Presidente encontrou na Espanha uma janela de
oportunidade para reforçar seu protagonismo (e também do Brasil) na cena
internacional. No momento em que as políticas fiscais da chanceler
alemã Angela Merkel mostram sinais de esgotamento em todo o Velho
Continente, ela levou uma nova mensagem econômica, que pode
transformá-la no contraponto necessário aos tempos atuais.
247 – Pergunte a qualquer cidadão europeu, seja
na Espanha, na Grécia, em Portugal ou na Itália, quem é principal
responsável pela crise econômica que devasta o Velho Continente e a
resposta tenderá a ser a mesma: Angela Merkel. Símbolo da política de
austeridade, Frau Merkel já foi alvo de protestos na Grécia, em
Portugal, na Itália e na Espanha, país que vive sua maior recessão dos
últimos 100 anos, com uma taxa de desemprego superior a 25%.
Neste domingo, numa entrevista de página inteira ao jornal El Pais (leia mais aqui),
Dilma foi saudada como “la fuerte” e identificada como símbolo de uma
outra economia possível – em que o crescimento vem em primeiro plano e
as dívidas não são pagas com o sacrifício do povo.
Dilma foi
entrevistada pelo próprio presidente do grupo Prisa, Juan Cebrián, que
edita o El Pais. Coincidentemente, Cebrián também concedeu uma
entrevista ao jornal O Globo, publicada hoje, em que definiu a política
de Angela Merkel como “letal”. Um caminho para o suicídio.
Com uma nova mensagem econômica, Dilma pode se aproveitar de um vácuo
na cena internacional. Na Europa, esperava-se que o papel de
contraponto a Angela Merkel fosse ocupado pelo socialista François
Hollande, eleito presidente da França, mas que, até agora, não teve
coragem para mudar.
Ao contrário, seguiu o mesmo receituário, elevou
impostos e foi premiado, neste fim de semana, com uma capa da revista
The Economist, apontando a França como a próxima bomba-relógio da
Europa, continente preso à lógica perversa da recessão seguida de
arrocho, que gera mais recessão e mais arrocho num ciclo vicioso sem
fim.
A oportunidade que se abre para o Brasil é semelhante à de 2010,
quando, numa reunião do G-20, o presidente dos Estados Unidos, Barack
Obama, saudou o ex-presidente Lula como “o cara”. De todas as 20 nações
mais ricas do mundo, o Brasil foi a que mais rapidamente se recuperou da
crise econômica de 2008, apostando em políticas anticíclicas, ou seja,
em estímulos ao investimento e em cortes de impostos para o setor
privado.
Dilma ainda não havia encontrado um espaço tão favorável na cena
internacional como agora, nesta viagem à Espanha. No seu primeiro
encontro com Angela Merkel, a química entre as duas não foi exatamente
perfeita. A chanceler alemã reclamou de ter recebido conselhos, em sua
própria casa, de uma líder de uma nação em desenvolvimento. O mesmo
ocorreu no encontro mais recente entre Dilma e Obama.
A questão é que a mensagem de Dilma, mesmo que não seja a que os
líderes mundiais querem ouvir, cada vez mais é a que os povos europeus
buscam escutar. E uma avenida acaba de se abrir para Dilma – e também
para o Brasil.
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