,  o deputado governista Julio Bango, autor do projeto. Com a venda de maconha, os traficantes faturam US$ 40 milhões anuais.

Segundo Bango, o governo tinha duas opções para combater o narcotráfico: proibir o consumo de maconha (algo que dificilmente conseguiria implementar) ou legalizar e regulamentar o comércio. “É melhor que o Estado assuma o controle e coloque limites, do que os narcotraficantes ditem as regras”.

No Uruguai, a maconha é a quarta droga mais consumida, depois do álcool, do tabaco e dos psicofármacos. “Nenhuma das quatro faz bem à saúde e a ideia não é promover o consumo da maconha”, explicou. “O que queremos é justamente regulamentar o comércio da maconha, como fazemos com as outras três”.

Com a nova lei, qualquer pessoa residente no Uruguai, maior de 18 anos, terá direito a comprar até 40 gramas de maconha por mês na farmácia – a preços inferiores aos do narcotraficantes. Mas precisa se registrar, se quiser ter acesso à droga legal.

“Sou favorável à lei, mas não vou preencher uma ficha, com nome e sobrenome, dizendo que fumo maconha”, disse Cristian (que não quis dar seu sobrenome). “Tenho medo de que, se meu chefe souber, me demita. Há muita gente contra essa lei no Uruguai”.

Uma recente pesquisa, feita pela empresa Cifra, mostra que 63% dos uruguaios são contra. Nas ruas de Montevideu, as opiniões estão divididas. “Sou contra o consumo da maconha, mas acho uma boa política legalizar o comércio”, disse, em entrevista à Agência Brasil, Estela Martinez, mãe de dois adolescentes. “Dos males, fumar maconha é o menor. Mais perigoso é ir comprar a droga em uma boca de fumo, onde devem vender cocaína e crack e todo tipo de porcaria”, acrescentou.

A farmacêutica Ana Maria Modena – como muitos de seus colegas de trabalho – critica a lei. “É um absurdo vender uma droga que sabemos que faz mal à saúde, em uma farmácia, onde vendemos remédios para tratar doenças”, explicou.

Com a nova legislação, o governo vai outorgar licenças para o cultivo de até 40 hectares de terra de maconha – o suficiente para o consumo doméstico. As plantas serão usadas para investigação científica, para fins medicinais, para a indústria e para o consumo.

Os uruguaios também terão o direito de cultivar a maconha em casa – mas podem ter, no máximo, seis plantas. Para a deputada oposicionista Veronica Alonso, o Uruguai comete um erro ao aprovar a nova legislação.

“O próprio presidente Mujica disse que estamos fazendo um experimento. Mas é um experimento que, se der errado, vai prejudicar os uruguaios”, disse a deputada. “E pode prejudicar também os paises vizinhos, como o Brasil e a Argentina, que têm políticas diferentes de combate ao narcotráfico. Combater o narcotráfico só é possível se fizermos um esforço conjunto e regional. Não podemos adotar políticas unilaterais”, acrescentou.

Mujica foi aplaudido por ex-presidentes da região. Ele pediu ajuda a outros governos para levar adiante seu “experimento”. Segundo Mujica, até agora, as poíiticas de repressão não deram resultado – melhor tentar um novo caminho.

Edição: Graça Adjuto
 
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segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Monstruosidade: Assassinato em Lago da Pedra: Jovem pode ter sido torturado e depois queimado ainda vivo.

Foto: Blog do Vilmar Ferreira
O homem encontrado com o corpo carbonizado neste domingo (08) no Sítio dos Padres é Erivelton Freitas Santana 23 anos, e morava com sua mãe, dona Francisca Santana Freitas, no povoado Santo Antonio dos Ferreiras, zona rural, a 3 km de distância do centro de Lago da Pedra.

Erivelton foi morto hoje pela manhã com requintes de crueldade. Seu corpo foi encontrado de bruços e pode ter sido torturado muito antes de morrer. Há quem diga que pelo jeito que foi encontrado, o mesmo possa ter tido seu corpo incendiado ainda vivo.
Foto: Blog do Vilmar Ferreira
A policia até o momento, ainda não tem nenhuma pista de quem teria cometido o crime, mas, uma noticia que acabamos de ouvir agora há pouco da mãe do mesmo pode levar a policia a ter pelo menos uma pista para começar as investigações.

Foto: Blog do Vilmar Ferreira
Segundo a mãe do jovem, seu filho teria saído de casa em companhia de um amigo, cujo nome não é revelado para não atrapalhar as investigações. Depois de meia-noite, com a volta do amigo, sozinho, ela teria ido saber do filho, mas ele teria dito que não sabia do mesmo, pois ele (o amigo) teria saído com uma mulher e passado a noite no motel.

Ainda com base em depoimento de familiares, uma pessoa que passou pela praça da rua 7, as 3h30 da manhã deste domingo (08), indo para Teresina-PI, teria visto Erivelton sentado em um banco da praça.
 
Foto: Blog do Vilmar Ferreira
Uma outra informação muito importante para a policia é de que uma outra pessoa teria visto, entre 3h30 e 3h40, dois homens chegarem em uma moto na praça onde estava Erivelton e dali os três saíram juntos. 
 
Pelo que tudo indica, com base em depoimento de testemunhas a esse blog, é que as pessoas que executaram o jovem eram muito conhecidos dele, a ponto de saírem juntos.
 
O corpo do Erivelton está sendo velado na casa da sua vó na praça da rua 7 e será sepultado amanhã por volta do meio dia.

Link original desta Matéria: http://vilmarferreiralp.blogspot.com.br/

 

Brasil - Governo quer punição de torcedores e vai discutir presença da Polícia Militar em estádio.

Da Agência Brasil.
Fotos: Estadão
Brasília - O Ministério do Esporte divulgou nota condenando os atos de violência entre torcedores do Vasco e do Atlético Paranaense nesse domingo (8), durante jogo da última rodada da Série A do Campeonato Brasileiro em Joinville (SC).

Na nota, o ministério diz que os "responsáveis devem ser identificados e punidos, cumprindo-se o Estatuto do Torcedor, que prevê penas de reclusão e de banimento dos estádios aos torcedores que cometerem atos de violência".

Fotos: Estadão
O ministério informou ainda que irá entrar em contato com "o Conselho Nacional do Ministério Público para um entendimento comum sobre a presença da Polícia Militar no interior dos estádios de futebol".

Em notícia publicada em seu site oficial, o Vasco menciona que não havia policiamento dentro do estádio. Em comunicado, o Ministério Público de Santa Catarina informou que não fez nenhuma recomendação ou ação para impedir a Polícia Militar de atuar no interior do estádio em Joinville.

Fotos: Estadão
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) também manifestou repúdio às agressões entre os torcedores. Segundo nota da entidade, o presidente da CBF, José Maria Marin, "assegurou que vai concentrar todos os esforços, com a ajuda de todos os segmentos competentes, na discussão de propostas e projetos que consigam abolir definitivamente esses episódios de selvageria dos nossos estádios".

Com a briga, alguns torcedores ficaram feridos e precisaram ser hospitalizados, outros foram detidos. Imagens de televisão mostram os torcedores se confrontando com extrema violência, trocando chutes e socos, o que levou à paralisação da partida por mais de uma hora.

Fotos: Estadão
Em seu site oficial, o clube Atlético Paranaense publicou nota informando que "a diretoria administrativa e o conselho deliberativo do clube tomarão todas as providências para identificar os envolvidos e puni-los, caso tenham ligações com a instituição, ou denunciar às autoridades competentes qualquer um que tenha tido participação nos lamentáveis incidentes".

Edição: Carolina Pimentel 

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domingo, 8 de dezembro de 2013

UFMA - Transcrevo um Texto do Professor Carlão.

Tenho orgulho de pertencer a essa geração... (Texto de autoria do Professor Carlão).

Minha amiga Silvane Magali, ex aluna, professora do curso de Serviço social da UFMA, com quem eu tenho orgulho de compartilhar algumas jornadas importantes na militância política e acadêmica, chamou a atenção para o episódio da última quinta feira, 05/12. 
 
Foto: Facebook.
Em apoio à lutas dos estudantes por uma Casa no Campus, eu transferia minha aula para o acampamento onde teve início a greve de fome de Josemiro, seguido por Daniel e Rômulo. 


Estava exibindo o documentário “Todo Poder Para o Povo”, a história de criação do Partido Panteras Negras nos Estados Unidos. Uma organização das mais importantes do século XX construída por jovens negros para lutar contra a segregação racial, desafiando as poderosas forças do Estado branco Norte Americano. 
 
Foto: Chico Barros. Professores da UFMA
Uma história que tem tudo a ver com a luta dos estudantes da UFMA e de outras universidades públicas brasileiras por inclusão sócio-racial, moradia digna, transporte, alimentação e condições de estudar e sair qualificados (as) de seus cursos para contribuir profissionalmente com o desenvolvimento do país. 

Foto - Chico Barros. Professor Carlão.
Durante a exibição um aluno, [Luiz Carlos], sentou-se ao meu lado e disse “professor, anunciaram agora a morte de Nelson Mandela. 
Nelson Mandela
Eu já estava na emoção daquela situação de acompanhar nossos alunos, jovens, negros, filhos de trabalhadores rurais a exemplo de Josemiro, onde pai ou mãe não tiveram acesso ao ensino superior, como a maioria de nossos e nossas genitores (as). 

Na emoção daquele documentário retratando a resistência de jovens negros contra a violência da segregação racial.

Não pude me conter, antes de iniciar os debates sobre o documentário quis transmitir a notícia, a todos e todas que estavam ali mas a voz não saia, e como tantos negros e negras desse país eu fui às lágrimas. Me veio à mente outro filme cujo qual eu protagonizei. 
 
Foto - Chico Barros. Professor Carlão.
Desde os anos 70, vivo na militância lutando com outros companheiros contra o racismo inspirados nesses líderes, Zumbi, Dandara, Chico Rei, Negro Cosme, Panteras Negras, MalconX, Luither King, Ângela Daves, Lélia Gonzales, Abdias Nascimento, Beatriz Nascimento tantos, tantas mais e mais e mais e Nelson Mandela, talvez o maior estadista do século XX que soube transformar o ódio (que certamente sentia por ficar 27 anos privado da liberdade, da convivência com seu povo) em um programa de unificação da África do Sul. “Perdoar sim, esquecer jamais”. 

Foto - Chico Barros. Professor Carlão.
Um dos seus atos de nobreza. Me veio à mente nos Encontros de Negros do Norte e Nordeste que realizamos durante dez anos sempre reverenciando a luta de Nelson Mandela e clamando pela sua libertação. Libertação que veio e o tornou ainda mais grandioso por tudo que fez, pelo legado que nos deixa. 
 
Foto - Chico Barros. Professor Carlão.
Sua partida certamente é lamentada por cada um que acredita e luta pela liberdade e pela dignidade humana, mas não deve ser chorada, deve ser celebrada com festa e alegria como ele sempre demonstrou em seus discursos e aparições em todos os eventos públicos. 
 
Foto - Chico Barros. Professor Carlão.
Por isso naquele momento, mesmo em lágrimas eu não pedi silencio, e sim um caloroso aplauso que repercutia também na luta daqueles jovens estudantes que empenhavam seu corpo e sua vida por uma causa coletiva, é esse o legado que Mandela nos deixa.

Foto - Chico Barros. Professor Carlão.
 https://www.facebook.com/carlao.rastafary?hc_location=timeline

UFMA em Greve - Aluna da UFMA Campus de Bacabal, faz apelo ao Reitor Natalino Salgado.

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Brasil - Um milhão de mortos: A Maioria é Juventude Negra!.


A matemática assusta: as guerras em curso no Iraque, no Afeganistão, na República Democrática do Congo, na Somália, na Palestina, no Sudão, na Colômbia, no Paquistão e no Nepal, em conjunto, somaram 147.120 homicídios entre os anos de 2004 e 2007. Segundo o Centro Brasileiro de Estudos Latino-americanos, no mesmo período o Brasil registrou quase o mesmo número de mortes por arma de fogo – 147.373.

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Foto - http://cenpah.wordpress.com
A história por trás das estatísticas é a de uma tragédia silenciosa. Com 1,09 milhão de homicídios entre 1980 e 2010, o Brasil tem uma média anual de mortes violentas superior à soma dos 12 maiores conflitos armados do mundo, de acordo com o Instituto Sangari. 

Embora o assassinato de Amarildo de Souza tenha reacendido o debate nacional sobre a violência contra os mais desfavorecidos, ele não é de nenhuma forma um caso excepcional – de fato, segundo os números, os últimos 30 anos foram pontilhados por casos de igual violência a cada 14 minutos, ininterruptamente, 24 horas por dia.

Entre histórias de chacina e tortura, alguns eventos ainda se sobressaem: a desfiguração de Robson Silveira da Luz, em 1978, cujo conhecido torturador virou símbolo da impunidade; o dentista Flavio Santana, em 2002, extorquido e assassinado por PMs que foram condenados, mas nunca cumpriram pena; a tortura, estrangulamento e morte dos motoboys Eduardo Pinheiro dos Santos e Alexandre Santos, enforcados diante da mãe; o massacre do Carandiru, do qual o comandante ganhou projeção para se eleger deputado federal sobre 111 cadáveres; o extermínio infantil da Candelária, cujas crianças ninguém se prestou a acolher. As comoções que despertaram, mesmo que barulhentas, nada fizeram por futuras vítimas.

Dentro desse universo de dor, a análise fria dos registros descreve uma realidade ainda mais sombria para os negros de todo o país. Por causa da inclusão de dados raciais nos atestados de óbito a partir da década de 2000, é possível agora observar a distribuição da mortalidade entre cores, e as tabelas não mentem: como se imaginava, a principal vítima da violência é o negro, a despeito das melhorias recentes do país em muitos indicadores. Se ele for pobre, jovem e morador de grandes cidades, chega a correr 10 vezes mais risco de vida.

UM ABISMO que cresce


O número de homicídios sobre os afrodescendentes cresceu assustadoramente ao longo da década passada, como aponta o “Mapa da Violência” da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR). 

Enquanto o ano de 2002 viu 26.951 negros serem atingidos pela violência, em 2010 essa quantidade foi a 34.983 – um aumento de 29,8% em apenas oito anos. Por outro lado, o mesmo período viu uma redução de 25,5% nas mortes de brancos e asiáticos. A dúvida suscitada é fulminante: como podem existir, num mesmo país, duas realidades tão opostas?


O abismo de segurança pública que cresceu entre as raças nesse período é ainda mais pronunciado entre os jovens, historicamente mais expostos à violência. Por causa dessas duas tendências contraditórias, hoje, 3 em cada 4 jovens assassinados são negros. 

O quadro para a população geral, no entanto, não é menos preocupante, com 5 a cada 7 vítimas de violência fatal sendo afrodescendentes. Proporcionalmente, a vitimização da população negra segue uma tendência de piora em todos os sentidos – para cada branco, 2,3 negros morreram pelo mesmo motivo em 2010.

Essas situações são compostas em cima de um cenário já mortífero para a média dos brasileiros. O Brasil é o país com maior número de mortes por armas de fogo e 8º no ranking das taxas de homicídio em todo o mundo, segundo as Nações Unidas. Com mais de 15 milhões de armas em circulação, o país consegue perder a cada ano três vezes mais cidadãos para a pólvora do que para a AIDS, considerada uma das piores pandemias das décadas recentes.

Aos negros, resta saber que estão duas vezes mais propensos (132,2% mais, exatamente) às mortes violentas desse território já violento. Olhando para o quadro mais amplo da barbárie, só em uma das capitais do país estão relativamente mais seguros que os brancos: em Curitiba, a taxa de homicídios de negros foi 50% menor que a dos homicídios brancos em 2010. 

Com a exceção do Paraná – cujas mortes de brancos superam as de negros apenas por causa de uma escalada dramática da violência local -, é incontestável que esta é uma nação onde morrem mais negros do que brancos. Às vezes, muito mais.

RACISMO institucional.


Diante desse quadro agravado de violência, há muitos dentro do movimento negro que caracterizam o atual cenário como um real “genocídio afrodescendente”. É o caso de Joselício Junior – o Juninho –, jornalista e membro da coordenação do Círculo Palmarino: “Percebemos que extermínio direto e indireto, encarceramento em massa e processos de remoção de comunidades produzem o que chamamos de ‘faxina étnica’ do povo negro, que é o setor da população brasileira em maior situação de vulnerabilidade ao longo de toda a história do nosso país”, explicou à Raça. 

Na interpretação de Juninho, o entrelaçamento entre idade, condição social e cor da pele com os picos estatísticos de mortalidade não são acaso, mas fruto direto de séculos de ostracismo e repressão. “Nem em países que estão em guerra se mata tanto quanto no Brasil. Em um Estado de bem estar social mínimo, é preciso Estado policial máximo”, acrescenta. 

A denúncia da violência contra o negro vem muitas vezes ilustrada nesse paralelo com o aparato estatal de segurança. Douglas Belchior, professor e coordenador da UneAfro, é rápido em ligar os pontos: “O governo persiste com a mentalidade da ditadura quando o assunto é polícia. No ano de 2011, só a PM matou 42,5% a mais do que as penas de morte em 20 países”, conta. Ele se apoia em estatísticas respaldadas pelo próprio governo – apenas em São Paulo, por exemplo, foram registrados mais de 300 casos de “resistência seguida de morte” pela Polícia Militar naquele ano. 

Também nesses casos, é o negro o cidadão visto como suspeito preferencial. Um extensivo estudo feito pelo Major Airton Edno Ribeiro sobre sua própria corporação mostrou, em 2010, que o modus operandi dos policiais militares é aguçado desde o primeiro dia de treinamento contra a população negra, pobre e moradora das periferias. 

Entre as páginas de sua tese de mestrado, encontram-se algumas constatações de peso: “o destino do negro é ser abordado”, escreve ao analisar os critérios para tipificação de suspeitos; “negros esclarecidos irritam a Polícia”, dispara, mais adiante, sobre os casos de cidadãos que souberam responder a abusos de poder; “o policial negro não se sente negro”, diz, sobre o corporativismo virulento da instituição. De forma perene, Ribeiro prova por análise aquilo que os negros já sentem na pele.

O caldo de cultura para a violência contra o negro é reforçado ainda pela incompetência da própria Polícia Militar em exercer sua função. Além da mentalidade de violência gratuita, dos inúmeros casos de abuso de poder e do corporativismo que rege a atividade de boa parte dos policiais, o índice de elucidação para crimes de homicídios é patético: entre 5% e 8%, segundo a Associação Brasileira de Criminalística.

Esse mesmo quesito, em países como Estados Unidos e Inglaterra, flutua entre 80 e 90%, e sua falência generalizada em terras brasileiras dá espaço para uma dupla violência contra o negro: se por um lado a impunidade garante que bandidos e policiais continuem a vitimar afrodescendentes (e todo o resto da população, é bom lembrar), por outro facilita em muito o forjamento de falsas confissões e o aprisionamento de inocentes.

“O fato de termos poucos juízes negros cria uma carga cultural desfavorável ao negro, quando ele chega ao tribunal. O juiz às vezes nunca conviveu com um – provavelmente a única pessoa negra em sua vida era a empregada – então é certo que o julgará com desprezo”, argumenta Douglas Belchior. 

Novamente, uma olhada nos números reforça esta linha de análise: a probabilidade de um negro estar entre os 500 mil detentos atuais é 3 vezes maior do que a de um branco, mas centenas de vezes menor para estar num cargo elevado do Judiciário. Em que pese o fato de que existam mais negros pobres do que brancos pobres – e, portanto, que estejam mais pressionados a cometer algum crime -, a desproporção indica, no mínimo, que as políticas para prevenção ao crime falham de forma retumbante junto à população negra.

Veja abaixo a Tese do  Major Airton Edno Ribeiro A Relação da Polícia Militar Paulista com a Comunidade Negra e o Respeito à Dignidade Humana: a Questão da Abordagem Policial.  http://www.programabolsa.org.br/pbolsa/pbolsaTeseFicha/arquivos/tese_airton_edno_ribeiro.pdf 


Link original desta matéria:  http://cenpah.wordpress.com/2013/11/14/um-milhao-de-mortos-especial-juventude-negra/

“O capital está indo bem, mas as pessoas estão indo mal”

O Boitempo Editorial publicou uma entrevista muito interessante que vale conferir. Tomamos a liberdade de aqui reproduzir, a fim de, divulgar ainda mais essa bela entrevista.

Segue:

Para o geógrafo britânico David Harvey, que escreve sobre urbanização a partir do marxismo, os problemas das cidades criam novas formas de fazer política / O geógrafo esteve no Brasil para lançar livro publicado nos Estados Unidos em 1982

Os problemas urbanos criam um espaço onde novas formas de fazer política podem acontecer. Para o geógrafo britânico David Harvey, 78 anos, é possível constatar isso ao olhar os protestos que ocorreram ao redor do mundo nos últimos anos. “Não vejo as instituições políticas respondendo ativamente a este novo jeito de fazer política. Mas também não acho que esses movimentos saibam o que fazer”, diz Harvey.

Professor da Universidade da Cidade de Nova York, Harvey falou com a reportagem de CartaCapital em São Paulo, antes de lançar o livro Os limites do capital (Editora Boitempo), publicado originalmente em 1982 e agora traduzido para o português. No livro, Harvey aborda a dinâmica da urbanização a partir de uma interpretação minuciosa do legado do filósofo alemão Karl Marx.

Harvey é um dos principais estudiosos de Marx na atualidade. Suas aulas sobre o primeiro volume d'O capital de Marx, disponíveis na internet, foram vistas mais de um milhão de vezes. Para o geógrafo, a onda de neoliberalismo iniciada nos anos 1980 faz com que a obra do alemão esteja mais atual do que nunca. Leia abaixo a entrevista, feita nesta semana em São Paulo:

Na nova introdução de Os limites do capital, o senhor escreve que o livro é mais relevante hoje do que ao ser lançado, há trinta anos. Por quê?

Porque a ascensão do neoliberalismo nos trouxe de volta ao tipo de mundo que Marx descreveu. Marx, e seu livro O capital, consideravam um mercado funcionando perfeitamente, como [o economista liberal] Adam Smith havia sugerido. Em 1970, nós não tínhamos mercados que funcionassem perfeitamente. Havia muita intervenção estatal, medidas de redistribuição de renda e um sistema forte de impostos, e a Europa tinha o estado de bem-estar social. Quando chegamos aos anos 1990, o que estava acontecendo era familiar e tinha um paralelo com O capital de Marx.

O interesse na obra de Marx tem crescido junto com sua relevância?

Sim. Desde 2008, todo mundo percebeu que o capitalismo não é um sistema perfeito, e que não é a prova de crises. Marx é o principal teórico que explica como e onde a crise irrompeu, por isso há tanto interesse nele.

O senhor se refere ao “direito à cidade” como o poder coletivo das pessoas nos processos de urbanização, conforme definido pelo sociólogo francês Henri Lefebvre na década de 1960. Como a ideia de direito à cidade tem sido usada hoje em dia?

Acho que o direito à cidade é um conceito genérico, e todo mundo tenta reivindicá-lo. Agentes imobiliários, financeiros e pessoas ricas têm feito isso. A questão é: quem consegue preencher esse conceito com seu significado particular? Para o direito à cidade ser parte de um movimento social efetivo, as populações marginalizadas e oprimidas têm de tratar desse tema como elas próprias o visualizam, para assim tomar controle do processo de urbanização.

Em muitas partes do mundo o movimento dos trabalhadores tem se enfraquecido, e as revoltas urbanas emergiram como uma das arenas de luta anticapitalista. As pessoas estão buscando um jeito de olhar para essas lutas, e a ideia do direito à cidade agora é mais aceita como parte do que a esquerda deve fazer.

Os protestos no Brasil começaram com o aumento na tarifa de ônibus em São Paulo. O senhor vê paralelo com o começo de outras revoltas ao redor do mundo?

Há um grande descontentamento pelo mundo. O capital está indo bem, mas as pessoas estão indo mal. E essa diferença é vista de forma mais clara na qualidade da vida urbana. As pessoas estão vendo recursos enormes gastos em obras e projetos espetaculares, mas que não são gastos para melhorar a vida da maioria da população.

Por isso, há uma raiva dissipada que é alavancada por um motivo particular. Aqui, foi a questão das tarifas. Em Istambul, o governo queria colocar um shopping no lugar de um parque tradicional. Nestes e outros casos, é uma insatisfação com a qualidade de vida urbana. E a insatisfação com a vida urbana é construída pelo capitalismo.

Os protestos de junho no Brasil foram iniciados pelo Movimento Passe Livre, um movimento horizontal e sem líderes. Por que esse tipo de organização tem tido mais predominância nas revoltas dentro da cidade, em vez de partidos de esquerda e sindicatos?

Os problemas urbanos criam um espaço onde novas formas de fazer políticas podem acontecer, como foi no caso das passagens de ônibus aqui no Brasil. Todas as organizações que tenho visto buscando a mudança na qualidade de vida urbana não usam as mesmas estratégias dos sindicatos e partidos políticos de esquerda, porque os problemas de organizar uma cidade são muito diferentes dos problemas de organizar um sindicato em uma fábrica. Então há uma forma nova de fazer política que está emergindo. E a esquerda convencional tem quer lidar com essas novas formas.

O que faz esses grupos terem apoio do resto da população e gerarem revoltas urbanas?

O que transforma o ativismo desses grupos em algo maior é a resposta policial, é o poder público usando a violência para responder a manifestações legítimas. E aí, claro, as pessoas vão às ruas contra a violência policial e movimento ganha uma nova escala. Isso aconteceu na Turquia e no Brasil.

Há ainda uma tendência de militarizar a vida urbana cotidiana. E isso não acontece somente em manifestações, mas no dia a dia. Em Nova York, por exemplo, a polícia pode parar qualquer negro na rua e revistá-lo. Isso cria um grande ressentimento com as chamadas autoridades. Começam conversas sobre quem controla a cidade e porque estão a controlando desta forma. Isso se transforma numa questão geral, que passa pela classe média e às vezes até pessoas ricas se envolvem, porque nem eles querem viver numa sociedade tão autoritária.

No Chile, líderes de revoltas por uma educação pública foram eleitos para o Parlamento. Outros países não tiveram essa migração das ruas para os gabinetes. Como você vê a relação entre esses movimentos e a política institucional?

Não vejo as instituições políticas respondendo ativamente a este novo jeito de fazer política. Mas também não acho que esses movimentos saibam o que fazer. A resposta à eleição de pessoas como Camila Vallejo, por parte de alguns estudantes do Chile, foi dizer que os eleitos não seriam capazes de fazer nada no parlamento, e a mudança de verdade teria de vir das ruas.

Mas acho que sair totalmente do Parlamento não seria bom. Há certo cinismo na esquerda. Além disso, há também uma concepção ideológica de anarquistas e autonomistas de que se candidatar a uma vaga seria uma traição do seu modo de fazer política. Acho isso uma pena, porque nós precisamos de todas as possibilidades de ativismo agora.

Mas, com as atuais limitações dos sistemas políticos, para que serviria a ação dentro da institucionalidade?

Acho importante que a ação direta seja sempre acompanhada por gente próxima às entranhas do poder estatal. Assim, por exemplo, seria possível mitigar o uso arbitrário de força estatal contra esses movimentos. Ou, ainda mais positivamente, o Estado possa ser reorientado para tomar ações efetivas contra a acumulação de capital por meio da urbanização.

O senhor tem falado, nos últimos anos, da necessidade de unificar a esquerda e o ativismo descentralizado que têm surgido ao redor do mundo. O Senhor tem visto esse movimento acontecer? Como isso poderia ser feito?

Lamento o fato de que a esquerda está ficando mais fragmentada do que unificada, porque há problemas que necessitam de ações globais, como o aquecimento global e outras arenas onde a política está sendo trabalhada mundialmente.

Atualmente há uma grande receptividade a novas ideias, mas nós não temos uma boa forma organizacional para formar uma estratégia compreensiva e global. Acho que isso é algo que precisaríamos, mas como fazemos isso? Se eu tivesse a resposta, não estaria aqui falando contigo.