27/1/2017, Robert Bridge, RT.
Por mais que o mercado de ações esteja bombando nos EUA, e a
taxa de desemprego seja baixa, permanecem sentimentos subjacentes de muito
medo, com alguns analistas que dizem que os EUA ainda não pagaram a conta pelos
próprios ganhos.* E se a conta da desastrosa política do Fed recair sobre
Donald Trump, na hora de ser paga?
No vale de lágrimas que foi a campanha de 2016, muitos
observadores engalfinhavam-se aos socos e pontapés sempre que surgia a
pergunta: Donald Trump é produto autêntico, ou não passa – como o charlatão que
o precedeu – de mais um orador de língua afiada, com o dom para de idiotizar
eleitores?
Apenas uma semana na presidência, e os resultados aí estão:
o titã de Manhattan é autêntico ouro anti-establishment 100% puro; é o cara. Já
assinou uma ordem executiva desmontando gorda fatia do legado de último minuto
de Obama, já tirou os EUA do tal acordo da Parceria TPP e já encomenda tijolos
para seu Muro Mexicano.
A elite de Washington, há tanto tempo confortável na sua
fortaleza comprada por lobbyistas de todos os tipos, mal consegue respirar,
enquanto Trump prossegue o serviço de drenar o proverbial pântano. Contudo, o
empreendedor imobiliário provavelmente compreende melhor que ninguém que,
quando se drena pântano grande e fétido, fatalmente se despertam alguns
monstros.
E aqui estamos falando de monstros grandes como o do Lago
Ness. E por mais que a caneta de Trump tenha poder para dar conta de alguns
dragões, outras criaturas exigirão um pouco mais de trabalho. E não há criatura
que meta mais medo em Washington, DC, que o Federal Reserve, que tem poderes
suficientes para fazer e desfazer presidentes.
Batalha de Titãs: Trump vs. Yellen.
Mais ou menos como a Suprema Corte dos EUA, o Fed é
construído para ser instituição apolítica que opera longe e acima do oceano de
intrigas e influências de Washington. Contudo, tentar extrair as influências
políticas de qualquer agência ou instituição que opere em Washington é como
tentar que um fã do New York Yankee ignore estatísticas de baseball.
Trump já fez um movimento na direção do Fed, no calor da
campanha, quando acusou a diretora Janet Yellen, 70, de segurar as taxas de
juros por pressão política do governo Obama.
"Ora... [a taxa de juros] sempre no zero, porque ela
faz obviamente direção política, e está fazendo o que Obama quer que ela
faça" – Trump disse à CNBC em setembro, acrescentando que Yellen deveria
"ter vergonha" do que está fazendo à economia dos EUA.
De fato, 'anunciadores do apocalipse' dizem que a
recuperação da economia dos EUA não passa de grande mentira cevada pelo Federal
Reserve, que imprime dinheiro como se fosse papel higiênico, mantendo à tona
instituições "grandes demais para quebrar" e que há muito tempo
deveriam ter tido o fim dos dinossauros. O Banco Central só aumentou a taxa de
juros uma vez, desde que capou tudo e virou zero logo depois da crise
financeira de 2008.
Pois agora parece que Janet Yellen está conjurando o feitiço
que pode fazer naufragar o poderoso Trump: juros mais altos.
Mas Trump é comerciante esperto e compreende claramente a
ameaça, que paira sobre seu governo, como a espada de Dâmocles: "Qualquer
aumento por menor que seja será muito muito grande, porque eles querem manter o
mercado lá em cima, de modo que Obama caia fora e o sujeito que vier depois...
ele que suba a taxa de juros e veja o que acontece no mercado de ações" –
disse Trump.
Em outras palavras, qualquer furo na bolha inflada por todo
esse dinheiro que gira solto dentro da economia dos EUA será declarado culpa de
Donald Trump – que a elite de Washington vê como ameaça letal aos seus (da
elite de Washington) planos de globalização.
O ex-conselheiro econômico David Stockman concorda
plenamente com o Republicano, e até já o aconselhou a demitir Yellen antes que
as políticas dela façam naufragar a promessa dele de "Make America Great
Again" [Fazer a América grande novamente].
"Exija que ela se demita dia 20 de janeiro, porque, a
menos que essa bolha seja lancetada, há uma bolha monstro nesses mercados, e o
governo Trump nunca conseguirá sobreviver e reaparecer do outro lado,"
disse Stockman, que foi Diretor do Gabinete de Administração e Orçamento no
governo do presidente Ronald Reagan.
"Mr. Trump também muito bem faria se faxinasse a casa.
Se quer drenar o pântano, não há melhor lugar para começar a drenagem que o
prédio do Federal Reserve, porque ali se origina na verdade toda essa economia
toda falsa, essa bolha inchada, fétida, feia, de que [Trump] falou durante a
campanha" – disse Stockman.
Jim Rogers, o empresário e investidor norte-americano disse
que o presidente Trump faria muito bem se aliviasse Yellen de suas tarefas, mas
que não tem certeza de que o presidente dos EUA tenha competência para exigir
essa demissão.
"Acho que não pode demiti-la, porque ela tem mandato
garantido por lei" –Rogers escreveu, por email.
De fato, parece que presidência do Fed dos EUA, como o Bispo
de Roma e os juízes da Suprema Corte, todos eles, têm mandados vitalícios,
façam o que fizerem no cargo. Mesmo assim, é essa empresa muito privada,
chamada Federal Reserve dos EUA, criada dia 23/12/1913 (quando muitos deputados
estavam longe, festejando o Natal em casa), que parece ser amplamente
responsável pela crise financeira de 2008.
Como a revista Time expôs o assunto: "As taxas super
baixas de juros que [ex-presidente do Fed Alan] Greenspan trouxe no início dos
anos 2000s e seu longevo desdém por qualquer regulação são hoje apresentados
como principais causas da crise das hipotecas. Greenspan chegou até a dizer
numa audiência no Congresso que cometera "um erro ao presumir" que
empresas financeiras pudessem se autorregular.
A era de taxas super baixas de juros e dinheiro fácil
continuou com o sucessor de Greenspan, Ben Bernanke, e não mudou
consideravelmente de rota no mandato de Janet Yellen, que assumiu a presidência
do Fed em janeiro de 2014.
Em dezembro, o Federal Reserve aumentou as taxas, só essa
segunda vez, numa década.
Ron Paul, ex-congressista dos EUA e autor do sucesso de
livrarias, O Fim do Fed, explicou o processo pelo qual taxas de juro muito
baixas por muito tempo, trabalham para aumentar a desigualdade econômica.
"Aumentos na oferta de dinheiro gerados pelo Federal
Reserve causam desigualdade econômica (...), porque sempre que o Fed atua para
aumentar a oferta de dinheiro, investidores e outros capitalistas da mesma
gangue são os primeiros a receber o dinheiro novo" – Paul escreveu.
E acrescentou: "Quando a oferta aumentada de dinheiro
afinal escorre para baixo até os norte-americanos de classe média e da classe
trabalhadora, a economia já foi devastada pela inflação. Assim muitos
norte-americanos médios veem o próprio padrão de vida declinar sempre, como
resultado dos aumentos na oferta de dinheiro que o Fed engendra".
Em outras palavras: 'socialismo para os ricos, capitalismo
para os pobres'. Os ultra ricos nunca têm de se afligir por causa de
investimentos mal feitos porque são imunizados contra qualquer risco –
exatamente o que torna tão redundante o capitalismo de hoje.
Agora, ricos e pobres estamos diante de grande risco, sem
poder fugir. Isso, porque o Fed manteve a taxa de juros no porão por tanto
tempo que, para conseguir aumentá-la de modo considerável, seja quanto for,
pode acontecer de determinar o fracasso total dos esforços de Trump para fazer
a economia norte-americana pegar no tranco, novamente.
Por mais que Trump possa usar sua autoridade executiva para
enfrentar CIAs e TPPs que considere repugnantes, tentar domar o Fed é outra
dança, muito diferente.
Alan Greenspan, que dirigiu o Fed por 19 anos, ao ser
perguntado numa entrevista, sobre que tipo de relação lhe parecia a melhor,
entre o diretor do Federal Reserve e o presidente dos EUA, respondeu o
seguinte, espantosamente claro:
"Em primeiro lugar, o Federal Reserve é agência
independente, e isso significa que nenhuma outra agência do governo pode
modificar nossas ações e medidas que tomemos. Enquanto continuar assim...
francamente, relacionamentos não fazem diferença."
A resposta de Greenspan resume bem o desafio que está diante
de Trump, homem que dá a impressão de não lidar muito bem com a rejeição. Assim
sendo, é razoável sugerir que estamos nos aproximando de grave colisão frontal,
governo Trump numa direção, o Banco Central na direção oposta, em algum ponto
adiante nessa estrada.
Em resposta ao que lhe perguntei, se faria alguma diferença
agora, para Trump, tentar substituir Yellen por alguém mais próximo da
filosofia Trumpiana, Rogers disse:
"Ela vive de imprimir dinheiro em Washington há vários
anos, desde antes de assumir o emprego atual. Com certeza é tarde demais. Quero
dizer que todos nós pagaremos preço terrível pelo dinheiro que imprimem, esteja
ela no Fed, ou não."
A questão agora é se o escolhido para 'pagar a conta' será
Trump, ou outro. Embora seja impossível prever se a economia dos EUA ruirá
durante o mandato de Trump ou não, o que se sabe com absoluta certeza é que
nada agradaria mais à elite-establishment do que poder debitar o crash na conta
do arrivista.*****
* Atualmente, a dívida nacional dos EUA está em US$19,9
trilhões. Para uma espiada assustadora no Dividômetro norte-americano, clique
aqui.