Autor(es): Por Arthur Pereira Filho | De São Paulo
Valor Econômico - 27/11/2012
O Brasil foi o país que melhor utilizou o crescimento econômico
alcançado nos últimos cinco anos para elevar o padrão de vida e o
bem-estar da população. Se o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro
cresceu a um ritmo médio anual de 5,1% entre 2006 e 2011, os ganhos
sociais obtidos no período são equivalentes aos de um país que tivesse
registrado expansão anual de 13% da economia.
A conclusão é de levantamento feito pela empresa internacional de
consultoria Boston Consulting Group (BCG), que comparou indicadores
econômicos e sociais de 150 países e criou o Índice de Desenvolvimento
Econômico Sustentável (Seda, na sigla em inglês), com base em 51
indicadores coletados em diversas fontes, como Banco Mundial, FMI, ONU e
OCDE.
O desempenho brasileiro nos últimos anos em relação à melhoria da
qualidade de vida da população é devido principalmente à distribuição
de renda. "O Brasil diminuiu consideravelmente as diferenças de
rendimento entre ricos e pobres na década passada, o que permitiu
reduzir a pobreza extrema pela metade.
Ao mesmo tempo, o número de
crianças na escola subiu de 90% para 97% desde os anos 90", diz o texto
do relatório "Da riqueza para o bem-estar", que será oficialmente
divulgado hoje. O estudo também faz referencia ao programa Bolsa
Família, destacando que a ajuda do governo as famílias pobres está
ligada à permanência da criança na escola.
Nessa comparação de progressos recentes alcançados, o Brasil lidera o
índice com 100 pontos, pontuação atribuída ao país que melhor se saiu
nesse critério de avaliação. Aparecem a seguir Angola (98), Albânia
(97,9), Camboja (97,5) e Uruguai (96,9). A Argentina ficou na 26ª
colocação, com 80, 4 pontos. Chile (48º) e México (127º) ficaram ainda
mais atrás.
Foram usados dados disponíveis para todos os 150 países e que fossem
capazes de traçar um panorama abrangente de dez diferentes áreas:
renda, estabilidade econômica, emprego, distribuição de renda,
sociedade civil, governança (estabilidade política, liberdade de
expressão, direito de propriedade, baixo nível de corrupção, entre
outros itens), educação, saúde, ambiente e infraestrutura.
O ranking-base gerou a elaboração de mais três indicadores, para
permitir a comparação do desempenho, efetivo ou potencial, dos países
em momentos diferentes: 1) atual nível socioeconômico do país; 2)
progressos feitos nos últimos cinco anos; e 3) sustentabilidade no
longo prazo das melhorias atingidas.
Como seria de se esperar, os países mais ricos estão entre os que
pontuam mais alto no ranking que mostra o estágio atual de
desenvolvimento. Nessa base de comparação, que dá conta do "estoque de
bem-estar" existente, a lista é liderada por Suíça e Noruega, com 100
pontos, e inclui Austrália, Nova Zelândia, Canadá, EUA e Cingapura. Aí o
Brasil aparece em posição intermediária, com 47,8 pontos.
Para Christian Orglmeister, diretor do escritório do BCG em São
Paulo, o desempenho alcançado pelo Brasil é elogiável, mas deve ser
visto com cautela. "Quando se parte de uma base mais baixa, é mais
fácil registrar progresso. O Brasil está muito melhor do que há cinco
anos em várias áreas, até mesmo em infraestrutura, mas é preciso ainda
avançar muito mais."
Entre os países que ocupam os primeiros lugares nesse ranking de
melhoria relativa dos padrões de vida da população nos últimos cinco
anos, a renda per capita anual é muito diversificada, indo desde menos
de US$ 1 mil em alguns países da África até os US$ 80 mil verificados
na Suíça. Além do Brasil, mais dois países sul-americanos _ Peru e
Uruguai _ aparecem na lista dos 20 primeiros. Também estão nela três
países africanos que em décadas passadas estiveram envolvidos em
guerras civis _ Angola, Etiópia e Ruanda _ e que nos anos recentes
mostram fortes ganhos em relação a padrão de vida. Da Ásia, aparecem na
relação Camboja, Indonésia e Vietnã.
Nova Zelândia e Polônia também integram esse grupo. O crescimento
médio do PIB neozelandês foi de 1,5%, mas a melhora do bem-estar foi
semelhante à de uma economia que estivesse crescendo 6% ao ano. Na
Polônia e na Indonésia, que atingiram crescimento médio do PIB de 6,5%
ano, o padrão de vida teve elevação digna de uma economia em expansão
de 11%.
O estudo também compara o desempenho recente dos Brics - além do
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - na geração de mais
bem-estar para os cidadãos. Se em relação à expansão da economia, o
Brasil ficou atrás dos seus parceiros entre 2006 e 2011, o país superou
a média obtida pelo bloco em áreas como ambiente, governança, renda,
distribuição de renda, emprego e infraestrutura, diz Orglmeister.
China, Rússia, Índia e África do Sul aparecem apenas em 55º, 77º, 78º e
130º, respectivamente, nessa base de comparação, que é liderada pelo
Brasil.
O desafio brasileiro, agora, é manter esse ritmo no futuro, afirma o
diretor do BCG. "O Brasil precisa avançar em quatro áreas
principalmente", diz. "Na melhora da qualidade da educação, na
infraestrutura, na flexibilização do mercado de trabalho e nas
dificuldades burocráticas que ainda existem para fazer negócios no
país."
Para Douglas Beal, um dos autores do trabalho e diretor do
escritório do BCG em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, embora os
indicadores reunidos para produzir o Seda pudessem ser utilizados para
produzir um novo índice, esse não é o objetivo do levantamento. "A meta
é criar uma ferramenta de benchmarking, que possa fornecer um quadro
amplo. com base no qual os governos possam agir."
Veja a íntegra do relatório em www.cbg.com