sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Saúde. Nem o Zika vírus e nem vacinas, componente químico Pyriproxyfen é apontado como causa da microcefalia.

Nem o Zika vírus e nem vacinas, para a Organização dos Médicos Argentinos o grande surto de microcefalia que se abateu sobre o Brasil é causado por um químico larvicida chamado Pyriproxyfen colocado na água ou pulverizado nas cidades afetadas pelo surto de microcefalia.
Reportagem Especial
O relatório da entidade é enfático ao dizer que não é coincidência os casos de microcefalia surgirem na áreas onde o governo brasileiro fez a aplicação do Pyriproxyfen diretamente no sistema de abastecimento de água da população, mais especificamente em Pernambuco. 
“O Pyroproxyfen é aplicado diretamente pelo Ministério da Saúde nos reservatório de água potável utilizados pelo povo de Pernambuco, onde a proliferação do mosquito Aedes é muito elevado ( uma situação semelhante à das ilhas do Pacífico ). (…) Malformações detectadas em milhares de crianças de mulheres grávidas que vivem em áreas onde o Estado brasileiro acrescentou Pyriproxyfen à água potável não é uma coincidência, apesar do Ministério da Saúde colocar a culpa direta sobre o Zika vírus para os danos causados (microcefalia).”, revela o relatório na página 3.
O relatório também observou que o Zika tem sido tradicionalmente considerado uma doença relativamente benigna, que nunca foi associada com defeitos congênitos, mesmo em áreas onde infectou 75% da população.

Posição da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco)
O  relatório argentino, que também aborda a epidemia de dengue no Brasil, concorda com as conclusões de um relatório separado sobre o surto Zika feito por médicos brasileiros e pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco.
A Abrasco também aponta o Pyriproxyfen como causa provável da microcefalia. A associação condena a estratégia de controle químico para frear o crescimento dos mosquitos portadores do Zika vírus. A Abrasco alega que tal medida está contaminando o meio ambiente, bem como pessoas e não está diminuindo o número de mosquitos. Para a Abrasco esta estratégia é, de fato, impulsionada por interesses comerciais da indústria química, a qual diz que está profundamente integrada com os ministérios latino-americanos de saúde, bem como a Organização Mundial de Saúde e da Organização Pan-Americana da Saúde.
Abrasco nomeou a empresa britânica Oxitec que produz insetos geneticamente modificados como parte do lobby empresarial que está a distorcer os fatos sobre o Zika vírus para atender a sua própria agenda com fins lucrativos.
A Oxitec vende mosquitos transgênicos modificados para esterilidade e os comercializa como um produto de combate à doença – uma estratégia condenada pelos médicos argentinos, tida como “um fracasso total, exceto para a empresa fornecedora de mosquitos”.
Vale lembrar também que o Zika vírus é propriedade da família/Fundação Rockefeller, conforme relatado pelo Panorama Livre no dia 31 de janeiro. Além, claro, da ONU já ter declarado que países com casos de microcefalia deveriam liberar o aborto – deixando claro a todos o enorme número de entidades envolvidas no lobby do controle/diminuição populacional.
Quem fabrica o Pyriproxyfen?
Os médicos acrescentaram que o Pyriproxyfen é fabricado pela Sumitomo Chemical, empresa japonesa é um “parceiro estratégico” da Monsanto. 
O Pyriproxyfen é um inibidor do crescimento de larvas de mosquitos, que altera o processo de desenvolvimento da larva, a pupa (estágio intermediário entre a larva e o adulto, no desenvolvimento de certos insetos), para adulto, gerando, assim, malformações no desenvolvimento dos mosquitos e matando ou desativando seu desenvolvimento. 
O composto químico atua como um hormônio juvenil de inseto e tem o efeito de inibir o desenvolvimento de características de insetos adultos (por exemplo – as asas e genitais externos maduros) e o desenvolvimento reprodutivo. É um disruptivo endócrino e é teratogênico (causa defeitos de nascimento), de acordo com os médicos.
Em dezembro de 2014 a Sumitomo Chemical anunciou que, juntamente com a Monsanto, expandiria seus trabalhos de controle de pragas para a América Latina, mais especificamente para Brasil e Argentina.
Referências:
March Against Monsanto
Relatório da Organização dos Médicos Argentinos
Abrasco
Sumitomo Chemical
Leia mais: 
1 - Médicos brasileiros e argentinos suspeitam que o piriproxileno, inseticida de mosquito, seja a causa da microcefalia. http://maranauta.blogspot.com.br/2016/02/medicos-brasileiros-e-argentinos.html
2 - Governo Gaucho suspende uso de larvicida Pyriproxyfen no combate ao mosquito Aedes. http://maranauta.blogspot.com.br/2016/02/governo-do-rio-grande-do-sul-suspende.html
3 - Dr. Francis Boyle o Vírus Zika é guerra biologica?  http://maranauta. blogspot.com.br/2016/02/dr-francis-boyle-o-virus-zika-e-guerra.html

Brasil - "Queda de Homicídios em São Paulo é obra do PCC, não da Polícia".

  prof. Graham Willis da Univ. de Cambridge
 - Inglaterra. 
SP 247 - O pesquisador canadense Graham Willis criticou o anúncio do governador Geraldo Alckmin (PSDB), comemorando a queda no número de homicídio no estado para 8,73 por 100 mil habitantes - abaixo de 10 por 100 mil pela primeira vez desde 2001.
Para um pesquisador que acompanhou a rotina de investigadores de homicídios em São Paulo, o responsável pela queda é o PCC (Primeiro Comando da Capital), a facção que atua dentro e fora dos presídios do Estado.  "A regulação do PCC é o principal fator sobre a vida e a morte em São Paulo. O PCC é produto, produtor e regulador da violência", diz o canadense Graham Willis em reportagem da BBC Brasil.
Willis é professor da Universidade de Cambridge (Inglaterra) e lança nova luz sobre a chamada "hipótese PCC", num trabalho de imersão que acompanhou a rotina de policiais do DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa) de São Paulo entre 2009 e 2012.
O trabalho questiona teorias que, segundo Willis, procuram apoio em "quase tudo" para explicar o notório declínio da violência homicida em São Paulo: mudanças demográficas, desarmamento, redução do desemprego, reforço do policiamento em áreas críticas.
Em geral, a argumentação de Willis é a seguinte: a queda de 73% nos homicídios no Estado desde 2001, marco inicial da atual série histórica, é muito brusca para ser explicada por fatores de longo prazo como avanços socioeconômicos e mudanças na polícia.
Leia reportagem da BBC Brasil na íntegra. 


Maranhão. Governo demite 40% dos terceirizados da Aged (cerca de 145 trabalhadores) e ameaça setor agropecuário.

Fiscais da Aged em ação: redução de pessoal pode comprometer saúde animal no Maranhão


O Governo do Estado anunciou nesta quinta-feira (11) um corte de 40% nos cargos terceirizados na Agência de Defesa Agropecuária (Aged-MA), o que pode resultar no desligamento de cerca de 145 trabalhadores, a maioria empregada no Instituto do Agronegócio do Maranhão (Inagro). A medida, justificada pela necessidade de contenção de gastos, preocupa, pois, como adverte o presidente do Sindicato dos Servidores da Fiscalização Agropecuária do Estado do Maranhão (Sinfa), Francisco Saraiva, pode implicar no fechamento de postos do órgão no interior do estado.

Francisco Saraiva diz que, em tese, é a favor do fim dos terceirizados, desde que o Governo do Estado cumpra o acordo de realizar concurso público para preenchimento de 170 vagas no órgão, o que foi prometido na campanha de 2014, ratificado em 2015, porém nunca cumprido. Ele acredita que nas próximas horas, motivado mais ainda pelos cortes anunciados agora, o Ministério Público do Trabalho, que já foi acionado pelo Sinfa, recomende a imediata realização do concurso, até porque o desfalque de pessoal pode colocar em ameaça o setor agropecuário maranhense.

Fiscais da Aged em ação: redução de pessoal pode comprometer saúde animal no Maranhão.


Pelas redes sociais, um dos servidores desligados desabafou: “Este é o presente de grego que o Governo dá à nossa Aged pelo empenho, dedicação, compromisso e principalmente amor pela Aged”. Segundo ele, os terceirizados são responsáveis pelo avanço no combate à aftosa nos primeiros anos de funcionamento da Aged, criada pelo ex-governador José Reinaldo Tavares.

De acordo com Francisco Saraiva, a exclusão dos terceirizados sem contratação de concurso pode resultar no fechamento de postos, alguns deles operando com apenas uma pessoa. Isto significar dizer que haverá desfalque na fiscalização do transporte animal, fragilização dos postos de fronteira e uma série de outras ameaças ao status de zona livre de aftosa com vacinação conquistado pelo Maranhão em 2014. Mas não só a pecuária será prejudicada, pois haverá desfalque também nos segmentos agrícola, fruticultura, piscicultura e tudo o mais que está ligado ao setor primário.

Dados obtidos junto ao Sinfa mostram que 371 terceirizados são do Inagro, 44 cedidos por prefeituras e dez são de empresas de vigilância, sendo que quase metade desse pessoal será desligada. 

O "Maranhão Hoje" apurou que há cerca de duas semanas o diretor-geral da Aged, Sebastião Anchieta, quando foi debater a situação com o chefe da Casa Civil, Marcelo Tavares, ouviu como resposta uma visão equivocada sobre fiscalização agropecuária: “A Aged pode funcionar tranquilamente numa sala da Secretaria da Agricultura”, teria dito o secretário. 


Em 2014, há poucos dias da realização da eleição para governador, os fiscais agropecuários fizeram uma paralisação que, agora admitem, ajudou a fortalecer a campanha de Flávio Dino (PCdoB), que tinha assumido o compromisso de valorizar a categoria, o que até agora não ocorreuO site tentou contato com o diretor da Aged e o presidente do Inagro, José Ataíde, mas ainda não recebeu retorno.


Matéria copiada da página Maranhãohoje.com.br. 

Link Original desta matéria: http://www.maranhaohoje.com.br/maranhao/item/3617-governo-demite-40-dos-servidores-da-aged-e-poe-em-risco-fiscalizacao-agropecuaria-no-maranhao

Noam Chomsky repassa as principais tendências do cenário internacional, a escalada militarista do seu país e os riscos crescentes de guerra nuclear.

Ministerio de Cultura de la Nación Argentina / Flickr

Texto de Agustín Fernández Gabard e Raúl Zibechi – La Jornada.

“Os Estados Unidos sempre foram uma sociedade colonizadora. Inclusive antes de se constituírem como Estado já trabalhavam para eliminar a população indígena, o que significou a destruição de muitas nações originárias”, como bem lembra o linguista e ativista estadunidense Noam Chomsky, quando se pede que descreva a situação política mundial. Crítico feroz da política externa de seu país, ele recorda 1898, quando ela apontou seus dardos ao cenário internacional, com o controle de Cuba, “transformada essencialmente numa colônia”, e logo nas Filipinas, “onde assassinaram centenas de milhares de pessoas”.

Chomsky continua seu relato fazendo uma pequena contra-história do império: “roubou o Havaí da sua população originária 50 anos antes de incorporá-lo como um dos seus estados”. Imediatamente depois da II Guerra Mundial, os Estados Unidos se tornaram uma potência internacional, “com um poder sem precedente na história, um incomparável sistema de segurança, controlando o hemisfério ocidental e os dois grandes oceanos. E, naturalmente traçou planos para tentar organizar o mundo conforme a sua vontade”.

Contudo, ele aceita que o poder da superpotência diminuiu com respeito ao que tinha em 1950, o auge da sua hegemonia, quando acumulava 50% do produto interno bruto mundial, muito mais que os 25% que possui agora. Ainda assim, Chomsky lembra que “os Estados Unidos continua sendo o país mais rico e poderoso do mundo, e incomparável a nível militar”.

Um sistema de partido único
Em algum momento, Chomsky comparou as votações em seu país com a eleição de uma marca de pasta de dentes num supermercado. “Nosso país tem um só partido político, o partido da empresa e dos negócios, com duas facções, democratas e republicanos”, proclama. Mas ele acredita que já não é possível continuar falando dessas duas velhas coletividades políticas, já que suas tradições sofreram uma mutação completa durante o período neoliberal.

Chomsky considera que “os chamados democratas não são mais que republicanos modernos, enquanto a antiga organização republicana ficou fora do espectro, já que ambas as vertentes se moveram muito mais à direita durante o período neoliberal – algo que também aconteceu na Europa”. O resultado disso é que os novos democratas de Hillary Clinton adotaram o programa dos velhos republicanos, enquanto estes foram completamente dominados pelos neoconservadores. “Se você olha os espetáculos televisivos onde dizem debater política, verá como somente gritam entre eles e as poucas políticas que apresentam são aterrorizantes”.

Por exemplo, ele destaca que todos os candidatos republicanos negam que o aquecimento global ou são céticos – não o negam mas dizem que os governos não precisam fazer algo a respeito. “Entretanto, o aquecimento global é o pior problema que a espécie humana terá pela frente, e estamos nos dirigindo a um completo desastre”. Em sua opinião, as mudanças no clima têm efeitos comparáveis somente com os da guerra nuclear. Pior ainda, “os republicanos querem aumentar o uso de combustíveis fósseis. Esse não é um problema de centenas de anos, mas sim um criado pelas últimas duas gerações”.

A negação da realidade, que caracteriza os neoconservadores, responde a uma lógica similar à que impulsiona a construção de um muro na fronteira com o México. “Essas pessoas que tratamos de distanciar são as que fogem da destruição causada pelas políticas estadunidenses”.

“Em Boston, onde vivo, o governo de Obama deportou um guatemalteco que viveu aqui durante 25 anos, ele tinha uma família, uma empresa, era parte da comunidade. Havia escapado da Guatemala destruída durante a administração de Reagan. A resposta a isso é a ideia de construir um muro para nos prevenir. Na Europa acontece o mesmo. Quando vemos que milhões de pessoas fogem da Líbia e da Síria para a Europa, temos que nos perguntar o que aconteceu nos últimos 300 anos para chegar a isto”.

Invasões e mudanças climáticas se retroalimentam
Há apenas 15 anos, não existia o tipo de conflito que observamos hoje no Oriente Médio. “É consequência da invasão estadunidense ao Iraque, que é o pior crime do século. A invasão britânica-estadunidense teve consequências horríveis, destruíram o Iraque, que agora está classificado como o país mais infeliz do mundo, porque a invasão cobrou a vida de centenas de milhares de pessoas e gerou milhões de refugiados, que não foram acolhidos pelos Estados Unidos, e tiveram que ser recebidos pelos países vizinhos pobres, obrigados a recolher as ruínas do que nós destruímos. E o pior de tudo é que instigaram um conflito entre sunitas e xiitas que não existia antes”.


As palavras de Chomsky recordam a destruição da Iugoslávia durante os Anos 90, instigada pelo ocidente. Assim como Sarajevo, ele destaca que Bagdá era uma cidade integrada, onde os diversos grupos culturais compartilhavam os mesmos bairros e se casavam membros de diferentes grupos étnicos e religiosos. “A invasão e as atrocidades que vimos em seguida fomentaram a criação de uma monstruosidade chamada Estado Islâmico, que nasce com financiamento saudita, um dos nossos principais aliados no mundo”.

Um dos maiores crimes foi, em sua opinião, a destruição de grande parte do sistema agrícola sírio, que assegurava a alimentação do país, o que conduziu milhares de pessoas às cidades, “criando tensões e conflitos que explodiram após as primeiras faíscas da repressão”.

Uma das suas hipóteses mais interessantes consiste em comparar os efeitos das intervenções armadas do Pentágono com as consequências do aquecimento global.

Na guerra em Darfur (Sudão), por exemplo, convergiram os interesses das potências ocidentais e a desertificação que expulsa toda a população às zonas agrícolas, o que agrava e agudiza os conflitos. “Essas situações desembocam em crises espantosas, e algo parecido acontece na Síria, onde se registra a maior seca da história do país, que destruiu grande parte do sistema agrícola, gerando deslocamentos, exacerbando tensões e conflitos”, reflete.

Chomsky acredita que a humanidade ainda não pensa com mais atenção sobre o que significa essa negação do aquecimento global e os planos a longo prazo dos republicanos, que pretendem acelerá-lo: “se o nível do mar continuar subindo e se elevar muito mais rápido, poderá engolir países como Bangladesh, afetando a centenas de milhões de pessoas. Os glaciares do Himalaia se derretem rapidamente, pondo em risco o fornecimento de água para o sul da Ásia. O que vai acontecer com essas bilhões de pessoas? As consequências iminentes são horrendas, este é o momento mais importante da história da humanidade”.

Chomsky crê que estamos diante um ponto crucial da história, no qual os seres humanos devem decidir se querem viver ou morrer: “digo isso literalmente, não vamos morrer todos, mas sim se destruiriam as possibilidades de vida digna, e temos uma organização chamada Partido Republicano que quer acelerar o aquecimento global. E não exagero, isso é exatamente o que eles querem fazer”.

Logo, ele cita o Relógio do Apocalipse, para recordar que os especialistas sustentam que na Conferência de Paris sobre o aquecimento global foi impossível conseguir um tratado vinculante, somente acordos voluntários. “Por que? Simples: os republicanos não aceitariam. Eles bloquearam a possibilidade de um tratado vinculante que poderia ter feito algo para impedir essa tragédia massiva e iminente, uma tragédia como nenhuma outra na história da humanidade. É disso que estamos falando, não são coisas de importância menor”.

Guerra nuclear, possibilidade certa

Chomsky não é de se deixar impressionar por modas acadêmicas ou intelectuais. Seu raciocínio radical e sereno busca evitar o furor, e talvez por isso não joga palavras ao vento sobre a anunciada decadência do império. “Os Estados Unidos possuem 800 bases ao redor do mundo e investe em seu exército tanto quanto todo o resto do mundo junto. Ninguém tem algo assim, soldados lutando em todas as partes do mundo. A China tem uma política principalmente defensiva, não possui um grande programa nuclear, embora seja possível que cresça”.


O caso da Rússia é diferente. É a principal pedra no sapato da dominação do Pentágono, porque “tem um sistema militar enorme”. O problema é que tanto a Rússia quanto os Estados Unidos estão ampliando seus sistemas militares, “ambos estão atuando como se a guerra fosse possível, o que é uma loucura coletiva”. Chomsky acredita que a guerra nuclear é irracional e que só poderia suceder em caso de acidente ou erro humano. Contudo, ele concorda com William Perry, ex-secretário de Defesa dos Estados Unidos, que disse recentemente que a ameaça de uma guerra nuclear hoje é maior que durante a Guerra Fria. O intelectual estima que o risco se concentra na proliferação de incidentes que envolvem as forças armadas de potências nucleares.

“A guerra esteve a ponto de ser deflagrada inumeráveis vezes”, admite ele. Um de seus exemplos favoritos é o sucedido sob o governo de Ronald Reagan, quando o Pentágono decidiu provar as defesas russas através de uma simulação de ataques contra a União Soviética.

“Acontece que os russos levaram a sério. Em 1983 depois que os soviéticos automatizaram seus sistemas de defesa, foi possível detectar um ataque de mísseis estadunidense. Nesses casos, o protocolo é ir direto ao alto mando e lançar um contra-ataque. Havia uma pessoa que tinha que transmitir essa informação, Stanislav Petrov, mas decidiu que era um alarme falso. Graças a isso, podemos estar aqui falando”.

Chomsky defende que os sistemas de defesa dos Estados Unidos possuem sérias falhas, e há poucas semanas se conheceu um caso de 1979, quando se detectou um ataque massivo com mísseis que vinham da Rússia. Quando o conselheiro de Segurança Nacional, Zbigniew Brzezinski, estava levantando o telefone para chamar o presidente James Carter e lançar um ataque de represália, chegou a informação de que se tratava de um alarme falso. “Há cada ano são registradas dúzias de alarmes falsos”, assegura ele.

Neste momento, as provocações dos Estados Unidos são constantes. “A OTAN está realizando manobras militares a 200 metros da fronteira russa com a Estônia. Nós não toleraríamos algo assim se acontecesse no México”.

O caso mais recente foi a derrubada de um caça russo que estava bombardeando forças jihadistas na Síria, no final de novembro. “Há uma parte da Turquia quase rodeada pelo território sírio e o bombardeiro russo voou através dessa zona durante 17 segundos, até ser derrubado. Uma grande provocação que, por sorte, não foi respondida pela força”. Chomsky argumenta que fatos similares estão sucedendo quase diariamente no mar da China.

A impressão que ele tem, e que expressa em seus gestos e reflexões, é que se as potências agredidas pelos Estados Unidos atuassem com a mesma irresponsabilidade que Washington, o destino do planeta estaria perdido.

Visão sobre a Colômbia
O linguista estadunidense Noam Chomsky conhece de perto a realidade colombiana. Fiel ao seu estilo e suas ideias, ele visitou o país e sua diversidade, conheceu a Colômbia que existe longe dos focos acadêmicos e midiáticos, adentrou no Vale do Cauca, onde grupos indígenas constroem sua autonomia, com base em seus saberes ancestrais, atualizados em meio ao conflito armado.


“Parece haver sinais positivos nas negociações de paz”, reflete Chomsky. “A Colômbia tem uma terrível história de violência desde o século passado, a violência nos Anos 50 era monstruosa”, lembrou ele, reconhecendo que a pior parte foi obra de operações paramilitares. Mais recentes são as fumigações realizadas pelos Estados Unidos, verdadeiras operações de guerra química, que deslocaram populações enormes de camponeses, para beneficio das multinacionais.

Como consequência, a Colômbia se tornou o segundo país do mundo em número de migrantes dentro do próprio território, depois do Afeganistão. “Deveria ser um país rico, próspero, mas está se quebrando em pedaços”, agrega. Por isso, se as negociações tiverem sucesso, eliminarão alguns dos problemas, mas não todos. “A Colômbia, mesmo sem o problema da guerrilha, continuará sendo um dos piores países para os defensores dos direitos humanos, para líderes sindicais e outros”.

Um dos perigos que ele observa, no caso de que se assine o acordo definitivo de paz, seria a integração dos paramilitares ao governo, uma realidade latente no país. Ainda assim, ele sustenta que a redução do conflito com as FARC seria um grande passo para frente, por isso acredita que deve se fazer todo o possível para contribuir com o processo de paz.

Tradução: Victor Farinelli

Publicado por  Carta Maior.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Lula: matar o mito para encerrar o ciclo.

Foto - Brasil 247.
Artigo da Jornalista Tereza Cruvinel.
Quando Juscelino Kubitscheck morreu, em 1976, viu-se que deixou uma fazendinha em Luziânia e um apartamento no Rio de Janeiro. 
E, no entanto, nos anos que se seguiram ao golpe de 1964, a ditadura forjou a lenda de que fora cassado porque era corrupto e roubara muito durante a construção de Brasília. JK foi cassado porque era o mito eleitoral e político daquele tempo, o candidato mais forte às eleições presidenciais que estavam marcadas para 1965.
O triunfo da nova ordem política erigida pelos militares exigia a destruição do mito JK, o presidente que mudara a face do Brasil acelerando a industrialização e interiorizando a capital.
Mataram o mito. Depois, o pleito de 1965 foi desmarcado e os brasileiros só votaram novamente para presidente em 1989. Para visitar a cidade que criara, ele vinha a jantares clandestinos organizados pela amiga Vera Brant.
Na segunda morte de JK, a morte física em 1976, estudantes, candangos e centenas de brasilienses acompanharam o féretro da Catedral até o cemitério Campo da Esperança cantando o "peixe vivo" e gritando "abaixo a ditadura". Foi a primeira grande manifestação política de que participei.
Antes de JK, a caçada a outro mito também relacionado a mudanças sociais e econômicas de viés popular, havia terminado com o suicídio de Getúlio Vargas, que com o tiro no peito adiou em dez anos o golpe de 1964.
Há uma clara semelhança entre o assassinato político de JK pela ditadura e a caçada Lula para abrir caminho a uma troca de guarda no poder.
Para colocar um fim à ordem política instaurada pelo PT com a chegada de Lula à presidência em 2002 é preciso acabar não apenas com a ideia de que os governos petistas promoveram os mais pobres à cidadania, reduziram a desigualdade, resgataram milhões da miséria e mitigaram, com políticas afirmativas a nossa dívida histórica para com os negros e afrodescendentes.
É preciso apagar a ideia de que a Era Lula produziu um invejável ciclo de crescimento e instaurou, com Celso Amorim, uma política externa altiva que garantiu ao Brasil uma projeção internacional sem precedentes.
Não basta também apenas a desqualificação eleitoral do próprio PT, por erros cometidos e por erros que são do sistema político. É preciso destruir o mito projetado por estas mudanças, o mito Lula.
Em janeiro, afastada das lides diárias do jornalismo, acompanhei de longe a abertura da temporada de caça a Lula. O que se prenunciava desde o início do ano ficou claro em 27 de janeiro com a Operação Triplo X, que a pretexto de investigar lavagem de dinheiro pela OAS através da venda de apartamentos no Edifício Solaris, mirou Lula e o tríplex que ele cogitou comprar mas nunca adquiriu.
De lá para cá os caçadores se espalharam e se armaram, obtendo agora do juiz Sergio Moro a autorização para abrir um inquérito específico destinado a investigar se as empreiteiras beneficiaram Lula ilegalmente através de obras num sítio de amigos de sua família.
Se Lula não tem um tríplex, o crime estará em ter pensando em possuí-lo? Há muitos meses eu o ouvi contar a amigos o que dissera a sua mulher Marisa para que desistissem do apartamento e resgatassem o valor da cota já pago. "Marisa, eles nunca vão nos aceitar como vizinhos num prédio como aquele. Não vão querer andar de elevador com a gente. Vamos desistir disso antes que comecem os aborrecimentos".
Era tarde, vieram mais que aborrecimentos. Vieram acusações difusas, sem forma clara, sem fundamentos sólidos, mas corrosivas para o mito. O "tríplex do Lula" passou a existir no imaginário popular, embora não exista na escritura.
Agora, com o novo inquérito, querem provar que o sítio de Atibaia não é de seus donos, mas de Lula. E que empreiteiras investigadas pela Lava Jato investiram nele numa forma indireta de pagar propina ao ex-presidente. É isso que querem provar, embora não digam. Mas no imaginário popular a narrativa já colou. Outra ferida no mito.
Feri-lo porém não basta. A destruição de um mito exige mais, exige sua completa humilhação, exige a retirada de toda e qualquer aura de veneração e respeito. Para isso será preciso processar, condenar, trucidar.
Será preciso prender Lula. É a este ponto que desejam chegar os caçadores de Lula, para que nada reste da admiração pelo presidente que saiu da miséria extrema do Nordeste, tornou-se operário, liderou greves, fundou um partido, aceitou as derrotas e um dia venceu a eleição presidencial, tornando-se o presidente brasileiro mais popular internamente e o mais conhecido e respeitado lá fora. "O cara", como disse Obama, precisa ser reduzido a pó.
Lula talvez tenha subestimado a sanha dos caçadores e se atrasado na defesa. Certamente cometeu alguns erros na estratégia de defesa. Do PT combalido, pouco pode esperar. Mas certamente algo ainda espera dos que ainda acreditam nele.
Se planeja em algum momento denunciar à sua base política e social a natureza política da caçada que enfrenta, o momento chegou. A hora é de crise para todos e isso não favorece reações populares.
Mas ainda que seja como prestação de contas aos que o levaram à glória e assistem à sua destruição sem ouvir um chamado, Lula precisa fazê-lo.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Mensalão Mineiro: Justiça nega recurso de Azeredo contra condenação a 20 anos de prisão.

André Richter - Repórter da Agência Brasil.
A Justiça de Minas Gerais negou recurso apresentado pela defesa do ex-senador Eduardo Azeredo, do PSDB de Minas Gerais, contra condenação a 20 anos e dez meses de prisão pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro. 
A decisão foi proferida no dia 2 de fevereiro pela juíza Melissa Pinheiro Costa Lage, na ação penal que ficou conhecida como mensalão mineiro.

No recurso, a defesa do ex-parlamentar alegou que houve omissões na sentença anunciada em dezembro do ano passado. A suposta omissão é em relação às declarações de testemunhas que inocentavam Azeredo.

Ao analisar os argumentos dos advogados, a juíza entendeu que o magistrado não é obrigado a mencionar todas as provas produzidas, mas somente as necessárias a seu convencimento. Além disso, a ela entendeu que não há obscuridade ou contradição na sentença.

Azeredo foi condenado por crimes cometidos na campanha eleitoral por sua reeleição ao governo de Minas Gerais, em 1998. Ele respondeu pelos crimes de peculato, ou seja, desvio de bens por servidor praticado contra a administração pública, e de lavagem de dinheiro. Ele pode recorrer da sentença em liberdade.

Edição: Beto Coura

A gestão cultural sob ataque: crise e direitos culturais no Brasil.

Foto - Vinicius Wu.
A gestão cultural precisa ser defendida por aqueles que acreditam na viabilidade de um projeto democrático e includente para o país.
Não é razoável retrocedermos naquilo que ainda somos devedores. Os direitos culturais mal começaram a se afirmar no Brasil.

Por Vinicius Wu.

Em 2015, vários municípios e estados brasileiros extinguiram ou fundiram suas secretarias de Cultura. Muitas unidades gestoras de cultura foram preservadas, mas mantidas em condições precárias. Cortes orçamentários foram realizados em todos os níveis de governo, ameaçando a manutenção de equipamentos e políticas culturais em diversas unidades da federação.

Já no ano de 2016, o Tribunal de Contas de Sergipe mandou suspender o Carnaval em 53 municípios; vários prefeitos, em todo o país, suspenderam seus festejos carnavalescos com base no argumento populista de que vão “priorizar a Saúde” – redirecionando recursos que são irrisórios para a Saúde, mas que comprometem negócios, turismo e a economia local em várias cidades brasileiras.

O Tribunal de Contas da União acaba de tomar decisão que interfere na gestão da Lei Rouanet e uma liminar da 4ª Vara Federal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal suspendeu o recolhimento da taxa Condecine (Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional), retirando R$ 700 milhões ao ano do setor, o que pode desestruturar, completamente, as políticas para o audiovisual.

Não é preciso muito esforço para concluirmos que a gestão cultural no Brasil está sob ataque. A crise bateu forte na área cultural e ela é uma das mais afetadas por uma política fiscal que inibe a capacidade do Estado em desenvolver políticas públicas.

A crise econômica, associada a um entendimento precário a respeito da relevância da afirmação dos direitos culturais por parte de governantes e setores da sociedade, está levando a gestão cultural a uma situação alarmante. A ideia de cultura como algo supérfluo – que deve ser imediatamente cortado em períodos de crise – pode nos levar a um significativo retrocesso em relação ao que foi conquistado na última década.

O Brasil avançou nos últimos anos, mas ainda estamos distantes de uma gestão profissional das políticas culturais, que permita o desenvolvimento de estratégias públicas mais efetivas, abrangentes e eficazes. E a forma como os diferentes governos estão reagindo à crise pode comprometer a continuidade do processo de aperfeiçoamento das políticas culturais no país.

E isso ocorre num momento no qual as políticas culturais deveriam receber atenção ainda maior por parte dos agentes públicos interessados em aprofundar as mudanças na sociedade brasileira iniciadas na última década.

Afinal, se quisermos disputar um projeto transformador para o Brasil nos próximos anos teremos de nos ocupar de preencher as lacunas deixadas pelos governos de esquerda na última década. E uma das mais importantes diz respeito à necessidade de compreensão do papel estratégico das políticas culturais na afirmação de uma perspectiva democrática, humanista e republicana para o Estado brasileiro e mesmo para a conformação de uma nova cultura política no país.

Uma agenda transformadora não é sustentável, no longo prazo, sem que sejam mobilizados elementos simbólicos indispensáveis à conformação de uma hegemonia social e política baseada nos valores da democracia, da solidariedade e da justiça social.

É preciso reconhecer que a mera satisfação das necessidades materiais não é suficiente para que se gere apelo simbólico necessário à consolidação de uma cultura democrática, republicana e de respeito à diversidade étnica, cultural e religiosa em uma sociedade tão complexa quanto a brasileira. Os partidos de esquerda no Brasil, em geral, têm sido negligentes em relação à disputa do imaginário nacional e pagam um alto preço em função dessa desatenção.

A gestão cultural precisa ser defendida por aqueles que acreditam na viabilidade de um projeto democrático e includente para o país. Não é razoável retrocedermos naquilo que ainda somos devedores. Os direitos culturais mal começaram a se afirmar no Brasil.

É hora de defendermos a gestão cultural e advogar em favor de sua centralidade na construção de uma agenda pós-crise, que nos permita superar a paralisia, a intolerância e os diferentes bloqueios ao aprofundamento de um projeto de desenvolvimento pleno, substancial e verdadeiramente democrático para o país.

Foto de capa: Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil