segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Defesanet: PCC. Terrorismo criminal contra a PM paulista.

Artigo exclusivo de André Luís Woloszyn, Analista de Assuntos Estratégicos, para DefesaNet.
 
 
 
 
 
Em 2012 até 04 Novembro 90 PMs, tanto em serviço como fora dele foram assassinados em SP. Ultrapassa o ano de 2006. gráfico DefesaNet


André  Luís  Woloszyn - Analista de Assuntos Estratégicos
                            alwi.war@gmail.com

Em agosto de 2006, quando dos ataques patrocinados pelo  PCC em São Paulo, que tinham como alvo  principal agentes  estatais  da segurança pública, resultando em 1.029 atentados, 56 transportes coletivos incendiados e 49 policiais, entre civis e militares mortos,  qualifiquei o episódio de terrorismo criminal.  E, na oportunidade, defini a expressão como sendo ações violentas premeditadas realizadas assistematicamente contra segmentos da sociedade, patrocinadas por organizações criminosas com o objetivo de causar pânico, tensão e  intimidação na defesa de interesses restritos e pontuais. Este conceito também foi baseado nas características internacionais do terrorismo que são a natureza indiscriminada, imprevisibilidade, gravidade dos atos e o caráter amoral ou de anomia.


Pois bem, seis anos após estes episódios, nos deparamos novamente com o fenômeno que  semelhante ao primeiro, difere apenas na concentração dos alvos, que agora são direcionados a policiais militares de folga ou em deslocamento antes ou posterior ao serviço que executam. Estas ações, além de serem uma tática antiga utilizada na guerrilha  urbana  de “dividir para desorientar e combater” se revestem de coordenação e certo grau de vigilância pois existe uma identificação prévia das vítimas, o fato de não estarem em serviço e  principalmente, o mapeamento do trajeto que  utilizam ou locais que frequentam, fatores que aumentam a vulnerabilidade e proporcionam  maior  probabilidade  de  êxito nos ataques. Outro ponto que chama a atenção, é  a  região em que são cometidos, o que dá amplitude as ações e  dificultam  operações policiais concentradas.

As consequências destes últimos episódios já não podem ser minimizadas e vão muito além da morte de 89 policiais militares e do aumento considerável na taxa de homicídios, num estado de permanente tensão entre integrantes da PM e na população. Quadro semelhante vem ocorrendo no México e na Colômbia onde ações repressivas de combate aos Cartéis das drogas  tem  acarretado respostas violentas dos narcotraficantes contra as forças de segurança e em parcela da população numa luta feroz por espaços e  sobrevivência. E tanto lá como aqui, é  necessário uma nova abordagem sobre o fenômeno da violência e da criminalidade que não contemple apenas ações policiais, pois estas, pela complexidade e dinamismo dos crimes atuais, tem se mostrado uma solução paliativa se utilizadas isoladamente. Esta mudança,  muitos apresentam dificuldades em compreender o que tem contribuído  para o agravamento do problema e desgastes institucionais.

Assim, independente do número de prisões que venham a ser realizadas ou transferência de lideranças para outras penitenciárias, pouco ou nada contribuiria para a  mudança do quadro.  Existe uma fonte inesgotável para novos recrutamentos que dariam inveja à rede terrorista Al Qaeda, localizada  no interior dos estabelecimentos penais, onde nasceu a organização e onde suas lideranças exercem plenamente seu ofício, inobstante o grau de segurança. E um exército de seguidores em liberdade que o  sistema, como sabemos, não possui  condições de absorver.

Na previsão de incidentes indesejáveis, trabalha-se de maneira geral, com diversos métodos de perspectivas, dentre estes, o desenvolvido pela NASA “Breaking the Mishap Chain” adaptado para outras realidades. Este, determina  que resultados indesejáveis ocorrem, quando há um alinhamento de fatores que estão presentes em um cenário, mas de forma aleatória. Quando se  alinham,  no caso em questão, legislação penal inadequada,  problemas no sistema judiciário, carência de pessoal e de tecnologia nas polícias, corrupção, investimentos insuficientes, caos no sistema penitenciário, o resultado não poderia ser outro do que uma crise de  violência. E, com o passar do tempo, pode tornar-se incontrolável, reduzindo seu caráter de  assistematicidade.

Neste sentido, já que procuramos soluções e alternativas, o enfoque deverá recair também sobre  mudanças estruturais em todo o sistema de segurança pública do país e da legislação que  o precede.  A conjuntura está a demonstrar, nitidamente, que  o problema não é apenas da polícia, mas da justiça, da inteligência, do poder e efetividade na investigação criminal e especialmente  das prisões brasileiras e da forma como encaramos todo este sistema.  
 http://www.defesanet.com.br/mout/noticia/8447/PCC---Terrorismo-criminal--contra-a--PM--paulista----

Governo orientará prefeitos a implementar programa da ONU


Autor(es): Por Fernando Exman e Bruno Peres | De Brasília.
Valor Econômico - 31/10/2012.


Repetindo prática lançada pela administração Luiz Inácio Lula da Silva, o governo Dilma Rousseff planeja realizar no início de 2013 um grande evento para recepcionar os prefeitos que acabam de ser eleitos e tomarão posse em janeiro. 

Como em 2009, a ideia do governo é apresentar o catálogo de programas federais voltados aos municípios e promover as potenciais parcerias entre o Executivo e as prefeituras. 

Autoridades do Palácio do Planalto sabem que não escaparão da pressão por mais recursos. 

Desta vez, entretanto, também farão uma demanda aos gestores municipais: o Palácio do Planalto quer mobilizar os novos prefeitos para que o país acelere a implementação e busque reduzir as disparidades regionais na execução dos chamados Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs).
 
A intenção do governo de reduzir os riscos de interrupção nas parcerias com os municípios tem fundamento. Nas eleições concluídas no domingo, o índice de prefeitos reeleitos diminuiu. Nas 26 capitais, por exemplo, o índice de reeleição caiu de 95% em 2008 para 50% neste ano.
 
"O índice de reeleição foi menor, então nós devemos fazer esse evento. É um evento importante", explicou ao Valor a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti.

 
São oito os Objetivos do Milênio:

1 - erradicar a extrema pobreza e a fome;

2 - universalizar a educação primária;

3 - promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; 

4 - reduzir a mortalidade na infância;

5 - melhorar a saúde materna; 

6 - combater o HIV/Aids, a malária e outras doenças;

7 - garantir a sustentabilidade ambiental; e

8 - estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento. 

A instituição dessas metas resultou de um compromisso firmado por 189 países, em setembro de 2000, para combater a extrema pobreza e outros problemas sociais e ambientais do mundo.
 
Dez anos depois, a comunidade internacional renovou o pacto para acelerar a implementação dessas metas, as quais deverão ser atingidas até 2015. Ou seja, num período próximo à campanha para a reeleição de Dilma.
 
"São metas específicas de compromisso de livre adesão das prefeituras", afirmou Ideli. "A nossa ideia neste evento é poder ter uma intensificação desta adesão. A adesão hoje em relação aos municípios é baixa."
 
Do ponto de vista político, o governo demonstrará aos prefeitos que a execução dessas metas poderá garantir às suas administrações selos de excelência capazes de lhes render dividendos políticos futuramente. "São metas muito claras e fáceis de serem acompanhadas pela população", explicou a articuladora política do Executivo.
 
Com esse esforço, o governo espera reduzir as disparidades na implementação dos ODMs entre as regiões do país. "Algumas metas o Brasil já superou ou está muito próximo de alcançar. Mas, mesmo o Brasil estando muito próximo ou já superando, a distribuição regional é muito desigual. 

O fato de o país atingir não significa que todos os municípios e regiões atingiram", explicou a ministra. "Tem muito diferencial na questão da saúde, da desigualdade da mulher ou das questões da criança e de desigualdade salarial."
 
Para a coordenadora da Unidade de Planejamento Estratégico do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) no Brasil, Maria Celina Berardinelli Arraes, essa maior articulação entre governo federal e municípios não ocorre tarde demais e o Brasil está bem posicionado para cumprir os objetivos dentro do prazo estipulado. O Pnud é o órgão que coordena o grupo de trabalho sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio na Organização das Nações Unidas.
 
Em entrevista por e-mail, ela disse que a posse dos prefeitos eleitos é uma oportunidade para a repactuação do compromisso municipal pelos ODMs. "A implantação de políticas públicas específicas com foco no cumprimento dos ODMs, como foi o caso do Programa Bolsa Família e agora do Plano Brasil sem Miséria, está sendo fundamental para esta evolução do desenvolvimento humano no Brasil", anotou a representante do Pnud, lembrando que o Brasil já ultrapassou a meta estabelecida para a redução da pobreza.

Por outro lado, ponderou, o Brasil e outros países latino-americanos precisam realizar um esforço adicional para melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem em habitações precárias nos grandes centros urbanos. "O Brasil apoia e tem trabalhado seriamente para alcançar os ODMs e os frutos desse esforço têm dado bons resultados, tanto que o país é destaque no cenário mundial em relação ao cumprimento das metas", acrescentou Maria Celina.
 
Segundo ela, os avanços observados no Brasil devem ser creditados principalmente aos esforços conjuntos realizados por governos, empresas, universidades, organizações não governamentais e organismos internacionais. "Apesar de o país estar bem posicionado em termos de médias nacionais, é importante fazer chegar essas conquistas às comunidades mais longínquas, ou seja, acabar com as desigualdades regionais e locais que se escondem por detrás das médias", ponderou. "Tanto em âmbito mundial como nacional, o progresso tem sido desigual, muitas vezes com impacto modesto sobre os mais pobres e os segmentos mais vulneráveis da população. O progresso dos ODMs exige crescimento sustentado, inclusivo e equitativo e oferta intensiva de emprego, com oportunidades para todos."
 
Já o "mundo pós-2015", completou a representante do Pnud, deve ser discutido num evento da ONU em 2013. A entidade e os diversos governos devem debater uma proposta de elaboração dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs), um novo conjunto de metas que visa a ampliação do combate à desigualdade social, a promoção da sustentabilidade ambiental e outros problemas que afetarão a comunidade internacional até 2030.

"Nesta reta final até 2015, é indispensável que Estados e municípios também dediquem suas políticas sociais e mobilizem a sociedade civil e o setor privado para conseguirem completar as lacunas ainda existentes."
 
Link da matéria: http://www.valor.com.br/eleicoes2012/2887364/governo-orientara-prefeitos-implementar-programa-da-onu

Furacão Sandy e os “esquecidos” pela mídia.

Por Altamiro Borges
O furacão Sandy causou enorme devastação na América Central, no Caribe e também nos Estados Unidos. 

Mas a mídia nativa, sempre tão colonizada, só deu atenção para a tragédia no território estadunidense. 

A TV Globo, com as suas longas matérias, até parecia uma sucursal de alguma emissora ianque. Novamente, em mais este caso dramático, a mídia brasileira demonstrou que não tem qualquer identidade com os povos latino-americanos. Ele serve ao império, sente as suas dores e reproduz as suas versões dos fatos.

Balanço parcial indica que o furacão Sandy, que virou uma tempestade nos EUA, causou pelo menos 41 mortes em Nova Iorque e deixou milhares de pessoas desabrigadas.

Governo e corporações empresariais também já fazem cálculos sobre os prejuízos econômicos, que devem superar os US$ 50 bilhões – mais de 101 bilhões de reais. 

Já na América Central e no Caribe, os danos são bem maiores, devido principalmente à frágil estrutura dos países da região – sempre saqueados e oprimidos pelo império do norte. 

Sofrimento na América Central e Caribe Segundo o sítio da Adital, o furacão deixou 54 mortos no Haiti, 11 em Cuba, dois nas Bahamas, dois na República Dominicana, um na Jamaica e um em Porto Rico.  

A situação mais dramática é a do Haiti. “O ciclone aprofundou a crise nesse país caribenho, que já contava com 400 mil pessoas sem habitação desde o devastador terremoto de janeiro de 2010. 

Ele agregou à lista mais 200 mil pessoas. Agora, o governo haitiano teme pelo aumento do número das vítimas de cólera; no último mês, foram registrados 86 novos casos”.
 
Na Jamaica, ele deixou dezenas de famílias sem teto e causou prejuízos estimados em US$ 16,5 milhões, segundo informou a primeira-ministra do país, Portia Simpson Miller. 

E Cuba, a tormenta matou 11 pessoas em Santiago de Cuba e nas províncias de Guantánamo. Cerca de 5 mil edifícios foram parcialmente destruídos e 30 mil cubanos ficaram sem teto. 

Na República Dominicana, mais de 18 mil pessoas tiveram que ser evacuadas e cerca de 3.500 casas foram destruídas.

EUA pautam a imprensa nativa - A mídia colonizada simplesmente “esqueceu” estas vítimas. 

Como aponta o jornalista João Paulo Charleaux, “enquanto o furacão Sandy matava 69 pessoas na América Central e no Caribe, pouco se via sobre ele nos jornais daqui. Bastou a ventania entrar nos radares americanos para entrar, também, na pauta da imprensa brasileira com força total.

Agora, escoado o aguaceiro, resta, além das mortes, a ideia de que ainda falta ao jornalismo internacional brasileiro criar sua própria agenda, em vez de comprar a dos outros”.

Charleaux trabalhou durante oito anos na Cruz Vermelha Internacional e já cobriu catástrofes para vários veículos. Ele lembra que “nas redações, a piada mais comum é a de que um americano assustado equivale a uns 40 centro-americanos mortos ou uns 50 corpos africanos e por aí vai”.


De fato, para a mídia colonizada pouco importa o sofrimento dos povos que sempre foram explorados e oprimidos pelo império e que hoje lutam por sua libertação. 

A mídia servil chora apenas pelas vítimas do império!

São Paulo - Policial Militar é assassinada na frente da filha na Zona Norte da capital paulista.


Edição do dia 05/11/2012 - Atualizado em 05/11/2012 08h31

Marta tinha 44 anos e três filhos. Ela chegou a ser socorrida pelos vizinhos, mas chegou ao hospital sem vida. Ela levou 10 tiros nas costas.




Neste fim de semana de feriado, muita violência em São Paulo.

Marta Umbelina da Silva estava na PM havia 11 anos e foi a primeira mulher da polícia a ser assassinada na onda de violência da Região Metropolitana de São Paulo. Marta tinha 44 anos, era divorciada e tinha 3 filhos: uma moça de 20 anos, um adolescente de 18 e uma menina de 11. Foi morta, no sábado, pouco depois das 20h30, na frente da filha caçula.

Mãe e filha chegaram em casa de carro. A menina tentou abrir o portão e não conseguiu. Marta foi ajudar a filha. O portão já estava aberto quando os dois homens chegaram de moto, atirando. 

A família morava na Vila Brasilândia, na Zona Norte. As marcas do crime ficaram na rua. Marta foi socorrida pelos vizinhos, no próprio carro, mas chegou ao hospital sem vida.

“Foi um assassinato covarde. Nossa policial Marta foi surpreendida pelas costas, recebeu 10 tiros pelas costas. O sentimento da nossa tropa é de muita dor, de muita tristeza, pela covardia, pela falta de escrúpulos e pelo desafio que a criminalidade vem colocando não só à Polícia de São Paulo, mas ao estado, às nossas leis e à nossa sociedade”, afirma o comandante da PM.

O feriado de Finados foi violento na Grande São Paulo. Das 18h de quinta feira até as 17h do domingo foram pelo menos 23 assassinatos na Região Metropolitana, sendo 11 na capital e 12 na Grande São Paulo. Em São Bernardo do Campo, no ABC, foram 7 mortos.

Um deles foi o cabo Marco Volnei Zacarias Pilatti. As câmeras de segurança de uma empresa mostram quando o PM passou de moto, seguido por dois homens em outra motocicleta. Eram os assassinos, que depois do crime fugiram.

Na maioria dos casos, são execuções a tiros, rápidas. Exatamente como aconteceu com o policial Ismael Alves dos Santos, de 38 anos, em Guarulhos, São Paulo.

O Fantástico teve acesso às imagens que mostram o crime. O PM Ismael estava no caixa. Na quarta-feira, 5 de setembro, o PM estava de folga, no mercado da família. Uma moto se aproximou.

Segundo a polícia, na garupa estava Cristiano da Silva Souza, que desceu armado. Ismael se assustou, mas nem teve tempo de reagir. O bandido fez vários disparos em apenas um segundo. Quando terminou, chegou o comparsa - identificado nas investigações como Alecsandro Barros, o traficante Ratinho. Mesmo com a vítima no chão, ele atirou.

Só neste ano, 90 policiais foram mortos no estado de São Paulo. Em agosto, a polícia registrou bandidos ordenando a execução de PMs. “A partir desta data, foi determinado como missão cobrar a morte do irmão à altura, executando dois policiais da mesma corporação que cometeu o ato de covardia”.

‘Ato de covardia’, para eles, é a execução de um dos membros da quadrilha por policiais. Em uma operação, foram encontrados relatórios feitos pela quadrilha, que mostram como eles se organizam. Um deles lista os integrantes que morreram, outro registra as armas.

O controle financeiro é ainda mais detalhado. Gravações inéditas revelam que os bandidos pagam uma mensalidade para fortalecer o caixa do grupo. “A partir desta data, 10092012, a contribuição mensal passa a ter o aumento de R$ 600 para R$ 850”, afirma. 

Quem fica devendo geralmente é escolhido para cometer os crimes. “Eles são obrigados, praticamente, a matar policiais militares, sob pena de morrerem”, afirma o promotor.

Só em setembro foram registrados 135 homicídios na cidade de São Paulo, quase o dobro do mesmo mês em 2011. A Polícia Civil, o Ministério Público e a Corregedoria da Polícia Militar investigam a atuação de grupos de extermínio e a participação de PMs nos assassinatos.

Um dos casos envolve justamente a morte do PM no mercado de Guarulhos. Três semanas depois deste crime, Ratinho, o segundo a atirar, foi executado com mais de 30 tiros. Os assassinos estavam em motos e carros sem placa.

“Eu acho que a melhor forma de honrar esses policiais militares que estão sendo mortos é colocarmos mais empenho, mais dedicação e cada policial militar tem o compromisso firme e forte de prender os executores dos nossos companheiros”, diz Roberval Ferreira França, comandante da PM-SP.

 

 

Guerra Urbana - São Paulo, até ontem 92 (noventa e dois) policiais foram mortos.

São Paulo - Desde o começo deste ano até ontem, 92 policiais foram mortos em todo o Estado de São Paulo. Desses, 90 eram PMs. Os outros dois eram policiais civis.

O número já é bem superior ao registrado em todo o ano passado. Em 2011, foram assassinados 56 PMs e oito policiais civis. Em 2010, foram 71 PMs e dois policiais civis. 

Por trás da matança, um dos principais fatores é uma guerra travada entre o PCC e a PM paulista – especialmente sua tropa de elite, a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar).

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), informou que 117 pessoas foram presas nos últimos dois meses sob suspeita de participação nos ataques contra os policiais militares. 

Segundo o governador, outros 28 suspeitos estão sendo procurados.  

Dezenove morreram em confrontos com a polícia.

Nem todas as mortes de policiais podem ser atribuídas ao PCC. 

Pelo contrário. Mais de 20 PMs foram assassinados durante assaltos, conforme indicam as investigações. 

Em outros casos, os policiais trabalhavam em bicos (horário de folga, como vigilantes particulares) quando foram mortos.   

Ele acredita ser pouco provável que esses casos sejam vingança. 

Já os disparos aleatórios contra patrulhas, sim. Os PMs são apenas a face mais visível dessa guerra. O número de mortos em combate com agentes da lei é bem maior.

Conforme levantamento da Agência Brasil, foram mortas 28 pessoas em confrontos com policiais civis e 369, por policiais militares, totalizando 397 pessoas mortas em confrontos com agentes da lei este ano.

Isso representa 8,5% de aumento em relação ao ano passado. 

No mesmo período de 2011, 30 pessoas morreram em confronto com policiais civis e 333, por policiais militares, totalizando 363 mortes em confrontos.
A contabilidade demonstra também que a maior parte das mortes de civis no país ocorre em seguida à morte de algum policial – o que sugere que possa ter ocorrido represália.

VALE - Guiné reacende caso de US$ 2,5 bilhões envolvendo a Mineradora Brasileira.




Autor(es): Por Tom Burgis, Helen Thomas e Misha Glenny - Financial Times, de Londres.
Valor Econômico - 05/11/2012.


Foi, nas palavras de um veterano da mineração africana, "a sorte grande". Em abril de 2010, o conglomerado de um bilionário israelense arrojado, que fez sua fortuna negociando diamantes no continente africano e para além dele, fechou um negócio pelo qual venderia uma participação de 51% de seus interesses na mineração da Guiné por US$ 2,5 bilhões.

Mesmo para os padrões de Beny Steinmetz, a venda, para a Vale , maior produtora mundial de minério de ferro, parecia um belo retorno. Sua empresa tinha gasto meros US$ 160 milhões pelos direitos de explorar metade de Simandou, uma montanha abarrotada de minério de ferro.

Agora, no entanto, as perspectivas do grupo no minúsculo país da África ocidental que abriga os depósitos minerais mais cobiçados do mundo enfrentam uma ameaça. A Guiné reacendeu um conflito de vários bilhões de dólares para o Tesouro do país, num momento em que as autoridades examinam de perto contratos de mineração fechados por antigas ditaduras.

O "Financial Times" obteve informações de que uma comissão do governo abriu uma investigação de corrupção e exige respostas sobre como a Beny Steinmetz Group Resources (BSGR) conseguiu em 2008 os direitos a metade de Simandou, que, pouco antes naquele ano, tinha sido tirada da anglo-australiana Rio Tinto.

A comissão, que conta com o respaldo de George Soros, escreveu na semana passada para a joint-venture entre a BSGR e a Vale arrolando uma série de acusações de suborno referentes à aquisição, pela BSGR, de participações em Simandou e num depósito de menores proporções nas redondezas.

Funcionários do governo encarregados da investigação reuniram depoimentos de ex-sócios da BSGR, consultores e financistas, que contaram histórias de presentes e pagamentos a parentes de Lansana Conté, cuja ditadura de 24 anos se encerrou com sua morte, no fim de 2008, e de determinadas autoridades do governo de seu regime e dos que se seguiram.

Entre as denúncias está a oferta de uma miniatura de carro de Fórmula 1 de ouro, incrustrado de diamantes, a um ministro do governo, segundo informação obtida pelo "FT". A BSGR disse que o modelo foi dado ao Ministério da Mineração, e não a uma pessoa, em cerimônia pública e que seu valor fica entre US$ 1 mil e US$ 2 mil.

A empresa de Steinmetz denunciou a investigação como tendo sido movida por adversários políticos e concorrentes da área de mineração. "Esta é a mais recente de uma campanha orquestrada realizada para minar a posição da BSGR na Guiné, para possibilitar que nossos bens sejam arrestados e vendidos a uma série de terceiros interessados", disse a empresa.

Entre as acusações, está a de que um representante da BSGR teria oferecido ao então presidente Conté um relógio de ouro ornado de diamantes e que a empresa concordou em pagar à quarta esposa do presidente uma comissão de US$ 2,5 milhões por ajudar a conquistar direitos de mineração. A BSGR disse não saber de nenhum presente de um relógio de ouro. Negou que o grupo tenha feito, alguma vez, o pagamento à quarta esposa de Conté. "Nunca fizemos qualquer pagamento", declarou.

Steinmetz está entre um punhado de empreendedores do setor de mineração com fama de pioneiro em se aventurar em promissores mercados de fronteira ricos em recursos naturais. A reorganização da mineração chama a atenção para as dificuldades com que se defrontam os países pobres, mas ricos em recursos naturais, cujos dotes muitas vezes contribuíram mais para o conflito e a corrupção do que para ganhos econômicos.

As investigações sobre a BSGR ocorrem em meio a intensos interesses pelos recursos minerais da Guiné, descritos por executivo do setor como "fabulosos, incomparáveis a quaisquer outros do mundo", disputados por investidores da China, Brasil, África e Europa.

BSGR e Vale têm 60 dias para responder às acusações, depois dos quais a comissão vai avaliar se recupera os direitos, o que pode trazer outro capítulo para a disputa de 20 anos pelo controle das riquezas da montanha. A comissão informou à joint-venture que não vai tomar outras medidas até receber a resposta das empresas. "A BSGR sustenta que é inocente de qualquer irregularidade e que usará os meios legais para proteger sua posição na Guiné", informou o grupo. 

A Vale, que em outubro disse ter colocado o projeto em suspenso, não quis comentar as acusações, mas ressaltou que "promove de forma apropriada as devidas avaliações de contas antes de seus investimentos".

A revisão é considerada como uma chance para que a Guiné rompa com décadas de opressão e acusações de corrupção. É um teste para Alpha Condé, o veterano líder de oposição eleito presidente em dezembro de 2010, e seus dois assessores mais destacados, Soros e Tony Blair, o ex-primeiro-ministro do Reino Unido. 

Paul Collier, especialista em desenvolvimento na Blavatnik School of Government, de Oxford, e assessor do governo de Guiné, disse que "o governo não seria apenas irresponsável se não revisasse esse legado de contratos acertados com regimes corruptos, seria cúmplice. Ele [governo] não tem outra opção a não ser revisar de forma seria e profunda."

Opositores, no entanto, dizem que o governo de Condé busca liberar os direitos de mineração para beneficiar seus aliados e usar a revisão para extrair pagamentos extras de seus atuais donos.

Mahmoud Thiam, ministro da Mineração sob o regime militar de 2009-2010 que sucedeu Conté, disse ao "Financial Times" que a economia da Guiné foi prejudicada pela investigação do governo. Thiam, que também enfrenta questionamentos no que se refere à aceitação e facilitação de pagamentos e outras vantagens arquitetadas para ganhar favores, afirmou que "até o fim de 2012 [esses projetos] estariam exportando". "Mas isso não aconteceu por causa dessa caça às bruxas. Cada acordo que fizemos foi cuidadosamente elaborado seguindo estritamente o código de mineração."

Simandou é reconhecido mundialmente no setor como um dos melhores depósitos de minério de ferro ainda inexplorados. Seu minério é tão rico em ferro que especialistas dizem que praticamente não precisa de processamento. Sua localização de acesso mais complicado, a cerca de 700 quilômetros da costa da Guiné, porém, significa que os custos de exploração vão chegar a US$ 10 bilhões.

A Rio Tinto ganhou os direitos de explorar a concessão nos anos 90, sob a ditadura de Conté. Quando a saúde do autocrata se debilitou em 2008, o governo tirou da Rio Tinto - a quem acusou de não cumprir o cronograma de desenvolvimento - metade dos direitos sobre a área. Eles foram rapidamente passados para a BSGR, poucos dias antes de Conté morrer.

Em 2011, contudo, a Rio Tinto pagou US$ 700 milhões ao atual governo para "a resolução de todas as questões pendentes" referentes à sua metade em Simandou. A empresa informou ao "Financial Times" que o acordo "isenta a Rio Tinto de quaisquer novas mudanças sob a atual revisão do código de mineração ou sob qualquer revisão futura."

Na semana passada, a comissão de mineração da Guiné questionou se a BSGR alguma vez teve a intenção de minerar sua metade em Simandou. Questionou a BSGR e Vale sobre sugestões de que o grupo de Steinmetz estaria simplesmente buscando comprar os direitos para poder vendê-los, prática conhecida como "flipping".

A BSGR rejeita a acusação e diz que até agora recebeu só US$ 500 milhões da Vale. "Este projeto precisa acontecer para que sejamos pagos", disse. "Não é uma jogada de curto prazo; é compromisso de longo prazo."

domingo, 4 de novembro de 2012

Espiritimo. Como o kardecismo cresceu no Brasil.



Da Folha


VALDO CRUZ - EM SÃO PAULO.

Uma das religiões mais populares do Brasil surgiu da curiosidade científica do francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, no século 19, quando a fé cega na Igreja Católica vinha sendo questionada pelo racionalismo. 

Em sua busca pela verdade a partir de fenômenos mediúnicos, Rivail (1804-69) lançou as bases do espiritismo - misto de filosofia, ciência e religião cujos princípios ele formulou nos cinco livros publicados por Alan Kardec.

Mais do que um "nom de plume", esse foi o nome do intelectual francês numa de suas vidas passadas, conforme lhe revelaram espíritos que o auxiliaram na tarefa.

Poucas religiões têm relação tão forte com os livros e a leitura, mas ainda não havia no país uma introdução ao universo espírita escrita e voltada para leigos. Foi o que fez o sociólogo paulista Reginaldo Prandi em "Os Mortos e os Vivos" [Três Estrelas, 116 págs., R$ 25], no qual descreve a história e os princípios da doutrina fundada por Kardec e sua difusão no Brasil.

Para o autor, o espiritismo ganha força por aqui porque o Brasil é uma civilização com "contato com o transe", sobretudo nas religiões afro e indígenas. Prandi ressalta ainda que havia uma intelectualidade que queria se "libertar da dominação católica".

Hoje, de acordo com o Censo de 2010, 2% dos brasileiros, ou 4 milhões de pessoas, se declaram espíritas --crescimento de 35% em relação a 2000. Entre os que ganham mais de cinco salários mínimos, os espíritas são 20%.

O professor sênior da USP classifica o espiritismo de religião "discreta", avessa à "propaganda". Ateu, Prandi é um estudioso das religiões brasileiras, sobretudo as de origem africana. "Os Mortos e os Vivos", no entanto, marca o retorno a um tema que pesquisou no Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), quando ainda se formava em ciências sociais, na virada dos anos 1970.

Nesta entrevista, concedida em sua casa, no bairro paulistano de Vila Mariana, às vésperas do feriado de Finados, ele comenta temas do livro e a morte recente de Flávio Pierucci, parceiro de pesquisas cujos escritos inéditos Prandi organiza para publicação.

Na segunda parte da conversa, mais pessoal, disponível em folha.com/ilustrissima, o sociólogo rememora sua formação e os debates em torno da criação do Datafolha, que ajudou a desenvolver.

"Meu Deus do céu, sou mais ateu do que pensava", disse Prandi, ao relembrar o infarto que sofreu em 2007, experiência que reforçou seu ateísmo. Ele também recordou seus primeiros contatos com o espiritismo, aos dez anos, quando assistia a sessões espíritas na casa do avô, em Potirendaba (SP), tendo presenciado cenas de "materialização".

"Era uma coisa bonita", contou. "De repente um corpo começava a se formar. Começava a sair um filete de luz do ouvido, do nariz, às vezes da palma da mão."
*
Folha -- Depois de anos se dedicando às religiões afro-brasileiras, por que se voltou agora ao espiritismo?
 
Reginaldo Prandi -- Já fiz um monte de coisa, sobre candomblé, umbanda, catolicismo, literatura infantil sobre mitologia, mas nunca tinha escrito sobre a primeira religião que estudei, o espiritismo. 


Sempre houve referência, mas nada específico. Tive de fazer pesquisa para me atualizar. Mas tenho uma orientanda, Célia Ribas, que trabalha com espiritismo, o que me colocou em contato com a bibliografia mais recente. É uma religião muito pouco estudada.

O livro é uma espécie de reparação de uma dívida que eu tinha para com a minha formação, com o objeto de pesquisa que me abriu as portas da pesquisa em sociologia, no Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), na virada dos anos 1960 para o 70. Mas nunca tinha escrito um livro sobre o tema. Só coisas pequenas, mas não um livro meu, para marcar no currículo. Por isso, topei o convite feito pelo Alcino [Leite Neto, editor da Três Estrelas] e fiz.

Quem ler o seu livro vai ter mais propensão a conhecer de perto o espiritismo ou a se afastar dele?
 
Não é um livro nem de defesa nem de acusação, é um livro objetivo. Essa é a prática de um sociólogo, naturalmente. Se o espírita lê, vai ter uma certa identificação com o livro. Mas quem não for espírita e o ler, também vai ter uma posição de concordar com o livro. Ele não assume nenhuma posição.

No primeiro capítulo, procuro mostrar rapidamente que a questão da religião é algo muito pessoal, dos seguidores, a respeito da alma, da reencarnação. Ser de determinada religião é escolher entre essas diferentes posições.

Fica claro, no primeiro capítulo, que o tratamento dos mortos é diferenciado, tem religião que deixa o morto descansar, tem religião que dá trabalhos para os mortos fazerem. No segundo capítulo, que é uma história preliminar ao surgimento de [Alan] Kardec, mostro o fenômeno das irmãs Fox [célebre caso de mediunidade nos EUA, em 1848]. Depois elas renegam o espiritismo, mas eu mostro que, antes de morrer, vão admitir aquilo.

Arthur Conan Doyle relatou o caso das irmãs Fox. Como foi a atuação do criador de Sherlock Holmes como divulgador do espiritualismo?
 
Todos os trechos citados são dele, é do livro dele. Isso foi feito de propósito. Pego o Conan Doyle porque a gente sabe que ele inventava histórias maravilhosas. Mas pego uma história verdadeira, importante, todo espírita sabe das irmãs Fox. Até hoje, quem não é espírita faz essas brincadeiras de comunicação com os espíritos, por copos, mesas. Com Conan Doyle, quero mostrar que, na verdade, isso era mais uma atividade cultural do que propriamente religiosa.

O espiritismo era uma moda, praticada pelas mais diversas pessoas, católicos, evangélicos, gente que não tinha religião. Aí veio o Kardec, numa terceira etapa. Além de acreditar na comunicação dos espíritos, que é a noção básica do espiritualismo, ele acredita na reencarnação. O espiritismo muda, a reencarnação passa a ser parte necessária da doutrina, coisa que não existe no espiritualismo anterior. Mas mantém a ideia que não é necessariamente uma religião, mas pode ser estudado por meio de práticas objetivas da ciência.

Trata-se de uma fé raciocinada?
 
Sim, porque tem muito do racionalismo da época. Nasceu de uma época em que a questão do dogma, da fé cega, isso tudo estava sendo questionado. Kardec apostou na ideia de que a verdade viria por meio da investigação, de que a ciência moderna --que ele não abandonava, era um pedagogo, um acadêmico-- tinha um problema: havia deixado de lado alguns objetos com os quais não tinha instrumentos para trabalhar.

Um deles estava ligado ao espírito, à reencarnação. Ele dizia ser necessário reconstruir a ciência de tal modo que houvesse uma nova ciência, que incorporasse o espírito dentro dos estudos objetivos, o que inclui toda a parte material e a não material do mundo. Tanto é que ele vai dizer que não existe separação de matéria e espírito.

Muito antes de surgir a ideia contemporânea de Nova Era, "new age", de mundo holístico, já havia essa visão do Kardec de que o mundo material não se separa do espírito. O mundo dos vivos não se separa do mundo dos mortos. São etapas de um mesmo caminho. Na verdade, é apenas um processo de refinamento espiritual, que intermediava: você tem esta vida na terra, que na verdade é apenas um passo de uma longa caminhada.

Só que ele não queria ser visto como religião, dizia que isso tinha de ser visto, investigado, aprofundado. Agora, é claro que ele dizia que a religião tem seus dogmas. O primeiro é que há vários mundos. Isso não está em questão para ele. Há uma transmigração da alma por esses mundos todos. A partir daí ele trata de investigar.

Por que o espiritismo encontrou terreno tão fértil no Brasil?
 
A gente não sabe direito, não é possível saber ao certo, mas temos algumas ideias. Ele vem para o Brasil, civilização que já tem muito contato com o transe. O Brasil tem a religião majoritária, dominante, que é o catolicismo, europeu, branco, mas também tem uma grande contribuição na formação da cultura nacional das religiões africanas, das noções de transe, de incorporação, de reencarnação.

Quando o espiritismo se constitui, no Rio de Janeiro e na Bahia, você já tem ali todas as religiões afro-brasileiras funcionando a todo vapor e toda a tradição indígena, dos pajés, da pajelança, do xamanismo, a ideia de que os espíritos ajudam. De um lado você tem isso. De outro, tem uma intelectualidade que quer se libertar da dominação católica.

Deseja continuar religiosa, mas sem se prender a dogmas?
 
Não diria nem a dogmas, sobretudo à autoridade do padre, do bispo, da paróquia, porque ela não domina só o mundo da religião, mas também o político.

Vem daí a adoção do espiritismo pela classe média?
 
Sem dúvida, até hoje isso é absolutamente correto, os dados mostram isso. Embora o kardecismo tenha se transformado numa religião, ele não perde aquela ideia de que você tem de estudar, tem de pesquisar, ler. Ninguém lê mais que o espírita. Você não se transforma num espírita praticante indo só às sessões, você tem de ler, tem de ter toda uma formação letrada, que é praticamente parte do perfil do bom espírita, do praticante. 

Você tem de ser primeiro alfabetizado, ter acesso a esse bem que, no Brasil, é um bem de pouco acesso, que é o livro. Você tem de ter gosto pela leitura. São coisas de classe média. Pode ter também aquele que é só cliente, e não praticante, vai lá para curar algo.

A morte de Flávio Pierucci, neste ano, provocou em você algum sentimento religioso?
 
O Flávio sempre foi um parceiro importante, fizemos muitas coisas juntos, política universitária. Vou pegar o que ele escreveu, o que estava inédito, e começar a organizar para publicar.

Fiquei trabalhando o dia inteiro com o Ricardo Mariano, especialista em evangélicos que era o principal discípulo do Flávio em termos de teoria. Já estávamos pensando em organizar, pegar uma parte do material do Flávio e fazer um livro sobre um assunto a respeito do qual não havia nenhum livro publicado, mas artigos em revistas. Vamos organizar isso.

Quando meu grande professor, o Cândido Procópio, morreu, a preocupação também foi pegar a parte inédita do trabalho dele, organizar e publicar. Ou seja, um pouca dessa ideia de que a posteridade se firma na obra em vida. Jamais pensei no Flávio em termos de espírito, nem pensei no Procópio em termos de espírito, nem em outros colegas meus que faleceram.

Você enxerga a posteridade dele na obra que ele fez em vida?
 
Sim, tanto que na primeira semana da morte dele nós já conseguimos publicar um pequeno trecho dele na "Ilustríssima". Estou preparando um texto sobre ele.