sábado, 10 de março de 2012

I. Relembrando: O importante é ter charme: a vida turbulenta de Serge Gainsbourg

“A feiúra é superior à beleza, porque dura para sempre”. 

O autor dessa frase, Serge Gainsbourg, era feio e franzino, narigudo e orelhudo, tinha olheiras e dentes podres. 

Além disso, vivia bêbado, fumava sem parar e consumia drogas em volumes industriais. Tinha, por assim dizer, o gosto da sarjeta. Mesmo assim foi um dos maiores sedutores de seu tempo, os libertários anos 60: basta citar, entre as mulheres que se renderam ao seu encanto e charme, Brigitte Bardot, Catherine Deneuve, Juliette Gréco e Jane Birkin. 

Gainsbourg também colecionava escâncalos e foi preso diversas vezes: gravou na Jamaica A Marselhesa em versão reggae, queimou dinheiro em público em protesto contra o aumento dos impostos e, num programa ao vivo na TV, já na década de 80, disse à cantora Whitney Houston: “Você é muito bonita, e eu quero te comer”.

O maior sucesso de Gainsbourg, a canção-orgasmo ‘Je t’aime, moi non plus’, foi escrita originalmente para Brigitte Bardot, no final dos anos 60, mas a atriz se recusoua  gravá-la por conta do conteúdo sexual – a melodia é pontuada por gemidos de prazer explícito. A versão de 1974, um dueto Gainsbourg/Birkin, foi censurada no Brasil, na Inglaterra, na Espanha e em Portugal e condenada pelo Vaticano. 

É uma música cafona e canalha, com vocação para trilha sonora de romance de motel, mas virou cult para mais de uma geração. A casa onde Gainsbourg morou no bairro de Saint-Germain-des-Prés, com as paredes cobertas de poemas rabiscados, é até hoje um ponto turístico.

Gainsbourg e Birkin
Do relacionamento com Jane Birkin, aliás, nasceu Charlotte Gainsbourg, com quem Serge gravou outra canção polêmica, ‘Lemon Incest’: no clipe insinuante, pai e filha cantam deitados numa cama. 
Hoje Charlotte é a atriz preferida do também polêmico Lars Von Trier. 

Outra curiosidade é que a atriz que interpreta Jane , Lucy Gordon, em Serge Gainsborg – O homem que amava as mulheres, em cartaz nos cinemas (trailer aqui), se matou quando o filme estava na etapa de edição.

O longa de estreia do artista gráfico Joann Sfar conta as peripécias de Gainsbourg com competência e evidente admiração do diretor por seu personagem – a quem já dedicara um livro em quadrinhos.

 É uma declaração de amor, mais que uma investigação preocupada em esclarecer os enigmas da vida do cantor. Como declarou o cineasta, “Eu amo demais Gainsbourg para tentar trazê-lo à realidade. Não são as verdades em torno dele que me interessam, mas suas mentiras.” 

Trata-se portanto de uma reinvenção, mais que de uma reconstituição realista e atenta aos detalhes da verossimilhança. A infância do menino judeu sob a ocupação nazista, por exemplo, é evocada de forma poética, com a composição visual, a luz e as cores tendo um papel mais importante que o texto. 

 

E, para ilustrar as crises criativas e existenciais de seu personagem, Sfar inseriu na trama um boneco que representa a sua voz interior - presença recorrente nos momentos mais radicais da turbulenta trajetória de Gainsbourg. Num esforço para realçar traços, relações e momentos marcantes, a cronologia é muitas vezes atropelada, mas o resultado é o desejado: um filme de atmosfera, mais que uma cinebiografia.

Serge Gaindbourg, o Baudelaire dos anos 60, morreu de ataque cardíaco em 1991, após uma vida de excessos em tempo integral. O mito continua vivo, servindo de consolo e inspiração para os feios e charmosos.

FONTE: http://g1.globo.com/platb/maquinadeescrever/2011/07/13/o-importante-e-ter-charme-a-vida-turbulenta-de-serge-gainsbourg/

Assentamentos - Cai ministro do Desenvolvimento Agrário. 10 Mar 2012

Ministro Pepe Vargas
Dilma demite Florence por baixo desempenho e nomeia gaúcho Pepe Vargas; mudança reduz poder de Jaques Wagner.

Por: Luiza Damé, Catarina Alencastro e Gerson Camarotti.

BRASÍLIA. A presidente Dilma Rousseff, surpreendendo até mesmo aliados, deu mais um passo para fechar a reforma ministerial e imprimir o seu estilo de governar.

Descontente com o fraco desempenho do ministro e enfrentando reclamações de movimentos sociais sobre a paralisia do setor, Dilma demitiu ontem o titular do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence, que será substituído pelo deputado gaúcho Pepe Vargas (PT-RS). Aliado do governador da Bahia, Jaques Wagner, Florence (PT-BA) voltará para a Câmara dos Deputados. Pepe Vargas, da corrente Democracia Socialista (DS), a mesma de Florence, foi convidado na última quarta-feira, mas o anúncio só foi feito na noite de ontem.

É o 12º ministro substituído pela presidente em pouco mais de um ano e dois meses de governo. Assim como fez ao afastar o ex-ministro da Pesca Luiz Sérgio, Dilma elogiou publicamente a atuação do ministro que sai. Em nota à imprensa, ela agradeceu "os inestimáveis serviços prestados" por Florence e disse que ele conduziu "com dedicação e eficiência ações que fortaleceram a agricultura familiar e contribuíram para a redução da pobreza no campo". A presidente desejou "boa sorte" a Vargas, "certa de que ele exercerá as novas funções com o mesmo empenho e compromisso que têm caracterizado sua vida pública".

O ex-ministro foi pego de surpresa. A assessoria do ministério já divulgara a agenda dele, na próxima terça-feira, em Maceió, onde participaria da entrega de retroescavadeiras a 31 municípios de Alagoas, dentro do programa de financiamento da construção e de recuperação de estradas vicinais.

O desempenho de Florence não agradava ao Planalto nem aos movimentos ligados à reforma agrária. Só após um ano de governo é que Dilma conseguiu fazer suas primeiras desapropriações de terras para reforma agrária. Foram desapropriadas 60 fazendas em 13 estados, que devem atender 2.739 famílias.

A saída do ministro enfraquece o poder de Jaques Wagner no governo federal e amplia o espaço dos gaúchos. Alguns já falam na criação da "República do Guaíba" ou "República do Chimarrão". Integram a ala gaúcha Tereza Campello (Desenvolvimento Social), Luís Inácio Adams (Advocacia Geral da União), Marco Antônio Raupp (Ciência e Tecnologia), Maria do Rosário (Direitos Humanos), Alexandre Tombini (Banco Central), Mendes Ribeiro Filho (Agricultura) e Giles Azevedo (chefia de gabinete da Presidência).

Na formação do governo, Afonso Florence nunca foi o preferido de Dilma Rousseff. A outra opção era Lúcia Falcon, indicação do governador Marcelo Déda, de Sergipe. Ela chegou a ser convidada, mas prevaleceu a indicação de Wagner e da corrente DS.

- Fico surpreso com a formalização da troca. A expectativa era que Florence ficasse. Ele precisava consolidar o trabalho que vinha sendo feito de forma correta - comentou o líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA).

Correligionários de Florence admitem que ele já poderia ter caído há mais tempo, mas Dilma resolveu esperar um pouco, porque sua demissão seria um baque muito grande para o governador Jaques Wagner e a Bahia, que já tinham perdido José Sérgio Gabrielli da presidência da Petrobras e Mário Negromonte, do ministério das Cidades.

Dos 37 ministros que tomaram posse com Dilma, 11 saíram antes de Florence: Antonio Palocci (Casa Civil), Carlos Lupi (Trabalho), Alfredo Nascimento (Transportes), Pedro Novais (Turismo), Orlando Silva (Esporte), Wagner Rossi (Agricultura), Nelson Jobim (Defesa), Fernando Haddad (Educação), Mário Negromonte (Cidades), Iriny Lopes (Mulheres) e Luiz Sérgio (Pesca).

FONTE: http://www.exercito.gov.br/web/imprensa/resenha (Jornal O Globo)

sexta-feira, 9 de março de 2012

Polícia Federal: Documentos da Delta tiram sono de Perillo e Demóstenes.

demostenes

 

Material colhido durante a Operação Monte Carlo na sede de construtora de Fernando Cavendish (centro), onde Carlinhos Cachoeira dava expediente, ainda pode comprometer tanto o governador de Goiás quanto o senador do DEM

247 - Carlinhos Cachoeira fazia da sede da Delta Construções, de Fernando Cavendish, em Goiânia, seu escritório. Seu lugar-tenente, Wladmir Garcez, também despachava de lá. O diretor regional da Delta, Cláudio Abreu, era sócio de Cachoeira em diversos negócios, pegava dinheiro graúdo do esquema (remessas R$ 400 mil) e negociava apoios com o “abre-portas” dele. Tudo isto já foi revelado pela Polícia Federal.

O que não se sabe ainda é o teor dos registros eletrônicos e documentos que a PF colheu na sede da empresa. Foram computadores portáteis, papéis, pendrives e outras coisas que interessaram aos investigadores.
O problema é que a Delta tem negócios milionários não somente com prefeituras geridas pelo PT e pelo PMDB. No governo do Estado, capitaneado pelo tucano Marconi Perillo, a Delta tem um caminhão de contratos. Nas prefeituras, a Delta tem locação de caminhões, obras de engenharia e coleta de lixo. Já no Estado, o volume de negócios é muito maior. Somente na Agência Goiana de Obras (Agetop), estatal que administra as obras físicas, a Delta tem muitos quilômetros de obras para tocar. Mas o principal é a locação de carros para a segurança pública – três mil veículos para as polícias civil e militar e também para o Corpo de Bombeiros.
O que tem causado muita apreensão é no que os policiais colocaram a mão e que, portanto, pode vir à tona. Carlinhos Cachoeira, Cláudio, Wladmir e Perillo estão com a pulga atrás da orelha sobre o que ainda pode virar notícia.
Enquanto o senador Demóstenes Torres luta desesperadamente para se livrar da maldição de renegar amizades e expor podres familiares, a banda vai tocando seus dobrados. O suplente de Demóstenes, Wilder Moraes, é secretário de infraestrutura do governo Marconi e também dono de construtora (Orca). Sua esposa o abandonou para viver com Carlinhos Cachoeira, o que Demóstenes revelou para todo o Brasil. O suplente agora quer torcer o pescoço do titular do mandato para se vingar de todas as raivas que passou.
O senador também vive sua angústia com medo do que será revelado das conversas grampeadas pela Polícia Federal. Por hora, basta o desespero de negar que era amigo de Cachoeira, que não o recebia em sua casa para reuniões regadas a bons vinhos e que nada poderá lhe afligir.
 
Por: Jussara Seixas - Última atualização ( Sex, 09 de Março de 2012 14:00 )  

FONTE: http://blogdadilma.blog.br/politica/37-politica/385-documentos-da-delta-tiram-sono-de-perillo-e-demostenes.html

UFMA - Carta Aberta à Comunidade Acadêmica.

Nós, alunos da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), inconformados com a atitude tomada pelo Conselho de Centro do CCH e pelo Reitor Natalino Salgado, viemos por meio deste denunciar o que está acontecendo, e cobrar explicações e soluções.

Inicia-se este semestre com a – péssima – notícia de que alguns períodos de cada curso do Centro de Ciências Humanas deveriam ser relocados para o prédio Paulo Freire.

Mais uma vez, as decisões se estruturam em esferas superiores, e de lá não saem para serem discutidas com a comunidade acadêmica, são repassadas quando já estão homologadas, quando o martelo já foi batido na mesa, quando o último papel recebeu a assinatura do superior.

Quem somos dentro da Universidade? Esqueceram que somos parte ativa, e que temos voz? De quantos decibéis terão que ser nossos gritos para que eles sejam ouvidos? A universidade é um espaço que não deve limitar-se a uma formação quantitativa: notas, certificados, horas em eventos, diplomas, currículos.

Obviamente não estamos negando a importância de tais elementos, mas o espaço universitário deve ser um ambiente de formação humana, de produzir profissionais competentes não só em suas habilidades técnicas, mas em habilidades morais, políticas, entre outras. E construções como essa, só são possíveis quando há espaço para discussão de ideias, de colocação de questionamentos e opiniões. Universidades que se preocupam apenas em construir estruturas de cimento, esquecem de alicerçar seu arcabouço de gente.

O Paulo Freire é um prédio ainda em construção, assim como outras intermináveis obras da UFMA, e que foi inaugurado antes mesmo que houvesse as mínimas condições viáveis de uso do mesmo, pois a obra não está concluída. Uma atitude de extrema irresponsabilidade perante os professores e alunos, que acabam obrigados a frequentar um local sem acessibilidade para deficientes físicos, cheio de poeira e poluição sonora, dentre outros problemas, como infiltrações, etc.

Esta atitude autoritária foi imposta sem o mínimo debate com o corpo discente, e perante o argumento de que deveríamos “dividir o ônus” - por isso não seria levado um ou outro curso, mas um pouco de cada.

Queremos dizer que não concordamos com isso, pois achamos que o ônus dessa expansão irresponsável e sem qualidade, que sofre a UFMA e diversas outras universidades do Brasil, deve ser de responsabilidade apenas dos que a propuseram e dos que a conduzem. Se no exato momento não há espaço para a instalação de quatro salas de pós-graduação em história no CCH – por exemplo, que elas esperem as intermináveis construções ficarem prontas para, só após, serem instaladas. O que não admitimos é sofrermos as consequências dessa expansão irresponsável e sem qualidade, que hoje nos é imposta.

O grande Paulo Freire, se pudesse se expressar neste exato momento, provavelmente seria mais um a engrossar as fileiras dos indignados com mais esse deplorável incidente da UFMA. 

Está mais do que óbvio que aquele prédio não atende às necessidades físicas e pedagógicas exigidas pela vida acadêmica.


Centro Acadêmico de Ciências Sociais - UFMA

São Luís - MA, 07 de Março de 2012.
 

São Paulo: Souto Maior: Intolerância verificada na USP diz respeito a todos nós

por Jorge Luiz Souto Maior.

No começo deste ano eu estava em Liverpool à procura de um sonho perdido, os Beatles, e me deparei, talvez não por acaso, pois o destino tem razões que a própria razão desconhece, com a dura realidade tratada no Museu Internacional da Escravidão, inaugurado em 2007.

Várias coisas me impressionaram naquele local, sobretudo a menção honrosa feita ao Brasil, como tendo sido o último país das Américas a eliminar a escravidão, embora, até hoje, como bem sabemos, não tenha eliminado o trabalho escravo. Além disso, impressionei-me com um poema refletido no chão, atribuído a um pastor, de nome Martin Niemöller, que foi escrito na Alemanha nos tempos do nazismo, com o seguinte teor:

Quando os nazistas levaram os comunistas,
eu não protestei,
porque, afinal,
eu não era comunista.
Quando eles prenderam os sociais-democratas,
eu não protestei,
porque, afinal,
eu não era social-democrata.
Quando eles levaram os sindicalistas,
eu não protestei,
porque, afinal,
eu não era sindicalista.
Quando levaram os judeus,
eu não protestei,
porque, afinal,
eu não era judeu.
quando eles me levaram,
não havia mais quem protestasse.

Quando retornei ao Brasil, estudando um pouco mais o contexto daquele poema, deparei-me com outro, de Bertold Brecht:

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

As pesquisas me conduziram a mais um poema, este produzido no Brasil, de autoria de Eduardo Alves da Costa, que foi elaborado na época da ditadura militar e de onde se extrai a passagem que se tornou célebre na luta democrática instaurada na época do golpe de 64:

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

O que essas manifestações têm em comum? Elas se identificam pela poética demonstração de que as supressões da liberdade se “desenvolvem” progressivamente na medida em que encontram espaços para tanto, sendo que estes espaços são criados pela tática do medo.

Tendo por base esse aprendizado histórico, fácil compreender que assistimos na USP, presentemente, uma escalada anti-democrática repressora da liberdade, que avança a partir da estratégia do medo e da desinformação.

Mesmo sem nenhuma pretensão poética, é possível dizer:

Primeiro levaram um sindicalista
E não dissemos nada, pois não somos sindicalizados
Depois levaram, na calada da noite, os aposentados
Não nos importamos, afinal, estamos na ativa
Aí, oficializaram a política da repressão militarizada
E levaram estudantes
Sem entender bem o se passava, não protestamos
Na seqüência, já com armas em punho, levaram mais estudantes
Não reagimos porque não somos mais jovens sonhadores
Então, se conferiram o poder de chamar o golpe de 64 de
Revolução!

Após isso, se sentiram à vontade para assumirem, abertamente, o projeto de privatização do ensino, ameaçando fechar cursos que não se integram às exigências do mercado.

Adotaram, de modo cada vez mais explícito e abrangente, a terceirização, que, como bem sabem, precariza o trabalho e dificulta as resistências por parte dos trabalhadores.

Não se importaram com as reincidentes agressões desferidas por Policiais contra estudantes no seio da Universidade e assumiram postura de que não lhes diz respeito o atentado contra a sede do sindicato dos servidores – o Sintusp (a que ponto chegamos?)

Passaram a levar a ferro e fogo a intolerância contra os contestadores. Fiscalizam, invadem a privacidade, institucionalizam a espionagem.

Instauraram processos administrativos contra os demais diretores do sindicato.

Têm tratado os conflitos, frutos das revoltas de estudantes e servidores contra esse estado de coisas, como meros casos de polícia, pois não se vêem, minimante, constrangidos ao diálogo.

E, claro, não podia faltar, buscaram utilizar os meios de comunicação em massa para destruir moralmente todos que, não podendo ser presos ou descartados, ousam a se posicionar, abertamente, contra a situação posta.

Como se vê, é preciso, urgentemente, revelar que está em curso na Universidade de São Paulo um procedimento típico de regimes ditatoriais, que, inclusive busca justificativas para seus atos na lei, que é vista apenas parcialmente, sem se atentar para o contexto geral do ordenamento jurídico, o qual, vale lembrar, está construído, exatamente, de modo a evitar que em nome da lei se obstruam as liberdades individuais e a eficácia dos direitos sociais, tratados, ambos, na Constituição Federal, como direitos fundamentais.

É necessário ter a exata compreensão do que representa a racionalidade jurídica, fixada na Constituição, posta a partir dos postulados dos Direitos Humanos, integrados ao contexto do pacto de solidariedade, com a exata dimensão de sua representação histórica para o futuro da humanidade, pois sem essa base teórica bastante consolidada e sem as práticas que decorram de sua defesa, corre-se o risco do argumento da legalidade ser retoricamente utilizado a ponto de justificar todo o tipo de barbaridade praticada contra a condição humana, como, aliás, já se verificou em nosso país.
Urge recordar:

“O presidente da República Federativa do Brasil, ouvido o Conselho de Segurança Nacional, e:

Considerando que a Revolução Brasileira de 31 de março de 1964 teve, conforme decorre dos Atos com os quais se institucionalizou, fundamentos e propósitos que visavam a dar ao país um regime que, atendendo as exigências de um sistema jurídico e político, assegurasse autêntica ordem democrática, baseada na liberdade, no respeito à dignidade da pessoa humana, no combate à subversão e às ideologias contrárias às tradições de nosso povo, na luta contra a corrupção, buscando, deste modo, “os meios indispensáveis à obra de reconstrução econômica, financeira, política e moral do Brasil, de maneira a poder enfrentar, de modo direto e imediato, os graves e urgentes problemas de que depende a restauração da ordem interna e do prestígio internacional da nossa Pátria” (Preâmbulo do Ato Institucional no 1 de 9 de abril de 1964);

Considerando que o governo da República, responsável pela execução daqueles objetivos e pela ordem e segurança internas, só não pode permitir que pessoas ou grupos anti-revolucionários contra ela trabalhem, tramem ou ajam, sob pena de estar faltando a compromissos que assumiu com o povo brasileiro, bem como porque o Poder Revolucionário, ao editar o Ato Institucional n. 2, afirmou categoricamente, que “não se disse que a Revolução foi, mas que é e continuará” e, portanto, o processo revolucionário em desenvolvimento não pode ser detido;

Considerando que esse mesmo Poder Revolucionário, exercido pelo presidente da República, ao convocar o Congresso Nacional para discutir, votar e promulgar a nova Constituição, estabeleceu que esta, além de representar “a institucionalização dos ideais e princípios da Revolução“, deveria “assegurar a continuidade da obra revolucionária(Ato Institucional no 4, de 7 de dezembro de 1966);

Considerando que, assim, se torna imperiosa a adoção de medidas que impeçam sejam frustrados os ideais superiores da Revolução, preservando a ordem, a segurança, a tranqüilidade, o desenvolvimento econômico e cultural e a harmonia política e social do País comprometidos por processos subversivos e de guerra revolucionária;

Considerando que todos esses fatos perturbadores da ordem são contrários aos ideais e à consolidação do Movimento de março de 1964, obrigando os que por ele se responsabilizaram e juraram defendê-lo a adotarem as providências necessárias, que evitem sua destruição.

Resolve editar o seguinte:

Ato Institucional

(….)

Art. 2º O presidente da República poderá decretar o recesso do Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas e das Câmaras de Vereadores, por Ato Complementar, em estado de sítio ou fora dele, só voltando os mesmos a funcionar quando convocados pelo presidente da República.

(….)

Art. 3º O presidente da República, no interesse nacional, poderá decretar a intervenção nos estados e municípios, sem as limitações previstas na Constituição.

Parágrafo único. Os interventores nos estados e municípios serão nomeados pelo presidente da República e exercerão todas as funções e atribuições que caibam, respectivamente, aos governadores ou prefeitos, e gozarão das prerrogativas, vencimentos e vantagens fixadas em lei.

Art. 4º No interesse de preservar a Revolução, o presidente da República, ouvido o Conselho de Segurança Nacional, e sem as limitações previstas na Constituição, poderá suspender os direitos políticos de quaisquer cidadãos pelo prazo de 10 anos e cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais.

Parágrafo único. Aos membros dos Legislativos federal, estaduais e municipais, que tiverem os seus mandatos cassados não serão dados substitutos, determinando-se o quorum parlamentar em função dos lugares efetivamente preenchidos.

Art. 5º A suspensão dos direitos políticos, com base neste Ato, importa simultaneamente, em:

I. cessação de privilégio de foro por prerrogativa de função;

II. suspensão do direito de votar e de ser votado nas eleições sindicais;

III. proibição de atividades ou manifestação sobre assunto de segurança:

a) liberdade vigiada;

b) proibição de freqüentar determinados lugares;

c) domicílio determinado.

§ 1º O ato que decretar a suspensão dos direitos políticos poderá fixar restrições ou proibições relativamente ao exercício de quaisquer outros direitos públicos ou privados.

(….)

Art. 6º Ficam suspensas as garantias constitucionais ou legais de: vitaliciedade, inamovibilidade e estabilidade, bem como a de exercício em funções por prazo certo.

§ 1º O presidente da República poderá, mediante decreto, demitir, remover, aposentar ou por em disponibilidade quaisquer titulares das garantias referidas neste artigo, assim como empregados de autarquias, empresas públicas ou sociedades de economia mista, e demitir, transferir para a reserva ou reformar militares ou membros das polícias militares, assegurados, quando for o caso, os vencimentos e vantagens proporcionais ao tempo de serviço.

(….)

Art. 10. Fica suspensa a garantia de habeas corpus, nos casos de crimes políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a economia popular.

Art. 11. Excluem-se de qualquer apreciação judicial todos os atos praticados de acordo com este Ato Institucional e seus Atos Complementares, bem como os respectivos efeitos.

Art. 12. O presente Ato Institucional entra em vigor nesta data, revogadas as disposições em contrário.

Brasília, 13 de dezembro de 1968.

O documento supra, que se trata do Ato Institucional n. 05, foi assinado por várias pessoas, dentre elas, Luís Antônio da Gama e Silva, um dos mentores do texto do Ato, o qual antes de ser nomeado Ministro da Justiça, em 1967, ocupava o cargo de Reitor da Universidade de São Paulo, advindo da Faculdade de Direito, onde atuava como Professor Catedrático de Direito Internacional Privado, em vaga hoje pertencente ao Sr. João Grandino Rodas.
Por ocasião do afastamento temporário de Gama e Silva, a Reitoria, depois de curto tempo nas mãos de Mário Guimarães Ferri, afastado por questões médicas, acabou sendo assumida pelo professor Hélio Lourenço de Oliveira, o qual, por não apoiar o regime militar, foi aposentado compulsoriamente. O Reitor nomeado, em sua substituição, foi o professor da Faculdade de Direito, Alfredo Buzaid, que, posteriormente, por nomeação de General Emílio Garrastazu Médici, galgou o posto de Ministro da Justiça, tendo sido nomeado, para Reitor, o professor Miguel Reale, também oriundo da Faculdade de Direito.

Não se pode esquecer que no período em questão, com fundamento no Ato Institucional n. 05, vários professores da Universidade de São Paulo de orientação social, denominados, por isso, de “subversivos”, foram aposentados compulsoriamente, dentre eles: Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, Octavio Ianni, Elza Salvatori, Bento Prado Almeida Ferraz Jr., Emília Viotti da Costa, Luiz Hildebrando Pereira da Silva, Isaías Raw, José Arthur Giannotti, Mário Schenberg, Paulo Alpheu Monteiro Duarte e Paul Singer, destacando-se o caso de Caio Prado Jr., que foi incluído na lista de aposentadorias compulsórias mesmo sem ainda ser professor da Universidade, tendo apenas o título de livre-docente, adquirido junto à Faculdade de Direito.

Não se pode conceber como mero descuido, portanto, ter a atual Direção da USP nominado de “Revolução” o golpe de 64, ainda mais se considerarmos que o Reitor, em sua atuação na Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, de 1995 a 2002, acompanhado de outros dois membros, dentre eles o General Oswaldo Pereira Gomes, “votou contra a culpabilidade do Estado pela morte e desaparecimento de vários presos políticos”, sendo que a declaração de culpa nestes casos (onze, no total) foi adotada pela maioria dos demais integrantes da Comissão (quatro), conforme denúncia feita por Carlos Lungarzo, membro da Anistia Internacional.

Concretamente, sem uma reação consciente e esclarecida ao que se apresenta na atualidade da Universidade de São Paulo, exigindo-se a reversão do quadro, com a imediata retirada dos processos administrativos contra servidores e alunos, a readmissão do sindicalista Brandão, o cancelamento do convênio feito entre a Administração da Universidade e a Polícia Militar (que instaurou a lógica da repressão militarizada no Campus), a realocação imediata dos desalojados do CRUSP e a convocação de uma estatuinte para a institucionalização de procedimentos verdadeiramente democráticos na Universidade, iniciando-se pela eleição democrática para Reitor e atingindo a construção de um projeto de uma Universidade verdadeiramente pública, com o fim do Vestibular, a eliminação das Fundações de direito privado e demais cursos pagos, o fim da segregação entre servidores e professores, a derrubada de todos os muros que separam a Universidade da sociedade etc., corre-se o risco de ao acordamos pela manhã nos depararmos com um novo Ato Institucional publicado no Diário Oficial.

Importante ressaltar que muitos dos processos administrativos instaurados contra servidores e alunos têm por base um Decreto de 1972, que prevê, dentre outros atos puníveis, a prática de atitudes que atentem contra a moral.

No mínimo, há de se conceber a urgência, na linha das propostas feitas pelo Prof. Fábio Konder Comparato, da formação de um Comissão da Verdade para apurar responsabilidades quanto aos atos praticados durante o regime militar que envolveram a supressão de direitos de servidores, professores e estudantes da Universidade de São Paulo, criando-se, concomitantemente, uma sub-comissão para avaliação do conteúdo persecutório dos recentes processos administrativos instaurados contra estudantes, professores e servidores.

Cumpre registrar, por oportuno, que foi a instauração do medo com relação às reformas de base anunciadas pelo Presidente João Goulart, reforçada pela retórica da “restauração da ordem”, que impulsionou o golpe de 1964, e que assistimos, presentemente, uma escalada de medo semelhante no que se refere à mobilização cada vez mais organizada dos movimentos sociais, que buscam a efetivação de direitos constitucionalmente consagrados.

É por isso, ademais, que a intolerância verificada presentemente na USP a todos diz respeito. Não cabe o argumento de que não se tem nada com isso, por que, afinal, não se está a ela integrado, pois, como traduzem os poemas supra, primeiro fazem aqui, depois, por aí. O caso do Pinheirinho, no qual se utilizou a mesma logística para a retirada dos estudantes que no final do ano passado ocupavam o prédio da Reitoria, reflete exatamente isso, sendo oportuno destacar que se avizinha situação semelhante na comunidade San Remo, situada ao lado da própria Universidade de São Paulo. Aliás, recentemente foi aprovada no Conselho Universitário uma leva de contratação de professores temporários, deixando-se clara a política de diminuição do poder da classe dos professores que vem por aí.

É por tudo isso que a presente reação, com o lançamento do Manifesto pela Democratização da USP, que tem o propósito de impedir que uma tal realidade, cujo processo já se iniciou no seio da Universidade, não volte a atingir a toda a sociedade, representa a mais singela homenagem que se pode prestar aos parentes e amigos dos cidadãos brasileiros que sofreram danos irreparáveis por todos aqueles (e não, genérica e impessoalmente, regime ditatorial) que legitimaram a ditadura e com ela pactuaram, além de constituir a fórmula mínima de respeito à luta que esses cidadãos implementaram por todos nós.

É certo que muitas pessoas não querem perceber a gravidade do momento, seja por se beneficiarem dele, seja por puro comodismo. A questão é: até quando poderão se calar? E mais ainda: se já não será tarde demais quando quiserem se manifestar?

Para esses últimos, que precisam sair do mundo dos sonhos, vale, ainda, o recado há muito deixado por Rosa Luxemburgo:

“Quem não se move não sente as correntes que o prende.”

De todo modo, diante da apresentação deste Manifesto, que traz insitamente uma demonstração de solidariedade para com os oprimidos do sistema, provando-lhes que lutar pela defesa da democracia, pela efetivação de direitos e pela conquista de melhores condições de vida não é crime, e que representa, igualmente, uma homenagem à produção do saber, que é a razão de ser de uma Universidade, e à necessária defesa da condição humana, que é a razão de ser de todos nós, pode-se acreditar que ao menos a comunidade uspiana não vai se calar e vai continuar se movendo…

Muito obrigado!

Jorge Luiz Souto Maior é professor livre-docente da Faculdade de Direito da USP.

PS do Viomundo: O artigo acima é o texto-base da manifestação do professor Souto Maior durante o lançamento do Manifesto pela Democratização da USP, ocorrido na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP), em 1º de março de 2012.


FONTE: http://www.viomundo.com.br/denuncias/souto-maior-a-intolerancia-verificada-presentemente-na-usp-diz-respeito-a-todos-nos.html

Alemanha: Tribunal considera localizador de amigos do Facebook ilegal

Uma corte berlinense declarou que o Facebook deve informar melhor aos usuários o que faz com as informações contidas na conta de e-mails deles. 

Para grupos alemães de proteção de dados, a decisão é uma grande vitória. 

Um tribunal em Berlim decidiu que a ferramenta Friend Finder (localizador de amigos, em português), que permite aos usuários do Facebook convidar novos amigos usando a agenda de endereços de e-mails, é ilegal na Alemanha.

Ao utilizar a ferramenta, o usuário informa seu endereço de e-mail e senha para o Facebook, que acessa a conta de e-mail e copia todos os contatos da agenda para seu banco de dados.

Para o tribunal, o Facebook não deixa claro para seus usuários que, ao usarem a ferramenta, eles estão repassando para a rede social todas as informações da sua agenda de endereços. Todos os endereços de e-mails ficam registrados no banco de dados, até mesmo os de pessoas que não estão no Facebook. Também não estaria claro para os usuários que essas pessoas são convidadas a se registrar no Facebook.

O tribunal também considerou, em sua decisão desta terça-feira, que partes das condições de uso do site do Facebook dão à rede social direitos excessivos sobre o material postado pelo usuário, como fotos ou músicas próprias. O tribunal considera que fotos e músicas continuam sendo propriedade do usuário e só podem ser utilizadas com o consentimento deste.

Especialistas alemães em assuntos legais aplaudiram a decisão, que pode ser o começo de uma ação judicial contra o Facebook na Alemanha. “A decisão foi acertada”, disse Thomas Hoeren, professor de leis de informática e mídia da Universidade de Münster. “As condições de uso do Facebook sempre violaram a lei alemã. Esse foi o primeiro tribunal a declarar isso claramente. Outros virão com certeza”, completou.

O Facebook deverá recorrer
Um processo civil contra o Facebook foi arquivado em novembro de 2010 pela associação dos consumidores alemães, conhecida no país pela sigla VZBV. 
“O veredicto é um marco. O Facebook e outros sites têm que respeitar a proteção de dados na Europa”, comemorou Gerd Billen, chefe executivo da VZBV num comunicado no site da associação.

O Facebook ainda não se pronunciou sobre a decisão.

“Vamos observar com cuidado os detalhes da decisão do tribunal, assim que eles estiverem disponíveis.

Só assim poderemos saber como proceder”, declarou um porta-voz do site à DW por e-mail.   

Normalmente pode levar semanas e até meses para os tribunais alemães publicarem em totalidade suas decisões legais, após uma decisão inicial ser alcançada.

“O Facebook Ireland Ltd, responsável pelos nossos serviços aos alemães, está empenhado em seguir os padrões de proteção de dados na Europa, como demonstrado pelo recente relatório do comissário irlandês de proteção de dados", acrescentou o porta-voz do Facebook. Apesar disso, o site deve recorrer.

Pressão legal - Nos últimos anos, o gigante das redes sociais tem sido pressionado persistentemente pela lei alemã. Entidades que cuidam da proteção de dados têm contestado algumas das políticas da empresa.

Em janeiro de 2011, o Facebook, que tem mais de 10 milhões de membros na Alemanha, deu aos seus usuários mais controle sobre como o site utiliza a agenda de endereços privados deles e como não usuários podem bloquear os e-mail do site.  

A iniciativa foi uma resposta a Johannes Caspar, comissário para assuntos de privacidade de Hamburgo, que pressionou para o site ser multado. Em 2011, ele afirmou que a ferramenta de reconhecimento facial do Facebook também é ilegal de acordo com a lei alemã.

Autor: Cyrus Farivar (mas)

Revisão: Alexandre Schossler

FONTE: http://www.dw.de/dw/article/0,,15795497,00.html