Esta matéria foi publicada originalmente em 30 de setembro de 2011.
Autor: Demétrio Rocha Pereira.
O PP-SNT - sequestrado em 1988. Foto: Ken Meegan. |
Há exatos 23 anos e um
dia, o comandante Fernando Murilo de Lima e Silva arriscava manobras pioneiras
em um Boeing 737-300 e impedia o sequestrador do voo Vasp 375 de consumar o
intuito de atirar a aeronave contra o Palácio do Planalto, onde José Sarney exercia
a Presidência do País.
Impondo ao presidente da República a culpa por seu
desemprego, o maranhense Raimundo Nonato Alves da Conceição, então com 28 anos,
queria punir o peemedebista hoje presidente do Senado, homem que, segundo o
comandante Murilo, nunca lhe demonstrou qualquer reconhecimento.
Ex-Presidente José Sarney. |
"O ex-presidente
Sarney, sem comentários, nunca me dirigiu a palavra", afirma o piloto,
atualmente com 60 anos e ainda na ativa, voando em um Boeing 767 na Rio Linhas
Aéreas, companhia de transporte de cargas de Curitiba.
Naquele 29 de setembro
de 1988, Murilo seguia de Porto Velho para o Rio de Janeiro e, após escala em
Belo Horizonte, teve o avião sequestrado. "Ele entrou no avião com cem
balas dentro do casaco jeans e um revólver. Deu, com certeza, mais de 20 tiros
dentro do avião", lembra o comandante, cujo copiloto naquela manhã,
Salvador Evangelista, foi morto a sangue frio por Nonato, que estava
"muito nervoso e arisco". Um tripulante em treinamento já havia sido
baleado na perna durante as tentativas do sequestrador de invadir a cabine.
Roteiro do Vôo Sequestrado. |
Murilo conseguiu informar
a torre de comando do sequestro e da mudança de rota para Brasília. Das 50 mil
libras de combustível que enchem o tanque de um Being 737, ele se viu com 1,8
mil libras no céu de Goiânia.
Foi quando um tonneau (giro completo sobre o eixo
da aeronave) e um parafuso (trajetória vertical descendente e em espiral), os
únicos registrados até hoje no modelo, derrubaram o sequestrador. "Fiz as
manobras porque o combustível do avião já havia acabado e o motor esquerdo
parou primeiro. Resolvi brigar antes de morrer. As únicas chances que tinha
seriam com manobras com o avião, pois eu estava amarrado no assento da
cabine."
Sequestrador Raimundo N. A. da Conceição |
Mesmo com as acrobacias, o
aviador garante que os passageiros não entraram em pânico. "Os passageiros
foram espetaculares, não me deram nenhum problema." Com Nonato
desorientado, Murilo pôde aterrissar em segurança no aeroporto internacional
Santa Genoveva, na capital goiana.
A negociação no solo se estendeu até o
início da noite, quando Nonato tentou descer do Boeing utilizando Murilo como
escudo e foi baleado por policiais federais, morrendo três dias depois. A
última bala disparada pelo tratorista desempregado atingiu a coxa de Murilo.
Embora não tenha percebido
reconhecimento do principal alvo do atentado, Murilo diz que outras vidas
salvas não lhe negaram homenagens. "Durante algum tempo, os passageiros
alemães mantiveram contato e faziam festa todos os anos no dia 29 de setembro,
mas, com o passar do tempo, alguns morreram e a animação foi acabando."
Comandante Murilo. |
O comandante não se
permite entusiasmo ao falar das medalhas do Mérito Santos-Dumont e da Ordem do
Mérito Aeronáutico com que foi condecorado. "As mesmas medalhas foram
dadas à esposa do ex-presidente (Luiz Inácio) Lula (da Silva), ao, na época,
ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, e a muitos outros em quem não vejo
mérito algum para as mesmas."
Depois de lecionar na
Faculdade de Ciências Aeronáuticas da Universidade do Tuiuti, no Paraná, o
comandante Murilo voltou a ser piloto. Os 44 anos de profissão, que somam 25
mil horas de voo, diz ele, "não deixam espaço para medo, mesmo porque a
aviação é muito segura".
De acordo com ele, a
segurança aeroviária melhora "a cada dia, porém a passos curtos, que não
acompanham o crescimento acelerado da aviação. A aviação precisa de um grande e
rápido investimento, mais pistas, mais equipamentos eletrônicos de auxílio,
mais treinamento para os controladores".
A preocupação aumenta com
a iminência de eventos como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de
2016. Segundo Murilo, os eventos "trazem riscos muito grandes, com o
aumento do fluxo e com a falta de equipamentos mais modernos para o controle de
tráfego, assim como a falta de mais pistas para pouso e espaço físico para
embarque e desembarque de passageiros e para o estacionamento de
aeronaves".
Entrevistado por diversos
veículos de comunicação logo após o atentado de 11 de setembro de 2001 nas
Torres Gêmeas e no Pentágono, Murilo viu o ato terrorista de Curitiba, quando
ainda ministrava aulas na faculdade, 13 anos depois de garantir a continuidade
de cerca de 100 vidas sob a sua responsabilidade e de outras tantas que,
inabaladas, não fizeram questão de executar a simples manobra do agradecimento.
1 - Esta Matéria foi linkada do site Terra - http://noticias.terra.com.br/brasil/piloto-que-evitou-atentado-a-sarney-39nunca-me-dirigiu-a-palavra39,786ecc00a90ea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html
2 - As Fotos desta Matéria foram linkadas do site voovirtual - www.voovirtual.com/t12798-brasil-piloto-que-evitou-atentado-a-sarney-nunca-me-dirigiu-a-palavra
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